segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Martha Beck's Plan to Get Unstuck and Follow Your Dreams - Oprah.com

Martha Beck's Plan to Get Unstuck and Follow Your Dreams - Oprah.com

Parece que metade da vida é um processo de aprender a apagar fogos, silenciar, desviar-se das pedras do meio do caminho (ou evitar aquelas que lhe são jogadas no meio da testa). A coisa vai acontecendo, simplesmente. Há momentos em que ocorre um drama mais significativo, mas, de forma geral, é só a vida seguindo e a gente inventando truques para não ser mais magoada. Chega-se a um ponto em que a pessoa se perde e não se reconhece. É claro que para não se reconhecer é preciso que ela se lembre de como foi um dia, e se ela se lembra, ainda há esperança. Porque se o processo está muito adiantado a falta de consciência é plena e é como se outro espírito tivesse se apoderado de seu corpo. Lógico, lembrar-se não é garantia de nada. Imagine-se uma pessoa que está completamente paralisada, que é incapaz de dar um passo, porque não sabe para onde vai ou por qual razão. Paralisia do espírito, da alma, psicológica, não sei como chamar. É uma agonia, não há nada nem ninguém a segurando e no entanto ela está imobilizada num universo onde só ela existe e não há comunicação possível.


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

How to Live an Extraordinary Life

How to Live an Extraordinary Life

Preguiça total de escrever. Bloqueio. Incapacidade. Paralisia. Inabilidade. Estupidez. Inaptidão. Falta de talento. Preguiça.

O que é?

Li um artigo sobre a atriz Vera Fischer relatando que agora ela é escritora. Ela teria escrito sei lá quantos livros em menos de 1 ano. 10, eu acho. E a lápis, pq ñ usa computador. O primeiro tem o título de 'Serena'. Achei interessante o título. Não sei o conteúdo, nem vou criticar. Primeiro pq criticar hoje em dia dá o maior barraco. A gente abre a boca (ou melhor, risca a pena, digita) e ñ somente é insultada, como se bobear ainda é capaz de ser espancada ou até assassinada (vai que os malucos te descobrem?).

Diz a belíssima atriz e pintora (que tb pintou mais uns 200 quadros tb em curtíssimo espaço de tempo) que não fica pensando muito. Vai e faz. Invejinha. Nisso ela tem razão. Quem fica só pensando muitas vezes não faz nada. Ou demora tanto que perde a oportunidade de fazer. É uma enrolação só. Procrastinação.

O que seria melhor: ler e reler Jane Austen e repetir que não dá para ser igual, ou chutar o balde e pegar o lápis como a dona Vera?


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Foi assim

Eram vizinhos, ou mais ou menos, a tia dele é que morava na casa ao lado. Dia de domingo, quando acabava a missa, as mães davam uma folga, iam trocar uma ideia. Subúrbio é assim, ou era, sei lá, a rua uma extensão da casa da gente, ainda mais em vila. E não tinha shopping pra hipnotizar o povo. Às vezes o garoto aparecia. Botava o olho comprido. Azul. Assim, como os príncipes das histórias da Disney. Já a mãe da menina tinha o instinto das madrastas das histórias. Marcava sob pressão.
Bom era quando tinha festinha de rua. Não era nada grande - se fosse uma festa junina, por exemplo, tinha terreno baldio onde se podia acender uma fogueira, soltar fogos de artifício, essas coisas, nada sofisticado. E lá estavam as famílias, agregados, o garoto e a garota. E a mãe.
Dia de clube. O vizinho era sócio de um clube legal, com piscina, e lá ia todo mundo. Todo mundo. 
Num dia desses dias se comemorava um aniversário na casa da vizinha. Algazarra total, porque a turma bebia bastante, música alta, pessoas falando. A menina se cansou daquilo e se afastou. Foi para o muro, pra ficar olhando para a rua da vila. Dali ela via a casa dela e toda a vila, porque estava no alto da ladeira, e ainda conseguia ver a rua lá embaixo pelo vácuo do terreno baldio. De repente, sentiu alguém atrás dela, chegando bem de pertinho, até praticamente não restar mais espaço entre eles. O menino pôs um braço sobre seu ombro, e falou baixinho no ouvido dela, “quero te namorar”. Ela soltou o ar – nem sabia que tinha prendido – e o tempo parou.

sábado, 16 de outubro de 2010

PSA WORLD FOOD DAY 2010

Dia 16 de outubro: Dia Mundial da Alimentação

“Alimentar mentes para acabar com a fome” é uma iniciativa educativa mundial para escolas e grupos de jovens, concebida para facilitar e estimular crianças e jovens a colaborar ativamente na criação de um mundo livre da fome e da desnutrição. A iniciativa, lançada no Dia Mundial da Alimentação de 2000, foi criada por um grupo de 10 associados internacionais e organizações sem fins lucrativos, encabeçada pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e pelo Comitê Nacional dos Estados Unidos para o Dia Mundial da Alimentação. Juntos, os associados criaram uma sala de aulas mundial e um fórum de discussão interativo sobre os aspectos-chave da fome, da nutrição e da segurança alimentar.


Hoje em dia, mais de 850 milhões de pessoas sofrem por desnutrição crônica e nem podem obter alimentos suficientes para satisfazer suas necessidades energéticas mínimas. Aproximadamente 200 milhões de crianças menores de cinco anos sofrem sintomas de desnutrição aguda ou crônica, cifra que aumenta em períodos de escassez de alimentos ou em épocas de epidemia de fome e conflitos sociais. Segundo algumas estimativas, a desnutrição é um fator importante entre os que determinam a cada ano a morte de aproximadamente 13 milhões de crianças com menos de cinco anos por doenças ou infecções evitáveis, como: sarampo, diarréia, malária, pneumonia e combinações.


O que podemos fazer para ajudar?


http://www.feedingminds.org/info/info_vision_pt.htm

Assine a petição!


http://www.1billionhungry.org/

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Esperançar

Uma imigrante mexicana nos EUA acaba de conseguir seu visto. Até aí nada demais. O detalhe é que ela tem 101 anos. Sim, senhora, chegou lá aos seis meses, no colinho da mãe, numa época em que era possível ir de um lado para o outro da fronteira sem maiores formalidades. A centenária (e uma) parece estar muito bem, pela foto, pelo menos, e, segundo se informa, fez o teste de praxe, passou, e as autoridades americanas estão honradas por recebê-la como cidadã. Uma história interessante. Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/10/101013_centenariaeua_is.shtml
De tudo que me chamou a atenção na matéria, destaco a disposição da senhorinha. Poderia falar da idade, até porque as duas coisas estão totalmente relacionadas – muito fácil ser jovem e ter disposição, quero ver chegar a essa idade e não declinar, não se deprimir, enfim, dá pra imaginar o que passa pela cabeça de qualquer pessoa, pelo menos da minha: viver o dia a dia é uma luta interna e externa. Entre os conflitos morais e a batalha pela sobrevivência, o medo se faz companheiro constante. Daí o encantamento.
O filósofo Mário Sergio Cortella (http://pt.wikipedia.org/wiki/Mario_Sergio_Cortellafalou na GloboNews sobre os mineiros que estiveram soterrados por 69 dias na mina que desabou no Atacama, Chile. O repórter lhe perguntou se qualquer pessoa teria a capacidade de reagir da mesma forma como aqueles homens. Eu e meus botões já tínhamos discutido sobre sobre o assunto sem chegar a uma conclusão. A dieta deles consistia em duas colheres de atum (bleargh!), meia bolacha, pedaços de pêssego em calda e um pouco de leite a cada 48 horas. Mas como eles conseguiram chegar a um consenso? E como mantiveram a disciplina, a fé, a esperança? Cortella disse então que no desespero há duas posturas possíveis: a esperança e a espera. A espera é passiva, a esperança não. Foi esta que levou aqueles homens a se organizarem. E daí o verbo (que não existe na “língua-padrão”) usado pelo filósofo, “esperançar”. Ele citou o grande Paulo Freire, aquele que podia ter feito uma grande diferença na educação no Brasil mas não deixaram. Mas esse é outro papo.
Ora espero e ora esperanço. Meu instrumento são as palavras. Lembro de Gonzaguinha: quando eu soltar a minha voz, por favor entenda... que palavra por palavra eis aqui uma pessoa se entregando... Mas há uma barreira, ainda intransponível – a forma de comunicação – e há expectativas que nem sempre serão correspondidas. Parece que é isso, buscar a forma perfeita de expressão e conseguir que a mensagem seja entendida. Não é suficiente, claro. Senão a esperança não se concretizaria. É preciso que haja ação. Foi isso que fez a lépida anciã, e o que fizeram os mineiros soterrados. Não esmoreceram jamais. Viveram. Vivem.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Malnutrition {Desnutrição}

