quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece uma coisa e não uma palavra. Escrever é tantas vezes lembrar-se do que nunca existiu. Quem me obriga a escrever/o mistério é esse: ninguém, e no entanto a força me impelindo. 

Escrever não é quase sempre pintar com palavras?


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Bélgica e a memória

Provavelmente, todo mundo um dia já perdeu arquivos em computador ou outra mídia de armazenamento. Às vezes nem é tão ruim, especialmente para pessoas acumuladoras. Como eu. Não estou falando de trabalho ou estudo. Há documentos insubstituíveis, e sua perda tem sérias repercussões. No entanto, mesmo aquilo que é pessoal pode fazer falta. Como fotos de filhos, pessoas queridas que já se foram, ou viagens que têm pouca chance de se repetir.

Estou há mais de uma semana procurando as fotos de minha viagem à Bélgica, e nada. Para quem diz que as pessoas exageram tirando foto de tudo, que é melhor prestar atenção, porque a memória fica, replico com a desatenção e a desmemória que dão cabo de tudo. Além do fato de fotografia ser arte, também tem impactos inusitados. Na memória. E no aprendizado. Fotografando-se, lembra-se. E fazem-se conexões.

Na impossibilidade de se recuperar o que se perdeu, vou recorrer a fragmentos de lembrança.

A primeira recordação é a chegada em Bruxelas. Chovia, e eu, que nunca me acho, tentando localizar o hostel em tempos de pré-internet. Não que faça muita diferença, pois não consigo entender o mapa do Google, mas saber que ele existe e está disponível diminui a ansiedade da chegada em um lugar estranho. O guarda-chuva, claro, estava dentro da mala.

Achado o hostel, deparo com um brasileiro. Não fui eu que o reconheci, foi o contrário. Ele viu minha mala "embrulhada" (aqueles plásticos que supostamente protegem a dita cuja), e afirmou que só brasileiros adotavam essa prática. Não era verdade, mas serviu de introdução, o que não era muito comum em minhas andanças sozinha. Serviu também para garantir um convite para me juntar a um grupo que ia a um "botequim" à noite. E a companhia de outro brasileiro para ir a Ghent.

Instalada, e já com o guarda-chuva na mão, fui andar pela cidade. Descobri uma rua comercial, entrei em lojas, e provei meu primeiro waffle com chocolate belga, na rua mesmo. A chuva serviu para lavar as mãos.

Depois a Grand Place, um Patrimônio Cultural da Humanidade, com toda razão, pelo conjunto arquitetônico excepcional. É tão bonita, que fui buscar uma foto na Wikipedia, para ilustrar o texto.

Fonte: By Celuici - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=70059063

Depois de circular por ali, fui encontrar o Manneken Pis, ou o popularmente chamado Manequinho, que recomendam tocar para garantir o retorno à cidade. Porque tanta intimidade com uma escultura belga? Porque em Botafogo, no Rio de Janeiro existe uma similar, inspirada nessa de Bruxelas. Quem quiser conhecer a história do nosso menino, pode ler no blog http://mundobotafogo.blogspot.com/2011/04/historia-do-manequinho-i.html.

O tal botequim era o Delirium Café, que entrou no Guinness em 2004, por oferecer 2004 variedades de cervejas. Ali eu provei minha primeira cerveja de chocolate (cervejeiros torcem o nariz para ela), e nunca mais achei igual. Até ano passado, quando visitava o museu do chocolate, em Paris (Choco-Story, e descobri que tem também em Bruxelas), e trouxe uma para casa. Esse bar fica num beco perto da Grand Place, e me lembra um pouco o Arco do Teles. Vale também mencionar que o Delirium abriu uma filial em Ipanema, Rio de Janeiro (https://www.deliriumcafe.com.br/). Fui lá e gostei muito. Não me recordo se procurei minha cerveja de chocolate no menu.

Eu sugeriria ainda provar a batata frita, cuja “invenção” se diz que é belga, mas disputada com a França.

De Bruxelas, peguei um trem para Ghent, onde passeei pelas ruas que mantêm a arquitetura medieval bem preservada, e visitei a catedral medieval de S. Bavo, com mais de 1000 anos, para conhecer a famosa obra dos irmãos Van Eyck. Novamente, recorri à Wikipedia para obter uma fotografia.


