sábado, 30 de maio de 2009

Follow your bliss

19- PRAGA - República Tcheca

1968 é um ano-chave para a capital tcheca, quando ela foi invadida pelos soviéticos. E A insustentável Leveza do Ser (Companhia das Letras), de Milan Kundera, é o livro-chave para entender tudo que aconteceu naquele ano. Entre jogos amorosos e discussões filosóficas 4 personagens testam o peso da vida às vésperas da Primavera de Praga.

20- A sátira Eu Servi o Rei da Inglaterra (Companhia das Letras), de Bohumil Hrabal, são as memórias de um garçom baixinho e ambicioso que vive os principais momentos da história tcheca recente.

Oh, well. Praga. Eu estou afônica há 5 meses. Minha filha me mandou fazer terapia. Eu disse que preferia ir a Praga. Ela disse que eu sou uma praga. Eu ainda prefiro ir a Praga.
Não que eu não seja louca para testar as teorias junguianas em mim. Já li uns 5 livros de terapeutas junguianos nos últimos meses. Sem contar os 'contrabandos' de Joseph Campbell - mitos, símbolos... Como dizia Campbell, follow your bliss. E isso é especialmente importante no meio da vida, fase de transição. Provavelmente, a terapia é inevitável. Mas é longo prazo. Enquanto isso, eu vou viajando, nem que seja literariamente.
Uma observação: sempre fiquei meio em dúvida com relação ao título (traduzido) do livro de Milan Kundera. Um livro delicado, gostei até do filme. Mas o título me deixa confusa.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Boas viagens

17- AMSTERDÃ
Cees Nooteboom é o mais famoso escritor holandês. E Rituais (Nova Fronteira), um de seus livros mais consagrados. O cético Inni Wintrop, morador de Amsterdã, é o protagonista. O tema? A passagem do tempo.

18- TOSCANA
Para ler de uma tacada só? Sob o Sol da Toscana (Rocco). Nele, Frances Mayes, professora americana, poeta e gourmet que trocou a vida urbana pela campestre, relata os anos em sua bela villa italiana e elabora um roteiro turístico que esquadrinha cada pedaço dessa região italiana.

Quando comecei a transcrever esta viagem literária pelo mundo, não imaginei o que seria. Registrar, simplesmente. Só isso já valeria a pena. Primeiro, porque ler já é suficiente, segundo porque viajar é muito bom. Ir de um mundo a outro, é como estar na Enterprise - não que seja ir aonde jamais ninguém sonhou no entendimento comum, mas o fato é que cada viagem é única, até mesmo para o indivíduo que repete o mesmo itinerário. Pois nunca se consegue repetir uma experiência em todas as suas nuances. A cada vez há uma nova sensação, a cada vez é um novo eu que a vive.
Depois, a cada descrição, ou uma lembrança, quando já tinha lido o livro, ou uma surpresa, uma descoberta - às vezes a evocação do lugar por causa de um filme, ou outro livro, citação; ou em outras vezes, a metáfora da trama. Que é o que distingue o que tem qualidade.
Boas viagens...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Quente-Frio

15- ANDALUZIA
Quem melhor para traduzir a alma do sul da Espanha que Federico Garcia Lorca? Romancero Gitano (Martins Fontes) é uma coleção de poemas escritos noas naos 20 que buscam inspiração na cultura cigana. Embalados pelo canto ardido do flamenco, os versos contam histórias de amor e de sangue vividas nos vilarejos do interior e nos bairros ciganos de Córdoba, Sevilha e Granada.

16- SUÍÇA
Em A Montanha Mágica (Nova Fronteira), Thomas Mann interna num sanatório nos Alpes Suíços representantes de várias nacionalidades europeias porta-vozes das inúmeras correntes políticas do início do sécluo 20. Uma Europa em busca de unidade.

Bem, poderia haver dois livros mais díspares? Pelo menos no que evocam. Até em temperatura. Quando penso em flamenco penso em Antonio Gades, em Carlos Saura, Bodas de Sangue. Lembro-me da última apresentação de Gades no Brasil, no Teatro Municipal do Rio. Fantástico.
Já se eu pular para a Suíça, partirei para algo racional - embora muito pessoal. Jung era suíço, e tem sido uma influência há muito tempo em minha vida, desde que li seu livro Memórias, Sonhos e Reflexões. A ideia do mito, do conto de fadas, percebo, vem como um leit motif desde sempre... e agora retomo o fio da meada com discípulos junguianos que estão compondo um patchwork em torno do tema 'transição da meia-idade'. BTW ou à propos.

domingo, 24 de maio de 2009

Continuando a viagem virtual

13- Berlim - Joseph Roth - Companhia das Letras
Cronista atento das primeiras décadas do séc. 20, o jornalista teve seus relatos sobre a capital alemã reunidos nesse livro, onde descreve em minúcias a transformação de uma cidade imperial numa metrópole que logo seria cenário de alguns dos episódios mais marcantes do século.

14- Alfred Döblin fez sua própria versão do Ulisses de James Joyce em Berlim Alexanderplatz (Rocco), romance ambientado no distrito operário da capital alemã. É considerado um dos livros mais importantes do século 20.