Poor nutrition is the largest single contributing factor to child mortality, more than HIV/AIDS, TB and malaria combined.  It is the underlying cause of more than one-third of deaths of children under five. That's 3.5 million a year.


http://www.wfp.org/stories/nutrition-10-reasons-face-challenge



Uma alimentação inadequada é o principal fator que contribui para a mortalidade infantil – mais do que o vírus da AIDS, a tuberculose e a malária combinados. É a principal causa de mais de um terço das mortes entre as crianças de menos de cinco anos. Isto representa 3,5 milhões ao ano.




BRAZIL: Two-Party Domination Showing Signs of Exhaustion - IPS ipsnews.net

BRAZIL: Two-Party Domination Showing Signs of Exhaustion - IPS ipsnews.net

quinta-feira, 16 de setembro de 2010



Este mês, líderes de todo o mundo se reunirão em Nova York para uma reunião de cúpula tendo como tema os Objetivos do Milênio. Os ODM buscam formas de lidar com os grandes problemas que o mundo enfrenta hoje -- o que inclui a pobreza global, a saúde da mulher e infantil, a fome e a educação. Todos têm interesse em apoiar os ODM ao advogar um mundo livre da pobreza extrema e doenças passíveis de prevenção. Com o apoio de todos, podemos tornar isso possível. Para descobrir como ajudar, por favor visite http://www.unfoundation.org/global-issues/millennium-development-goals/.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Fazendo alguma coisa


SomeDay
Our world possesses the knowledge and the resources to achieve the United Nations Millennium Development Goals. Why wait for Someday if you can be a part of what the United Nations will achieve in your generation? Visit www.unfoundation.org to learn how you can get involved.



O muito rico George Soros (falo assim porque não sei como dizer quanto dinheiro será que essas pessoas têm) anunciou que doará 100 milhões de dólares a uma instituição voltada para os direitos humanos. Warren Buffet, outro desses, deixou 85% de seu patrimônio em testamento para a fundação de Bill Gates, o equivalente a cerca de US$30,7 bilhões de dólares. Dá pra imaginar? O próprio Bill Gates, que não é nada pobre, também já doou 30 bilhões de dólares para caridade. Sua fundação tem entre os principais objetivos promover pesquisas sobre a AIDS e outras doenças que atingem, principalmente, os países em desenvolvimento.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Bill_Gates


Estava dando uma olhada no verbete 'filantropia' que consta da Wikipedia, e o único brasileiro que está listado ali é Chico Xavier. Certamente há muita gente que faz coisas boas. Grandes ou pequenas, famosos e anônimos. Conheço algumas. Que me ocorram, há vários líderes comunitários - não os paternalistas, ou ligados ao tráfico, ou ainda, os que só têm interesses religiosos fundamentalistas - como uma moça no Juramento, cujo nome me escapa agora, fantástica, que faz um trabalho maravilhoso de reforço escolar; José Júnior, do Afro Reggae (http://www.afroreggae.org.br/institucional/); MV Bill (http://pt.wikipedia.org/wiki/MV_Bill); Dona Zilda Arns - e toda a organização da Pastoral da Terra, à qual era ligada; e tantas outras pessoas, muitas das quais foram caladas, como a freira Dorothy Stang, Chico Mendes... 


O que há em comum entre essas pessoas: não estão olhando para o próprio umbigo. Ou não olharam, no caso daqueles que perderam a vida por isso. Tem gente que diz que não tem dinheiro. Mas há outras maneiras de agir. Nosso tempo, nosso cérebro, enquanto nos pertencem, podem ser aplicados à solidariedade.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Qualquer coisa



- Tenho tentado escrever, mas não consigo. 
- Escreve qualquer coisa, ué. Você não é "professora" de português?
- Não é bem assim. Primeiro, esse negócio de "professora" só funciona na carteirinha, porque nunca dei aula mesmo. Além do mais, sempre acreditei que escrevia bem porque lia muito e não por causa da faculdade de Letras. Lia, escrevia. Agora estou descobrindo que sei menos do que pensava. 
- Ah, desceu do salto?
- Menos. Ainda sei mais do que muita gente.
- Continua metida a besta.
- Fazer o quê?
- Então escreve.
- Ah... não tenho tempo, não tenho inspiração...
- Desculpas. Lembra do curso de oratória? Falar sobre qualquer tema em cinco minutos. Objetivo: exercitar. Você está é com preguiça. Procrastinadora. Você já escreveu sobre isso. Pior: está com medo. Não quer se arriscar a ser julgada pela falta de talento. Prefere se esconder.
- Pode ser. Mas quando estou andando tenho um monte de ideias. Basta eu sentar em qualquer lugar e pronto. Desaparece tudo. Sem contar que é verdade o que todo mundo que está estudando a internet, as redes sociais diz: elas atrapalham (ou será que emburrecem?). Hoje li num post do Globo no Facebook que um estudo mostra que estudantes que estão conectados a redes sociais estudam menos horas do que aqueles que não estão. Duh. Claro. Precisaria reler a notícia, mas parece óbvio. Resta saber se, no frigir dos ovos (ainda se usa esta expressão? ficamos horas com a professora de tradução editorial discutindo que palavras ainda se usam... mudaria o Natal ou mudei eu? até onde preciso me atualizar no vocabulário formal? a pergunta é porque no informal já estou "atualizada" até demais...), o resultado é negativo. Em um contexto tradicional, certamente. Mas nem sempre quantidade é qualidade.
- Você ainda está enrolando. Não tem nada a dizer?
- Eu tenho tanto pra falar, mas com palavras não sei dizer... =D
- Plágio não! Roberto Carlos pode se chatear! 
- Ah, mas é que eu ando querendo torcer alguns pescoços, escrever não basta (e, aliás, parece que a coisa anda se espalhando, estava lendo há pouco um artigo sobre a recusa de editores norte-americanos em publicar livros de mais de 200 páginas!). Por exemplo, das ladras no supermercado Mundial de Copacabana que tentaram (novamente!) furtar minha bolsa esta semana - isto já aconteceu uma vez em 2006. Safadas. Que ódio! Fiquei irritada hoje também com uma pessoa da minha sala, tão imatura, coitadinha, que, em vez de passar para mim a lista de presença, que seria a coisa gentil de se fazer, simplesmente colocou em cima da mesa da professora. Foi de propósito. Fiquei perplexa. Uma coisa que pode até ser cabível em um adolescente, mas não em um adulto. 
- E aí?
- E aí nada. Este post está sem pé nem cabeça. Vou dormir.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Disciplina


O segredo para se conseguir alguma coisa é não se distrair. Infelizmente, eu preciso de alguém que me "puxe" a orelha o tempo todo. Minha atenção se perde num piscar de olhos por qualquer coisa mais interessantes, e como há coisas interessantes. Como está certo Ivan Lessa em sua crônica de hoje: excesso de informações - http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/08/100825_ivanlessa_tp.shtml - e se não estivermos preparados para fazer as conexões entre todas elas, ou acabam por se perder ou não fazem sentido algum, só servem para nos tomar tempo precioso.


