terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Escolhas


Coisas engraçadas, são elas. Seríamos determinados por elas ou o contrário? Maktoub ou free will? Ouvi uma história de minha tia. Parece que meu padrinho queria era ser padrinho do meu irmão, que é mais velho do que eu. Não o culpo - meu irmão é realmente uma pessoa especial. Por outro lado, o padrinho do meu irmão é o maior barato (qual seria o equivalente para essa expressão antiga?) - talvez pq ele lembre meu pai, com um pouco de um outro tio, mais um pouco da minha avó e uma pitada de mim mesma: tem humor, inteligência, é um tanto ou quanto desligado de tradições, gosta de música (boa, claro), parece gostar de mim (!), tem uma conversa articuladíssima - a voz é que é interessante, é o que mais faz lembrar meu pai e minha avó (por "coincidência" tenho aqui na minha cristaleira, que foi da minha bisavó, avó dele e de meu pai, uma foto dele com meu pai e minha avó - que era minha madrinha, by the way). Essa família de meu pai é muito fofa.

Fiz essa introdução toda pq cada segundo da vida é feito de escolhas. Primeiro elas são feitas por nós, depois temos de tomar as rédeas. Embora nossa influência seja relativa. Por ex., a gente entra num avião - e reza pra que ele chegue ao seu destino. E por aí vai. É como se a vida fosse feita de milimétricos recortes em sequência, colagens que fazem total sentido quando se vê o conjunto.

Nem por isso eu consigo relaxar. Não tem zen comigo. É executiva full time, quase que me divirto (?) mais planejando do que executando. Talvez pq saiba, por experiência, que as coisas não saem exatamente do jeito que se pensa. E há que se lutar contra a frustração. Especialmente quando ñ se pode colocar a culpa em ninguém... =D

Tb se pode fazer um outro tipo de escolha: ousar, tentar vencer obstáculos, vencer os próprios medos, principalmente aqueles que se sabe foram colocados por outras pessoas, aquelas que deveriam ter feito exatamente o contrário, deveriam tê-la ensinado que sim, o mundo tem seus perigos, vc pode até morrer, lógico, pq este é o destino final de todos, mas antes é preciso viver, seja lá por quanto tempo for.



segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Coragem


Coragem, pra mim, é sair sem planejamento, sem falar (disfônica = quase muda, quer dizer, desde janeiro), o que é já tornava a vida difícil na própria língua, e já me estressava antecipadamente quando pensava como seria quando chegasse nos lugares onde tivesse de abrir a boca (hotel, trem, etc.).

As escolhas já começam daqui quando não se está fazendo uma viagem padrão, quer dizer, com agência. Economizar dá trabalho. Pra começar, a gente tem de encurtar a viagem - 1 dia a mais pode onerar a viagem absurdamente. Opções, opções. Cheguei ao ponto absurdo de praticamente não ver nada de Munique - pois meu objetivo era conhecer os castelos do Rei Ludwig (que me recuso a chamar de "louco" - até prova em contrário, ele era apenas excêntrico - e se colocar ao lado dos políticos brasileiros, certamente sou mais ele... e vá comparar com alguns outros pela história, especialmente os carniceiros...). Andei pelo centro e basicamente só.

Posso dizer também que tive de fazer uma escolha: ir aos castelos ou a Dachau. Até conversei com minha filha sobre isso, mas não era muito difícil: entre a fantasia e a morte (com todo o respeito), preferi a fantasia. Naturalmente, poderia tecer mil considerações a respeito, mas não vou fazê-lo. Por ora, vou apenas limitar-me a dizer que uma certa tristeza permeia os castelos. Talvez por causa da esterilidade da vida do rei, que viveu sempre sozinho, e sequer viu completada a construção de Neuschwanstein, e ainda morreu de forma misteriosa. Talvez pelas tramas políticas que o cercavam, ou mesmo por uma sensação de que a Alemanha é um país grandiloquente e trágico. O que será?

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Revendo a viagem

Coisas difíceis: planejar viagem com pouca antecedência; ficar pouco tempo em uma cidade (essa enganação de 30 cidades em 30 dias, ou incluir as noite que se passam no avião na ida e volta como parte da viagem); e fazer blog retrospectivo. Mas este último é muito mais para mim, um exercício de escrevinhadora, de memória, inclusive emocional, de relembrança de prazeres vividos e quiçá sonhados, com um viés prático/ecológico: em vez de eu guardar todo tipo de penduricalho que me evoque alguma experiência marcante, eu escrevo, escaneio e reciclo. Voilà.
Primeira novidade: tomar a decisão foi a coisa mais difícil. Vou, não vou, não ia, pensei no clichê 'melhor me arrepender do que fizer do que não fizer'. Lembrava das aulas do prof. Eduardo, de Desenvolvimento Urbano, da gentrificação de Berlim, pós-reunificação, Alexanderplatz e etc. E foi isso. De como cheguei às reservas já falei, dos sites indispensáveis, TripAdvisor, TripWolf, Journeywoman, Lonely Planet.
Bizarro mesmo foi comprar os pequenos Guias Visuais da Folha de S. Paulo, Guias de Conversação para Viagens em Alemão e Tcheco (ia passar em Praga). Pura pretensão. Em alemão consegui fixar o nome de alguns lugares, mais Ausgang, Eingang (Saída, Entrada), de tanto que passava pelas estações de trem e metrô, Hauptbannhof (a estação de trem), Danke (ñ sei se tem 2 n), que é obrigada (e tem uma extensão que eu ñ sei escrever, que, segundo o motorista de táxi, seria um obrigada mais expressivo).
O raio da língua não separa as palavras. Escreve tudo junto, só para complicar a vida da gente, deixando as ditas cujas quilométricas, e, por conseguinte, muito mais difíceis de aprender/memorizar. Inda mais não sendo latina na origem. Ou tendo semelhança com a língua inglesa. É partir do zero. Bom exercício para o cérebro, péssimo para a auto-estima. Solução: apelar para o inglês, que lá é normal, talvez graças à ocupação pós-guerra. Mas em placas, museus, nada. Em Berlim, alvo principal da viagem, no Neues, os objetos expostos permaneceram tão misteriosos como se tivessem sido retirados naquele momento do sítio arqueológico onde foram encontrados.
O vôo foi bizarro, com a quase pancadaria entre a moça brasileira e o moço alemão, que, segundo me informou a vizinha de assento enquanto eu dormia, tiveram de ser separados. Graças a Deus, pois assim todos se calaram - as outras moças e os moços. Beberam sem conta.
Pouco vi de Munique - vale a máxima acima: é estupidez passar pouco tempo em uma cidade. Do que vi, tenho certeza de que quando o homem não é idiota de desperdiçar sua arte e ofício, pode fazer as coisas mais belas. Numa igreja em uma rua transversal à Marienplatz (ainda estou para descobrir o nome - tenho de achar meu guia), fiz o meu tradicional agradecimento ao Supremo que me trouxe de uma posição humilde e me deu a chance de, com trabalho e estudo, viajar e conhecer coisas belas. Lembrei de minha mãe, que era neta de alemães, e faleceu ano passado, e pensei que se ela fosse viva, adoraria saber que eu estava no país que ela considerava de seus "patrícios". Emocionei-me, e acredito de todo coração que naquele momento catártico minha voz se soltou, depois de 10 meses com um diagnóstico de disfonia funcional. Conto no próximo post.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

É HEXA!