By Jan van Eyck - Web Gallery of Art:   Image  Info about artwork, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4484562

A vista do alto do Ghent Belfry (campanário), também Patrimônio Cultural, é magnífica. Achei um site interessante sobre a cidade (https://visit.gent.be/en).

Depois continuei até Bruges, também de trem. É cidade para se andar a pé, especialmente pelo centro (Grote Markt). Tenho uma vaga ideia de ter admirado as vitrines das lojas com peças delicadas e maravilhosas de renda e chocolates artesanais.

Logo me decidi a fazer o passeio de barco. Mesmo antes de pensar em poupar esforço físico, me intrigou esse método de explorar a cidade, e realmente faz sentido, por causa dos canais - Bruges é conhecida como a “Veneza do Norte” e tem uma arquitetura gótica e medieval excepcional. Uma das razões pelas quais lamento a perda das minhas fotos é que fiz alguns vídeos do passeio, toscos, é verdade, e registrei um episódio ímpar: num dos prédios, um cachorro fofo se debruçava na janela, e o guia logo comparou-o a Julieta. Foi bem engraçado.

Cheguei a ir ao guichê onde se vendiam ingressos para subir a torre de onde se pode ver a cidade do alto, mas diante da informação de que teria de subir mais de 300 degraus, desisti no ato.

Avaliando pelos meus olhos de hoje, talvez me interessasse por fazer um passeio guiado como há em muitas cidades. Como esse que achei por acaso no Google, mas não experimentei (https://www.bravodiscovery.com/brussels-tours?gclid=Cj0KCQiAtP_iBRDGARIsAEWJA8jTS2ktu6vVnFLq5owU5USdqX9kuZ5zxmp_cweW5LsAfWkg31cDrLMaAl_KEALw_wcB). Às vezes vale a pena andar com um guia que conhece os detalhes e história de um local.

Minha viagem terminou na plataforma do Eurostar, excelente maneira de viajar, que escolhi para ir para Londres.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Mais lembranças de viagens: Amsterdam

A viagem começou em S. Petersburgo, e terminou em Amsterdam. Tempo passado, não me lembro mais como foi decidido esse roteiro. Mais uma vez a lógica não é a que se esperaria, quando se consideram as respectivas fronteiras, mas foi o que se fez, e o encantamento foi tanto que uma vez só é pouco.

O prático: chegar no aeroporto, e pegar o trem para o centro da cidade. Fácil e sem pesar no orçamento. A estação de trem já é uma atração.


Estação Amsterdam Centraal - Acervo (2016)

Fonte: http://maps-amsterdam-nl.com/amsterdam-canals-map

A estação Amsterdam Centraal foi aberta em 1889, e sua arquitetura tem traços góticos e renascentistas (revivalismo), e desde 2014 atende a 22 rotas nacionais e 8 internacionais. Com uma boa disponibilidade de hotéis e restaurantes em suas imediações, facilita a vida do viajante. É um bom ponto de partida para ônibus, para um passeio de barco, ou simplesmente para se chegar a alguns lugares interessantes, como a Dam Square, igrejas históricas, e o bairro da Luz Vermelha, por exemplo.


Dam Square vista do alto - Acervo (2016)

A cidade dispõe de inúmeros meios de transporte, dois dos quais não utilizei: o metrô porque não sentimos necessidade, já que o tram te leva a qualquer lugar; e a bicicleta porque não sei andar nela. Juro. 

Sempre prefiro visitar cidades onde se disponha de um bom sistema de transporte público, e que possam ser percorridas a pé nas áreas mais interessantes. Amsterdam é dessas. Também aprendi a usar o hop on-hop off, já que nunca temos tempo suficiente para ir de um lugar a outro. Aqui recorremos a outra opção: o passeio de barco. Como a cidade é cortada por canais, esse passeio dá uma boa ideia da cidade. Combinando com as caminhadas e uma volta no tram, de ponta a ponta, começando na estação de trem ou na Dam, é possível pelo menos visualizar a arquitetura e o movimento da cidade.

Amsterdam tem tudo que possa atrair um visitante, mas meu interesse específico é história e arquitetura, sem deixar de prestar atenção nas oportunidades de descobrir restaurantes bons e de preço que caiba no meu orçamento. Então: museus, igrejas, croquetes, batatas fritas e waffle de Nutella. Pra quem gosta, cerveja. Uma vez assisti a um programa sobre o processo de elaboração de cerveja na Heineken. Achei muito interessante, mas não quis fazer a visita. Questão de relevância.  

