sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Copiando

Estou mais uma vez fazendo a faxina na caixa postal. Achei este link, e (re)descobri pq guardei. O texto é fantástico e foi publicado originalmente na Folha Online.

17/07/2006

Édipo e Nasrudin

"O complexo de Édipo é mais famoso que a tragédia de Édipo. Freud queria seu nome gravado em pedra. Conseguiu. Não se pode afirmar, mas, pela detalhada biografia escrita por Peter Gay, pode-se deduzir que Freud tinha um pezinho na depressão. O outro estava fincado firmemente no desejo de ser famoso, de ser um grande homem. Enfim, um pobre diabo como todos nós, que fez sua limonada de dois limões que a vida lhe deu: a melancolia e o desejo de ser mais do que apenas um homem comum.

Apesar de notório, o complexo de Édipo não é entendido pela maioria dos que o citam. Eu mesmo nunca li o texto original. Peço a Ramon, o revisor amoroso, que encomende ao analista (de seu ilustre círculo de relacionamentos) um texto de divulgação científica (pros fracos) sobre o significado propriamente freudiano do complexo complexo. Luiz Pinheiro, que entra em férias, como eu (volto na segunda semana de agosto), não deverá se manifestar dessa vez.

Feitas as necessárias e humildes ressalvas, exponho o que entendi do tema a partir de leituras de segunda mão, conversas com psicanalistas e alguns anos de análise: o complexo de Édipo é uma construção intelectual (um modelo teórico apenas, pois não há comprovação científica) arquitetada para explicar o momento fundamental da infância, talvez de toda a vida: o primeiro em que nossa visão de mundo é fortemente agredida pela realidade, o primeiro questionamento crítico importante que fazemos sobre a percepção fantástica, fantasiosa que, crianças, todos temos da vida.

A finalidade crucial desse acontecimento é a conquista da humildade e, quase paradoxalmente, da segurança pessoal. O édipo é uma lição baseada num trauma. Como uma vacina, que tira do veneno a salvação, o édipo tira do trauma a nossa futura capacidade de suportar frustrações, principalmente as das áreas do amor e da auto-estima.

A lição ou o trauma (quando não se aprende a lição) nos acompanhará e guiará por toda a jornada que teremos em seguida sobre o planeta: uma odisséia para todos, uma tragédia para muitos, para as quais nos preparamos, sem saber que nos preparamos, numa idade em que seria tão bom que tudo fosse apenas sonhos. Paulo Francis, que gostava de repetir que a realidade é melhor do que sonhos, afirmava também recorrentemente que não há época mais triste do que a infância. Talvez falasse da própria, mas, da minha, me lembro claramente do desamparo e da solidão, apesar dos pais amorosos que tive. Dois pezinhos na depressão ou a tristeza infantil é verdade universal, comum a todos?

O trauma se dá quando a criança percebe que aqueles dois que estavam ali só para cuidar dela, dedicar todo o amor apenas a ela, têm um lance entre si. Papai e mamãe têm segredos, têm vida própria e comum, cumplicidades. Então, o pequeno ser, incapaz de racionalizar e usar a linguagem para expressar os sentimentos terríveis que emergem dentro de si diante das novas constatações, descobre que monstro existe, sim, pelo menos um, mas muito, muito assustador, terrível, horrível e, ainda por cima, de olhos verdes. E não consegue nomear o monstro, nem consegue apontá-lo para papai e mamãe e perguntar o nome. Se pudesse ouviria "ora, é o Ciúme. Nenê tá com ciúme, minha coisinha linda tá com ciuminho? Meu anjo, liga não, papai te adora, filhinho, mamãe te ama mais do que tudo nesse mundo".

O amor daqueles dois não é apenas dele. Ele não tem exclusividade, como acreditava e baseava, sem saber, toda a sua felicidade, sua onipotência, seus super-poderes, naquela atenção falsamente incondicional. A auto-estima vai a zero, uma criancinha vive uma desilusão de gente grande. Se tiver condições adequadas para lidar com a percepção brutal, ela aprenderá duas lições básicas: a de que não é exclusivo e que o amor que lhe sobra é suficiente para sobreviver. Se tiver condições adequadas: pais amorosos e capazes de acompanhar o filho nessa desilusão, e, não menos importante, a capacidade de suportar sofrimento com a qual a criança já nasce, algumas com mais, outras com menos, distribuídas segundo a lei de Deus.