Não assisto mais a jogo de futebol... cheguei ao ponto de não conseguir sequer ler um livro sem ir ao final primeiro (ficção, lógico), para mitigar a ansiedade. Imagine passar pelo trauma de uma final de campeonato. Nem pensar. E uma final com pênaltis? Por essa razão é que papai não ficava na sala quando tinha jogo do Flamengo ou da Seleção.
Bom, jogo da Seleção ñ me interessa mesmo, pq ñ tem coesão, só tem gente feia, tem o Kaká e aquela religião de indiciados pela justiça dele. Um bando de mercadores.
Eu sou Flamengo. E o que é ser Flamengo? Bem, acho que é uma questão de tradição. Não é uma religião, não é uma filosofia, não vou matar nem morrer por causa disso. E lamentável são os episódios de violência que as pessoas conduzem em nome da paixão pelo esporte. É a mesma coisa que fazem supostamente em nome da religião. Tudo pretexto, é o que penso. Nossa ética tem de estar acima de tudo isso.
Enfim, fica da minha tradição, das minhas raízes, o meu time, o Flamengo. Meu pai nasceu na Gávea, jogava por lá mesmo. Todo mundo na família era Flamengo, até minha bisavó síria. Tem uns renegados tricolores, fazer o que?
E "nosso" primeiro campeonato foi o que eu acompanhei de cabo a rabo no Maracanã - com O time. Zico estava lá, Júnior. Nem adianta puxar pela memória, quem quiser saber que vá ao Google. O que vem depois não me interessa. Vou curtir o momento. Preto e vermelho dão uma bela combinação, faz lembrar a dança flamenca, paixão, Carmen, Antonio Gades...
Somos hexacampeões. Parabéns para nós. Agora vamos aos assuntos mais sérios, como a Conferência do Clima, em Copenhagen.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Just a bit of travelling before sleeping


So here's the deal: no way you can cross the ocean without some planning. No exaggerations (that depending on your control freakness or obsession/anxiety) or too much zen attitude. You go either way and you could (see - I'm leaving space for a lot of adventure here... for those who like it or are in a whole different kind of situation I am, meaning: in a budget).
All said and done, if you decide to travel, be like 007 (with Q) and follow wise people (but never abandoning your own good sense and dreams), and their advices - I mean, be "armed".
Good sources:
Journeywoman (http://www.journeywoman.com/traveltales/solotravel.html)
Lonely Planet (http://www.lonelyplanet.com/)
Tripadvisor (http://www.tripadvisor.com/)
Tripwolf (http://www.tripwolf.com/)
Twitter (@traveldudes, @praha, @TravMonkey, @travellog, @frugaltraveler)
Rough Guide
National Geographic (guide)

Time Out

Not to forget: Prague is a beautiful city, mas the train station - not so cool. Taxi drivers who awaits you there are complete thieves. Hopefully, when the country adopts euro, things will get better. Some people there can be very rude, also. I found some in the castle. But I found an "angel", also, when I got lost in a place called Bilá Hora (I think). So, I guess the universe can find balance - if only we make an effort. Bon voyage!

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Viajar


Viajar é uma coisa multifacetada - porque, afinal, sair do lugar? Fisicamente, quero dizer. Pois pode-se fazê-lo pela fantasia através da literatura, cinema, teatro, etc. Bom, para se fazer pleno uso dos sentidos, creio. E aprender, se divertir, viver, e o que mais for possível. Isto posto, não canso de dizer (ou repetir) que o livro que mais se aproximou do que eu sinto quando penso em viagens é The Art of Travel, de Alain de Botton. Essa é a parte filosófica. E acho que talvez agora eu já consiga escrever alguma coisa sobre minha última viagem. Que desta vez foi bem atípica, afinal, foi muito pouco planejada, o que é um tanto ou quanto bizarro. Não que tenha dado errado, mas é tão atípico, que talvez seja este mesmo o motivo pelo qual eu ainda não tenha conseguido escrever... quem sabe? Ainda não consegui abrir o caderno. Planejamento: quase zero, mas do que eu consultei, devo dizer que minhas grandes fontes de consulta foram a Journeywoman (http://www.journeywoman.com/traveltales/solotravel.html), sempre o Lonely Planet (http://www.lonelyplanet.com/), Tripadvisor (http://www.tripadvisor.com/), Tripwolf (http://www.tripwolf.com/), mais o Twitter, lógico, onde comecei a seguir gente muito boa e obtive boas dicas.
Dos guias, tenho o Rough Guide, que é minha bíblia, comprei um guia da National Geographic que vale como livro, e mais um Time Out, todos muito bons.
Experiência: joguei fora quase todas as revistas. A impressão que fica é que as matérias são todas precárias. Por ex.: alguém escreveu que todas as mulheres em Praga eram lindas, todas parecidas com Ana Hickman. Bom, dizem que toda mulher é invejosa, mas eu admiro a Hickman, a Gisele... e ñ vi nenhuma que chegue aos pés da Ana em Praga (em compensação, os homens em Munique são lindíssimos). Fica tudo assim, meio clichê, rotina, sei lá, comercial. Fora aquela coisa de parecer que tudo é perto, "facinho". Não é. Haja perna, pés e costas. Todo guia deveria ter um adendo sobre conselhos para a autopreservação - digamos, um guia de sobrevivência.
Ah, e é preciso falar sobre a rudeza de algumas pessoas em Praga, sem contar o motorista de táxi ladrão. Nunca vou me cansar de falar do assunto, e há de ser um post bilingue. Quiçá assim mais gente o leia.

domingo, 29 de novembro de 2009

The art of travel


"Se nossas vidas são dominadas por uma busca pela felicidade, então talvez poucas atividades revelem tanto da dinâmica dessa busca - em todo seu ardor e paradoxos - como nossas viagens. Elas expressam, ainda que inarticuladamente, uma compreensão do que a vida pode ser, fora dos limites do trabalho e da luta pela sobrevivência. Contudo, raramente se considera que podem apresentar problemas filosóficos - quer dizer, questões que vão além do prático. Somos inundados com conselhos de para onde viajar; mas ouvimos pouco do porquê e como - ainda que a arte de viajar devesse, naturalmente, proporcionar questionamentos não tão simples ou não tão triviais, e cujo estudo pudesse, de forma modesta, contribuir para uma compreensão do que os filósofos gregos, de forma tão bela, denominaram eudaimonia ou florescimento humano."

Alain de Botton, The Art of Travel, Penguin

(Sem relação com o post, acho, mas uma das primeiras coisas que vi ao chegar em Munique foi essa joalheria, chamada Christ, sobrenome de minha avó, que era filha de alemães. Não sei a origem do nome, até hoje. Perguntei ao guia do tour que fiz aos castelos, e ele disse que era uma marca de relógios. Coincidência?)

