segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Urbano

Santiago


Gosto da cidade, considerados seus elementos urbanos, em uma visão de confronto com relação ao campo. Não tenho uma ideia idílica do mato, à parte a certeza de que o metafórico cimento não pode ocupar todo o planeta, devendo se preservar vegetação, água, e mesmo recuperar o máximo de floresta perdida, sob pena de se dar cabo do nosso habitat.

O que posso dizer, porém, se me encantam as obras desse ser estranho que é o homem, quando constrói, em vez de destruir? Gosto de flanar, zanzar pelas ruas das cidades, ver prédios, igrejas, obras de arte, observar os rostos das pessoas, ver vitrines, tirar fotografias, parar pra comer e observar o que acontece à minha volta, experimentar a comida local. 

Se pudesse, tocaria cuidadosamente cada obra executada pela engenhosidade humana para tentar absorver o que ela possui que a torna única, ou funcional, ou inteligente, ou interessante... Acho que é isso que me atrai na fotografia, e talvez seja isso também que, de alguma forma, causasse medo em alguns povos antigos, quando pensavam que o ato de fotografar fosse capaz de roubar a alma do objeto fotografado. Faz sentido. É uma percepção de um sentimento. Queremos captar alguma coisa, com certeza, guardar pra sempre aquele objeto fotografado. Não creio naqueles que acham que deixamos de "ver com os olhos" para fotografar ou filmar as coisas quase que obsessivamente. Pode ser que que alguns ajam dessa forma, mas eu prefiro pensar que procedo como quando tenho um chocolate Godiva, e o como aos pouquinhos, saboreando-o lentamente. 

Vejo as fotografias dos lugares por onde ando com alegria, com saudade, com curiosidade incessantes. Se vejo fotografias alheias de lugares que quero conhecer, logo fico inquieta, fazendo planos. As cidades me intrigam.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Inquietude



Acorda e pensa em caminhar. Não. Ficar em casa e terminar de ler um livro. Qual? Indecisão. Começa outro. Agora são quantos inacabados? Fome. Droga, o suco de abacaxi com hortelã, será que ainda está bom? Colar papel com compromissos no espelho pra não esquecer. Que inferno, o telefone travou de novo. Marcar consulta. Deixa pra amanhã. Melhor guardar esse casaco. Bichinho nojento. O que será que tá passando na TV? Carregar iPad. Vou ler no computador. Quantas horas se desperdiçam por aqui? Jogaço do Brasil contra a Espanha, hein? Clicar no http://www.theliteracysite.com/clickToGive/home.faces?siteId=1&link=ctg_ths_home_from_ths_home_sitenav e no http://www.care2.com/click-to-donate/. Hoje tem NCIS. O que deu no canal da Warner e no AXN que não aparecem as legendas? Sério, a gente tem 200 canais pra meia dúzia de programas que prestam e ou é essa porcaria de coisa dublada ou zona de legenda. Banho. Preciso de uns marcadores de páginas. Cadê aqueles cartões postais? Acho que dá para picotar uns e jogar fora outros. Acabou Common Law, acho que vou fazer aquele bolo.

BOLO DE MILHO COM COCO DE LIQUIDIFICADOR

São 4 ovos, 1 lata de leite condensado, 1 lata e meia de milho verde, sem a água (ou 300 g, se você quiser debulhar o milho), 100 g coco ralado (desidratado ou fresco), 1 c.s. manteiga ou margarina, 1 c.s. fermento em pó.

Põe tudo no liquidificador, exceto o fermento, bate bem. Passe para uma tigela, acrescente o fermento e misture suavemente.
Despeje a mistura em uma forma de tamanho médio com furo no meio, untada e polvilhada com farinha de trigo.
Leve ao forno médio para assar por 30 a 40 minutos ou até que esteja dourado e sequinho (quando você insere o palito de dente e ele sai seco).