(Nasrudin tinha um pacote de balas na mão e disse para um grupo de meninos que estava por perto: Vou dar essas balas para vocês, vocês querem que eu distribua segundo a lei dos homens ou segundo a lei de Deus? Segundo a lei de Deus, a lei de Deus, disseram os meninos. Então Nasrudin deu uma bala para um menino, duas para outro, o resto do saquinho para outro e deixou todos os outros chupando dedo. Eles reclamaram e Nasrudin respondeu: Ora, foram vocês que escolheram a lei de Deus. Igualdade é lei dos homens)

Alguém com o édipo bem resolvido (pelo que tenho visto por aí, outra fantasia) seria capaz da humildade de não precisar ser exclusivo de ninguém, ou seja, seria capaz da segurança de não precisar ser exclusivo de ninguém. E estaria vacinado contra o vírus VERME MONSTRO de olhos verdes.

Dois livros que li recentemente recendem a édipo mal resolvido, 'Memória de minhas putas tristes', de Garcia Marques, e 'O paraíso é bem bacana", de André Sant'anna. No primeiro, um homem de 90, que só transou com putas a vida toda, sofre o nascimento de uma "nova" fantasia amorosa; no segundo, um menino pobre, negro, brasileiro, filho de uma mãe bêbada, vai encontrar no Islã, na Alemanha, a felicidade amorosa das 72 virgens prometidas ao fiel que se sacrificar em nome do Alá da guerra santa.

O édipo não tem idade, endereço, classe social. Rico, pobre, índio, paquistanês, hutu, piauiense, araraquarense, japonês, físico nuclear, ginecologista, Hebe Camargo, Materazzi, Zidane, a perua do Senhor, Bento dezesseis, dezessete, dezoito, Heloísa Helena, Oriana, a petista esclarecida, Angelina Jolie, os filhinhos de Angelina Jolie com Brad Pitt, mesmo os batizados lá naquele país afro-medieval, Michael Jackson, George Michael, Michael Jordan, todos têm, todos passam pelo próprio, e único édipo. Condição humana das brabas, Santo Graal cheio de sangue humano. Quem não o viveu adequadamente quando criança estará condenado a repeti-lo até aprender sua dura lição.

Mil vezes a santidade, a castidade, o heroísmo, as drogas, o vício, a ideologia, o crime, a idolatria, o contrabando de armas na África, a troca de casais, trocar de cônjuge, faustão aos domingos: qualquer coisa é melhor do que encarar o próprio édipo na fase adulta. O édipo é bom de ser vivido quando a gente é criança, antes de pôr aparelho nos dentes.

Pra não pegar sotaque, né?"
Hermelino Neder é compositor e professor de música. Venceu vários prêmios nacionais e internacionais por suas trilhas sonoras para cinema. É doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Tem canções gravadas por Cássia Eller e Arrigo Barnabé, entre outros.

E-mail: nederman@that.com.br
http://www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/diariodepressaoefama/ult2855u62.shtml

Humor inglês

Fonte: http://i538.photobucket.com/albums/ff347/neris_k/LUmapcopy.jpg

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Word of the day

Word of the Day

Wednesday, September 16, 2009

logorrhea

1. Pathologically incoherent, repetitious speech.
2. Incessant or compulsive talkativeness; wearisome volubility.
Origin:
Logorrhea is derived from Greek logos, "word" + rhein, "to flow."

logorréia
Datação
1873 cf. DV
Acepções
substantivo feminino
1 Uso: pejorativo.
profusão de frases sem sentido e/ou inúteis
2 Rubrica: psicopatologia.
compulsão para falar, loquacidade exagerada que se nota em determinados casos de neurose e psicose, como se o paciente, assim, quisesse dar vazão ao grande número de idéias que passam por sua cabeça; logomania, verborragia