sábado, 28 de novembro de 2009

Ainda sem inspiração

Antes de viajar, já tinha ouvido falar do rei Ludwig II e sua paixão por Wagner, naturalmente. Sem detalhes. Do castelo, os boatos de que teria inspirado Walt Disney. Vi recentemente uma foto da Disney e não achei nada parecido. Bom, minha tia dizia que parecer não é ser. Vai ver foi uma semente plantada na cabeça do homem que deu a ideia para a coisa toda. Empreendedorismo é isso aí. Não é o que falam do artista? 99% transpiração e 1% inspiração. A mais pura verdade. Se a gente não sentar e trabalhar, não adianta ter ideias maravilhosas. Obviamente, Da Vinci e Michelangelo não devem ter tido este meu problema, embora tenham trabalhado muito. Mas inspiração não lhes faltaram, nem talento.
Enfim. Acho que ou me faltaram informações ou as esqueci, e é certo que as guerras provocadas pela Alemanha fizeram com que muitas nos chegassem filtradas. Estou descobrindo isto agora com um livro que estou lendo sobre o pós-guerra. Também por um título de uma revista (Superinteressante), que ainda está por ler.
Há uma mitologia da região que nunca me interessou muito. Mas a Áustria foi outra história: houve Sissi, a imperatriz, romanceada no cinema, com o papel vivido por Romy Schneider, até hoje cultuada, pelo que pude perceber; e a Noviça Rebelde, outro mito perene. Também estou descobrindo que são castelos de cartas, em termos políticos.
Bom. Lembrei que quando descobri os paperbacks, apareceu no radar uma escritora chamada Victoria Holt, que nem sabia que era um pseudônimo, que era Jean Plaidy e Philippa Carr. E também não sei se foi ela quem escreveu um livro ambientado na Alemanha que falava de sclosses (seria esse o plural de castelos?) e florestas, tudo muito misterioso e um pouco assustador...
A última referência veio de um amigo, que conhece bem o país, fala a língua, e repetiu o lugar-comum: Ludovico (a forma aportuguesada), o rei "louco" da Baviera. Nosso guia no castelo Linderhof não concorda. Comprei uns livretos nas lojinhas sobre os castelos e sobre o rei, e a única conclusão a que cheguei é que ele era obcecado, idealista, romântico, e, como todos os monarcas, inclusive os atuais, gastou dinheiro para seu luxo. Inclusive, pareceu-me que essa história de loucura foi golpe. Fico com o guia. Pena que essas politicagens se sobreponham ao bem-estar da humanidade. A sensação que se tem é sempre e mais uma vez, pelo menos para mim, de desperdício. Há uma imensa beleza, porém, que reflete uma grande melancolia. Quando não uma grande tragédia. Às vezes pessoal, como no caso do rei Ludwig, que morreu misteriosamente, e teve uma vida reclusa, possivelmente infeliz. Outras vezes coletiva, como no caso do próprio país, que vivenciou duas guerras. O que, aliás, ocorreu e ocorre em todo o planeta. A história é permeada de tragédias, pessoais e coletivas. Algumas ainda estão em pleno andamento. Quando isso irá parar?

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Na marra


“Para mim, meu passado não passou e minha história não envelhece. Minha memória pode alcançar os acontecimentos que vivi a qualquer momento, e posso revivê-los como se ocorressem agora. Mas, se eu os narrar, quem me ouve não pode, como eu, vivenciá-los. Por isso, para outros, são contos o que para mim é vida. Mas é assim que corre o rio da vida dos homens, transformando em palavras o que hoje é ação. Se não forem narrados, os acontecimentos e os nossos feitos passam sem deixar rastros. Faladas ou escritas, são as palavras que salvam o já vivido e o conservam entre nós.
Só conservados pela lembrança é que os feitos e os acontecimentos podem entrar no tempo e fazer parte de um passado. Recente ou antigo.”

Dulce Critelli

Estou me auto-sabotando, não sei a razão. Quero escrever sobre minha viagem de férias, e não consigo. Não consegui fazê-lo 'durante', porque não tinha acesso fácil à web, mas escrevi bastante em meu tradicional caderno. Tenho as fotos, quero fazer o registro, e estou num embate comigo mesma. Não consigo sequer pegar o caderno para reler o que escrevi. Eu que releio N vezes as coisas, faço e refaço, escrevo e reescrevo, estou com uma resistência braba. O que será? Freud explica? Hoje resolvi colocar alguma coisa aqui de qualquer jeito, daí o título. A citação eu li num curso virtual que estou fazendo no trabalho. Pareceu-me perfeita.

Como eu queria começar? Com o inusitado desta viagem: pela primeira vez, praticamente não foi planejada. Abrir mão do excesso de controle foi dificílimo. O que resultou em deixar de ver algumas coisas que talvez eu vá lamentar para sempre (por causa do meu pensamento obsessivo). Ou não, pq aprendi que é realmente impossível ver tudo, sob pena de cair em depressão profunda, o que é uma imbecilidade. E, como disse uma amiga, é sempre um "pretexto" para se voltar, ou pelo menos se sonhar em voltar, o que é uma delícia. O que é a vida sem sonhar?

E porque viajar, desta vez, apesar de um certo desânimo? Um lampejo: Berlim. Resolvi conhecer um pedaço da Alemanha, onde estão as origens de minha mãe. Porque? Bem, esta, tenho certeza de que Freud e qualquer psicanalista explicaria. Minha mãe morreu ano passado, alguma repercussão há de ter ocorrido em um nível inconsciente, apesar de o Alzheimer já vir de longo tempo. Daí eu vir pensando em Portugal e, de repente, cismar com Berlim. Como eu sou hiperativa, não conseguiria ficar em 1 cidade só. Pelo menos mais 1 - Munique foi a escolha natural. Why? Por causa dos castelos do Rei Ludwig II da Baviera. Afinal, um deles teria inspirado Walt Disney. Apesar de estar convicta de que os contos de fada, os finais felizes, novelas, chick lit, Hollywood e etc. fazem um mal danado à nossa cabeça, lá fui eu, determinada a fazer o roteiro dos castelos. Não me arrependo. Tenho certeza, pelo que vi, dos lugares por onde passei, de que meses ou anos não são suficientes para dar conta de ver, conhecer ou aprender sobre a beleza, a história, a vida e/ou as tristezas e realidades desse país conflituoso que é a Alemanha. Mas do que eu me propus a fazer, fiz, e sempre é um marco, para quem foi criada numa redoma. Vini, vidi, vinci. Com muita ajuda divina. Ufa.


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Mulheres, Crianças, Jogadores de Hóquei e Banqueiros primeiro

Charge do Vancouverite.

"Goldman Sachs and Citigroup have obtained a total of 1,400 doses of swine flu vaccine from the city of New York, while many pediatricians wait for doses. On the other hand, money is more important than babies." (The Vancouverite, http://www.thevancouverite.com/vancouver_news/women_children_hockey_players/, citando http://gawker.com/5398075/women-children-and-goldman-sachs-bankers-first).

Surreal como às vezes não parece haver diferença entre os privilégios concedidos às castas. Não importa que os banqueiros tenham quebrado o sistema financeiro mundial e deixado milhões de pessoas à míngua, os governos se viraram para dar-lhes ajuda financeira, os executivos continuaram a receber bônus, e agora têm prioridade na vacinação contra a gripe suína. What the hell!?!?

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

No reason nor rhyme


Pq viajar? Infinitas possibilidades. Sair da realidade, figurativa e literalmente. Fazer contato com outras culturas. Fazer compras. Escapar do tédio. Descansar. Descobrir coisas. Ver de perto coisas que só se viu nos livros, ou na internet) ou se ouviu falar. Ou se surpreender.
Como control freak que sou, eu quero ter o domínio de tudo que me cerca, mesmo sabendo que é impossível. Mas consigo me deliciar, esquizoidemente, com as absolutas surpresas do meio do caminho (quando são boas, lógico). Em vez de uma pedra no meio do caminho, topei com um rio entre Praga e Berlim. Como ñ sei geografia, tive de perguntar ao fiscal o nome. Era o Elba, que tem 1165 km!
De acordo com a Wikipedia:
Nasce nas montanhas Krkonoše (Riesengebirge) e percorre a região Norte da República Checa em direção ao Sul. Perto da cidade de Pardubice, vira a Oeste e pouco depois a Noroeste, que depois é sua direção principal, com poucas exceções. Perto da cidade de Mělník, o rio afluente mais longo e de maior caudal, o Moldava*, deságua no rio Elba, do lado esquerdo. Perto de Litoměřice, o rio se dirige ao Norte e, depois de passar pela cidade de Děčín, sai da República Checa. A parte alemã do alto Elba é muito pequena: depois de passar por Dresden, a declividade diminui e, perto de Riesa ou Torgau, o rio passa em suas alturas médias.
*Rio Vltava, aquele que passa sob a Ponte Carlos, em Praga.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Overload

