quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Mitos e fantasias


Enquanto olhava as fotografias que tirei na Disneyland/Califórnia, assistia (escutava, melhor dizendo) a um programa no History Channel sobre as viagens de Ulisses. O grego, claro. Achei a propósito, já que para mim viagem tem a ver com buscas e descobertas.

O programa era interessante por várias razões: gosto de História, de mitos, e tenho especial fascinação pela mitologia grega, e, como já mencionado, há o tema da viagem e da busca como especial atrativo. Só que não dava para prestar muita atenção, não somente porque eu estava organizando as fotos, como também fazendo cookies (sim, sou caótica, ou multitarefa - a escolher). Naturalmente, já conheço a história do herói mitológico. E é aí que minha cabeça dá nó.

A narrativa é fantástica, sim, não somente no sentido figurado. Afinal, representa uma das muitas jornadas do herói que povoam as mitologias mundiais. E o The End feliz, então, com a fiel esposa Penélope, depois de driblar todos os malandros que queriam ocupar o lugar de Ulisses com aquela tecelagem interminável, que novelão, hein? Até os narradores do History Channel dão um pitaco dizendo que Ulisses era o grande herói grego, que o nome dele queria dizer algo como o homem que tem dor (sei lá, algo assim, em grego 'Odisseus', mas não sei grego, só sei que eles falaram da dor, com certeza). E que, sim, ele foi um homem que sofreu, blablabla. Antes já tinham chamado a atenção para o fato de que durante suas andanças, traía a mulher (aquela mesmo, que ficou esperando por ele 20 anos; é, 20 anos!!!!!) com várias outras, mas ninguém achava isso anormal. Ahn. Oi? Pausa. Parágrafo.

De novo: OI? Vou lá buscar uma referência em Joseph Campbell, o grande estudioso de mitos. Lembrava de ele ter feito algum comentário sobre a jornada do herói. E está lá: "Todas as grandes mitologias e boa parte das narrativas míticas do mundo têm um ponto de vista masculino". Ia até parar por aqui, mas me chamou a atenção uma outra coisa: "Quando eu estava escrevendo 'O herói de mil faces' e queria incluir heroínas, tive de recorrer aos contos de fadas." Está me parecendo que está aí a explicação para a vadiagem imperturbável de Ulisses. Naturalmente, mulheres de Atenas eram seres menores. A famosa democracia grega não era aquilo tudo. E a questão dos contos de fada é interessante também. Estaria aí a raiz do interesse feminino por contos de fada e suas derivações? A refletir.

É óbvio que continuo interessada nos mitos e entendo sua função religiosa, espiritual, psicológica, histórica, etc. etc. Mas é certo que toda vez que penso em Ulisses tenho vontade de dar muita pancada nele. E não só por Penélope, mas pelo filho, que ele só vai reencontrar adulto. Tremendo egoísta. ¬¬

Isso posto, recomendo Joseph Campbell, não somente o livro 'Mito e Transformação', como qualquer outro. Campbell, já falecido, tem até uma página no Facebook. É sempre bom lembrar que ele inspirou George Lucas em Star Wars. 

Follow your bliss, já dizia Campbell. Yes!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Viajar é preciso


Há tanto tempo não escrevo que estou até enferrujada. Costumo me inspirar quando viajo, mas isso, além de não ser o ideal para quem tem a pretensão de ser blogueira/escritora, também dá uma medida clara de indisciplina. Há um indicativo de caos subjacente a essa longa ausência. O problema é começar, e estou procrastinando, como sempre. Começar por onde? É aí que entram as viagens e por isso escolhi o título. Se não estou enganada, acho até que meu primeiro blog tinha esse nome, exatamente para falar de viagens. Por motivos não originais, o título faz referência óbvia a um de meus poetas favoritos, Fernando Pessoa, logo eu que não sou dada a poesia, talvez porque minhas viagens careçam de precisão para encontrar seu rumo.


No entanto, quando começamos a pensar em viajar, seja lá qual for o motivo, é certo que estaremos saindo do nosso cotidiano, da nossa realidade, e, de alguma forma, partindo para uma outra, esperada, fantasiada, desejada. O mundo se desloca do eixo a que estamos habituados por algum tempo, e não tenho muita certeza de que retorna exatamente ao ponto em que o deixamos ao término da viagem. Algo se modifica em nós. Somos mais do que éramos quando partimos. Vivemos, aprendemos, conhecemos lugares e pessoas, mesmo que não tenhamos nos deslocado mais do que algumas dezenas ou centenas de quilômetros. Sair do lugar é sempre sair da zona de conforto, é alargar os horizontes. Dizem que fazer coisas diferentes faz bem para o cérebro. Pois então. Imaginem se pudéssemos viajar todos os dias. Na verdade isso é possível: lendo.  Que coisa. Então foi aí que começou essa minha paixão por viajar.


Bom. É isso por hoje. Viaje todos os dias. Faça coisas diferentes. Atravesse a rua, ande pelo outro lado da calçada. A gente nunca sabe o que vai acontecer no próximo minuto. A vida é imprevisível. Não resisto a reproduzir meu adorado Fernando Pessoa abaixo.


Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito desta frase,
Transformada a forma para a casar como o que sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
Ainda que para isso tenha de ser o meu corpo
E a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
Ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
O propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
Para a evolução da humanidade.

Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...