Etimologia
log(o)- + -réia; f.hist. 1873 logorrhea

Sinônimos
ver sinonímia de loquacidade


Nem vou procurar o sinônimo de loquacidade. Estava circulando pela rede, e caí nessa 'palavra do dia'. Em inglês. Fui ver no Houaiss para ver se tinha o equivalente em português. Tinha. Resolvi postar as duas. Para provar que aí está o X da questão na rede: a compulsão para falar, ou escrever. Naturalmente, tudo isso está sendo deixado para trás pelo microblog, especialmente o mais famoso de todos, o Twitter, com seu famoso limite de 140 caractereses. Confesso que me deixei seduzir. É tão mais prático! Ainda mais com a funcionalidade de retwit: vc vê uma coisa interessante que alguém já postou e quer contar para o seus seguidores (se é que tem algum), e com essa justificativa, recorta e cola. Não, não é plágio, a ñ ser q vc ñ seja educado e ñ coloque a marquinha 'RT' (=retweet). Claro que pode querer dizer falta de assunto ou originalidade. É bom manter a sobriedade. Mas a loquacidade fica reservada para o seu blog, onde vc pode, efetivamente, se derramar em frases com ou sem sentido, úteis ou inúteis, e ficará nisso mesmo. A ñ ser, lógico, q vc fira algumas regras básicas do bom senso, coisa q ñ pretendo fazer. Loquaz sim; neurótica ou psicótica não sei; mas, dentro da minha liberdade de opinião, procurando manter a ética.

domingo, 20 de setembro de 2009

O reverso do amor, por Ivan Martins

"“A alma me caiu aos pés” é uma expressão espanhola que eu conheci através de um dos meus escritores favoritos, o madrilenho Jorge Semprún.

Educado em francês e alemão, apaixonado pelas palavras, Semprún é fascinado pelo que essa expressão descreve com exatidão: o momento aterrador em que nosso mundo vem abaixo, o instante em que nos vemos nus diante da realidade acachapante.

Lembro que a alma me caiu aos pés numa noite chuvosa de terça-feira, em São Paulo.

Eu havia saído com a namorada e tivemos um desentendimento repentino, explosivo, desses que termina em gritos e lágrimas sem que qualquer um dos dois tenha (ao menos conscientemente) intenção de romper e causar dano.

Discutimos no carro, a caminho de um restaurante, e retornamos à casa dela sem nos olhar. Eu a deixei sob a luz amarelada do prédio. Tão logo acelerei o carro, furioso, aconteceu: a alma me caiu aos pés.

De um só golpe me veio, inteira, a importância daquela mulher na minha vida. O mundo sem ela ficou instantaneamente vazio de sentido. A amargura subiu pela garganta e me dominou a ponto de quase impedir o ato de guiar.

Sei que cheguei em casa e me larguei na poltrona, sentindo as coisas ruírem à minha volta. Eu me sentia inteiramente só. E apavorado. Pensei: como se vive com esse sentimento?

Antes que eu tivesse chance de descobrir, ela telefonou.

Conversamos cautelosamente, como dois bichos feridos: um percebendo no outro, pela primeira vez, o potencial de causar dor. Como não havia nada realmente errado, as coisas se resolveram e a ordem do universo foi restaurada. A vida voltou ao seu lugar.

Desde então, porém, a pergunta me persegue: como se vive com tamanha dor? Como se lida com o reverso do amor?

Tenho uma amiga que terminou outro dia um namoro bonito, com um sujeito devotado, e se encontra inteiramente tranquila. Na verdade, está feliz por ter mais tempo para si mesma.

Tenho outra amiga que é inteiramente diferente. Ela terminou um namoro ruim e está em farrapos: não consegue estar só e sentir-se bem.

A maioria dos homens que eu conheço pertence ao segundo grupo.

Diante de um rompimento indesejado, eles desabam. Correm para o bar, enchem a cara, ligam para todas as mulheres da cidade, fazem o maior barulho possível. Se apavoram.

Sempre tive a impressão de que pertencer a esse grupo era a única maneira de existir. Do lado dos sóbrios e tranquilos, eu pensava, só há gente fria. Gente que eu não queria ser.

Hoje penso ligeiramente diferente. Tendo sentido a alma nos pés mais de uma vez, me parece invejável a capacidade de algumas pessoas de estar no centro da própria vida permanentemente – em vez de deixar que outro ser humano ocupe esse lugar essencial.

Quando as relações terminam, essas pessoas saem quase intactas. Vão recuperar sozinhas a própria integridade. Sem pânico. Sem drama. Isso significa que se divertiram menos no caminho? Significa que gostaram menos? Talvez. Ou talvez signifique, apenas, que são mais equilibradas.