Estou tao cansada que resisto a escrever. Mas ja escrevi tudo no trem que me trouxe a Praga (praga mesmo eh o motorista de taxi que me cobrou 3 vezes mais do que valia a corrida da estacao ate o hostel). Se existe uma tabela de carmas, o dos motoristas de taxi do Rio de Janeiro e Praga esta carregado. Gente sem-vergonha. Eu ate admito as mulheres da lojinha Relay na estacao jogarem pra cima o cambio pra me trocarem um dinheirinho. Aceitavel. Por isso que os guias e etc. cansam de avisar para tomar cuidado com os ditos cujos. Mas fazer o que? Ou isso ou dormir na estacao. Nao compensa. Ja dormi no aeroporto, furada. Melhor vir pra ca, tem uma cama onde eu posso descansar, e tem ate internet!!! E onde eu posso carregar meu telefone, minha camera... pq, eh claro, tudo descarregou... o pouco tempo q eu tinha em Viena para comer a minha sacher torte ou para ver o meu Beijo do Klimt se foi procurando um bendito adaptador para as tomadas deste continente.
E bom: tinha um Caipirinha Bar em Viena, mas andar la nao eh facil nao. Guias de turismo sao uma porcaria. Tudo eh muito facil em teoria, vc pode andar por aqui e por ali. My ass. Soh se vc quiser morrer. Ou, como dizia minha mamy, matar seus pais a soco e a pontape. Uma figura de linguagem estranha, tenho de admitir.
O que eu achei de tudo ateh agora: estou procurando a alma. Achei um pouco numa igreja la em Munique. Pensei em minha mae - se ela estivesse viva, se deleitaria em saber que eu vim buscar suas raizes. Minhas. Por essa razao mesma. Ja descobri ate uma rede de lojas chamada Christ. Disse o guia do tour ao castelo que eh uma marca de relogios. Foi a primeira coisa que vi quando cheguei na Marienplatz, em Munique. Interesting, non?
Bom, pessoas sao interessantes. Almocei com um grupo de americanos bem simpaticos. Nosso guia era bem hilario, e essa foi ate agora a melhor parte. Vamos ver agora se a cidade de Praga desfaz a impressao dos mercadores. Bem, o concierge do hotel ja foi 1000. Tb dei sorte de 2 hospedes (americanas, acho) estarem chegando e abrirem a porta para mim. Gracas aos anjos da guarda, sempre atentos. O lugar eh super simpatico. Metade do medo resolvida. Mas devo dizer: a lingua eh um entrave e tanto. O pp rapaz falou que o transporte coletivo eh complicado. Pes, preparem-se. O estoque de relaxantes musculares ainda existe.

Neve

Breve post, pq o teclado nao ajuda, e eu odeio escrever sem acento. Frio: inicia com 1 ou 2 graus e quando esquenta e tem sol, chega a 10. Bafafa no aviao: mocinhas brasileiras alegres e alemaes bebendo em excesso. Munique, bela cidade, mas o que eu queria era ver Schloss Neuschwanstein, o castelo que Ludwig nao terminou de construir, e, diz-se, inspirou o castelo da Bela Adormecida. Pois fiz o tour e de quebra conheci o outro castelo onde ele realmente morou, de que, confesso, gostei mais, e o guia era muito melhor. Ainda: Chegamos a quase 1000 metros acima de onde estavamos, e vimos... NEVE!!!!!!!!! Finalmente, eu consegui!!! Vi, toquei, pisei. E vi os Alpes. Me senti a Julie Andrews fugindo dos nazistas. Assim que retornar vou rever o filme...
Estou revoltada: ninguem carimbou meu passaporte na fronteira com a Austria. Duoga. Bye, que o tempo ruge.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Budismo

Será que alguém consegue viver o momento presente, ao pé da letra?
Pessoalmente, estou em um de dois estados: no passado, tentando reconfigurar o que foi, buscando respostas para o presente e a chave para o futuro; e no futuro - o presente é só um pretexto para planejar para o dito cujo.
Exceções honrosas: quando estou lendo, mas aí estou mergulhada num mundo que não é o meu, é a fantasia mais plena, e quando estou embrenhada em algum projeto, pessoal ou profissional.
Viajar, por exemplo, é um projeto interessante: digamos que se leve 15 dias efetivamente no trajeto. Na prática, quando se trata de uma viagem intercontinental, e se viaja solo, são tantos os detalhes, que se começa a viagem muito antes: quando se começa a sonhar. Quando ela termina: praticamente nunca. Até diria 'nunca', mas com a ameaça do Alzheimer, já ñ se pode mais dizer isso.
Não são nem as fotos que nos remetem às lembranças. Há outros tipos de registros - a gente pode criar um blog ou pode recorrer ao tradicional diário. Mas basta ler um registro alheio e as memórias fluem. Mais uma vez: desde que haja um resquício dela. Para quem tem caso de Alzheimer na família, é um fantasma a pairar.
Não gostaria de lembrar de tudo, mas gostaria de ter uma memória daquelas de desencavar fatos empoeirados pelo tempo. Pra que, não sei bem. Acho bom ter um registro, raízes talvez. Sempre gostei de história, sou descendente de imigrantes, gostaria de saber quando meus avós desembarcaram neste país, e até os porquês. Porque aqui e não acolá. Porque meu sobrenome se escreve deste jeito, e não do jeito que deveria ser. Todos os antigos já morreram. As grafias se alteraram. Talvez já não tenha mais importância. Mas a história é importante. Na raiz está o nosso centro, nosso equilíbrio. Quero achá-lo. Mesmo para escolher um caminho diferente, é preciso saber de onde se parte.

sábado, 10 de outubro de 2009

Comfort Food

Diz-se da comida que tem um significado especial, com um conteúdo emocional, que nos traz boas lembranças, e, por isso, nos conforta. Pode ter raízes na infância ou não. Não é toda comida que se comeu quando criança que deixa saudade, ou essa sensação de conforto, aconchego.
O chocolate é um capítulo à parte. Até porque pode-se entrar na questão da serotonina, e no bem-estar real que ele provoca. Nham. Ou nos flavonoides (com ou sem acento?), antioxidantes, que fazem bem para o coração, e estão presentes no chocolate meio-amargo. Nham Nham.
Para mim, comida é mais do que subsistência. Comida é também emoção, e é cultura. Extraído o fato básico de que todo ser vivo tem de se alimentar para sobreviver, parece-me que é em torno do ato de se alimentar que as pessoas se encontram. Desde o tempo em que se acendiam fogueiras para assar a caça, até à sala de jantar dos dias de hoje, e restaurantes, bares, etc.
Fala-se em "comida típica" - os guias turísticos darão destaque a museus, exposições, mas sempre haverá menção à culinária local. A melhor maneira de se familiarizar com um lugar é comendo - não em restaurantes (pelo menos exclusivamente), mas onde é tradicional, onde o povo local come, indo aos supermercados, mercados, experimentando os produtos locais. Claro que este é um conceito exatamente oposto ao de comfort food - o novo X velho. Mas toda essa conversa era para falar de boas lembranças - criadas a partir de novas experiências.
Hoje faz frio - apesar de ser primavera no Rio. Uma embalagem de cookies, guardada para fazer algum artesanato, trouxe a memória de viagens passadas. Prazer e subsistência (ahã!) - afinal, chocolate alimenta! Melhor ainda quando se tem forno de microondas no quarto de hotel - esse cookie quando o chocolate derrete... bom, tem aquele outro fresquinho que vende perto da Macy's (NYC), mas é outra história.
E eu não tenho cookies em casa. Tenho várias barras de chocolate, que não me atrevo a comer, pois estou com dor-de-cabeça crônica, e pode se desencadear uma enxaqueca. Fico com a lembrança. E uma receitinha. Olhar não tira pedaço, já dizia minha bisavó. Nem engorda.

Receita de chocolate quente da Nigella Lawson (www.nigella.com).

Ingredientes:
2 xícaras de leite
100 g de chocolate amargo ou meio amargo (o que preferir)
1 pau de canela
2 c. chá de mel
1 c. chá de açúcar mascavo
1 c. chá de extrato de baunilha (opcional)
2 c. s. rum escuro

Modo de preparo:
Coloque o chocolate picado em pedaços pequenos em uma panela com o leite, a canela, o mel e o açúcar. Leve ao fogo até que o chocolate derreta completamente. Se optar pelo extrato de baunilha acrescente-o depois de o chocolate derreter. Acrescente o rum aos poucos e prove para ver se não ficou forte, retire a canela e sirva quente.