Detalhes: usei leite condensado light, 1 lata só de milho, porque era o que tinha (e nunquinha vou debulhar milho, imagina a trabalheira), e alguém precisa me dizer porque raios é que o fermento fica um século para desmanchar aquele monte de bolinhas. Que saco. Mas já vi um monte de programas de culinária (é, não cozinho, mas vejo os programas) dizendo que o segredo dos bolos fofinhos é deixar o fermento por último e misturar devagar, mas o problema é que o miserável faz as bolhinhas e a gente tem de desfazer uma a uma. O.o
Ah, eu botei um pouco de essência de baunilha e esqueci de polvilhar a forma com farinha de trigo. 

Bom, o bolo está pronto, vamos ver como ficou. Uma delícia! E acabei de ler o livro.

sábado, 4 de agosto de 2012

Horóscopo

Meu horóscopo de hoje:


Sagitário - 22/11 a 21/12 - Regente: Júpiter O astral continua te chamando para uma viagem interna, uma viagem de volta ao ninho. Todo passarinho tem reservar algum momento para descansar e depois ousar voar novamente para outros lugares, outros ares e ideias. Procure estar com sua família hoje e, certamente, você entenderá muito mais sobre si mesma, sobre o que você é em essência e sobre o que se tornou por causa deles.

(Leia mais sobre esse assunto em http://ela.oglobo.globo.com/horoscopo/#ixzz22dY2RntE
Copyright © 2012 O Globo S.A.)



Não sei o que pensar sobre isso. Bom, primeiro consertar a regência ali no sujeito da frase que começa com 'todo passarinho'. Reparei agora que falta um 'de'. Deve ser erro de digitação, claro. Depois matutar sobre a questão do 'estar com a família'. Cadê? Às vezes não é uma opção, já que cada um vai pro seu lado. Além de ser justo, nem todo mundo mora perto, ué. As crianças crescem.  E depois tem esse tempo de descanso. Concordo totalmente, apesar de me sentir dividida com relação aos meus próprios sentimentos nesse quesito. Quando estou em movimento quero parar, quando estou parada quero estar em movimento. Acho que é porque a inquietude está na mente. Não é à toa que não consigo meditar. Penso que se conseguisse minha vida seria melhor. E minha concentração daria um upgrade.


De qualquer forma, essa previsão parece um pouco genérica. Gosto mais da previsão da Susan Miller (http://www.astrologyzone.com/forecasts/monthly/sagittarius_full.php). Parece que o mês de agosto promete para os sagitarianos. Gosto tanto do meu signo, mesmo que a astrologia esteja tão próxima da ficção quanto o príncipe encantado!


Está lá, Miller diz:


If your birthday falls on December 16, plus or minus five days, you will benefit most from this full moon.

"Até os séculos 17 e 18, os contos de fada eram - e ainda são nos centros de civilização primitivos e remotos - contados tanto para adultos quanto para crianças. O estudo dos contos de fadas é essencial para nós, pois eles delineiam a base humana universal. Nas histórias, o herói é uma figura arquetípica, e as histórias de heróis constituem uma necessidade vital em condições vitais da vida. Se você retoma o seu mito-heroico, então você pode viver. Ele dá as razões de se viver e ao mesmo tempo restaura a coragem. O conto oferece um modelo para a vida, um modelo vivificador e encorajador que permanece no inconsciente contendo todas as possibilidades positivas da vida.
'A interpretação dos contos de fadas' - Marie Louise von Franz

Uma explicação psicológico-científica para nossa/minha fascinação por contos de fada, castelos, literatura, princesas, príncipes, etc. etc. etc. =D


Gotta love Disney


Who doesn't?

Be a star


Quem não sonhou um dia em brilhar de alguma forma? Andy Warhol tinha uma frase que acabou sendo um pouco desvirtuada, sobre o alcance da fama em 15 minutos, mas que dependia da massificação da arte no futuro (no futuro todos serão famosos durante 15 minutos), embora se fale de fama instantânea hoje em dia com a disseminação da internet e dos malditos reality shows.