Assim como a sombra, talvez a alma devesse estar colada ao corpo permanentemente. Deve haver algo de errado com uma alma que vive caindo nos pés."

Publicado na revista Época
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI88758-15230,00-O%20REVERSO%20DO%20AMOR.html


Nem sei se é a alma ou o coração... é o que faz o coração da gente disparar... no fundo é o cérebro mesmo, ele é que é o gatilho de tudo, de todos os sintomas que nos acometem e todas as vergonhas, pânicos, pavores, vontade de nos trancarmos dentro de casa e nunca mais sairmos, ou, talvez, ao contrário, sair e sacudir alguém, quiçá apagar tudo, fazer voltar o tempo, às vezes até ao momento em que sequer existíamos...

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Filosofia

"O comportamento do personagem da série de TV House (TV a cabo - Universal) acaba de se tornar tema de um livro, lançado no Brasil pela editora Best Seller. Em A Filosofia em House (192 pág., R$ 24,90), um grupo de filósofos analisa a ética e a moral do personagem, buscando entender o seu padrão de raciocínio e explicar os motivos de suas atitudes."
Estou curiosa. Bom, nunca estudei filosofia, que para mim está no nível de O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, que é (era?) um professor de filosofia do secundário, e de alguns artigos de revistas voltadas para o tema. Às vezes eu fico meio confusa com abstrações filosóficas. Mas estou descobrindo a necessidade de me aprofundar um pouco mais ao ler sem fraude nem favor - estudos sobre o amor romântico, de Jurandir Freire Costa, ed. Rocco, quando ele começa a desenrolar os conceitos ao longo do tempo acerca do que se convencionou chamar de amor. O assunto me interessa tanto pelo lado humano como pelo ângulo literário: como se constroem (nova ortografia: com ou sem acento agudo?) as tramas amorosas na chick-lit? O que existe ali que prende a atenção? É só observar a lista de best-sellers do NYT, e se verá que há serial writers - leia um, e compare os livros seguintes, e só mudarão os nomes e as locações. Às vezes nem isso. Mesmo assim, nós, as fãs, continuamos comprando os livros (ou eles ñ seriam best-sellers). Porque? Só pode ser vício. Ou porque os livros contêm algo que falta em nossas vidas. Preciso estudar o assunto. Mas esse psicanalista vai e saca Santo Agostinho, e outros, e dá um nó na cabeça da gente. Espero terminar o livro em estado de alguma sanidade.
Depois eu compro o livro sobre a filosofia do House, que é absolutamente fascinante, mas, para mim, a pessoa mais cínica e antiética da face da terra. Bem... comparado com os políticos brasileiros, tenho de rever meus conceitos. Deve ser no mínimo interessante. Tenho de passar numa livraria para folhear e conferir. Não dá para confiar só em release.
Finalizo com um comentário pescado num site sobre O Mundo de Sofia, este sim, um livro encantador, com certeza:

O objectivo principal deste livro não é, segundo o nosso ponto de vista, relatar ao leitor a evolução da filosofia ao longo do tempo, mas sim fazer com que este não seja tão indiferente àquilo que o rodeia. Isto é conseguido através das respostas dos grandes filósofos às questões que sempre afligiram o mundo.

"A capacidade de nos surpreendermos é a única coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filósofos (...) E agora tens que te decidir, Sofia: és uma criança que ainda não se habituou ao mundo? Ou és uma filósofa que pode jurar que isso nunca lhe acontecerá?... Não quero que tu pertenças à categoria dos apáticos e dos indiferentes. Quero que vivas a tua vida de forma consciente."

http://www.ime.usp.br/~cesar/projects/lowtech/mundodesofia/



quinta-feira, 17 de setembro de 2009

tictactictac


O adesivo está meio avariado, mas é 'de verdade'. Peguei lá na praia de Copacabana, na manifestação do Greenpeace (que poderia ter sido mais prestigiada...). Carece de mais empenho das pessoas a vontade de não somente exigir e esperar que aconteça, mas fazer acontecer, e dar o exemplo. Percorram-se as ruas para se ver a quantidade de lixo que jogam (papel, garrafas, copos... é o maior descaso com o espaço público - que é de todos... depois quando se entopem os bueiros, as ruas ficam alagadas, e os desastres acontecem, todo mundo olha pro céu procurando resposta... olhar pro espelho nada, né?)
Já dispensou 'seu' saco plástico de hoje? Compre uma ecobag. Tem de todo preço...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Mais livros...