A língua liberta

Atiq Rahimi, autor de Syngué sabour, é o escritor afegão exilado na França que veio para a FLIP falar com Bernardo Carvalho, de O filho da mãe, sobre o tema “O avesso do realismo”.

'Syngué sabour' - Pedra-de-paciência - foi escrito sob o impacto da violenta morte da poeta Nadia Anjuman, ESPANCADA até a morte pelo marido e com a conivência da mãe que a considerava liberal demais. A obra é libertadora, deu ao autor um prêmio (Goncourt - 2008) que lhe deu também reconhecimento em sua terra natal, para onde ele pensou nunca mais poder voltar depois de ter escrito tal coisa, e onde agora, pela poder da palavra escrita ele se faz ouvir.

Uma das inspirações para Bernando criar 'O filho da mãe' foi o assassinato por motivos políticos da jornalista russa Anna Politkovskaya, que denunciava os crimes da guerra na Chechênia. Além disso, o livro fala do drama das mães quando seus filhos soldados estão em guerra. Como se pode ver, a ficção não é apenas o avesso da realidade, ela é tranformadora, reveladora e libertadora. Diverte como diverte um parque de diversões, mas também reflete em nossas cabeças como as nossas imagens na velha casa dos espelhos, causando impressões tranformadoras.

A tal pedra-da-paciência citada por Atiq serve “…para todos os infelizes do mundo. Conte a ela seus segredos até que a pedra estoure… até que você seja libertada de todos os tormentos.”…

Um trecho dessa obra de Atiq chamou especialmente minha atenção. Ali está citado o Corão, no início, onde o profeta conta da revelação do arcanjo Gabriel:

”- LÊ! Em nome de teu Senhor que tudo criou, que criou o Homem a partir de um embrião. Lê! Teu Senhor é de uma bondade universal, Ele que ensinou ao Homem, por seus escritos, o que o Homem não sabia…”

(Não sei de onde copiei essa resenha, sorry... só sei que data de junho/2009)

Jeitinho brasileiro

Nenhum homem nesta terra é repúblico, nem vela ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular."
Simão de Vasconcelos, 1663.

José Murilo de Carvalho

Ser republicano é crer na igualdade civil de todos, sem distinção de qualquer natureza.

É rejeitar hierarquias e privilégios.

É não perguntar: "Você sabe com quem está falando?"

É responder: "Quem você pensa que é?"

É crer na lei como garantia da liberdade.

É saber que o Estado não é uma extensão da família, um clube de amigos, um grupo de companheiros.

É repudiar práticas patrimonialistas, clientelistas, familistas, paternalistas, nepotistas, corporativistas.

É acreditar que o Estado não tem dinheiro, que ele apenas administra o dinheiro pago pelo contribuinte.

É saber que quem rouba dinheiro público é ladrão do dinheiro de todos.

É considerar que a administração eficiente e transparente do dinheiro público é dever do Estado e direito seu.

É não praticar nem solicitar jeitinhos, empenhos, pistolões, favores, proteções.

Ser republicano, já dizia há 346 anos o jesuíta Simão de Vasconcelos, É NÃO SER BRASILEIRO.

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José Murilo de Carvalho é historiador

Publicado em O Globo, pág. 7, 6 de julho de 2009

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Ana Maria também é cultura

Um dia eu acabo de arrumar esta casa. Como eu guardo coisa. Revista de 21/9/07!
7 maneiras de evitar o estresse, por Lígia Scalise. Há 1000 maneiras. Ler. Beber um vinho (cairia muito bem com essa primavera outonal que fez desabar um temporal no Rio - um chá ou um chocolate quente como o que eu tomei hoje tb vão bem). Spa. Massagem.
Para os pobres infelizes que se meteram na estrada antecipando o feriadão, não tem jeito. O inferno começou cedo. Hoje de manhã já tinha um motoboy com a moto no chão, no meio do trânsito caótico.
As malditas pedras portuguesas, de que ninguém cuida, mais as calçadas, onde as árvores plantadas quando fizeram o planejamento (?) urbano há décadas espalharam suas raízes, são um acidente à espera de um incauto, uma vez que desconhecem o que é uma superfície plana. Não sei, talvez no Leblon, o metro quadrado mais caro da cidade (onde pedestres podem circular, claro, não estamos falando da Barra, lugar bizarro feito para carros).
Enfim, divago. Às 7 dicas.
1- Respire ao ar livre. Um estudo americano constatou que 88% das pessoas habituadas a ter contato com a natureza respondem melhor ao estresse. Vale qq atividade, desde caminhar em parques até relaxar por 10 minutos em uma praça durante seu horário de almoço.
2- Imponha-se limites. Um dos estopins para a ansiedade é aquela sensação de que não vai dar tempo. "Vc só pode fazer uma coisa de cada vez. Tenha foco. Decida o que é mais importante e dedique-se a isso", ensina Jael Coaracy, consultora do livro Vai Dar Certo (ed. BestSeller).
3- Aperte os pés. A reflexologia se baseia no princípio de que temos todos os pontos do corpo na sola dos pés. Par aliviar a tensão, prepare uma bacia com água morna, 2 xícaras de sal grosso e um punhado de hortelã. Massageie um pé com a mistura, em sentido horário, por 10 minutos, enquanto o outro fica de molho. Coloque bolinhas de gude no fundo da bacia.
4-Bote pra fora. Em vez de ficar estressada e isolada no seu canto, experimente conversar com alguém de sua confiança. O simples fato de colocar pra fora aquilo que te provoca agonia já vai fazer um bem danado.
5-Seja flexível. Nada de se desesperar quando algo inesperado acontecer. Reflita: um imprevisto não significa perigo. Às vezes, aquilo que apareceu de surpresa pode ser uma ótima oportunidade. Ouse!
6- Faça bom uso do trânsito. Antes que vc entre na neurose de gritar ou xingar o motorista do lado, use o tempo em que está parada no trânsito para fazer algo que lhe dê prazer. Escute suas músicas preferidas!
7- Faça um spray antiestresse. Elaborado pelo aromaterapeuta Fernando Amaral, esse spray é uma saída para acalmar. Anote a receita: 200 gotas de óleo essencial de lavanda, 50 gotas de óleo essencial de laranja doce, 80 ml de álcool e 400 ml de água. Misture os óleos no álcool até que se dissolvam por completo. Depois, misture-os à água e coloque em um borrifador de meio litro.