O que eu acho que deve ser visto: 
- Museus: Rijksmuseum, Van Gogh. Mas deu tempo de visitar o MOCO, e adorei.
- Casa de Anne Frank.
- Casa de Rembrandt (não foi dessa vez, quem sabe na próxima?).
- Bairro da Luz Vermelha, que fica perto da Oude Kerk (uma igreja histórica).
- Dam Square (onde fica a Niewe Kerk, outra igreja histórica).

Tem mais? Certamente. Mas às vezes nossos gostos particulares nos levam a pensar em passeios fora da cidade. No caso, Keukenhof, onde estão as tulipas; e Haia, onde está o Mauritshuis, a casa que pertenceu ao nosso conhecido Maurício de Nassau, e onde se expõe o maravilhoso quadro "A moça do brinco de Pérola", de Vermeer, além de muitas outras obras belíssimas. 

A moça do brinco de pérola, Mauritshuis - Acervo (2016)

Na rua que vai da região da estação de trem à Dam Square há mais de uma loja de agências de turismo. Compramos um passe que nos foi muito útil, com desconto para museus e o passeio a Keukenhof. 

Decidido o que se vai querer ver, o passo seguinte é verificar nos sites os procedimentos para compra de ingressos. A antecipação evita filas mais longas. Quando fui à Casa de Anne Frank não havia venda online. Foi doloroso ficar numa fila gigantesca, num frio de matar, e ter de desistir. Mas a insistência recompensou. Na segunda tentativa conseguimos entrar. Agora já existe venda online, (https://www.annefrank.org/en/museum/), e 80% dos tickets são vendidos com dois meses de antecedência. Os 20% restantes são vendidos no dia, a partir das 9 h da manhã. 

Também se pode comprar ingresso para o Rijks com dia marcado. Uma possibilidade é o app Get Your Guide (https://www.getyourguide.com.br/amsterda-l36/entrada-prioritaria-ao-rijksmuseum-de-amsterda-t7135/). E para visitar o Van Gogh só com compra on line com dia marcado (https://tickets.vangoghmuseum.com/pt/compre-os-ingresso?_ga=2.256192075.1140052623.1550464968-1856127798.1550464968).




segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Alemanha: Munique, Berlim e adjacências

Fiz um roteiro que provavelmente não foi lógico: parei em Munique, depois fui para outro lugar, talvez Praga, Viena, e então Berlim. Bom, deve ter havido alguma lógica, mas não me lembro mais qual foi. Funcionou, no entanto. Mas para quem tem um pouco mais de sanidade, achei um site que me pareceu bem interessante, https://www.dicasdeberlim.com.br/2017/01/como-ir-de-munique-berlim.html. Só ressalto a necessidade de se verificar cada informação e links, pois não localizei a data do post, e tudo na internet muda a cada momento.

Sugestões em Berlim: 

- Portão de Brandenburgo
- Ilha dos museus
- Berliner Dom
- Reichstag
- Potsdamer Platz
- Alexander Platz
- Parque Tiergarten
- Castelo de Charlottenburg
- Muro de Berlim

Eu acrescentaria pelo menos mais dois lugares, o Checkpoint Charlie, que era um dos postos militares entre as duas Alemanhas partidas e virou uma atração turística muito interessante; e a Kaiser-Wilhelm-Gedachtniskirche, uma igreja protestante que foi bombardeada na Segunda Guerra Mundial e se tornou um marco histórico. Ainda se pode ver onde a igreja foi atingida pelas bombas. E certamente recomendaria uma visita ao KaDeWe (https://www.visitberlin.de/en/kadewe), uma loja de departamentos imensa, a segunda maior na Europa (a primeira é a Harrods, em Londres). A área de alimentos é um sonho. 