Não sei se é exatamente isso que se passava na minha cabeça. Acho que não, mas não me importaria em conhecer algum ator que admiro, num ambiente "não histérico". Mesmo assim, acho que o que nos leva a curtir uma viagem às cidades criadas por Walt Disney, à cidade das estrelas, Los Angeles, ou mesmo às grandes metrópoles, Nova York, Londres e Paris, é a sensação da realização de um sonho. Isso, naturalmente, para aqueles de nós que começamos a vida com poucas expectativas, e tivemos de abrir caminhos com muito esforço, nosso e de outros que nos ajudaram. Bom, no final das contas, quando boto o pé no chão de qualquer lugar novo que tenho a sorte de conhecer, me sinto mesmo como uma estrela.

Pé nas nuvens


Comidinha de bordo pode ser tosca, especialmente quando a viagem não é muito longa (o voo para Santiago dura menos de 5 h, e as aéreas estão fazendo de tudo para economizar), mas até que a Lan foi razoável, especialmente na sobremesinha de chocolate. E o omelete no voo para a Ilha de Páscoa estava ótimo.

domingo, 6 de maio de 2012

Não há tempo, Alice

Onde foi parar o tempo? Envelhecemos, e não há como evitar. Clichê? Sim, sem dúvida. Na maior parte desse tempo, estamos executando tarefas rotineiras e ele se esvai sem que nos demos conta. Triste isso. Talvez seja por essa razão que os budistas insistam que prestemos atenção em cada minuto. Certamente isso faria com que estivéssemos atentos aos chamados 'desperdiçadores de tempo', a tudo aquilo que nos distrai... mas nunca aprendi a fazer isso e, além do mais, sou uma pessoa bem distraída ou, talvez, não consiga me concentrar realmente (a não ser naquilo que seja divertido, porque quando estou lendo um livro interessante ou assistindo a um filme arrebatador eu fico totalmente presa).


O que me deixa triste é a ideia de que não conseguirei dar conta de aprender tudo que poderia, de descobrir tudo que é possível num universo de coisas potencialmente maravilhosas. Inicialmente, achei que tudo estaria nos livros, e por aí comecei, talvez por ser a maneira mais simples ou mais acessível de saciar minha curiosidade. Interessante é que quanto mais portas se abrem, mais se quer abrir. Talvez seja por essa razão que os podres poderes instaurem censuras... Quando me foi possível aprender de forma mais concreta, mais insaciável me tornei, ou, quem sabe, talvez aí tenha me tornado hiperativa. Possivelmente nesse momento, sem sentir, tenha me definido como uma pessoa sempre em movimento, embora pareça dar a impressão de estar parada, por estar sempre com um livro nas mãos. Por enquanto o cérebro continua se movendo, graças a Deus. E é por ele que luto. Antes, para que se desenvolvesse, pelo aprendizado em si. Inteligência era a palavra-chave. Hoje, para que não sucumba ao declínio. Não somente imposto pela idade, mas pela senilidade ou pelos males que vêm se tornando comuns nesta era.


Sim, o tempo é inexorável, e talvez eu o desperdice mais do que muitos. Não sei o que faço ou fiz da vida, se ela vale ou valeu a pena, se talvez grande parte é meio vivida porque interseccionada por seres e mundos virtuais ou ficcionais. Não sei se sequer chegarei a alguma conclusão um dia. Hoje, por exemplo, acordei com vontade de ler alguma coisa relacionada aos símbolos, depois pensei em Alice (nunca li, portanto, preciso corrigir essa falha na minha educação), e estou com Guerra dos Tronos no meio, mais outros tantos livros para ler, e daí resolvi escrever, porque não há tempo para fazer tudo isso e ainda viver. Mas viver, pelo menos para mim, é isso. O que posso dizer? Enquanto vou lendo, vou "fazendo coisas", aquelas que são necessárias para que o corpo também viva e tudo se coordene. O segredo é o equilíbrio. Será que o encontro?