sábado, 3 de outubro de 2009

Always Jane Austen


Um ano atrás eu chegava na estação de trem de Bath, na Inglaterra, como sempre entre perdida, assustada e deslumbrada. Pois como haveria de me imaginar ali? Se eu voltasse bastante no tempo teria de dizer que jamais me vi sequer entrando em um avião. Essa era a minha (não) expectativa. Como o subúrbio carioca era uma província - ainda mais se considerando a comunicação limitada e cerceada (lembrando que democracia é fato novo por estas bandas...) - meu território eram os livros. Neles eu viajava. Talvez por isso sempre tenha me dividido entre o pragmatismo e o sonho, e tenha ido estudar literatura, para depois ir trabalhar num emprego burocrático. Haja esquizofrenia...
Na faculdade eu descobri Jane Austen, paixão que perdura. É lógico que descobri muitos outros escritores e poetas maravilhosos, mas depois de travar contato com Elizabeth Bennett & Mr. Darcy, Anne Elliott & Captain Wentworth, de analisar a prosa fluida e a crônica dos costumes da época feita por Austen, o desenho sutil dos personagens, a rendição é total. Anos depois, assistindo às produções inglesas, belas e fieis aos originais, o deslumbramento é total.
Apesar de Pride and Prejudice ser meu livro favorito, Persuasion é especialíssimo. É como se um fosse o primeiro amor - aquele que eu li primeiro, estudei na faculdade, me deslumbrou, e deixou sua marca indelével; e o outro, o último - o mais maduro, porque realmente o é. E a leitora também.
No caso de Persuasion, eu vi o filme primeiro - o que é inesquecível para mim foi a experiência de assisti-lo em NYC, num cine-arte atrás do Plaza, com um "porteiro" todo paramentado, chiquérrimo. Deslumbramento total. Saí do cinema com Déa nas nuvens, fomos andando pela Broadway em êxtase. Os atores ingleses são incomparáveis. No dia seguinte já estava comprando o livro, que tenho até hoje, lógico, que já li inúmeras vezes. A carta do Capitão Wentworth a Anne é o máximo. A ideia de Bath deve ter nascido ali.
E foi assim que eu cheguei a Bath. Jane morou ali por poucos anos. De acordo com sua biógrafa, ela não gostava da cidade. Supõe-se que porque ela saiu do seu ambiente e sua situação não era nada confortável. Mas tanto Persuasion como Northanger Abbey são ambientados ali, e nada indica qualquer amargura nas tramas. O que mostra o talento da escritora.
Saí do trem, arrastando minha mala cor-de-rosa pela rua, com a chuva caindo (como chove e venta na cidade), olhando à direita (o rio) e à esquerda (os marcos - catedral, prédios...), cada vez mais deslumbrada. Consegui chegar facilmente ao YMCA, exatamente como disseram. Era cedo, meio do dia, fui fazer o reconhecimento da cidade, andar sem rumo, e acabei chegando na porta do Jane Austen Centre.
Jane não morou ali, e na verdade, para os fãs renitentes, seria necessário ir a Chawton, onde ela realmente finalmente foi se instalar (embora tenha morrido em Winchester, e esteja lá enterrada, só foi para lá para consultar um médico, mas ela já estava fatalmente doente). Mas há fãs apaixonadas(os) em todo lugar, inclusive no Brasil (aqui recentemente foi fundada a JASBRA - Jane Austen Sociedade do Brasil, por Adriana Zardini - http://janeaustenclub.blogspot.com/), e alguns levam a cabo a tarefa de preservar a memória cultural/histórica de personalidades que, de outra forma, podem ficar perdidas no tempo. Afinal, na própria lápide de Jane ela é destacada apenas como membro da família, e não como a escritora que foi. Os próprios direitos autorais de suas obras se perderam.
A casa onde Jane morou e escreveu 3 livros pertencia a seu irmão e ficou abandonada, apodrecendo, e agora foi adquirida por uma milionária americana, Sandy Lerner, naturalmente e felizmente, apaixonada por Jane. Ela recuperou a casa e transformou-a num museu. Sonho um dia em ir lá. Não é de fácil acesso para quem anda "a pé".
Um sonho de cada vez. O coração tem de estar forte. Pois se chegando no Centro em Bath, onde sequer Jane botou os pés (só morou alguns meses na mesma rua) já foi um buá buá...
Viajar tem disso - para quem tem de atravessar um oceano, e tem mania de controle, como eu, são meses de planejamento, para viver 15 minutos de emoção. Bom, entre chegar e sair são mais de 15 minutos, mas não leva mais do que isso para se sair do estado de choque. Depois a gente se acostuma.
Se o choque não passar, eu me aplico um liscabão - como dizia Emília. Aliás, aquelas pílulas falantes da Tia Nastácia bem que me serviriam agora.

Livre acesso (revisado)

Matéria publicada na Revista O Globo em agosto de 2008. 15 endereços na internet onde os autores liberam livros, CD, filmes e fotos de graça. Checados, todos ainda disponíveis.

MÚSICA
http://albumvirtual.trama.uol.com.br/
http://www.freeplaymusic.com/
http://mmrecords.com.br/
http://www.overmundo.com.br/overmixter/
http://www.jamendo.com/en/

HQ
http://www.acervohq.quadrinho.com/capa/

MULTIMÍDIA
http://www.archive.org/index.php

EDUCAÇÃO
http://www.ocwconsortium.org/
http://www.futuratec.org.br/

CIÊNCIA
http://www.plos.org/

VÍDEO
http://pirex.com.br/

IMAGENS
http://www.openclipart.org/
http://www.flickr.com/photos/ciadefoto

LIVROS
http://www.editoradobispo.com.br/site/

BIBLIOTECA NACIONAL
http://bndigital.bn.br/



sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Dia de Rio de Janeiro











É possível se ficar totalmente
insensível diante da emoção do outro?

Creio que a única forma de consegui-lo é se isolar. No momento em que se entra em contato com outros seres, é acionado o mecanismo da socialização (seja lá o que for) e algo começa a repercutir dentro de nós. Começa no cérebro, óbvio, que é o que comanda tudo: pernas, braços, músculos (inclusive este que leva a fama de ser o centro das emoções - o coração).
É por isso que esse ser que não se identifica com outros seres e suas emoções ou regras sociais é chamado de sociopata. Outra história.
Bem, a história de hoje é a alegria da cidade pela conquista do direito de sediar as Olimpíadas em 2016. Considerando-se a penúria em que todos achamos que vivemos, chega a ser meio patético - parecia até esquizofrênica a discussão na GloboNews (que enfiou, entre as naturais imagens de comemorações por todo o país e em Copenhagen, e de tristeza das cidades que estavam na disputa, e até mesmo o cumprimento do Presidente Obama, a reação em Tegucigalpa. Ora, faça-me o favor. WHO CARES???), por um lado mostrando alegria até mesmo por parte de sua correspondente na Europa, sinceramente emocionada, e por outro, fazendo questão de destacar os grandes problemas que temos de resolver nesses 16 anos - que não são poucos.
Bom, sugiro que troquem a mala do Zelaya pelas Olimpíadas. Certamente o assunto é mais importante e útil para nós.
Enfim, para o carioca, qualquer motivo é de festa, e esta começou antes mesmo do anúncio na praia de Copacabana. O São Jorge estava em frente ao Copacabana Palace.
Alguns estavam desligados, como o motorista do táxi a quem perguntei se sabia do horário da divulgação. E olhe que o rádio do carro estava ligado na CBN!
Fui trabalhar, esqueci do assunto tb, e saí sem olhar para o relógio, entro no Shopping Rio Sul, e quando vou subir a escada rolante, vejo um monte de gente, e o grito da multidão! Arrepio, sorriso instantâneo. É a reação natural, não tem jeito. Precisa-se ser insensível, como disse. Ainda bem que não sou. Estou viva.

Resolvi dar uma conferida na Av. Atlântica. Afinal, sempre é bom garantir que se está viva - depois a gente continua a criticar, pq assunto não falta. Nesse ínterim, é agir para mudar.

Já dizia Zé Ramalho:

Bate, bate, bate coração,
Dentro desse velho peito
Você já está acustumado a ser maltratado
A não ter direito
Bate, bate, bate coração,
Não ligue deixe quem quiser falar
Porque o que se leva dessa vida coração
É o amor que a gente tem p´rá dar

VOTE EARTH

earthhour We'd love it if you mentioned Earth Hour Copenhagen and #voteearth on http://www.blogactionday.org :)

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Copiando

Estou mais uma vez fazendo a faxina na caixa postal. Achei este link, e (re)descobri pq guardei. O texto é fantástico e foi publicado originalmente na Folha Online.

17/07/2006

Édipo e Nasrudin

"O complexo de Édipo é mais famoso que a tragédia de Édipo. Freud queria seu nome gravado em pedra. Conseguiu. Não se pode afirmar, mas, pela detalhada biografia escrita por Peter Gay, pode-se deduzir que Freud tinha um pezinho na depressão. O outro estava fincado firmemente no desejo de ser famoso, de ser um grande homem. Enfim, um pobre diabo como todos nós, que fez sua limonada de dois limões que a vida lhe deu: a melancolia e o desejo de ser mais do que apenas um homem comum.