Kaiser-Wilhelm-Gedachtniskirche - Acervo (2009)

Teto da igreja - Acervo (2009)

Checkpoint Charlie - Acervo (2009)

Como não sou viajante hipster, acho que uma das boas maneiras de se ver tudo que se destaca numa cidade é pegar um daqueles ônibus hop on-hop off. Alguns dirão que é muito turístico. Mas é essa a razão. Sempre tive o hábito de ler guias de viagem, e listar tudo que eles dizem que há de interessante numa cidade, inclusive aquilo que foge do comum. Sabe o que resulta disso? Muita frustração. Anda-se muito e não se consegue dar conta de tudo, especialmente quando se incluem museus no roteiro (o que para mim é obrigatório). O trânsito nas cidades também é cada dia mais complicado, fazendo com que ir de um ponto a outro se torne cansativo e demorado. O tal ônibus resolve esse problema: percorre os lugares interessantes, e permite que se entre e saia em qualquer um deles. Minha estratégia é comprar o tour de dois dias, fazer o circuito completo, e depois ir parando nos pontos que mais me interessam para depois retomar o passeio.

Como muitas vezes tinha problemas com as placas de orientação em Berlim, acabei tendo de decorar algumas palavras básicas, eingang (entrada), ausgang (saída), platz (praça), strasse (rua), kirche (igreja), para me orientar (não que adiante muito, eu sou a desorientada por excelência). Mas saída e entrada são fundamentais no metrô. Na época havia estações que só tinham placa em alemão. E pelo menos um museu só tinha descrições e legendas em alemão. Foi onde passei mais rápido. Não tinha a menor ideia do que estava vendo. Lembro-me de várias esculturas romanas. Ou gregas. Até hoje não sei. Não importa, o que eu queria mesmo ver era o busto de Nefertiti. Fiquei na fila dois dias diferentes até conseguir entrar no Neues. Valeu a pena. E a Porta de Ishtar no Pérgamo. Se tivesse de indicar dois museus, seriam esses dois. E o do Holocausto. Emocionante.

Bate-e-volta a Potsdam

É uma cidade linda, e Patrimônio Cultural da Humanidade. Fui de trem, e na saída da estação, logo em frente, escolhi um tour guiado pela cidade, com parada no maravilhoso palácio de Sanssouci, o castelo de Frederico, o Grande. 
Certamente pesquisas indicarão vários lugares interessantes para se visitar na cidade. Insisto na minha prática de fazer um tour ou um hop on-hop off. Esse que eu fiz me permitiu entrar com meu guia e o grupo no palácio, sem filas. Não tem preço. E dei sorte, porque chovia torrencialmente, e só assim pude circular por toda a cidade confortavelmente.

Sanssouci (com direito a papagaio de pirata) - Acervo (2009)


MUNIQUE

- Marienplatz - a praça medieval que fica no centro da cidade.
- Neues Rathaus (a prefeitura) - pode-se pegar um elevador e ir a seu topo, de onde se pode ter uma bela vista da cidade. Também há um restaurante no subsolo. 
- Duas belas igrejas: Frauenkirche e Peterskirche.
- Alte Pinakothek: um dos museus mais antigos do mundo.

Marienplatz - Acervo (2009)


Não é em Munique, mas a partir daí se pode fazer o tour até os castelos de Ludwig da Baviera, Linderhof e Neuschwanstein. Para saber mais sobre eles, dê uma olhada nos links http://www.germany.travel/pt/cidades-e-cultura/palacios-parques-e-jardins/cabecas-famosas/uma-fortaleza-para-o-rei-de-conto-de-fadas/castelo-de-linderhof.html e http://www.germany.travel/pt/cidades-e-cultura/palacios-parques-e-jardins/castelo-de-neuschwanstein.html.

É possível ir por conta própria, mas eu contratei um tour. Menos trabalho e possibilidade de me perder. Não me lembro qual escolhi, mas pelo que li, a Viator oferece um parecido (https://www.viator.com/tours/Munich/Royal-Castles-of-Neuschwanstein-and-Linderhof-Day-Tour-from-Munich/d487-285016?eap=visitacity-223977121-14055&aid=vba14055en). Essa é uma daquelas coisas que se pode pesquisar em sites como o TripAdvisor (https://www.tripadvisor.com.br/). Ou ver na própria chegada à cidade, como fiz.

Linderhof - Acervo (2009)



Neuschwanstein - Acervo (2009)






domingo, 10 de fevereiro de 2019

Porque Alemanha.

Por que não?