* * * * * * * * * * * *

Fico pensando porque nunca planejei uma viagem à Alemanha, terra dos avós de minha mãe. Raízes são importantes, dizem. Temos as raízes culturais, e ficamos escarafunchando as tradições greco-romanas. As religiosas, cada um tem a sua. E as pessoais. Aí é uma verdadeira barafunda. Uns vão à Índia, outros fazem o Caminho de Santiago, outros vão à Irlanda.
Eu teria de escolher entre a Síria e a Alemanha. Não optaria por um país árabe, pois confesso a resistência a circular sozinha em países onde predomina a religião muçulmana. Não acho que seria bem-vinda, e não me sentiria bem. Também prefiro viajar onde a língua me seja familiar. Inglês, de preferência.
Mas se sempre viajei com deslumbramento para os EUA, porque resisti a ir a Londres (finanças à parte)? Para depois ficar de queixo caído (apesar das críticas ao colonialismo...)?
E pq nunca cogitei de conhecer a terra dos meus bisavós, com uma história tão interessante, e tantos marcos históricos e arquitetônicos? Mistério.

sábado, 23 de maio de 2009

De Joseph Campbell

"Este é o princípio do combate de fidalgos: que dois cavaleiros cavalguem um em direção ao outro, cada qual reconhecendo o outro como um nobre cavaleiro. O fanático é aquele que perdeu esse equilíbrio e acha que está certo, C-E-R-T-O. E esse é um tipo de monstro terrível de se enfrentar."

Mito e Transformação, Editora Ágora

domingo, 10 de maio de 2009

Sob o risco de estar me repetindo...

Do livro 'A passagem do meio - da miséria ao significado da meia-idade', de James Hollis, ed. Paulus:

Vivo minha vida em crescentes órbitas
que se deslocam sobre as coisas do mundo.
Talvez eu nunca alcance a última,
mas esta será a minha tentativa.
Circulo ao redor de Deus, ao redor da antiga torre,
e venho circulando há mil anos,
e ainda não sei se sou um falcão, ou uma tempestade,
ou uma grande canção.
Selected Poems of Rainer Maria Rilke

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Chapéu Roxo

Vamos pegar nosso Chapéu Roxo

Uma olhada no espelho...

Aos 3 anos: Se olha no espelho e vê uma Rainha!

Aos 8 anos: Se olha e se vê como Cinderella/Bela Adormecida.

Aos 15 anos: Se olha e se vê como Cinderella/Bela Adormecida/líder de torcida ou, se está "ficando mocinha", se vê Gorda/Espinhas/HORRÍVEL ("Mamãe eu não posso ir à escola com essa aparência!").

Aos 20 anos: Se olha e vê "muito gorda/muito magra, muito baixa/muito alta, muito encaracolados/muito lisos" - mas decide que vai sair, de toda forma.

Aos 30 anos: Se olha e vê "muito gorda/muito magra, muito baixa/muito alta, muito encaracolados/muito lisos" - mas decide que não tem tempo de consertar, então, ela vai sair de todo jeito.

Aos 40 anos: Se olha e vê "muito gorda/muito magra, muito baixa/muito alta, muito encaracolados/muito lisos" - mas diz: "Ao menos estou limpa" e sai, de todo jeito.

Aos 50 anos: Se olha e vê "Eu sou" e vai para onde bem entende.

Aos 60 anos: Se olha e se lembra de todas as pessoas que nem mesmo podem mais se ver no espelho. Sai e conquista o mundo.

Aos 70 anos: Se olha e vê sabedoria, alegria e habilidade. Sai e aproveita a vida.

Aos 80 anos: Nem se preocupa em se olhar no espelho. Simplesmente coloca um chapéu roxo e sai para se divertir com o mundo.

Talvez todas nós devamos pegar aquele chapéu roxo um pouquinho mais cedo...


Autor Moacir Simões

terça-feira, 5 de maio de 2009

África

Livro: DEAD AID, Dambisa Moyo
Revista Época, 16/3/09 - João Caminoto
Nos últimos 50 anos, a África recebeu US$ 1 trilhão em ajuda. O resultado, diz a economista Dambisa Moyo, foi o aumento da pobreza e da corrupção. Moyo nasceu na Zâmbia, doutorou-se pela Universidade de Oxford e trabalhou no Banco Mundial. Ela afirma que o continente africano só vai encontrar o caminho do desenvolvimento econômico quando os países ricos pararem de tentar ajudar. Moyo também critica o envolvimento de celebridades ocidentais com a causa africana. Em seu recém-lançado livro, Dead Aid (Ajuda Morta), ela sustenta que os legítimos porta-vozes do continente têm de ser os próprios líderes africanos. E diz que a atual crise econômica é uma oportunidade para a comunidade internacional mudar sua atitude em relação à África.