Apesar de notório, o complexo de Édipo não é entendido pela maioria dos que o citam. Eu mesmo nunca li o texto original. Peço a Ramon, o revisor amoroso, que encomende ao analista (de seu ilustre círculo de relacionamentos) um texto de divulgação científica (pros fracos) sobre o significado propriamente freudiano do complexo complexo. Luiz Pinheiro, que entra em férias, como eu (volto na segunda semana de agosto), não deverá se manifestar dessa vez.

Feitas as necessárias e humildes ressalvas, exponho o que entendi do tema a partir de leituras de segunda mão, conversas com psicanalistas e alguns anos de análise: o complexo de Édipo é uma construção intelectual (um modelo teórico apenas, pois não há comprovação científica) arquitetada para explicar o momento fundamental da infância, talvez de toda a vida: o primeiro em que nossa visão de mundo é fortemente agredida pela realidade, o primeiro questionamento crítico importante que fazemos sobre a percepção fantástica, fantasiosa que, crianças, todos temos da vida.

A finalidade crucial desse acontecimento é a conquista da humildade e, quase paradoxalmente, da segurança pessoal. O édipo é uma lição baseada num trauma. Como uma vacina, que tira do veneno a salvação, o édipo tira do trauma a nossa futura capacidade de suportar frustrações, principalmente as das áreas do amor e da auto-estima.

A lição ou o trauma (quando não se aprende a lição) nos acompanhará e guiará por toda a jornada que teremos em seguida sobre o planeta: uma odisséia para todos, uma tragédia para muitos, para as quais nos preparamos, sem saber que nos preparamos, numa idade em que seria tão bom que tudo fosse apenas sonhos. Paulo Francis, que gostava de repetir que a realidade é melhor do que sonhos, afirmava também recorrentemente que não há época mais triste do que a infância. Talvez falasse da própria, mas, da minha, me lembro claramente do desamparo e da solidão, apesar dos pais amorosos que tive. Dois pezinhos na depressão ou a tristeza infantil é verdade universal, comum a todos?

O trauma se dá quando a criança percebe que aqueles dois que estavam ali só para cuidar dela, dedicar todo o amor apenas a ela, têm um lance entre si. Papai e mamãe têm segredos, têm vida própria e comum, cumplicidades. Então, o pequeno ser, incapaz de racionalizar e usar a linguagem para expressar os sentimentos terríveis que emergem dentro de si diante das novas constatações, descobre que monstro existe, sim, pelo menos um, mas muito, muito assustador, terrível, horrível e, ainda por cima, de olhos verdes. E não consegue nomear o monstro, nem consegue apontá-lo para papai e mamãe e perguntar o nome. Se pudesse ouviria "ora, é o Ciúme. Nenê tá com ciúme, minha coisinha linda tá com ciuminho? Meu anjo, liga não, papai te adora, filhinho, mamãe te ama mais do que tudo nesse mundo".

O amor daqueles dois não é apenas dele. Ele não tem exclusividade, como acreditava e baseava, sem saber, toda a sua felicidade, sua onipotência, seus super-poderes, naquela atenção falsamente incondicional. A auto-estima vai a zero, uma criancinha vive uma desilusão de gente grande. Se tiver condições adequadas para lidar com a percepção brutal, ela aprenderá duas lições básicas: a de que não é exclusivo e que o amor que lhe sobra é suficiente para sobreviver. Se tiver condições adequadas: pais amorosos e capazes de acompanhar o filho nessa desilusão, e, não menos importante, a capacidade de suportar sofrimento com a qual a criança já nasce, algumas com mais, outras com menos, distribuídas segundo a lei de Deus.

(Nasrudin tinha um pacote de balas na mão e disse para um grupo de meninos que estava por perto: Vou dar essas balas para vocês, vocês querem que eu distribua segundo a lei dos homens ou segundo a lei de Deus? Segundo a lei de Deus, a lei de Deus, disseram os meninos. Então Nasrudin deu uma bala para um menino, duas para outro, o resto do saquinho para outro e deixou todos os outros chupando dedo. Eles reclamaram e Nasrudin respondeu: Ora, foram vocês que escolheram a lei de Deus. Igualdade é lei dos homens)

Alguém com o édipo bem resolvido (pelo que tenho visto por aí, outra fantasia) seria capaz da humildade de não precisar ser exclusivo de ninguém, ou seja, seria capaz da segurança de não precisar ser exclusivo de ninguém. E estaria vacinado contra o vírus VERME MONSTRO de olhos verdes.

Dois livros que li recentemente recendem a édipo mal resolvido, 'Memória de minhas putas tristes', de Garcia Marques, e 'O paraíso é bem bacana", de André Sant'anna. No primeiro, um homem de 90, que só transou com putas a vida toda, sofre o nascimento de uma "nova" fantasia amorosa; no segundo, um menino pobre, negro, brasileiro, filho de uma mãe bêbada, vai encontrar no Islã, na Alemanha, a felicidade amorosa das 72 virgens prometidas ao fiel que se sacrificar em nome do Alá da guerra santa.

O édipo não tem idade, endereço, classe social. Rico, pobre, índio, paquistanês, hutu, piauiense, araraquarense, japonês, físico nuclear, ginecologista, Hebe Camargo, Materazzi, Zidane, a perua do Senhor, Bento dezesseis, dezessete, dezoito, Heloísa Helena, Oriana, a petista esclarecida, Angelina Jolie, os filhinhos de Angelina Jolie com Brad Pitt, mesmo os batizados lá naquele país afro-medieval, Michael Jackson, George Michael, Michael Jordan, todos têm, todos passam pelo próprio, e único édipo. Condição humana das brabas, Santo Graal cheio de sangue humano. Quem não o viveu adequadamente quando criança estará condenado a repeti-lo até aprender sua dura lição.

Mil vezes a santidade, a castidade, o heroísmo, as drogas, o vício, a ideologia, o crime, a idolatria, o contrabando de armas na África, a troca de casais, trocar de cônjuge, faustão aos domingos: qualquer coisa é melhor do que encarar o próprio édipo na fase adulta. O édipo é bom de ser vivido quando a gente é criança, antes de pôr aparelho nos dentes.

Pra não pegar sotaque, né?"
Hermelino Neder é compositor e professor de música. Venceu vários prêmios nacionais e internacionais por suas trilhas sonoras para cinema. É doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Tem canções gravadas por Cássia Eller e Arrigo Barnabé, entre outros.

E-mail: nederman@that.com.br
http://www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/diariodepressaoefama/ult2855u62.shtml

Humor inglês

Fonte: http://i538.photobucket.com/albums/ff347/neris_k/LUmapcopy.jpg

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Word of the day

Word of the Day

Wednesday, September 16, 2009

logorrhea

1. Pathologically incoherent, repetitious speech.
2. Incessant or compulsive talkativeness; wearisome volubility.
Origin:
Logorrhea is derived from Greek logos, "word" + rhein, "to flow."

logorréia
Datação
1873 cf. DV
Acepções
substantivo feminino
1 Uso: pejorativo.
profusão de frases sem sentido e/ou inúteis
2 Rubrica: psicopatologia.
compulsão para falar, loquacidade exagerada que se nota em determinados casos de neurose e psicose, como se o paciente, assim, quisesse dar vazão ao grande número de idéias que passam por sua cabeça; logomania, verborragia


