domingo, 23 de maio de 2010

A angústia do tempo


Não li Proust, mas venho tentando recuperar o tempo perdido e, embora sabendo que é tarefa impossível, estou cada dia mais angustiada com a quantidade de coisas a fazer e deixadas de lado por falta de... tempo. Ou, como sempre afirmei, desorganização.
Antes era por causa do horário de trabalho. Agora, que não o possuo mais, o que é? Bem verdade que continuo com encargos autoimpostos, e o meu horário de dormir foi para o espaço (o que estou fazendo aqui a esta hora? tenho um monte de trabalho pra fazer pra faculdade e vou estar um trapo amanhã - que já é hoje mesmo), mas não posso negar que em não havendo mais a obrigação de comparecer mais à empresa, e poder me dar ao luxo de organizar meu próprio horário, o que está me faltando é disciplina. É? Então porque a angústia e a ansiedade? Porque não dou conta de fazer todas as coisas que pretendia fazer quando tivesse o poder de decisão sobre o meu tempo?
Uma pergunta sem resposta ainda. Mas uma outra pergunta que tem resposta é que a forma como minha cabeça pensa e se comporta não mudou, e isto se reflete exteriormente, o que me incomoda. Para todo lado que olho vejo coisas e mais coisas, excessos, acúmulos dos quais tento me livrar, mas só o consigo parcialmente. Minha ilusão era que o tempo serviria para arrumar isso e/ou dar uma solução satisfatória para essa bagunça, e uma das maneiras de fazê-lo dependeria, mais uma vez, de tempo (e, concomitantemente, de disciplina): boa parte de meu espaço é ocupado por livros e revistas. Para organizá-lo, preciso ler e descartar uma parte desse material. E o tempo para isso?
Estou andando em círculos, e agora estou com tanto sono que provavelmente o que escrevi não faz o menor sentido. Deixo assim mesmo, ilustrado pela curiosa imagem do prédio semidestruído perto da rua Senhor dos Passos.
Esta noite sonhei com uma metáfora da morte: Mr. Black, personagem vivido por Brad Pitt, título em inglês Meet Joe Black, em português Encontro Marcado. Foi uma semana em que a tônica foi a morte. Primeiro, porque fiz uma declaração dizendo que queria que meu corpo fosse cremado após minha morte. Depois porque foi aniversário de morte de meu pai (2003). E no dia (20/5), apesar de eu só lembrar à noite, fortuitamente (lembrei na véspera, pq datas ñ são o meu forte, elas vão e voltam), eu não falei de outro assunto com a psicóloga - papai, Mr. Black, cremação e outros assuntos correlatos. E sonhei. 
É verdade, que para morrer basta estar vivo. E que, racionalmente, com o que sei, temo mais um Alzheimer ou uma doença degenerativa do que a morte, mas como ñ sei o que se passa, o envelhecimento começa a se tornar um terror, e a morte uma preocupação. De que calibre, não sei. Os sonhos determinam o que rola no sub e no inconsciente. Que sei eu?!?
De qq forma, foi bem melhor encontrar Brad Pitt do que outra forma de apresentação. Cheguei a um ponto em que me recuso a horrores, porque a vida real já nos é suficiente. Agora quero ver tudo com lentes cor-de-rosa e finais felizes. Na ficção, nos sonhos... Não que eu seja crédula, apenas quero ter meu espaço pessoal para sonhar.
Continuo precisando arrumar a casa. Externa e interna.

Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...