Naturalmente, como não sou criança há muito tempo, só cabe a mim mesma o papel disciplinar. Adivinhem se eu sou bem-sucedida. Vou dando conta das pequenas coisas, mas seu impacto é tão pequeno que só fazem diferença para mim. Viver realmente não é preciso, e, no entanto, nos tornamos regulados pelo relógio desde o momento em que entramos para a escola e começamos a ter "deveres", porque passamos a ter compromissos. Criancinhas agendadas e estressadas sempre existiram, o que mudou foram os graus de exigências, dependendo da classe social, gênero, etc.


Ontem eu me deparei (de novo) com a ideia das 10.000 horas (Malcolm Gladwell) necessárias para se dominar algum conhecimento. Faz sentido para mim e já me cansa, pois vou levar uma eternidade para ser razoavelmente boa nesta arte de traduzir, ainda mais me perdendo pelo caminho. Não muito a fazer, pois passei boa parte da vida me dedicando aos muitos deveres, agora vou passar a outra metade (se é que me resta tanto) a me aperfeiçoar com um pouco mais de qualidade de vida. Então me distraí lendo um pouco de 'A mitopoese da psique', de Walter Boechat, um livro sobre mitos de um psicanalista junguiano. Claro, já está me dando vontade de ler outras coisas, seja de Jung, mas é certo que eu vou reler Monteiro Lobato. Cada passo que eu ando me dá vontade de dar um para trás. Escavações arqueológicas. Quero saber a razão de algumas coisas que fiz e faço, e acho que o passado pode ajudar. E sim, Monteiro Lobato, sua trupe e a mitologia grega foram fundamentais na minha vida.


Do ponto de vista prático, dei o primeiro passo para me livrar dos cupins. Qualquer dia eles tomam posse da casa. Já foi uma porta. Falta a cama (ainda bem que meu colchão é macio, se a cama se dissolver antes de conseguir trocar =/) e a moldura do ar-condicionado - que ainda está quebrado, assim, há uns 3 anos). 


Enquanto isso, os livros e revistas continuam sua ocupação da casa. Não consigo parar de comprá-los, e não consigo lê-los em ritmo compatível. O acúmulo é inevitável. 


O que me faz lembrar que tenho inúmeras fotos na câmera para descarregar e escrever sobre isso. Mas tenho mesmo de retornar ao trabalho.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O que a ansiedade tira de nós



Capacidade cognitiva. Aparentemente, ficar nessa gana de esperar, ler e-mails, Twitter, Facebook e etc., tira espaço da memória. Eu já pulei e chamei de ansiedade. Por outro lado, estava em estado catatônico, por conta de um remédio para ansiedade que me despersonalizou. É como eu enxergo. Qual é o caminho do meio? Eu estou sempre querendo - perseguindo mesmo (claro, esse negócio de dizer que procuro o meio-termo, equilíbrio, é uma coisa de tentar ser zen, mas ainda nem cheguei perto) a calma, mas acho que só consegui varrer para debaixo do meu tapete imaginário, que já está da altura do Empire State Building, todas as interrogações.
Estar ansiosa é horrível. Receber uma notícia micro e ter uma reação como se o mundo fosse se acabar é ridículo. Quer dizer, é doloroso, pq geralmente vira uma imensa dor de cabeça. Literalmente. Acho que seria ótimo se existisse uma gotinha que a gente pudesse colocar na língua quando a coisa estivesse para ficar em estado de alerta. Mas sem efeitos colaterais. Não pode te deixar dependente, e, prin-ci-pal-men-te, não pode te fazer dormir mais do que o necessário nem embotar o seu cérebro, ou te tirar a vontade de fazer qq coisa que não seja olhar para o teto.
Radicalizando: melhor ter a dor de cabeça. Bem, não, eu odeio dores, mas já tinha rodado farmácias e Mundo Verde atrás de valeriana (http://www.medicinacomplementar.com.br/biblioteca_doencas_ansiedade.asp), uma raiz que eu conheci em forma de comprimidinho, bem mais prático lá na França. Acabou, lógico, pq eu sou tão ansiosa que não quero dormir. Senão não dá tempo de fazer tudo. E tb pq sou noctívaga. Como o mundo real funciona de dia, nós não combinamos. Eu e Charlie Brown. E adianta reclamar? Continuo tendo de fazer as coisas, acabar minhas traduções, etc. etc. And also: shit keeps happening. What else is new? Não dá pra andar de armadura na vida. Valeriana it is. Aproveitei pra levar tudo que tinha na loja (chama-se O Herborista, o que faz lembrar coisa de antigamente, ou da Idade Média, gosto disso) - tem mulungu, passiflora (http://pt.wikipedia.org/wiki/Passiflora) e outros chás. Algo há de dar certo. O que eu não posso é passar o resto da vida, seja lá quanto dure, um momento, dormindo, ou olhando para o teto. Enquanto meu cérebro estiver funcionando, quero estar agitando.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Procrastinação: why?

Acordo tarde. Ainda não me acertei com o remédio. O sono é invencível. Vamos tentar tomar mais cedo. Agora, mais precisamente. Vou me levantar e parar de escrever - isto se chama procrastinação. Exemplo perfeito do vídeo fantástico a que acabo de assistir. Um momentinho só antes de continuar. I'm back. Aproveitei para lavar dois copos. Outro breve exemplo (se assistir ao vídeo).
Será um post curtinho. Até porque estou no meio da redação de um trabalho. Ahn... mas não ia deixar a seco. Só que tinha uma ideia de hoje de manhã, pois, por coincidência, peguei num livro e vi a citação de que tentava me lembrar ontem e, segundo o autor, é de Sêneca mesmo, só que é a seguinte: "Se um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável."
Bem, devia fazer sentido literalmente, naquele tempo em que se precisava ir de um lado a outro comerciar, e hoje, óbvio, a não ser que você seja um mochileiro. Não é o meu caso. Mas eu sou meio incrédula, ou, quiçá supersticiosa com relação a planos para a vida. Gosto de fazer planejamento para viagens, por exemplo - até pq se não fizer, corro o risco de dormir na rua. Já chega a experiência de dormir no aeroporto de Chicago, por causa de uma tempestade em NYC. Mas chegar de mala e cuia (?) sei lá, em Paris, e bater de hotel e hotel perguntando se tem vaga, não rola. 
Na vida fiquei cética depois do acidente e outras coisas. Tudo que eu ia pensando ou sonhando ia ficando esquisito, pra não dizer logo que ia escorrendo ralo abaixo. É o tal do foco? Será que se eu tivesse tido foco as coisas teriam acontecido? Círculo vicioso? Bom, não tem volta, e a ideia é move on.
Mas eu ainda procrastino. Seria por medo de... terminar... e não ter o que fazer depois? E quando acabaram as 1001 noites, o que foi de Sherazade? Diz-se que o Sultão acabou com a maluquice de matar as virgens e viveram felizes. Bom seria se os Ahmadinejads da vida também parassem de matar as mulheres iranianas, os talibans parassem de matar as afegãs, enfim, todos esses loucos parassem de maltratar mulheres, crianças, e semelhantes em geral.