Etimologia
log(o)- + -réia; f.hist. 1873 logorrhea

Sinônimos
ver sinonímia de loquacidade


Nem vou procurar o sinônimo de loquacidade. Estava circulando pela rede, e caí nessa 'palavra do dia'. Em inglês. Fui ver no Houaiss para ver se tinha o equivalente em português. Tinha. Resolvi postar as duas. Para provar que aí está o X da questão na rede: a compulsão para falar, ou escrever. Naturalmente, tudo isso está sendo deixado para trás pelo microblog, especialmente o mais famoso de todos, o Twitter, com seu famoso limite de 140 caractereses. Confesso que me deixei seduzir. É tão mais prático! Ainda mais com a funcionalidade de retwit: vc vê uma coisa interessante que alguém já postou e quer contar para o seus seguidores (se é que tem algum), e com essa justificativa, recorta e cola. Não, não é plágio, a ñ ser q vc ñ seja educado e ñ coloque a marquinha 'RT' (=retweet). Claro que pode querer dizer falta de assunto ou originalidade. É bom manter a sobriedade. Mas a loquacidade fica reservada para o seu blog, onde vc pode, efetivamente, se derramar em frases com ou sem sentido, úteis ou inúteis, e ficará nisso mesmo. A ñ ser, lógico, q vc fira algumas regras básicas do bom senso, coisa q ñ pretendo fazer. Loquaz sim; neurótica ou psicótica não sei; mas, dentro da minha liberdade de opinião, procurando manter a ética.

domingo, 20 de setembro de 2009

O reverso do amor, por Ivan Martins

"“A alma me caiu aos pés” é uma expressão espanhola que eu conheci através de um dos meus escritores favoritos, o madrilenho Jorge Semprún.

Educado em francês e alemão, apaixonado pelas palavras, Semprún é fascinado pelo que essa expressão descreve com exatidão: o momento aterrador em que nosso mundo vem abaixo, o instante em que nos vemos nus diante da realidade acachapante.

Lembro que a alma me caiu aos pés numa noite chuvosa de terça-feira, em São Paulo.

Eu havia saído com a namorada e tivemos um desentendimento repentino, explosivo, desses que termina em gritos e lágrimas sem que qualquer um dos dois tenha (ao menos conscientemente) intenção de romper e causar dano.

Discutimos no carro, a caminho de um restaurante, e retornamos à casa dela sem nos olhar. Eu a deixei sob a luz amarelada do prédio. Tão logo acelerei o carro, furioso, aconteceu: a alma me caiu aos pés.

De um só golpe me veio, inteira, a importância daquela mulher na minha vida. O mundo sem ela ficou instantaneamente vazio de sentido. A amargura subiu pela garganta e me dominou a ponto de quase impedir o ato de guiar.

Sei que cheguei em casa e me larguei na poltrona, sentindo as coisas ruírem à minha volta. Eu me sentia inteiramente só. E apavorado. Pensei: como se vive com esse sentimento?

Antes que eu tivesse chance de descobrir, ela telefonou.

Conversamos cautelosamente, como dois bichos feridos: um percebendo no outro, pela primeira vez, o potencial de causar dor. Como não havia nada realmente errado, as coisas se resolveram e a ordem do universo foi restaurada. A vida voltou ao seu lugar.

Desde então, porém, a pergunta me persegue: como se vive com tamanha dor? Como se lida com o reverso do amor?

Tenho uma amiga que terminou outro dia um namoro bonito, com um sujeito devotado, e se encontra inteiramente tranquila. Na verdade, está feliz por ter mais tempo para si mesma.

Tenho outra amiga que é inteiramente diferente. Ela terminou um namoro ruim e está em farrapos: não consegue estar só e sentir-se bem.

A maioria dos homens que eu conheço pertence ao segundo grupo.

Diante de um rompimento indesejado, eles desabam. Correm para o bar, enchem a cara, ligam para todas as mulheres da cidade, fazem o maior barulho possível. Se apavoram.

Sempre tive a impressão de que pertencer a esse grupo era a única maneira de existir. Do lado dos sóbrios e tranquilos, eu pensava, só há gente fria. Gente que eu não queria ser.

Hoje penso ligeiramente diferente. Tendo sentido a alma nos pés mais de uma vez, me parece invejável a capacidade de algumas pessoas de estar no centro da própria vida permanentemente – em vez de deixar que outro ser humano ocupe esse lugar essencial.

Quando as relações terminam, essas pessoas saem quase intactas. Vão recuperar sozinhas a própria integridade. Sem pânico. Sem drama. Isso significa que se divertiram menos no caminho? Significa que gostaram menos? Talvez. Ou talvez signifique, apenas, que são mais equilibradas.

Assim como a sombra, talvez a alma devesse estar colada ao corpo permanentemente. Deve haver algo de errado com uma alma que vive caindo nos pés."

Publicado na revista Época
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI88758-15230,00-O%20REVERSO%20DO%20AMOR.html


Nem sei se é a alma ou o coração... é o que faz o coração da gente disparar... no fundo é o cérebro mesmo, ele é que é o gatilho de tudo, de todos os sintomas que nos acometem e todas as vergonhas, pânicos, pavores, vontade de nos trancarmos dentro de casa e nunca mais sairmos, ou, talvez, ao contrário, sair e sacudir alguém, quiçá apagar tudo, fazer voltar o tempo, às vezes até ao momento em que sequer existíamos...

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Filosofia

"O comportamento do personagem da série de TV House (TV a cabo - Universal) acaba de se tornar tema de um livro, lançado no Brasil pela editora Best Seller. Em A Filosofia em House (192 pág., R$ 24,90), um grupo de filósofos analisa a ética e a moral do personagem, buscando entender o seu padrão de raciocínio e explicar os motivos de suas atitudes."
Estou curiosa. Bom, nunca estudei filosofia, que para mim está no nível de O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, que é (era?) um professor de filosofia do secundário, e de alguns artigos de revistas voltadas para o tema. Às vezes eu fico meio confusa com abstrações filosóficas. Mas estou descobrindo a necessidade de me aprofundar um pouco mais ao ler sem fraude nem favor - estudos sobre o amor romântico, de Jurandir Freire Costa, ed. Rocco, quando ele começa a desenrolar os conceitos ao longo do tempo acerca do que se convencionou chamar de amor. O assunto me interessa tanto pelo lado humano como pelo ângulo literário: como se constroem (nova ortografia: com ou sem acento agudo?) as tramas amorosas na chick-lit? O que existe ali que prende a atenção? É só observar a lista de best-sellers do NYT, e se verá que há serial writers - leia um, e compare os livros seguintes, e só mudarão os nomes e as locações. Às vezes nem isso. Mesmo assim, nós, as fãs, continuamos comprando os livros (ou eles ñ seriam best-sellers). Porque? Só pode ser vício. Ou porque os livros contêm algo que falta em nossas vidas. Preciso estudar o assunto. Mas esse psicanalista vai e saca Santo Agostinho, e outros, e dá um nó na cabeça da gente. Espero terminar o livro em estado de alguma sanidade.
Depois eu compro o livro sobre a filosofia do House, que é absolutamente fascinante, mas, para mim, a pessoa mais cínica e antiética da face da terra. Bem... comparado com os políticos brasileiros, tenho de rever meus conceitos. Deve ser no mínimo interessante. Tenho de passar numa livraria para folhear e conferir. Não dá para confiar só em release.
Finalizo com um comentário pescado num site sobre O Mundo de Sofia, este sim, um livro encantador, com certeza:

O objectivo principal deste livro não é, segundo o nosso ponto de vista, relatar ao leitor a evolução da filosofia ao longo do tempo, mas sim fazer com que este não seja tão indiferente àquilo que o rodeia. Isto é conseguido através das respostas dos grandes filósofos às questões que sempre afligiram o mundo.

"A capacidade de nos surpreendermos é a única coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filósofos (...) E agora tens que te decidir, Sofia: és uma criança que ainda não se habituou ao mundo? Ou és uma filósofa que pode jurar que isso nunca lhe acontecerá?... Não quero que tu pertenças à categoria dos apáticos e dos indiferentes. Quero que vivas a tua vida de forma consciente."

http://www.ime.usp.br/~cesar/projects/lowtech/mundodesofia/



Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...