Aproveitando a Bienal (ou, para quem não puder/quiser ir tão longe, tem barraquinha do que foi outrora a 'Feira do Livro' e hoje é uma pálida sombra, com muito refugo, ali na Rua Uruguaiana, no Centro do Rio), seguem umas dicas, garimpadas da revista Vida Simples, não sei de que edição, pois arranquei a página e a achei perdida no meio da minha bagunça habitual.

A LITERATURA EM PERIGO, Tzvetan Todorov, Difel
(Este foi o que mais me chamou a atenção: 1) Porque o autor era um dos favoritos de alguns dos meus professores na Faculdade de Letras na UERJ; e 2) Por causa da descrição: T-U-D-O A VER!!!)
"Por mais longe que remontem minhas lembranças, sempre me vejo cercado de livros." Assim começa o livro. Seu tema é o estágio em que o ensino e a propagação da literatura chegaram aos nossos dias. Para o búlgaro Todorov, há diversos indícios de um evidente declínio das letras, mesmo nas carreiras ditas "humanas'. Mesclando análise, autobiografia e manifesto, este é um livro apaixonado pelas letras e pelas gerações de homens e mulheres que construíram esse vasto universo chamado literatura.

A GEOGRAFIA DA FELICIDADE, Eric Weiner, Equilíbrio
O jornalista americano, correspondente internacional acostumado a cobrir conflitos e desequilíbrios políticos, descobriu que havia, na Holanda, um cadastro internacional sobre a Felicidade. Decidido a conhecer as razões pelas quais alguns países (como Moldávia e Islândia) constavam na lista, embarcou numa viagem fascinante através de 4 continentes - tudo para inquirir da população o porquê de todos se declararem felizes.
Misto de reportagem e crônica, é um livro ideal para se ler na praia ou bem acomodado numa rede, no sítio. Com clareza, bom humor e um estoque interminável de anedotas, Weiner seduz pela verve e, em muitos momentos, pela ironia afiadíssima.

A ARTE DA VIDA, Zygmunt Bauman, Zahar
Ufa, enfim o (ótimo) pensador polonês Zygmunt Bauman não tascou a palavra "líquido" em um de seus livros. Brincadeira, claro, com o autor de Amores Líquidos, Medo Líquido e outors títulos centrais para o entendimento de nossas motivações no mundo. Este aqui especula sobre o tema que está sempre em nossas cabeças: a busca da felicidade. Com ironia e um nível de argumentação que nunca é rebaixado, Bauman discute se nossa sociedade não estaria obecada por um ideal muito difícil de alcançar. Mais ainda: com o gosto pelo paradoxo e pela audácia, o autor especula sobre os desejos, às vezes falseados, de sermos o que não somos - tudo para arrotarmos uma felicidade que talvez não seja tão genuína.

A GAIVOTA, Anton Tchekhov, Cosac Naify
Toda obra de Tchekhov (1860-1904) apoia-se em sutilezas quase metafísicas. "Quase" porque as cenas e os diálogos urdidos pelo russo partilham das maiores banalidades. Mas então o milagre acontece: sob essa camada corriqueira descortina-se toda uma consciência a respeito dos grandes temas da existência.

domingo, 13 de setembro de 2009

Cinema (quase) grátis

Dicas da revista Programa (JB) de 4 a 10 set 09

- Sessão Desconto - todo dia, 15 h, R$ 4 (www.cinemark.com.br)
- Cine Cult Cinemark - 14 h (R$ 7)
- Sessão Família - ingressos a preço reduzido no Rio e Niterói (Shopping Downtown, Botafogo Praia Shopping e Plaza Shopping Niterói)
- Terça na Tela - Carioca Shopping, R$ 6, Shopping Downtown, R$ 7
- Grupo Estação - Cachaça Cinema Clube e LGBT (ambos com entrada a R$ 10)
- Maratona Odeon - Cine Odeon, Praça Mahatma Ghandi, 2, Cinelândia
- Cine Santa - Largo dos Guimarães, 136, Santa Teresa. R$ 12 (seg a sex), R$ 14 (sáb, dom e feriados), promoção: quarta-feira, todos pagam R$ 6
- Cine Glória - Praça Luís de Camões, s/n, subsolo, Glória. Todos os dias, R$ 12. Não abre segundas.