http://vimeo.com/9553205

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Organização

Há séculos atrás eu colecionava revistas de decoração e arquitetura. Talvez por uma série de razões, porque ou eu nunca tenho uma só ou não consigo me decidir ou as coisas não estão claras. Será que isso é normal?
Um: quando estava pensando em escolher carreiras, arquitetura era uma delas. Papi me desencantou. Disse que "era coisa de mulher". E embora eu fosse impertinente, "acreditei". Me achava ruim em matemática, não quis encarar. Como muitas outras coisas - duas palavrinhas: medo e ousadia. Valem posts por si.
Outro: quando nos mudamos, procurava por ideias, e as revistas eram uma boa fonte. Daí para comprar compulsivamente era um passo.
Esses eram motivos, digamos, racionais. Outros, seriam os que levam qualquer pessoa a comprar: ver, se interessar, cismar, querer possuir. Depois é que a gente vê que se fizer isso com tudo acaba se deparando com o problema do acúmulo, do ter por ter, do excesso. Acabei de ler um artigo no NYT sobre isso (http://www.nytimes.com/2010/08/08/business/08consume.html?_r=1), bem a propósito intitulado 'But will you be happy?'. E tenho um livro que deixei no meio (e preciso retomar), chamado 'I want that!' (http://www.amazon.com/Want-That-How-Became-Shoppers/dp/0060959835/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1281581664&sr=1-1), cuja proposta é dar um insight sobre o que há por trás do impulso de comprar. Confesso que comprei para entender isso, mas não sei se vou gostar do conteúdo do livro, porque eu tenho dois jeitos de comprar: pela internet, aquilo que tenho certeza de que quero e não posso adquirir de outra forma (livros importados, por ex.) ou produtos que têm um preço melhor ou me poupam o trabalho de me deslocar à loja física; ou a compra pessoal - fora os itens de supermercado, os itens pessoais (tudo que tem de ser experimentado - roupa, sapato) e compras impulsivas.
Aqui temos um capítulo à parte: livros e revistas. Um dia pode ser que os livros morram e o e-reader o substitua. Por enquanto, se depender de mim, jamais. Sei que nos EUA há bibliotecas que estão se acabando. Triste, deprimente. Que alegria tocar um livro, ler uma página ou outra, ver orelhas, resumo, hesitar, pegar um e outro, às vezes anotar para comprar no mês seguinte, ou comprar no cartão, parcelar, fazer loucuras, deixar guardado para um dia, quem sabe. Já comprei até livro repetido. Já guardei livro tanto tempo que olhei pra cara dele e decidi que não ia ler e dei.
O resultado disso: pilhas de coisas pela casa. Gavetas, armários, caixas, mesa, cadeiras, sofá, chão. Com um agravante: a memória que trai. Porque tudo que não está à vista é esquecido. Como conciliar a necessidade de organização com a necessidade de lembrar do que existe? A primeira ideia que me ocorre é a simplificação. Diminua-se o número de coisas possuídas. Reciclagem, doações, arrumações, não se passa um dia que pelo menos 1 coisinha não recebe um destino nobre. Sou a rainha da sucata (apelido dado por um amigo, ex-colega de trabalho). Separo lixo, levo para os recipientes de coleta, procuro saber onde há campanhas, mas há algumas barreiras intransponíveis.
Uma: meus livros. Outra: meus itens de coleção, que estão nas minhas cristaleiras. E a preguiça que me dá de lidar com as coisas pequenas? Gente, é um cansaço sem fim. Chega uma hora que ou se joga tudo fora ou nada. Não sei se preciso de um organizador profissional ou de um psicólogo.
Diz a minha psi que arrumar a casa é igual a arrumar a cabeça da gente. Também acho. Achava. Sei lá. Estava lendo o artigo da Evelyn Hannon, que eu já conhecia do blog Journeywoman, ótimo para dicas de viagem para mulheres que viajam sozinhas, chamado Aging Disgracefully, no site da filha dela (http://www.yummymummyclub.ca/aging_disgracefully), em que ela fala duas coisas importantíssimas e que tem tudo a ver comigo e com este meu novo blog: desorganização e envelhecimento. Poizé. É tudo a maior confusão. Mas eu chego lá. Onde não sei. Porque não leio aquela frase que tinha na plaquinha da sala de um dos meus ex-chefes que dizia algo como "se vc não sabe para onde vai, qq caminho serve"; e eu jurava que estava escrito isso, e como autor Sêneca. Depois eu fiquei achando que era "se você não sabe para onde quer ir, ñ importa o caminho". Que, segundo o Google, é de Alice no País das Maravilhas. 
Ora, para mim são duas coisas diferentes, mas eu nem vou especular. Só digo que na cabeça dele e do povo lá do trabalho, a visão era foco. Talvez seja isso mesmo. Sempre achei que meu problema fosse esse. Sou totalmente desfocada. Começo pensando numa coisa e daqui a pouco já estou lá no país das maravilhas. Minha mãe dizia que eu nunca terminava nada. Não era bem verdade. Se ñ fosse assim, eu ñ teria estudado tudo tão direitinho. E por isso fiz a primeira faculdade até o finalzinho, só de pirraça, mesmo tendo querido trocar. Hoje até acho legal ter feito, mas devia ter trocado na época, deveria ter experimentado, deveria... deveria...
Eu acho que estou mais para Alice mesmo, e meu carma era ir para a empresa onde trabalhei esse tempo todo. Aprender a ter foco. Aprendi? Don't think so. Mas concordo com a Evelyn, e trazendo para a realidade minha, minha casa nunca vai ser modelo de revista de arquitetura, embora eu confesse que tenho uma certa tristeza e angústia de vê-la desse jeito, porque ainda acho que isso reflete uma imensa desorganização interna minha. Tb ñ me incomodo de colocar à vista meus objetos personalíssimos e lembranças, e dane-se o resto. Só queria um caminho do meio, um equilíbrio.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Mais um dia

Sonhos bizarros me aparecem. Seria bom se eu fosse, digamos, Jung, por exemplo, que foi capaz de produzir o magnífico livro Memórias, Sonhos e Reflexões e dar fios para tecermos nossas tramas, ou, quem sabe, nos enredarmos nelas?

Pessoas que há muito não vejo pipocam no meio desses sonhos. Razão mais do que suficiente para justificar a aquisição de um livro de Joseph Campbell (um da série As Máscaras de Deus - podia escolher entre o vol. 3 ou o 4, gostei deste último, leia-se: descrição da contracapa - detesto essa mania de livro lacrado, e, de qq forma, ñ tinha tempo para desmantelar a embalagem, já sei do que se trata, não vou comprar a coleção inteira nem vou lê-la de uma vez, então, vamos ler a contagotas mesmo; "alguéns" compram sapatos por impulso, eu compro livros, vou empilhando pela casa, é só mais uma baguncinha) e de um Dicionário de Símbolos. Como se já não estivesse cansada de me dividir entre dois trabalhos para a faculdade, o sono invencível e a vontade de ler o máximo de livros trash que encontro pela frente + os livros realmente bons. Caminho do meio deve ser isso. Chamem o Buda para me explicar. Será essa a razão para a dor de cabeça junto com a dor nas costas que me apareceu de repente? Engoli um analgésico, depois de passar a tarde lendo Marian Keyes (estou com esse livro que encomendei na Estante Virtual há séculos (http://www.estantevirtual.com.br/), o que significa que assim que acabar posso abrir espaço para mais um livro na minha estante não virtual, iei!), e vim aqui tentar começar o trabalho da faculdade, mas o sono não deixou. Vou tentar dormir mais cedo, acordar mais cedo e ser mais disciplinada.