A região chamada Germânia foi conhecida e documentada pelos romanos antes do ano 100. A partir do século X, os territórios alemães formaram a parte central do Sacro Império Romano-Germânico, que durou até 1806. Durante o século XVI, o norte da Alemanha tornou-se o centro da Reforma Protestante. Como um moderno estado-nação, o país foi unificado pela primeira vez em consequência da Guerra Franco-Prussiana em 1871. Em 1949, após a Segunda Guerra Mundial, foi dividida em dois estados, a Alemanha Ocidental, oficialmente "República Federal da Alemanha", e a "Alemanha Oriental", oficialmente República Democrática Alemã, ao longo das linhas de ocupação aliadas. A reunificação ocorreu em 1990. A Alemanha Ocidental foi um dos membros fundadores da Comunidade Europeia (CE), em 1957, que posteriormente se tornou a União Europeia, em 1993. O país é parte do espaço Schengen e adotou o euro desde sua instituição, em 1999. (Fonte: Wikipedia)

Basicamente, o que o país tem a oferecer: história, cultura, democracia, ótima infraestrutura, dispensa visto a brasileiros, e por fazer parte do espaço Schengen e CE, permite uma grande flexibilidade para transitar de lá para outros países nas mesmas condições e vice-versa. Foi o que fiz: Praga (República Checa), Viena (Áustria), Munique, Berlim e Potsdam (Alemanha) e Londres (Reino Unido). Melhor maneira de viajar: trem. Porém sempre com a opção de voos low cost. De verdade, não a enganação que se vê no Brasil.

Recomendo: Eurostar, um trem de alta velocidade que conecta Londres a Amsterdam, Avignon, Bruxelas, Lyon, Marselha, Paris e Roterdã. Fiz Bruxelas a Londres uma vez. Há quem compre todas as passagens previamente no Brasil. Prefiro comprar na hora. Sempre acho que pode dar alguma zebra e perder a passagem. Vale pesquisar os prós e contras. Mas posso oferecer uma informação curiosa: quando fui comprar e pedi só ida, pois Londres seria minha última parada antes de retornar ao Brasil, a pessoa do guichê me disse que seria mais barato comprar uma ida-e-volta. Vai entender. Foi o que fiz, claro.

Em todo caso, o site oficial dos trens na Alemanha é https://www.bahn.de/p/view/index.shtml, no qual é possível comprar passagens antecipadamente, mas saiba que a viagem de Munique a Berlim leva 6 horas. As passagens de ônibus são mais baratas, quem sabe é interessante testar? (https://www.eurocheapo.com/blog/budget-bus-lines-in-germany.html)

Se disser que não tenho a menor lembrança de como fiz toda a viagem, não estarei mentindo. As únicas certezas que tenho são que fui de Praga a Viena, e depois a Berlim de trem (uma bela viagem, com paisagens incríveis, e me recordo de ter perguntado ao fiscal que rio imenso era aquele por que passávamos, eu que tenho noções apenas rudimentares de geografia, e sequer sei que país faz fronteira com que país, ouvi a resposta de que ainda não me esqueci, com o devido sotaque: Elba, um dos maiores rios da Europa Central, total de 1094 km); e que Munique foi meu primeiro destino depois de sair do Brasil via Air France (não conto a escala em Paris, porque não saí do aeroporto). 

Neue Rathaus, impressionante - Acervo (2009)

Também me lembro bem que pedi sugestões de roteiro a um conhecido, cujo filho morava na Alemanha, e ele me deu uma lista de cidades que descobri serem lindas, depois de pesquisar. Pena que perdi a tal lista, mas adianto que boa parte delas se encontrava na chamada "Rota Romântica", sobre a qual não falarei por não tê-la percorrido. Fiquei satisfeita por ter escolhido Munique, mesmo não tendo podido ver tudo que ela oferece, mas pela chance de realizar um sonho: visitar os castelos do rei Ludwig da Baviera. O que eu queria era ir a Neuschwanstein, que, reza a lenda, inspirou o castelo da Cinderela de Walt Disney. Lenda ou não, infantilidade ou não, fui e fiquei deslumbrada. Contratei o passeio no mesmo dia em que cheguei, no centro da cidade, no que me pareceu ser o escritório de turismo oficial. Havia várias opções, escolhi uma que incluía almoço, pois o passeio leva um dia inteiro. Nem sei como consegui, pois estava completamente afônica. Há 10 meses. E foi ali mesmo em Munique que se deu o milagre.