A cinemateca mais famosa da cidade, no Museu de Arte Moderna, tem mais de 50 anos de existência. Os cineclubes de faculdades são opções mais informais para se discutir cinema. Na Escola de Comunicação da UFRJ, um grupo de alunos organizou o Cinerama, que exibe filmes difíceis de se encontrar em locadoras. Toda quinta-feira tem sessão. Tudo é grátis. A programação pode ser conferida em http://cineramadaeco.blogspot.com. Mais descontraído é o Cineclube Beco do Rato, no bar homônimo, que promove roda de choro depois das sessões, às quintas-feiras, grátis.
- Cineclube Beco do Rato - Rua Moraes e Vale, s/n, Lapa. Grátis.
- Cinemateca do MAM - Av. Infante Dom Henrique, 85, Centro. Grátis.
- Cinerama - Av. Venceslau Brás, 71, Botafogo (Campus da Praia Vermelha).

Livrarias dentro de cinema: a Livraria Da Conde promove, toda quinta-feira, às 20 h, o Cinelounge, em que são exibidos filmes no segundo andar da loja.
- Livraria Da Conde - R. Conde de Bernadote, 26, loja 125, Leblon.

Centros Culturais
- CCBB - R. Primeiro de Março, 66 - Centro - R$ 6
- Justiça Federal - R. Primeiro de Março, 42 - Centro
- Caixa Cultural - Av. Almirante Barroso, 25 - Centro
- Instituto Moreira Salles - R. Marquês de S. Vicente, 476, Gávea
- Maison de France - Av. Presidente Antônio Carlos, 58 - Centro (toda semana mostra filmes franceses inéditos; para assistir, basta fazer o cadastro no site www.maisondefrance.org.br, onde também pode-se consultar a programação) - grátis

sábado, 12 de setembro de 2009

"O" BLOG

Um dia eu estava na Baratos da Ribeiro (um sebo-livraria que fica, claro, na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana), tocaiando um livro, quando entreouvi uma conversa sobre o Megazine, suplemento do jornal O Globo, que iria sair no dia seguinte. Como aboli o hábito de ler jornal (papel) diário, e as únicas curiosidades que me atraem são as escritas, comprei o jornal. Desde então não parei mais. Apesar de parecer ser mais voltado para uma faixa etária bem mais abaixo da minha, tem me mantido cativa.
Uma das razões, além das matérias - aliás, coincidência, logo de cara saiu uma ótima, sobre responsabilidade social, do jornalista Lauro Neto, que, vejam, é filho de um amigo. Tem também a coluna do João Paulo Cuenca, que não somente tem me surpreendido (a primeira vez que li não mexeu comigo), como me levou a descobrir que José Saramago tinha um blog.
Que coisa, sô! Chega a dar vergonha a gente escrever aqui, só por narcisismo mesmo, tal e qual a pesquisa disse lá dos twitterers e facebookers.

Mas humildade não é artigo de confessionário, vamos logo admitir que o homem que ganhou o Prêmio Nobel de literatura (e cujo português falado, aliás, não entendi lhufas quando esteve em SP, em 2002 ou 2003, dando uma entrevista para Juan Arias, na Livraria Cultura) - mais do que merecido - está no panteão dos deuses, enquanto euzinha aqui estou só gastando as digitais, e pronto.
Poizentão, Saramago criou o blog josesaramago.org, em setembro de 2008, e os posts foram reunidos no livro 'Caderno', publicado pela Companhia das Letras.
Nem precisaria dizer que é imperdível. Lá está o homem indignado com a crise financeira, encantado com a eleição do presidente Obama, com a escrita de Chico Buarque, e no meio do caminho vai falando de literatura, política, vida... com o detalhe, pequeno grande detalhe que o diferencia da maioria que se espalha feito praga pela Internet: ele sabe escrever.