Ser discipinada para quem tem neurose de envelhecer e perder a memória (http://www.thedailybeast.com/cheat-sheet/item/new-test-can-predict-alzheimers/medicine/) não é muito fácil: é como se a gente virasse budista, ou seja, parece que qq minuto é o último, então é preciso aproveitar este momentozinho que se tem. E a melhor de fazer isso é:
(   ) lavando louça
(   ) estudando
( X ) lendo um livro que me dá prazer

I rest my case.

Buh-bye.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O dia de hoje

MAR PORTUGUEZ


Ó MAR SALGADO, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!


Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abysmo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


Fernando Pessoa, de quem mais poderia ser? Pena que muitas vezes só se percebe que valeu tarde demais, quando a dor já não permite mais que se enxergue o céu no espelho do mar. Talvez se secarmos as lágrimas...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O poder da ansiedade


Christine Garvin, a autora do artigo (primeiro link) fala da ansiedade e vai tecendo suas considerações. Aquela agonia que me faz lembrar quando acho que quero comer alguma coisa que não sei o que é. Aplica-se a quase qualquer coisa - se não tiver um objetivo pré-determinado, fico como barata tonta. O que não tem explicação, já que há várias coisas a fazer, úteis ou interessantes: arrumar a casa, ler um livro, assistir a um filme, andar na praia, escrever, plantar bananeiras...
Em vez disso, sinto o cérebro girando feito uma roda de hamster, sem propósito aparente. Começo a fazer uma coisa, completo ou não; paro; começo a fazer outra; paro; e assim por diante. Às vezes faço muitas coisas, outras vezes não. Ao final do dia, a sensação de inutilidade. É a falta de evidência perante uma sociedade que exige provas de que somos úteis, talvez. Quando se tem uma tarefa definida, um papel estipulado, parece (!) que as coisas se encaixam, ganhamos um rótulo, e todos se sentem confortáveis. Inclusive nós? Não. A ansiedade é bicho insidioso. Deve haver alguma estatística, já que os ansiolíticos estão na moda. Depois eu vejo se tem alguma coisa no Google.
Leio então no artigo, que é de um blog dos muitos que sigo sobre viagens no Twitter, que a autora está acometida desse mal. Mal? Se é mal ou não, sei lá. Incomoda. Tanto que fui reclamar com o médico. E o remedinho que ele prescreveu continua me dando sono. Desacelerou demais. Vou acompanhando. A autora cita outras pessoas, e um filósofo, Kierkegaard - e este diz que a ansiedade é positiva, porque está nos dizendo que há uma verdade maior por trás dela. Será? Bom. Aí ela cita uma outra pessoa, em outro blog, que tem cara de auto-ajuda - http://whitehottruth.com/, Danielle Laporte, que tem 3 passos para lidar com a ansiedade, e diz que vai trabalhar com isso no fim-de-semana para ver se encontra as respostas:

1- Encare a realidade. "Estou ansiosa."
2- Pergunte-se. "Então, porque estou ansiosa?"
3- Assuma a responsabilidade.

E vai acrescentar mais 2 passos à lista:
4- Para onde vou em seguida?
5- O que devo fazer para que isso se realize?

Ontem estava pesquisando o tema 'terapia cognitiva' para o meu trabalho de tradução, porque vi um livro de uma autora chamada Judith S. Beck, mas não quis comprar, porque custava R$ 75,00, e era muito específico, não seria algo que eu poderia guardar para consultas futuras - daí que seria esbanjamento puro e simples. Aprendi pouco, porque o filão em que a psicóloga resolveu investir foi o do emagrecimento. Ela tem suas credenciais (quem sou eu para questionar), e usou a teoria para ajudar (?) as pessoas a emagrecer. Não cheguei a descobrir se funciona. Num dos primeiros resultados da pesquisa no Google, há um vídeo interessante, disponível no YouTube, onde ela conversa com uma aparente paciente, que parece ter um problema de depressão. Em resumo, para lidar com o problema, em vez de tentar resolvê-lo em bloco, ela sugere que ele seja dividido em etapas. Razoável. Déa falava isso. Não me lembro se ela disse onde aprendeu isso - provavelmente na Faculdade de Administração, mas qual a origem, não sei. 
Fez sentido. Americanos são práticos, não? Se resolvem ou não, não sei. Jogam Freud no lixo, tudo é fast food (vejam a quantas anda a obesidade por lá), mas quanto pragmatismo! 
A questão toda é a manutenção: dá para manter? Ou amanhã já se esqueceu tudo e se repetem os velhos padrões? E se largarmos a pilulinha?

Eu ando com uma vontade doida de viajar. E sei que isto por si só não resolve. Concordo plenamente com a autora do artigo ao qual remete o link que está sendo comentado. Viajar não é ficar pulando de galho em galho, é mergulhar na cultura da cidade, é se deixar invadir pela alma local, por menos tempo que seja possível lá permanecer. Uma das formas de fazer isso, quando há pouco dinheiro é estudar o local, antes e/ou depois. Tem gente que viaja sem sair do lugar, como meu professor de Desenvolvimento Urbano. E tem gente que vai a 30 cidades em 30 dias. Será que esta última conseguiu conhecer muita coisa? Pode ser, mas não creio. Vou de Gilberto Gil: ando com fé, "que a fé não costuma faiá". Se o meu coração não estiver no meu destino não rola. Deixa eu ficar ansiosa onde estou, até o vento me levar.

Face of hunger

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Day by day

Às vezes eu acordo com uma música na cabeça. Às vezes aparece do nada. Infelizmente, existem aquelas músicas-chiclete - não tem problema se é alguma que se gosta, ruim é quando entra no ar como um daqueles perfumes de gente sem-noção (odeio perfume, me dá enxaqueca), propaganda, o pagode que rola na comunidade vizinha ou Kenny G (como não tenho tendência ao suicídio, o jeito é botar algodão metafórico nos ouvidos).

Há dois dias estou sem som, ando que é um estupor só. Não aquele da Emília de Monteiro Lobato ('indivíduo muito feio, de muito mau aspecto ou profundamente desagradável'), mas o outro, 'qualquer paralisia' - tudo por causa de um novo remedinho que provoca um sono incrível. Resolve a dor de cabeça e a insônia, mas tem esse "pequeno" efeito colateral: estou, assim, me sentindo um zumbi. Talvez seja só uma coisa diferente, em vez de tentar fazer várias coisas ao mesmo tempo (tentar, eu escrevi, porque não não existe isso de fazer, de verdade), o tempo que eu consegui me manter acordada, fiquei lendo. Não deu aquela vontade desesperada de revirar o Twitter ou o Facebook e disparar tweets e posts como uma metralhadora giratória. Coisa insana.

Claro que é preciso ser um pouco insano pra acompanhar o ritmo de um mundo insano - estava lendo isso onde? - sobre algo que a rainha diz para Alice, de que é preciso correr duas vezes mais para se sair do lugar. Fazer o quê? Andar devagar ou correr? Tenho exatamente um livro que se chama 'Devagar', que discorre sobre o tema:

Em 350 páginas, Honoré introduz o leitor ao universo dos "desaceleradores do tempo" --organizações que decidiram combater a mania moderna de velocidade.

São grupos como o italiano Slow Food, que defende a alimentação sem pressa; o Città Slow, ou cidades do bem viver, onde diminuir o ritmo é lei; o japonês Clube da Preguiça; a norte-americana Fundação Longo Agora; e mesmo o SuperSlow, filosofia esportiva que recomenda musculação em câmera lenta.

O movimento conta até com uma conferência anual, a da Sociedade para a Desaceleração do Tempo, que usa a palavra "eigenzeit" --do alemão "tempo próprio"-- para resumir suas convicções. O evento acontece em Wagrain, cidade nos Alpes austríacos.


