quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Vira-lata

Uma vez assisti a uma palestra do filósofo e educador Mario Sergio Cortella, que versava sobre preconceito, e no meio do discurso ele falou uma coisa interessante, sobre uma expressão da língua inglesa, que não tem uma tradução perfeita: "I'll do my best". Denota a intenção de se fazer o melhor possível em dada situação. Pode ser usada em qualquer condição, inclusive na área de prestação de serviços. Em português, não é "nativa" a expressão "vou fazer o meu melhor", embora eu já a tenha ouvido ou lido, mas atribuo a apropriação bizarra à falta de imaginação, e fiquemos por aí. Não somente não existe a expressão na língua, como também não existe o sentimento, a vocação, a vontade. E isso foi o que Cortella apontou. Falam muito por aí do sentimento de vira-lata do brasileiro, do complexo de inferioridade, e muitas explicações são oferecidas. Começam com a derrota para o Uruguai na copa de 1950, passam por uma alegada declaração de De Gaulle de que o Brasil não era um país sério (li em algum lugar que essa declaração é fictícia), e chega-se aos dias de hoje, quando a questão é a auto-estima, em destaque desde que se elegeu um presidente semi-analfabeto, que chegou ao poder após um presidente que veio da Sorbonne. O que constatamos é que o Brasil ainda engatinha em suas instituições, e, por isso, só uma coisa será capaz de mudar sua vocação, seu destino, sua direção, digamos assim: a educação. Com ela, as pessoas refletirão, construirão pensamento crítico, e poderão tomar decisões melhores, em todas as instâncias, em todas as áreas de suas vidas. Poderão ser melhores em todos os sentidos, em nível pessoal, o que a fará mais feliz (o aspecto individualista), e em nível coletivo (o que fará o país, finalmente, avançar). Enquanto esse sonho não se concretiza, enquanto as pessoas não formulam um plano a curto, médio ou longo prazo para que isso aconteça, vale exercitar a melhor forma de se fazer o melhor possível em qualquer situação. Instrumentos existem para isso. Acredito firmemente que onde não existe um caminho, deve-se pelo menos se tentar construir um.

Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...