quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Pinakotheke

Na Grécia ou Roma antigas, pinacoteca era um prédio que continha pinturas, possivelmente afrescos, ou quadros, esculturas, e outras obras de arte. 
Atualmente o termo é usado também para designar uma galeria de arte com foco preferencial em quadros. Já fui à Pinacoteca de Paris, à de São Paulo, e agora me surpreendi em descobrir que existe uma no Rio de Janeiro. E que boa surpresa.
Vi o anúncio de uma exposição e fui procurar o tal lugar. Não que tenha uma localização obscura. Está em plena Rua São Clemente, Botafogo, no número 300. Dependendo de onde se vem, há transporte público (ônibus) que passa na porta. E não é muito longe da estação de metrô. Pode-se dizer que fica no sopé do Morro Dona Marta. 
A gente chega meio preocupada: vai que está havendo algum conflito, coisa nada incomum hoje em dia. E se descobre o casarão, que em outras épocas deve ter sido mansão de algum nobre do império. Não consegui descobrir as origens da casa, que me deixaram bem curiosa. Por enquanto vou me contentar com o fato de que fizeram um bom trabalho de restauração e manutenção. 
Para entrar é preciso tocar uma campainha. Possivelmente mais um dos reflexos da insegurança já mencionada. Não é uma conclusão surreal. 

Quando entramos, nos esquecemos de tudo. Exposições em espaços limitados têm um ar intimista, ou talvez tenha sido o fato de que não havia mais ninguém além de mim e de alguns funcionários que circulavam. Nada invasivos, como em algumas exibições, o que me deixa incomodada e paranoica. Parece segurança de loja achando que a gente vai surrupiar alguma coisa. Só quando já estava quase saindo vi um homem explicando ou apresentando algumas obras a outro.
De cara devo dizer que não sou muito fã de arquitetura que vou chamar de modernista. Penso em Brasília, em Corbusier... e como não sou arquiteta, falo de opinião meramente leiga. Confesso que gosto de um rebuscado, um meio-termo que "limpe" o exagero de um rococó, digamos assim. Mas me vi fascinada pela exposição dedicada a Oscar Niemeyer, em como algumas linhas podem se transformar em arte delicada e expressiva, me fazendo ver que menos é mais. Ou que há espaço para todo tipo de arte. Como no amor e na literatura, toda arte vale a pena. Nem que seja para se desgostar (sem histeria).
Há obras de outros artistas sigificativos da cultura nacional, como Tomie, Portinari, Ceschiatti, sem contar as belíssimas fotografias que têm arquiteto e artista como objeto, cada uma de um autor diferente. E há também um vídeo com o próprio Niemeyer. Fiquei assistindo por um tempo, mas a qualidade do som não ajuda. Vou pesquisar mais tarde onde é possível se ver na internet, nem que seja com um fone de ouvido. Pelo pouco que vi, vale a pena. E vale também circular no exterior do casarão. Há belas esculturas espalhadas pelos jardins, e o espaço é realmente admirável.
Funciona de segunda a sexta, das 10 às 18 h.

 Obras produzidas por Niemeyer em alusão ao golpe militar de 1964 (acervo)

Niemeyer por Evandro Teixeira, 2007 (acervo)


Niemeyer por Walter Carvalho, 2009 (acervo)

Os candangos de Bruno Giorgi (acervo)

Anjo, de Alfredo Ceschiatti, 1969 - Modelo para Catedral de Brasília (acervo)

Cabeça de Menino e Cabeça de S. Francisco - provas de painel de azulejo, Portinari, 1944 (acervo)

Afro-Brasileiro, Joaquim Tenreiro, 1971 (acervo)



Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...