Dez meses sem conseguir emitir um som, cheguei a Munique, e entrei na igreja para agradecer, como sempre faço quando viajo (a catedral de Nossa Senhora de Munique, Frauenkirche, construída entre 1468 e 1525, sobre os remanescentes de uma antiga basílica romana, é a maior igreja da cidade e um dos maiores edifícios góticos da Alemanha). Saí, fui tomar um chocolate, passeei, voltei para o hotel. No dia seguinte, fui para o passeio, e na hora do almoço, paramos num restaurante, sento-me à mesa com americanos que também faziam o tour. Eles começaram a fazer perguntas sobre o Brasil, a pretensão de sediar a Copa e etc., e eu respondi a tudo. Retornando ao hotel, comecei a fazer as anotações habituais no meu caderninho (tempos anteriores à internet fácil), quando de repente me dei conta de que minha voz havia retornado. Lembro-me de ter feito uma oração em memória de minha mãe, que teria ficado muito feliz de eu estar ali, na terra de seus avós. Então, pra mim foi sim, milagre. 

Catedral - Acervo (2009)



Voltando no tempo

Centro de Munique - Acervo (2009)

Centro de Munique - Acervo (2009)



Aquela pessoa preguiçosa que deixou de fazer uma coisa de que gostava muito para perder tempo em redes sociais: revejo meus posts sobre viagens e, ao mesmo tempo em que me deleito tanto quanto revendo fotos, aprecio o que escrevi. Perfeito não era, mas tinha um tanto de informação com bom humor e/ou crítica, e deixei que esse prazer escapasse de mim. Vou tentar recuperá-lo, agora que estou tentando me livrar das redes cada dia mais tóxicas. Não completamente, porque sou viciada em informação, e tem muita coisa interessante, especialmente no Twitter. Fato é que as redes incentivam demais nosso viés fofoqueiro. É necessário firmeza, embora seja difícil.

Verdade também que o verão me tira a vontade de viver, quanto mais de escrever. Se antes não tinha pretexto, agora tenho mais de um: escrever por prazer (mesmo sem leitores), registrar as lembranças das poucas viagens que tive oportunidade de fazer, e aproveitar para reunir informações que volta e meia me pedem sobre lugares por que passei. Sei que há milhares de blogs especializados, e até alguns que consulto com frequência, como o Viaje na Viagem (https://www.viajenaviagem.com/), mas meu caminho é outro.


Como resolvi recomeçar? Me pediram dicas sobre Alemanha, Bélgica e Holanda, e numa busca por aqui, descobri que se alguém quisesse se informar, sairia frustrado. Como eu mesma, aliás. E olha que fui à Alemanha em 2009! Nem me lembro quando fui à Bélgica. A Holanda já é mais recente, então segue a linha do desmazelo mesmo.

Existe uma #hashtag (palavra-chave relevante ou termo associado a uma informação, tópico ou discussão; usa-se como indexador para facilitar a busca do leitor) que se criou para a referência a temas e fotos antigos: TBT. Vejo muito no Instagram, e tive até de pesquisar o significado, mas não dou a mínima. O perfil é meu, uso como quiser. Mesmo assim "rotulei" uma foto antiga de Munique para marcar o meu retorno a este espaço. Acho importante, porque andei fazendo pesquisas recentemente sobre um determinado destino, e só encontrei registros em português de muitos anos atrás. Para dados históricos, não há problemas. Mas não se pode confiar quanto à parte prática. É preciso verificar cada link, para não dar com os burros n'água. 

Se vou ser persistente, não sei. Por enquanto me basta começar.

E essa foto, a que se refere? Logo que cheguei em Munique, deparei com essa joalheria, que me chamou a atenção porque minha avó materna era filha de alemães, e o sobrenome dela antes de se casar com meu avô era Christ. Há também uma família Christ que faz vinhos em Viena, mas essa é outra história. Sempre gostei de investigar minhas raízes, e me pareceu significativo que ao botar os pés pela primeira vez num país que sempre foi citado com admiração por minha mãe, uma das minhas primeiras visões fosse esse nome.

Continua.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

O amor é um lugar eterno



"Esta sociedade pós-moderna em que vivemos transporta em si duas insustentáveis utopias: a primeira, neoliberal, tenta convencer-nos que o mercado, funcionando livremente, tudo resolve; a segunda, tecnológica, insiste na falácia de que o progresso tecnológico é a cura para todos os nossos problemas. É mentira! Nenhuma delas nos conduzirá aos fins que supostamente anuncia.