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O difícil caminho da cozinha



Poderia dizer que feijão-com-arroz é fácil, mas estaria mentindo, afinal só sei fazer arroz. Claro que poderia usar o Vapza (http://www.vapza.com.br/), que já está pronto, mas fazer mesmo feijão não sei e nem nunca vou fazer, porque tenho pavor de panela de pressão. Mas o fato é que como não sou mesmo habituê de cozinha, só encaro de quando em vez, e é quase sempre uma "misturinha": torta, bolo. O negócio é conseguir que o resultado final dê certo, que a mistura fique equilibrada. Porque nem sempre eu sigo a receita. Como essa, que começou como torta de brócolis e vegetal para virar torta de palmito e milho. Mas nada é simples. Para fazer essa torta, ou qualquer outra receita que eu decida de uma hora para outra elaborar, sempre preciso despencar para o supermercado. E aí começam os desvios. Claro.


Já que vamos à rua, o que temos a fazer? Passar na farmácia, pegar o relógio que estava no conserto, e, ah, sim, ir ao cinema. L'Apollonide - Os Amores da Casa de Tolerância, o filme da 1 da tarde (parece programa para a Belle de Jour, tão a propósito, aliás) no Cine Jóia, que foi ressuscitado e troca a programação o dia inteiro. Só passa filmes alternativos, aparentemente, o que é bom. Dá um sacode no cérebro ameaçado de extinção. Qual será a razão do título? Não sei francês o suficiente. Ah, tá, musas. Santo Google. Irônico, será? Li uma entrevista de uma das atrizes do filme que o diretor é compositor também. A trama se passa num bordel. As mulheres são mercadorias, por óbvio. "Faire le commerce". "Vamos negociar". Mas não passa de escravidão, pois elas estão sempre em débito. Algumas estão lá há mais de dez anos, têm de pagar pelas roupas, sabonete, perfume... E não tem fim o débito. Não podem escolher, não podem sair, podem engravidar, contrair doenças, são humilhadas, e ainda deparam com pervertidos sádicos. Repetindo o mais importante: não podiam escolher. Isso é fundamental.


Continuando. Depois de acordar o cérebro e cumpridas as tarefas secundárias, ao supermercado. Barraco na porta do Mundial. Fiquei na dúvida se a moça ia dar um tabefe no rapaz ou vice-versa. Entrar, impossível. Melhor deixar a economia e o barraco pra trás. Já fui furtada nesse supermercado sem-vergonha. Não tem economia que compense o prejuízo que eu tive, nem o aborrecimento.


Cheguei em casa, faxina em curso, quase abandonei a intenção da torta. Mas, como sempre, decido fazer as coisas na undécima hora. E fiz. Nada mal. Não vou ganhar nenhum prêmio de culinária, mas não vou morrer de fome. Só não lavei a louça. E ainda abri sozinha uma garrafa de vinho. Bem verdade que não consegui tirar a rolha do sacarrolha... =D


quinta-feira, 8 de março de 2012

Em busca de um picolé


"Para a temporada de verão 2011/2012, a Kibon apresenta Magnum Chocolatier Collection, grande inovação da linha de sorvetes Premium Magnum para celebrar os prazeres do chocolate. São dois novos sabores, o Magnum Trufa e o Magnum Brownie, que trazem justamente a expertise em chocolate ao universo do sorvete. As duas inovações foram inspiradas em receitas clássicas e adoradas pelos consumidores, trazendo uma combinação de sorvete cremoso com uma crocante camada de chocolate belga. Magnum Trufa é um sorvete de chocolate, com recheio de trufa de chocolate e coberto com uma camada crocante de chocolate belga."


Não que eu seja uma adoradora de sorvete. Na verdade, prefiro um Häagen-Dazs, um desses iogo-qualquercoisa, e se as lojas não fossem tão fora de mão, um Mil Frutas. Até um MacColosso de quando em vez, mas muuuuuuuito raramente às vezes me dá vontade. Mas, sério, passo batida. Acho gelado demais. 


¬¬


É. Gelado demais. Não acho muito confortável para minha garganta. Não sei a razão. Talvez algum trauma de infância? Papai/mamãe sempre diziam para "quebrar o gelo" dos líquidos que vinham da geladeira. Água muito gelada não desce. Exceção: Coca-Cola. Tem de ser muito gelada ou ter montes de gelo.