É irresistível reproduzir o post do dia 30/10/08:

A PERGUNTA
E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?
Almeida Garrett
(1799-1854)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Livros

No Brasil se lê ou se compra (?) 0,7 livro(s)/habitante/ano. Comprar não é sinônimo de ler. O livro comprado pode ser didático, o que pode significar "obrigatório". Há ainda uma distinção entre regiões e escolaridade. Sem entrar em detalhes, ainda é incrivelmente ínfima essa relação.
Parafraseando Kiko Zambianchi, eu digo que se alguém não lê não entende, não entende se não lê.
Pode-se alegar que há outros tipos de leitura que não um livro: jornais, revistas, e atualmente, blogs, redes sociais. A mais sucinta delas, o Twitter, que tem como limitador 140 caracteres. Quase um hai-kai. Pode-se fazer maravilhas com cada uma dessas mídias. Ou horrores. Ou nada.
Pode-se tomar uma decisão questionável, como a adolescente que, em vez de ligar direto para o número de socorro quando ficou presa em um acidente, colocou um post no Twitter.
Mas para se chegar a entender ou escrever alguma coisa que valha a pena, uma história básica de leitura tem de ser percorrida. Um cardápio básico. Algo como fez o crítico David Gilmour para "educar" seu filho, desinteressado da escola: em vez da educação formal, assistir a 3 filmes por semana, escolhidos pelo pai. Não, o critério não foi determinado pela erudição. Também pensei que fosse (ainda não li o livro escrito sobre o assunto). Porque foi assim que me ensinaram. Não sei como anda a educação hoje. Mas a coisa era empurrada, e muita gente mal leu Machado de Assis, por ex., porque foi obrigada. Não sabe o que perdeu.
Mas é fato que associou-se a leitura a algo cansativo, mais uma tarefa que representaria uma prova e uma nota. No vestibular, mais um "cardápio", as famosas interpretações de textos. Nenhuma garantia de que o livro atingiu o leitor, gerou reflexão, emoção, prazer ou ódio, algum tipo de aprendizado. As famosas redações com os absurdos começaram a circular, e a Internet se tornou o meio ideal para isso. Se são inventadas ou não, desconheço. Mas que é plausível, com certeza.
Agora estão apostando no fim dos livros, dos jornais. Hoje lia 'O Caderno', de Saramago (seu blog publicado!), e achei curioso justamente ele mencionar uma feira de editoras em que as pequenas contrariavam ou faziam de tudo para contrariar essas predições.
A Bienal do Livro (http://www.bienaldolivro.com.br/) acontece no Rio de 10 a 20/09. Eu continuo insistindo em comprar livros. Tenho cartão de fidelidade da Saraiva (a Siciliano foi comprada por esta), da Cultura (amo), estou cadastrada na Fnac, na Amazon.com, na Amazon.uk, na Barnes, na Estante Virtual (http://www.bienaldolivro.com.br/) - a maior rede de sebos do Brasil, conforme apregoa. Agora também há sites onde vc pode cadastrar livros que você lê, como Shelfari e Skoob.
Nem foi por isso que eu estudei Literatura, porque acabei trabalhando num banco. Mas certamente faz sentido eu me sentir em casa dentro de uma livraria ou biblioteca. Por falar nisso, o Real Gabinete Português de Leitura é o que há (http://www.realgabinete.com.br/). No popular: pinto no lixo.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Romance

37.600.000 hits para 'romance', só no Google.
490.000 hits para 'Jane Austen'. Apenas 6 livros completos em 41 anos de idade, e uma das maiores escritoras inglesas (1775-1817).
Não vou compará-la com Machado ou Pessoa - divinos, igualmente. Jane é Jane. Tive de reler Mansfield Park, e só faltava ler Northanger Abbey. Terminei nas férias do ano passado, por coincidência, em Londres. Muito apropriado (Deus permitiu, que bom).
Volta e meia releio Pride and Prejudice e Persuasion, e revejo os filmes. Perfeição absoluta. Como alguém pode escrever assim? É bom para aprender e para não inflar o ego de quem tem pretensões literárias, como eu. Só é ruim para quem acredita no amor perfeito. Pois quem pode se comparar a heroínas como Elizabeth Bennett e Anne Elliott, e heróis como Captain Wentworth e Mr. Darcy?
Quem não iria se comover com esta carta do Capitão:
"I can listen no longer in silence.  I must speak to you by such means
as are within my reach. You pierce my soul. I am half agony, half
hope. Tell me not that I am too late, that such precious feelings are
gone for ever."
E com esta fala de Anne:
All the privilege I claim for my own sex (it is not a very enviable one; you need not covet it), is that of
loving longest, when existence or when hope is gone.
As idas e vindas de Lizzy e Darcy são como a própria dança que é descrita no livro, com seus movimentos precisos, caracterizando a rigidez de Darcy, e as intervenções criativas, que marcam a presença de Lizzy. O que a princípio parece demonstrar a total incompatibilidade entre eles, vai aproximá-los. Parece a receita para um best-seller, só que ele foi escrito em 1796-97, e é o retrato de uma era e seus costumes, com originalidade, brilhantismo, espírito crítico. Nada da baixaria e promiscuidade que se espalhou por aí...