Oh, well. Faz-me lembrar aquela fabulinha do monge que vai com um discípulo a uma casa, onde é bem recebido, e que só tem uma vaca (ou, em outra versão, uma galinha), de onde se tira o único sustento, e que se mantém em uma situação de quase miséria, porque se fia na vaca. Saídos da casa, o monge manda o discípulo jogar a vaca num precipício. O discípulo fica horrorizado, mas obedece. Eles se vão. Dali a alguns tempos (quantos, não sei), o discípulo volta, para ver como estão as coisas na casa, e vê outra situação, bem mais próspera. Surpreso, pergunta o que aconteceu. E descobre que, com a morte da vaca, todo mundo se mexeu para dar um jeito. Pzé. A necessidade é a mãe da invenção. Dar a bolsa-disso, bolsa-daquilo é importante. Mas não pra sempre. Tem de ter carência. Tem de ter retorno. E você tem de provar que digno do "prêmio". É a jornada do herói, o Graal. Uma vida sem significado não é vida. Sentar na frente da TV todo santo dia não é o objetivo da vida. Né?

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Viajar não é preciso

5- PARIS NÃO ACABA NUNCA (Record) - Betty Milan
Charmoso e elegante, como deve ser um livro sobre a Cidade Luz, reúne crônicas escritas por uma brasileira que mora na capital francesa, e a conhece profundamente.

6- PARIS É UMA FESTA (Bertrand Brasil) - Ernest Hemingway
Retrata os anos desvairados em que viveu na cidade durante a década de 20, quando conviveu com figuras do calibre de James Joyce, Gerturde Stein e Ezra Pound.

7- UM ANO NA PROVENCE (Rocco) - Peter Mayle
Misto de livro de viagens, reportagem e romance, narra o momento em que o autor troca Londres pelo sul da França. Mayle tem outras obras passadas na região, como ToujoursProvence e Hotel Pastis.

8- MORTE EM VENEZA (Nova Fronteira) - Thomas Mann
Narra o deslumbramento de um escritor cinquentão pela beleza apolínea de um menino polonês, e recupera a atmosfera apaixonante de um verão em Veneza.

Oh, well. Fico imaginando viajar o mundo inteiro - a energia, nem tanto o dinheiro necessário (não que eu o possua). Conheci uns brasileiros, jovens, naturalmente, em Bruxelas, que estavam fazendo o famoso 'mochilão' no albergue onde me hospedei. Loucos, dezenas de cidades corridas, por cerca de 1 mês, à exceção de 1 pessoa, que estava programada para ficar mais um tempo, para estudar. Ou seja, a questão nem é tanto o dinheiro (desde q se esteja preparada para apertar o cinto (bom para fazer regime...) e enfrentar desconfortos. Mas é cansativo mesmo. Vale a pena? Outro português: tudo vale a pena, se a alma não é pequena. Um defeito que temos. Nossa alma parece que vai encolhendo. Uma das razões é a ganância. Outra é a falta de ética. Outra ainda é a falta de caráter. Alguns diriam que o homem é naturalmente bom e se corrompe. Hum. A debater.

domingo, 3 de maio de 2009

A volta ao mundo em 80 livros

Fonte: Revista Próxima Viagem

1- VIAGEM A PORTUGAL (Companhia das Letras) - José Saramago
"Dê mínimos ouvidos à facilidade dos itinerários cômodos e de rasto pisado, aceite enganar-se na estrada e voltar atrás".

2- OS MAIAS (Ateliê Editorial) - Eça de Queiroz
Ambientado no século 19, acompanha os passos de uma família nas altas rodas de Lisboa e Sintra.

3- POR QUEM OS DINOS DOBRAM (Bertrand Brasil) - Ernest Hemingway
Narra o amor de um americano e uma espanhola na frente de batalha (guerra civil espanhola 1936-39).

4- O FLÂNEUR: UM PASSEIO PELOS PARADOXOS DE PARIS (Companhia das Letras) - Edmund White
A palavra flâneur, usada para designar quem caminha sem pressa por uma cidade, parece ter sido inventada para Paris.

Por esses dias uma amiga me falou de uma "oferta" de uma agência de viagens - 5 dias em Paris, ou algo parecido, por um preço razoável. O que não se leva em conta na propaganda é que os tais 5 dias incluem o dia de ida e o dia de volta, ou seja, o tempo q vc gasta viajando, o q ñ é pouca coisa. Fora o jet-lag. Bom. Eu diria que é má-fé. Mas tem pessoas que se acham totalmente incapazes de botar os pés pra fora do país pq ñ falam outra língua q ñ o português. Dificulta, mas ñ impossibilita. E eu sempre achei q viajar com guia amarra.

Fernando Pessoa (ou alguém antes dele, li outro dia e não sei quem é) dizia que navegar não é preciso. Viajar não é preciso. Sim, há todas as questões práticas - documentos, dinheiro, hotel, alfândega... vencidos todos esses obstáculos assustadores (como são rudes os oficiais de Chicago!), é se soltar. Saramago está certo, aceitar enganar-se na estrada e voltar atrás é essencial para não enlouquecer. Viajar é sonhar. Antes, durante e depois. E o bom é torcer para retornar. E se não puder, ler, porque viajar dessa forma é viajar com a alma. Tem mais.

Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...