No entanto, para quem não está acostumada, a desaceleração parece mesmo o tal estupor. Porque parece que nesse processo, o espertinho do cérebro só engata para as coisas agradáveis - tudo que se parece com 'dever' vai para o saco. E aí, para resgatar isso, é como pescar uma baleia com vara de pescar (imagino, porque não sei pescar - já fui "pescada", sem querer - alguém, não me lembro mais quem, lançou a linha e aquele gancho se prendeu nas minhas costas; foi uma coisa! mas eu era pequena, não lembro bem...).

Quero muito que a dor de cabeça e a insônia se curem, mas não quero ser um zumbi, porque eu quero fazer muita coisa com o tempo que me resta, que nem é tanto assim (ou talvez seja muito, já que tempo é relativo). Num dos muitos sites que visito regularmente, por causa dos perfis que sigo no Twitter, há o texto a seguir, citado pela blogueira Nati27, que aponta o escritor Andrzej Pilipiuk como seu favorito. Há uma foto dela e o texto. Presumo que o texto seja dele. Confesso que não pensei em ir ao Uzbequistão, Moscou, Honduras, talvez à Noruega, mas é certo que Barcelona é magnífica, e eu poderia substituir qualquer uma das cidades por outras, que as palavras manteriam o sentido. É isto que eu quero fazer
To see the buildings of Gaudi in Barcelona, smell roses in Uzbekistan, touch the coast of Norway, drink some vodka in Moscow, see stars in Honduras….that’s what I want to do
Before I die, I’d like to live my life the best I can. And when I will be dying, I would look in my past and I will think ” yes, I had great time.


A música que apareceu na minha cabeça quando eu pensava neste post foi Day by Day. Foi uma verdadeira viagem no tempo, porque é de um filme de 1970, baseado em um dos evangelhos (Novo Testamento). Pode ser mais bizarro? Vejo no Google que a letra foi escrita por uma pessoa chamada Fredric Nietzsche. Really? Continua numa próxima. Eventually.

Day by day
Day by day
Oh Dear Lord
Three things I pray
To see thee more clearly
Love thee more dearly
Follow thee more nearly
Day by day

quinta-feira, 29 de julho de 2010

1001 noites

Uma ideia puxa a outra. Talvez tenha começado com uma das aulas de tradução, sobre a Escola de Toledo, o filósofo Averróis, com o entusiasmo da professora Cristina, que passou o filme para a turma - Al-massir (O Destino), de Youssef Chahine. Tínhamos um volume das 1001 Noites em casa, super bonito. Está com meu irmão. Não me esqueço das idas ao porão (mesmo, tínhamos uma casa com um quarto onde tínhamos estante, móveis da minha bisavó, mesa de botões do meu irmão, uma vitrola onde meu pai ouvia discos de 78 rpm, fazíamos festinhas de aniversário lá... tinha um chão de cimento tosco, meio avermelhado), para ficar lendo. Tinha estante no meu quarto também, mas o porão era um anexo. Livros espalhados já eram um costume, então.

Com a reflexão sobre o tempo, vêm as lembranças, associações. Fiquei até pensando no tal livro ''1001 lugares para se conhecer antes de morrer', algo assim, parece que tem derivações, como aquele 'Comeram o meu queijo' e daí saíram comendo toda a dispensa. Não é. Findou-se uma era, começou outra, fiquei refletindo (não parada, sequer me permiti, hábito que mamãe colocou, criancinha com agenda não foi inventada agora, já estava matriculada em um curso de extensão na PUC antes mesmo de me aposentar), e não tenho um projeto não senhora, resolvi me inspirar em Sherazade, depois pesquiso o simbolismo dos 1001 dias, ou do número 1001, está aí o link da Wikipedia.

Curioso é que quando estava pesquisando o nome do blog no Google, apareceu um projeto '101 Coisas em 1001 dias', de 2006-2007, com link tb postado aqui, sobre o qual não vou me alongar, e que tb ñ foi fonte de inspiração, mas, enfim, sincronicidades, faço as coisas sem planejar e vão aparecendo os sinais. Se eu fosse Paulo Coelho ganharia algum dinheirinho com isso. =D

http://pt.wikipedia.org/wiki/As_Mil_e_uma_Noites

http://www.patriciamuller.com/101/

Arrastando os pés

Acordar todos os dias sem a "obrigação" de ir para o trabalho, depois de 30 e poucos anos é uma coisa meio estranha. Libertação para alguns, crise para outros, limbo para uns outros. Indiferença? Há ajustes há serem feitos. Porque no princípio é como se fossem férias. Depois é que vem o resto da sua vida. Diz o rabino Nilton Bonder algo como "a gente tem de planejar como se fosse viver para sempre e viver como se fosse o último momento". Há algo de budista nisso (do pouco que já li a respeito) - mas também não é preciso ser o Dalai Lama para lembrar da sabedoria popular, que "para morrer, basta se estar vivo".
A grande questão - pelo menos para mim - tem sido o tempo. Qualidade e quantidade. Medo da morte não é o ponto crucial, embora não tenha ponderado sobre isto (as besteiras já estão feitas, e as correções de rumo também, enquanto houver vida, é seguir fazendo o melhor, não tenho a menor vontade nem de me chicotear nem de cair na farra). Mas qualidade sim. O cérebro se tornou a estrela do século, desde que o Mal de Alzheimer foi "descoberto". De que adianta vivermos mais, com pernas bambas, dedos trêmulos ou artríticos, osteoporose, e/ou incapazes de lembrar das coisas mais elementares, e totalmente dependentes de terceiros?
O tempo ruge. É como aquela pedra enorme rolando atrás de Indiana Jones. E mesmo assim, acordo e penso: o quê?

domingo, 23 de maio de 2010

A angústia do tempo


Não li Proust, mas venho tentando recuperar o tempo perdido e, embora sabendo que é tarefa impossível, estou cada dia mais angustiada com a quantidade de coisas a fazer e deixadas de lado por falta de... tempo. Ou, como sempre afirmei, desorganização.
Antes era por causa do horário de trabalho. Agora, que não o possuo mais, o que é? Bem verdade que continuo com encargos autoimpostos, e o meu horário de dormir foi para o espaço (o que estou fazendo aqui a esta hora? tenho um monte de trabalho pra fazer pra faculdade e vou estar um trapo amanhã - que já é hoje mesmo), mas não posso negar que em não havendo mais a obrigação de comparecer mais à empresa, e poder me dar ao luxo de organizar meu próprio horário, o que está me faltando é disciplina. É? Então porque a angústia e a ansiedade? Porque não dou conta de fazer todas as coisas que pretendia fazer quando tivesse o poder de decisão sobre o meu tempo?
Uma pergunta sem resposta ainda. Mas uma outra pergunta que tem resposta é que a forma como minha cabeça pensa e se comporta não mudou, e isto se reflete exteriormente, o que me incomoda. Para todo lado que olho vejo coisas e mais coisas, excessos, acúmulos dos quais tento me livrar, mas só o consigo parcialmente. Minha ilusão era que o tempo serviria para arrumar isso e/ou dar uma solução satisfatória para essa bagunça, e uma das maneiras de fazê-lo dependeria, mais uma vez, de tempo (e, concomitantemente, de disciplina): boa parte de meu espaço é ocupado por livros e revistas. Para organizá-lo, preciso ler e descartar uma parte desse material. E o tempo para isso?
Estou andando em círculos, e agora estou com tanto sono que provavelmente o que escrevi não faz o menor sentido. Deixo assim mesmo, ilustrado pela curiosa imagem do prédio semidestruído perto da rua Senhor dos Passos.
Esta noite sonhei com uma metáfora da morte: Mr. Black, personagem vivido por Brad Pitt, título em inglês Meet Joe Black, em português Encontro Marcado. Foi uma semana em que a tônica foi a morte. Primeiro, porque fiz uma declaração dizendo que queria que meu corpo fosse cremado após minha morte. Depois porque foi aniversário de morte de meu pai (2003). E no dia (20/5), apesar de eu só lembrar à noite, fortuitamente (lembrei na véspera, pq datas ñ são o meu forte, elas vão e voltam), eu não falei de outro assunto com a psicóloga - papai, Mr. Black, cremação e outros assuntos correlatos. E sonhei. 
É verdade, que para morrer basta estar vivo. E que, racionalmente, com o que sei, temo mais um Alzheimer ou uma doença degenerativa do que a morte, mas como ñ sei o que se passa, o envelhecimento começa a se tornar um terror, e a morte uma preocupação. De que calibre, não sei. Os sonhos determinam o que rola no sub e no inconsciente. Que sei eu?!?
De qq forma, foi bem melhor encontrar Brad Pitt do que outra forma de apresentação. Cheguei a um ponto em que me recuso a horrores, porque a vida real já nos é suficiente. Agora quero ver tudo com lentes cor-de-rosa e finais felizes. Na ficção, nos sonhos... Não que eu seja crédula, apenas quero ter meu espaço pessoal para sonhar.
Continuo precisando arrumar a casa. Externa e interna.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sempre viajando