Voltando. Resolvi procurar o Magnum Trufa. Passei pela padaria perto de casa: só tinha o clássico. É bom lembrar que tenho de equilibrar a vontade com a oportunidade. Porque não adiantava achar o danado de estômago lotado ou muito vazio. No primeiro não ia caber, e com o segundo eu sinto necessidade de sal. Segui meu caminho e fui para o Centro. Cadê que tem picolé? Fui circulando, Rua da Quitanda, Rua 7 de Setembro, Uruguaiana, Alfândega, Largo da Carioca, 13 de Maio, Senador Dantas, Cinelândia... Passei por mates, pães de queijo, croissants, iogo-sorvetes, esfihas, churrasquinhos de gato, chope gelado, chocolate, até Starbucks, mas cadê padaria? Cadê geladeira de sorvete? 


Continuei hoje. Mudei de região. Pensei com os meus botões que padarias existiriam em bairros. Afinal, pessoas precisam de pão. E tradicionalmente padarias contêm geladeiras de sorvete. Ahn. Andei a Ataulfo de Paiva toda e não enxerguei nenhuma. Acho que os pães agora são de grife. Ou estão no supermercado ou no Talho Capixaba e similares.


Pensei em ir até à orla, quem sabe um vendedor ambulante, mas o sol estava proibitivo. Peguei o ônibus e fui pra Copacabana. Bairro interessante, bem mix. Lembrei então que em frente ao shopping Cidade de Copacabana, do lado da locadora e da farmácia Peixoto, existe uma lojinha que vende água e vendia sorvete. Bingo.


O sorvete nem era uma brastemp e só veio se somar ao sanduíche de salsichão do Alemão. Mas valeu. Só queria muito saber onde a Kibon vende sorvete.


PS: E pensar que sorvete já foi um prêmio quando eu era criança. O que mudou?

segunda-feira, 5 de março de 2012

Instante

Por um instante, let me be. O que eu quiser ser ou sonhar. Desenrolar uma ponta de mágoa até ver no que dá, se num emaranhado tão grande que me aprisione pra sempre ou na saída do labirinto. Confrontar a dor é preciso.

sexta-feira, 2 de março de 2012

A morte

Preciso me reconciliar com minha morte. Tenho medo da morte, mas preciso morrer. Se não o fizer, serei sempre o mesmo eu, esse ser desamparado, magoado, soterrado de lembranças que ameaçam me sufocar, me paralisar. O envelhecimento conduz à morte, mas pior do que a morte do corpo é essa morte mental. Não é depressão, não é tristeza, não é vazio, é um caos primordial que contém tudo e a lugar nenhum leva. 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Mitos e fantasias


Enquanto olhava as fotografias que tirei na Disneyland/Califórnia, assistia (escutava, melhor dizendo) a um programa no History Channel sobre as viagens de Ulisses. O grego, claro. Achei a propósito, já que para mim viagem tem a ver com buscas e descobertas.

O programa era interessante por várias razões: gosto de História, de mitos, e tenho especial fascinação pela mitologia grega, e, como já mencionado, há o tema da viagem e da busca como especial atrativo. Só que não dava para prestar muita atenção, não somente porque eu estava organizando as fotos, como também fazendo cookies (sim, sou caótica, ou multitarefa - a escolher). Naturalmente, já conheço a história do herói mitológico. E é aí que minha cabeça dá nó.

A narrativa é fantástica, sim, não somente no sentido figurado. Afinal, representa uma das muitas jornadas do herói que povoam as mitologias mundiais. E o The End feliz, então, com a fiel esposa Penélope, depois de driblar todos os malandros que queriam ocupar o lugar de Ulisses com aquela tecelagem interminável, que novelão, hein? Até os narradores do History Channel dão um pitaco dizendo que Ulisses era o grande herói grego, que o nome dele queria dizer algo como o homem que tem dor (sei lá, algo assim, em grego 'Odisseus', mas não sei grego, só sei que eles falaram da dor, com certeza). E que, sim, ele foi um homem que sofreu, blablabla. Antes já tinham chamado a atenção para o fato de que durante suas andanças, traía a mulher (aquela mesmo, que ficou esperando por ele 20 anos; é, 20 anos!!!!!) com várias outras, mas ninguém achava isso anormal. Ahn. Oi? Pausa. Parágrafo.