Somos vítimas deste aparente desenvolvimento. Continuamos mergulhados na luta quotidiana pela sobrevivência sem nos apercebermos da linha divisória entre o Bem e o Mal. E a fragmentação da identidade faz com que o mal se disfarce sob o comportamento exemplar do vizinho ao lado.

Será que o comportamento moral se esgotou? Será que é assim tão difícil perceber que a nossa vida não pode confinar-se a um cardápio de abusos? Quem é que ainda não entendeu que o juízo moral não é uma questão do foro dos usos e costumes 

É incrível a facilidade com que passámos a considerar normal a ausência de responsabilidade moral."

Luís Quintino

Não sei se o amor é um lugar, nem mesmo se é eterno. Provavelmente sim, se fundamentado na verdade, e não em fantasias, expectativas ou enganos. Nem digo que só pode existir com certeza entre pais e filhos, por causa do laço biológico. Há filosofias e religiões que exaltam o amor filial, maternal ou paternal e tentam explicar aversões inexplicáveis, quiçá biológicas. Poderia falar de nossos próprios defeitos, de personalidade ou de incapacidade. De educar, por exemplo. Mas é certo que há casos suficientes em toda parte demonstrando que pais fazem mal a filhos e vice-versa.

Sei, no entanto, que independente de qualquer explicação, há pessoas extraordinárias. Não tenho como saber se nasceram predestinadas ou se se tornaram assim. Prefiro crer que inúmeros fatores contribuem para a formação delas, inclusive a educação e o convívio. 

O personagem principal desse livro, filho do autor, demonstra ter sido um desses seres excepcionais. Alguns até diriam que por essa razão não poderia mesmo ter permanecido muito tempo nesse planeta (de novo, filosofias e religiões). Tenho razões para acreditar que muito contribuíram para esse resultado a educação e o convívio - como poderia ser diferente, diante dos sucessivos testemunhos de pais e amigos? 

Não me baseio em conhecimento privilegiado, mas em fatos igualmente raros. Quantas pessoas perdem as pessoas que amam e cedem ao desespero, ou apenas subsistem ancoradas na memória do que às vezes sequer existiu? 

Não é o caso do autor. Desesperado, irado, saudoso, inconformado... quero imaginar que transitou por todas essas situações. Mas passivo nunca. Foi capaz de canalizar a dor e a saudade para causas nobres, e enquanto isso, pôr no papel seu trajeto, compartilhando mais do que meras palavras. Catarse?

Suponho que sim. Nesse processo, de acordo com o conceito do grego Aristóteles: 


Para Aristóteles, o teatro tinha para o ser humano a capacidade de libertação, pois quando via as paixões representadas, conseguia se libertar delas. Essa purgação ou purificação tinha o nome de catarse, que era provocada no público durante e após a representação de uma tragédia grega. A catarse era o estado de purificação da alma experimentada pela plateia através das diversas emoções transmitidas no drama. (https://www.significados.com.br/catarse/)

Não estamos falando de teatro, óbvio, apenas usando o conceito. Nossa empatia com o autor nos purifica e nos inspira. Admiro profunda e incondicionalmente quem é capaz de sair da letargia provocada pela perda e agir em benefício de outros. 

O texto que copiei do livro parece não se encaixar no que escrevi. Talvez seja inabilidade minha. Talvez seja uma forma de instigar a leitura do livro. Talvez só assim se compreenda a trajetória de pai e filho na busca de uma vida significativa. De sentido, como Viktor Frankl, o neurologista e psiquiatra que sobreviveu ao Holocausto.

Frankl perdeu mãe, irmão e esposa no genocídio comandado por Hitler. Também ele não ficou inerte. Finalizo com uma de suas citações:


"O que realmente importa não é o que esperamos da vida, mas antes o que ela espera de nós. Nós precisamos parar de perguntar sobre o sentido da vida, e ao invés de pensar em nós mesmos como aqueles que questionam sobre a vida - horária e diariamente. Nossa resposta deve consistir, não em monólogos e meditação, mas na ação certa e na conduta correta. A vida ultimamente significa tomar responsabilidade de encontrar a resposta certa para seus problemas e cumprir as tarefas que ela constantemente delega para cada indivíduo."

Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...