quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Você deve visitar o Museu de Belas Artes

O Rio de Janeiro pode não ter um Louvre (Paris), um Museu Britânico (Londres) ou um Hermitage (S. Petersburgo), mas tem ótimos museus que registram a história da cidade e têm peças relevantes. Um deles é o Museu de Belas Artes, ali em frente ao Teatro Municipal, pertinho da Cinelândia (dá pra ir de metrô), no centro da cidade. Dá até pra fazer uma visitinha na hora do almoço, pra quem trabalha nas imediações. O que é preciso é ir. Simplesmente ir.

Tem exposições pontuais? Tem. Descobrem-se pelos cadernos de cultura divulgados pela mídia ou até passando-se na porta e dando uma checada nos banners. A entrada custa R$8 (com meia-entrada para estudantes, professores, e talvez outras categorias). Tem site pra averiguar detalhes e agenda  (http://mnba.gov.br/portal/). O museu também tem página no Facebook (https://www.facebook.com/MNBARio/).

O museu foi inaugurado em 1938, mas sua história começa com a chegada da família real portuguesa no Brasil, em 1808. Em sua "encarnação" anterior era a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, fundada pelo rei e que funcionava em prédio próprio, construído por Grandjean de Montigny, um dos integrantes da Missão Francesa. A Escola Real virou Academia Imperial e depois Escola Nacional. O prédio do atual museu é uma combinação de estilos, e foi tombado pelo IPHAN em 1973.

O acervo partiu das obras trazidas por D. João, e foi ampliado com o tempo, inclusive com a incorporação do acervo da Escola Nacional, além de aquisições. Conta atualmente com cerca de 15 mil peças, entre pinturas, esculturas, desenhos e gravuras de artistas brasileiros e estrangeiros, além de uma coleção de arte decorativa, mobiliário, arte popular e um conjunto de peças de arte africana.

Seja lá o que for que esteja acontecendo, é preciso ir. Pelo menos uma vez, embora eu recomende várias. São muitas peças, e o museu não é pequeno. Demanda tempo e preparo físico. Também não sei se todos os ambientes já estão com a refrigeração funcionando plenamente. Ano passado tive de interromper a visita porque um dos ambientes estava com refrigeração nula, impossível de ser tolerada no verão saariano da cidade. 

E em pelo menos uma das alas do museu sempre tenho que dar uma espiada: o corredor onde estão as esculturas greco-romanas, ou a 'Galeria de Moldagens'. A primeira vez que vi, muitos anos atrás, não dei muita bola porque achei que eram "simples" cópias. Talvez porque estivesse diante de uma exposição de esculturas de Rodin. Ainda bem que a gente aprende a aprender. Só recentemente fui descobrir que eram mais do que isso.

A maioria das moldagens expostas nas duas galerias do segundo piso do MNBA é de peças realizadas do início do século XIX até 1928. Foram feitas em gesso com a técnica de moldagem direta nas esculturas originais distribuídas nos principais museus europeus. Este procedimento não é mais permitido, o que torna a coleção mais importante. Minha favorita é a réplica da Vitória de Samotrácia, cujo original está no Louvre. Posso dizer sem vergonha que me impressionei mais com ela do que com a Mona Lisa. Não falo de técnicas ou arte, porque não entendo nem de uma nem de outra. Mas de impacto mesmo. Acho incrível, e é um prazer poder revê-la no MNBA.

Um último destaque (melhor do que falar sobre as obras da coleção é vê-las) fica para Antínoo, uma escultura singular - não se trata de cópia, mas um original romano da época do imperador Adriano, encontrado em 1878 nas escavações patrocinadas por D. Teresa Cristina, imperatriz do Brasil, nas imediações de Roma, em Veio, antiga cidade etrusca. Fora o valor inerente à obra, bom saber que alguma figura política relevante do país já se interessou por cultura.

Vitória de Samotrácia (c. 190 a.C., autor desconhecido), encontrada na ilha de Samotrácia (1863). 
Uma das últimas moldagens do original em mármore existente no Museu do Louvre, Paris.
Foto: acervo pessoal


Afrodite/Vênus de Milo (c. 100 a.C.).
Original no Louvre.
Foto: acervo pessoal
Observem-se os olhos vendados. Cada um interprete como queira.


Outra Afrodite, de Arles (Atenas, c. 390-330 a.C.).
Original no Louvre.
Foto: acervo pessoal

Obra sem título de Anish Kapoor (Índia, 1954).
Foto: acervo pessoal


Fotos da obra do museu.
Foto: acervo pessoal

Painel Alegoria das Artes, da Academia Imperial.
Foto: acervo pessoal

A ceia do Senhor, atribuída a Antônio de Holanda (1450/1500 - 1550/1570).
Foto: acervo pessoal


A Primeira Missa no Brasil, 1948, de Candido Portinari.
Foto: acervo pessoal

Antínoo, estátua romana encontrada em 1878.
Foto: acervo pessoal


Mais informações interessantes constam do site do museu, mas vale ressaltar uma: o Google Arts & Culture, que reúne coleções de mais de 1000 museus e instituições de arte e cultura do mundo, acaba de incluir o MNBA. Com a digitalização de parte do acervo, facilita-se o acesso a seu patrimônio (https://www.google.com/culturalinstitute/beta/partner/museu-nacional-de-belas-artes?hl=pt-BR). São mais de 500 obras em alta resolução, com direito a passear pelas galerias através do Google Street View.


Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...