De novo: OI? Vou lá buscar uma referência em Joseph Campbell, o grande estudioso de mitos. Lembrava de ele ter feito algum comentário sobre a jornada do herói. E está lá: "Todas as grandes mitologias e boa parte das narrativas míticas do mundo têm um ponto de vista masculino". Ia até parar por aqui, mas me chamou a atenção uma outra coisa: "Quando eu estava escrevendo 'O herói de mil faces' e queria incluir heroínas, tive de recorrer aos contos de fadas." Está me parecendo que está aí a explicação para a vadiagem imperturbável de Ulisses. Naturalmente, mulheres de Atenas eram seres menores. A famosa democracia grega não era aquilo tudo. E a questão dos contos de fada é interessante também. Estaria aí a raiz do interesse feminino por contos de fada e suas derivações? A refletir.

É óbvio que continuo interessada nos mitos e entendo sua função religiosa, espiritual, psicológica, histórica, etc. etc. Mas é certo que toda vez que penso em Ulisses tenho vontade de dar muita pancada nele. E não só por Penélope, mas pelo filho, que ele só vai reencontrar adulto. Tremendo egoísta. ¬¬

Isso posto, recomendo Joseph Campbell, não somente o livro 'Mito e Transformação', como qualquer outro. Campbell, já falecido, tem até uma página no Facebook. É sempre bom lembrar que ele inspirou George Lucas em Star Wars. 

Follow your bliss, já dizia Campbell. Yes!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Viajar é preciso


Há tanto tempo não escrevo que estou até enferrujada. Costumo me inspirar quando viajo, mas isso, além de não ser o ideal para quem tem a pretensão de ser blogueira/escritora, também dá uma medida clara de indisciplina. Há um indicativo de caos subjacente a essa longa ausência. O problema é começar, e estou procrastinando, como sempre. Começar por onde? É aí que entram as viagens e por isso escolhi o título. Se não estou enganada, acho até que meu primeiro blog tinha esse nome, exatamente para falar de viagens. Por motivos não originais, o título faz referência óbvia a um de meus poetas favoritos, Fernando Pessoa, logo eu que não sou dada a poesia, talvez porque minhas viagens careçam de precisão para encontrar seu rumo.


No entanto, quando começamos a pensar em viajar, seja lá qual for o motivo, é certo que estaremos saindo do nosso cotidiano, da nossa realidade, e, de alguma forma, partindo para uma outra, esperada, fantasiada, desejada. O mundo se desloca do eixo a que estamos habituados por algum tempo, e não tenho muita certeza de que retorna exatamente ao ponto em que o deixamos ao término da viagem. Algo se modifica em nós. Somos mais do que éramos quando partimos. Vivemos, aprendemos, conhecemos lugares e pessoas, mesmo que não tenhamos nos deslocado mais do que algumas dezenas ou centenas de quilômetros. Sair do lugar é sempre sair da zona de conforto, é alargar os horizontes. Dizem que fazer coisas diferentes faz bem para o cérebro. Pois então. Imaginem se pudéssemos viajar todos os dias. Na verdade isso é possível: lendo.  Que coisa. Então foi aí que começou essa minha paixão por viajar.


Bom. É isso por hoje. Viaje todos os dias. Faça coisas diferentes. Atravesse a rua, ande pelo outro lado da calçada. A gente nunca sabe o que vai acontecer no próximo minuto. A vida é imprevisível. Não resisto a reproduzir meu adorado Fernando Pessoa abaixo.


Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito desta frase,
Transformada a forma para a casar como o que sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
Ainda que para isso tenha de ser o meu corpo
E a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
Ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
O propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
Para a evolução da humanidade.

Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...