Seja por inquietude ou angústia existencial, quiçá ansiedade, sempre estive viajando, de uma forma ou de outra - acabo de perceber. Se antes não podia fazê-lo fisicamente (e, é claro, não sou Paris Hilton, continuo não podendo, só de vez em quando), tinha - e continuo tendo, graças a Deus - meus livros.
Pois vim fazer meu exercício diário (blog é vaidade, mas como cismei com a escrita, e um dos primeiros livros que li sobre escrever é que é preciso ter disciplina, pq não fazê-lo aqui?), e, dispersiva que sou, em vez de retomar o diário da viagem (a de férias), deparei com o livro do rabino Nilton Bonder. Chama-se Exercícios D'Alma, e muito antes de se falar em Twitter, eu já o sigo, fielmente. 10 anos, creio. Não sei como comecei, sequer sou judia. Que eu saiba, pelo menos. Talvez uma cristã nova, ou quem sabe, uma antepassada alemã. Basta-me saber que me encantou, e que tenho uma grande amiga judia que me esclarece os pontos que não entendo da sabedoria.
Pois eu, a grande procrastinadora, estou com a marcação do dia 11/01 (são leituras diárias, pequenas grandes reflexões), caminhando e voltando, me prometendo registrar para pensar mais um pouquinho. Se deixar, daqui a pouco já estou em 2011. Porque sou assim, penso, adio, adio... depois me pergunto onde foi parar o tempo, sabendo, claro, exatamente qual a resposta, e sabendo também que embora desejando, não faria diferente, porque eu sou meio Gabriela, nasci assim, cresci assim, e não gosto que me apressem, eu mesma já me apresso quando tenho minhas crises de hiperatividade ansiosa.
Acho que o que me chamou a atenção foi isso: "Nossas ações e comportamentos são o que realmente contam". Talvez não. Tem seguimento. Vou lendo dia após dia, ano após ano (não é Alzheimer, acho), e a cada vez me encanto, depois recomeço.
Por exemplo: "O que permanece é sempre o que se nutre da dúvida. As controvérsias verdadeiras são aquelas nas quais estamos prontos a ouvir e argumentar. São, portanto, fertilizadas da dúvida - do coração e da alma abertos." Claro está que não é bem assim. A dúvida nos angustia, nos deixa em crise. E coração e alma abertos são portas para o sofrimento. Quem se arrisca? Judeus e palestinos, talvez? O medo nos faz fechar tudo. Vivemos blindados, a síndrome do pânico nos assedia.
Aí o rabino diz: "A segurança absoluta é a morte. Se optamos pela vida e não pela morte, devemos trilhar o caminho da incerteza." Compreende? Claro, vivemos na incerteza, embora não a aceitemos. Queremos a segurança a todo custo. O medo, sempre o medo. Até então estávamos em um mês de contração. Aí passamos a um mês de equilíbrio. Expansão de equilíbrio. E ele cita Graham Greene: "Quando não estamos seguros, estamos vivos." "Quando os caminhos já estão predeterminados, a vida perde força. Sem flutuações, interações, escolhas e apostas não é possível se estar vivo."
Mas e quem paga as contas? E o povo do Haiti que não tem comida? E o emprego?
O rabino nos diz que "o pessimista perde sua vida preso à inércia; já o otimista se torna um alienado." Acho que entendo. Nem conto de fadas nem mala sem alça. "O que de mais terrível vi foi a tristeza do olhar daqueles que desperdiçaram oportunidades nesta vida. Fique atento à vida. Faça, ouse e busque. Mas acima de tudo, não ouça ninguém sem ter antes escutado o seu coração.
Quando eu quis escrever, em primeiro lugar, tinha uma ideia, que acabou por se converter noutra, completamente diferente. O que estava subjacente sempre foi uma tomada de decisão de vida, que é disto que se trata - na verdade, a cada momento, tomam-se decisões de todo porte. Mas a angústia ou a ansiedade foram crescendo e de repente eu fiquei achando que poderia deixar a cargo de outras pessoas tomar a decisão por mim. Erro. Só eu sou responsável pelas minhas escolhas. Vamos ver no que dá.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010


A Igreja Protestante Memorial Kaiser William (em alemão Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche) se localiza na Kurfürstendamm - ou, como costumam chamar, Ku'damm - no centro da Breitscheidplatz (mais detalhes em http://en.wikipedia.org/wiki/Breitscheidplatz), no distrito de Charlottenburg, perto do Tiergarten, do Zoológico, do KaDeWe, de uma estação de metrô cujo nome eu estou tentando lembrar porque tem uma inscrição que eu anotei e decifrei, muito curiosa (fica para depois).
O que distingue essa igreja é que ela não é um lugar exatamente de culto - a igreja original foi construída por volta de 1890, mas foi bombardeada em 1943. O prédio atual foi construído entre 1959 e 1963. Ou seja, vê-se o exterior, semi-destruído, e o interior, no térreo, convertido em um memorial (além de prédios anexos).
À esquerda da escultura de Cristo há uma cruz doada pela Igreja Ortodoxa Russa em 1988. Embora eu confesse que não lembro da cruz - o Cristo contra a luz que provém dos vitrais é algo impressionante, assim como os mosaicos deslumbrantes que adornam o teto da igreja. Contraponto às figuras políticas que se misturam às religiosas. Fazer o que? Mesmo tendo me despedido da religião católica na adolescência, meus ícones permanecem - não dá para misturar um governante com Santo Antônio, por exemplo. E nem venham me dizer que canonizaram um rei de França. Bleargh. Nunca disse que sou lógica.
Voltando: a igreja é emocionante pelo que representa, como toda Berlim - acho que desde o momento em que se entra no ônibus turístico, os fones de ouvido martelam esse refrão: não esquecer. Embora eu não tenha certeza se isso está no inconsciente coletivo do povo. A vida nos faz naturalmente esquecidos. Se ñ fosse assim, seria muito difícil viver... a angústia tomaria conta de nós e acabaríamos todos com síndrome do pânico. Pois converteram o templo em um símbolo de duplo sentido: por fora, igreja, e símbolo de expiação; por dentro, se ainda conserva traços do templo, foi esvaziada, e tem em suas paredes uma exposição de fotos, além de um balcão onde vende lembranças do memorial.
Emocionante? Indubitavelmente. Mas, como todo reality-show, precisa explorar essa emoção para pagar o custo da reforma. Ou algo assim. A vida está cara. Valeu a pena? But of course. Iria de novo e recomendo.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Um pouco de Jane Austen