A pergunta que não se cala, porém, é: como essa mulher que, segundo sua biógrafa, nunca se casou, e pelo que se sabe, teve uma vida discreta - era filha de um pastor, além de ter limitados recursos financeiros - foi capaz de inventar os mais idolatrados ícones do romance?

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Inquietação

Não sei se sou acomodada ou aventureira - tanto gosto de ficar horas lendo, como na internet, e não é em salas de bate-papo, gosto mesmo é de saber o que está acontecendo sobre os meus assuntos de interesse e compartilhar nas minhas redes - Twitter, Facebook, e-mail, blogs... li no site Mashable (http://mashable.com/) que saiu uma pesquisa decretando que o perfil de quem usa as redes sociais é narcisista.
Uau, a gente quer é aparecer. Hum... considerando-se as minhas preferências (literatura, meio-ambiente, causas sociais), se eu conseguir aparecer, está muito bom. Odeio o Big Brother e se aquilo não é exposição negativa, eu não sei o que é.

De volta à vaca-fria (sempre quis saber o que quer dizer isso, e hoje li esta expressão em Saramago...). Terminei de ler recentemente The Art of Travel (A Arte de Viajar), de Alain de Botton. Há anos li dele Ensaios de Amor. Agora, para entender melhor a ansiedade que me bate quando eu penso em viajar, resolvi ler este.
Bem, se eu tivesse de viver de fazer crítica literária, morreria de fome. Não consigo ser sintética. A não ser quando o cara é ruim (v. Pride and Prejudice and Zombies, quando o sujeito destruiu o original de Jane Austen). Aí é fácil: em uma frase a gente diz que não presta e espalha. Em inglês tem o site Shelfari, onde você pode montar sua estante de livros. Bem legal.
Viajei, como o cara que escreveu um livro sobre a viagem noturna que ele fez em seu quarto. Não, ele não era doido, inclusive ele viajou convencionalmente também. Mas é uma questão de observar. Alguém se preocupa em realmente ver por onde anda no seu caminho rotineiro? Como aquela cena de Notting Hill, onde Hugh Grant está andando, e as estações passam, até a roupa muda para acompanhar o tempo, mas o local é o mesmo, porque ele está caminhando de casa até o trabalho, e o trajeto não muda. Mas não é verdade, a cada dia, cada momento é diferente. Perguntem a um budista.
Nós nos deixamos levar pela rotina, todo dia pensamos que é tudo sempre igual, e assim matamos primeiro o coração, depois o cérebro. Quem tem dinheiro viaja - fisicamente. Vai a Búzios, São Paulo, Garopaba, Nova York, Roma. Tem gente, como eu vi outro dia, que entra e sai de uma catedral que é Patrimônio Cultural da Humanidade só pra dizer que esteve lá, tira a foto e ainda conta isso. Tem gente que visita 20 cidades em 20 dias.
É isso? Espero que não. Botton cita Nietzsche, que leu De Maistre (o cara que escreveu sobre seu quarto):
Quando observamos como algumas pessoas sabem como lidar com suas experiências - suas insignificantes experiências do dia-a-dia - de forma que elas se tornem um solo arável que dê frutos três vezes ao ano, enquanto outros - e quantos eles são! - são direcionados por entre as ondas do destino, as múltiplas correntes dos tempos e das nações, e no entanto, permanecem no topo, pulando como uma rolha, então somos tentados a dividir a humanidade entre uma minoria (muito mínima) que sabe como fazer muito de pouco, e uma maioria que faz pouco de muito.

Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...