quarta-feira, 18 de maio de 2016

Perseguições: o tempo passa e as pessoas não mudam

Sobre foto (original) de Matic Zorman, World Press Photo/2016, Amsterdam/abril: criança refugiada esperando para ser registrada na Sérvia - acervo

Tempos atrás escrevi sobre Dora Bruder, um livro do francês Patrick Modiano, ganhador do Nobel de literatura de 2014, que começa falando de uma adolescente francesa e judia, que fugiu de casa em 1941. Por causa disso, seus pais publicaram um anúncio num jornal à época, que chegou às mãos de Modiano décadas depois. O final da história real é previsível: ela foi parar no campo de Drancy, uma estrutura criada pelos franceses do governo colaboracionista para receber os judeus daquele país. E dali Dora foi enviada a Auschwitz. 

O livro faz um mix de realidade e ficção a partir desse fato. Às vezes pensamos em horrores do passado achando que ficaram para trás. Não é bem assim. Não vamos falar de escravidão, a de antes e a de agora, porque não é o foco. Vamos nos deter nas perseguições, não importando os motivos. Basta abrir os jornais e se constatará que nunca cessaram. Lemos sobre atentados terroristas quase todo dia, e na própria França em 2015 judeus foram novamente vítimas de um deles. 

O que me levou de novo a Dora Bruder foi uma visita à Casa de Anne Frank, em Amsterdam. Na verdade, o chamado 'Anexo', onde ela e a família se esconderam de 1942 a 1944, quando então foram traídos/denunciados por não se sabe quem, e dali levados para campos de concentração. Anne morre em Bergen-Belsen, pouco antes da libertação. Diz-se que de tifo.

Fonte: https://www.haikudeck.com/concentration-camps-anne-frank-education-presentation-vvhdc4gFEV#slide4

 Fonte: https://www.haikudeck.com/concentration-camps-anne-frank-education-presentation-vvhdc4gFEV#slide9

No que voltamos ao problema: quando todo mundo acha que essa barbárie ficou no passado, jogam um balde de água gelada na cara da gente, a cada bote de refugiados que naufraga, a cada grupo que tenta passar uma fronteira para um país europeu em melhores condições, a cada confronto entre pessoas desesperadas e as polícias desses países.

Sobre foto (original) de Warren Richardson, World Press Photo, 2016, Amsterdam/abril - acervo

Tenho a impressão de que isso nunca terá fim.


Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...