quinta-feira, 18 de julho de 2013

De livros e nostalgia


Quem me conhece e quem não me conhece sabe como gosto de livros. Sim, livros, porque não é somente de ler que gosto, tenho o maior prazer em passar horas em livrarias, e não se passa um dia em que não entre no site da Amazon para ver as novidades. Tenho livros comprados há anos só porque me interessei pelo tema, ou pelo autor, e juro de pés juntos que um dia vou ler. Alguns desses eu acabei descartando na minha eterna luta contra a bagunça. Outros, heroicos, remanescem, até o dia em que meu sentimento de culpa ou minha obsessão (ou, como chamo na minha "psicologia leiga", meu T.O.C.) o resgatarão do limbo em que se encontram.

Já rodei muitas livrarias e bibliotecas também. Estas eu abandonei por falta de tempo e, de necessidade e, convenhamos, graças à invenção da internet. Mas muitas horas foram gastas na Biblioteca Nacional (hoje muito abandonada, uma vergonha) e em outras menos famosas. Livraria hoje tem café, vende CD, DVD, artigo de papelaria, revista. E livro. Além de ter umas cadeiras, uns sofás ou umas almofadas para os clientes folhearem os livros e revistas à vontade. É um bom espaço esse, em que a gente pode tocar nas coisas que ama, "dar uma provinha", se desligar do mundo (como se eu precisasse de muito pra isso). Mas livraria é também que nem gente, assim, tem personalidade. E poucas têm a personalidade dessa pequena Malasartes, que fica dentro do Shopping da Gávea.

Alguns a comparam com a livraria do filme Mensagem para Você (http://www.amigasdapracinha.com.br/programa-legal/186-malasartes-um-cantinho-para-as-criancas-lerem-no-shopping-da-gavea.html), que acabou sendo fechada pela mega-concorrente, à época do filme bem similar à Barnes&Noble, e cujas lojas físicas (outra mega, a Borders, já faliu) estão sendo engolida pela indústria dos e-books (leia-se 'Amazon'). Mas isso é outra história. No entanto, a Malasartes está firme desde 1979, graças a Deus, e espero que permaneça assim, porque ela representa a memória de alguns dos melhores momentos da infância dos meus filhos. 

Pois todos os meses, no dia do meu pagamento, eu ia ao shopping, e cumpríamos um verdadeiro ritual: salão para mim, e enquanto estava lá, minha mãe ficava na Malasartes com as crianças. Qual era a graça da livraria, e porque não ficar zanzando no shopping, como as outras mães? Ah, aí entra a minha história: quando eu e meu irmão éramos crianças, todo mês minha mãe nos levava ao Centro da cidade, onde meu pai trabalhava, para almoçarmos com ele, e cada um de nós ganhava um livro. Havia uma livraria no Largo da Carioca, onde fica o Edifício Avenida Central. Não tenho a menor lembrança de qual era, ou da configuração do local, só sei dos livros que levávamos para casa. Monteiro Lobato, O Conde de Monte Cristo, Júlio Verne, uns livros de ciências que meu irmão curtia, por aí vai. De alguma forma, recriei essa experiência. Obrigada, papai, obrigada, mamãe, por me darem esse exemplo.

A adorável Malasartes, então, inventou esse ambiente, onde as crianças tinham total liberdade, tinham mesinha e banquinho pra se sentar, e mamãe também ficava lá descansando (ela adorava shopping, então tudo bem). Quando eu terminava o que tinha de fazer no salão, ia pra livraria, e aí começávam as barganhas (lógico...). Cada um saía com um livro e um sticker. Dali íamos almoçar no Árabe. Doces na Chez Anne. Claro, também tinha o pastel (esqueci o nome). Ah, sim, tinha o Mr. Cookie!!!!! Como fui esquecer disso? Não sei porque acabou o Mr. Cookie! =( 

Talvez meus filhos se lembrem de mais coisas desses tempos, não sei. Minha mãe já faleceu, mas mesmo antes disso sofria do Mal de Alzheimer's, então as memórias se perderam no tempo. Uma pena, pois era uma das pessoas com a melhor memória da família (não é irônico?). Só lamento não ter sido mais disciplinada e ter anotado todos os detalhes... Impossível. Disciplina não é o meu forte, virei workaholic, perdi de vista muitas coisas que deveriam ter sido mais recebido mais atenção de minha parte. Uma delas era escrever. Não para os outros, mas para mim mesma. No mínimo porque perder a memória é um dos grandes medos que sempre tive, e depois da doença de minha mãe esse medo se potencializou.

Quando uma coisa é boa, porém, ela resiste a tendências depressivas. Pouco tempo depois que meu pai morreu, estive na Malasartes com minha filha, e para nossa surpresa, não é que a dona da livraria a reconheceu? Detalhe, devia fazer mais de 10 anos que ela não ia lá. Por isso, quando estive no Shopping essa semana, resolvi fazer uma visita, comprar um livro, depois almoçar no Árabe, e, por fim, comer um éclair na Chez Anne (confesso que esse meio que me decepcionou). Se me deu uma certa nostalgia? Talvez. Mas não no sentido de achar que o passado era perfeito e que o tempo deveria se congelar (a não ser, quem sabe, na minha aparência, porque já estou enjoada de me olhar no espelho). Muito mais convergindo para refletir que hoje é hoje, e que o passado só deve servir para guardar aquilo que foi bom, descartar de vez o que foi ruim (difícil) e aprender com ele, e que o tempo é, de fato, inexorável.


Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...