Uma parte de meu espírito é muito velha (muito mais do que o corpo, que este vai virar pó, de qq jeito), e outra tem a idade do momento: se eu vir um picolé de uva da Kibon, serei criança outra vez, e deixarei de lado qualquer desejo por um sabor mais sofisticado. Talvez até viaje no tempo em uma lembrança fugaz de uma visita escolar a uma fábrica de sorvete, talvez a própria Kibon da época, em São Cristóvão, ali perto da Mangueira ou algo assim. Tinha uns 6 anos e estava com a perna engessada. De nada mais lembro, mas parece que foi muito legal, pq a lembrança ficou, apesar de tudo que vai se esvaindo entre os neurônios...
Posso também ter novamente 16 anos, quando passava pela rua que fica do lado do Colégio Militar e cujo nome não lembro, e sai na Almirante Cochrane, ao sair do cursinho pré-vestibular, por volta do meio-dia, e morta de fome, depois de estudar em ritmo de fábrica desde 7 da manhã (nada de lanchinho, não tinha $$$ para isso), passava por aqueles pequenos prédios de 3 ou 4 andares e sentia os cheiros deliciosos dos almoços que já estavam quase prontos, fazendo meu estômago delirar - tudo porque quando estou saindo para o trabalho passo por uma rua onde há uns prédios similares onde já se começa a preparar comida cedo, temperada à moda caseira, cebola e alho, cheiro mais do que seguindo, perseguindo a gente, perguntando onde foi parar a simplicidade, o feijão-com-arroz. Ah, e o inesquecível é que por duas vezes eu cruzei com Gonzaguinha ali naquela rua.
E tem a eterna apaixonada por Jane Austen. O que pode abranger muita coisa. Seja lá como for, como eu não tenho de me justificar para ninguém, aos costumes: considerando-se que Jane já morreu há quase 200 anos, e ninguém conseguiu assegurar o copyright sobre seus personagens, qualquer pessoa pode fazer o que quiser com seus livros e personagens.
Não sei quantas adaptações cinematográficas já foram feitas, se existe alguma para o teatro (deixo essa investigação para os pesquisadores mais sérios, nacionais, como a Adriana Zardini, da Jane Austen Sociedade do Brasil - http://janeaustenclub.blogspot.com/) e outros, tanto quanto, que não tenho como citar, assim como os internacionais.
E existem também as produções literárias. Ah... tem de tudo. Dizem que Deus não dá asa a cobra. Talvez seja por isso que Ele não tenha me dado mais ousadia para perseguir o mestrado que tanto eu queria fazer em Literatura. Vai que eu conseguisse, e tivesse me tornado crítica literária ou algo assim... nem eu mesma me aguentaria.
Resumo da ópera: se eu ainda estou tentando descobrir o mistério da publicação de Pride and Prejudice misturado com os zumbis, que é a enganação do século 21 (junto com os panetones de Brasília, claro) - ou seria uma mistura de séculos, já que rouba o texto de Austen? - ainda não consegui concluir sobre este 'A Little Bit Psychic'. Lembrou-me um prato que experimentei lá em Belo Horizonte, chamado 'mexidão' (acho que era isso), recém-chegada na cidade e me juntando a uns amigos num bar no centro da cidade. Explicaram-me que era meio que uma raspa do tacho, juntavam as sobras e faziam aquele arroz. Dizia mamãe que a necessidade é a mãe da invenção (da fome tb). Não sei o que Jamie Oliver ou Nigella diriam. Minha fome ficou saciada, mas eu nem quero saber a origem daquelas sobras. O que um haitiano não daria por aquele mexidão!!!
Poizentão. Tentando exigir mais dos neurônios "analíticos": pegar os personagens de Pride & Prejudice e um roteiro previsível, mais o mapa do metrô de Londres, colocar umas cenas mais picantes, adicionar uma pitada de esotérico não devia gerar um livro. Ainda mais um que custa US$9,99. Fora o frete da Amazon. 110 páginas. ~fini~ É assim que termina a autora. Oui. C'est ça. Do you believe? Pas moi. Jane Austen não merece.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Voltando um pouco

O sapato

Um dia um homem já de certa idade abordou um ônibus. Enquanto subia, um de seus sapatos escorregou para o lado de fora ... a porta se fechou e o ônibus saiu, ficando impossível recuperá-lo.

O homem tranquilamente retirou seu outro sapato e jogou-o pela janela.

Um rapaz no ônibus, vendo o que aconteceu e não podendo ajudar ao homem, perguntou:

- Notei o que o senhor fez. Por que jogou fora seu outro sapato?

O homem prontamente respondeu:

- Para que quem o encontrar seja capaz de usá-los. Provavelmente apenas alguém necessitado vai dar importância a um sapato usado, encontrado na rua. E de nada lhe adiantará apenas um pé de sapato.

O homem mostrou ao jovem que não vale a pena agarrar-se a algo simplesmente para possuí-lo e nem porque você não deseja que outro o tenha.

Perdemos coisas o tempo todo.

A perda pode nos parecer penosa e injusta inicialmente, mas a perda só acontece de modo que mudanças, na maioria das vezes positivas, possam ocorrer em nossa vida. Acumular posses não nos faz melhores, nem faz o mundo melhor.

Todos nós temos que decidir constantemente se algumas coisas devem manter seu curso em nossa vida ou se estariam melhor com outros.



Estou com essa "história" na cabeça desde que me "perdi" em Praga. Pois deixei de contar que quando tirei a luva, minha luvinha de cashmere, que comprei num posto da Oxfam em Londres no ano anterior (coisas doadas), pra me salvar do frio inesperado, fiquei tão perdida (literal e psicologicamente) que não percebi que a luva se foi. Deve ter caído por lá, em Bilá Hora. Que, parece, segundo o Google, é o nome de uma batalha histórica. Nem quero saber, guerras, guerras, fome, terremotos, mortes, aquecimento global, frio no hemisfério norte, calor no hemisfério sul, tudo extremo, todo mundo sofrendo, fico me perguntando se vale a pena sorrir diante de tanta dor, às vezes. E o tempo todo eu martelei na cabeça a história do sapato, se eu tivesse percebido teria jogado a outra luva pela janela do ônibus... pelo menos alguém poderia ter aproveitado o par. Mesmo que eu tivesse congelado na estação no dia seguinte, às 5:30 da madrugada, esperando o trem para Berlim, com uma temperatura de uns 3 graus.

Parece retórica, mas não é, pq simplesmente não há ganho. Não concorro a nada. Quando me apego a algo, assumo. O exercício do desapego não é uma coisa muito fácil - há uma tradição, que também é uma contradição: guarda-se muito e doa-se muito em minha família. Somos todos loucos, por Tutatis. Mas que belos narizes. Nem todos. =D

Divago. Também um hábito.

Era isso. Lá se foi a luvinha verde adquirida numa loja de caridade. Não serviu a ninguém, virou lixo. A que restou não tive coragem de descartar. O par que a substituiu fez um mau serviço - é de fibra sintética, e deixa os dedinhos de fora (pensei que seria bom para tirar fotos e aqueceria do mesmo jeito, bobagem, tremenda inutilidade). Quanto tempo levará até que eu tenha coragem de descartá-la ou descobrir alguma utilidade para ela? Coisa de louco.

Enquanto isso é certo que as coisas mudam constantemente, e perdas e ganhos são ilusórias se acharmos que nos definem.



Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...