quinta-feira, 5 de abril de 2012

O difícil caminho da cozinha



Poderia dizer que feijão-com-arroz é fácil, mas estaria mentindo, afinal só sei fazer arroz. Claro que poderia usar o Vapza (http://www.vapza.com.br/), que já está pronto, mas fazer mesmo feijão não sei e nem nunca vou fazer, porque tenho pavor de panela de pressão. Mas o fato é que como não sou mesmo habituê de cozinha, só encaro de quando em vez, e é quase sempre uma "misturinha": torta, bolo. O negócio é conseguir que o resultado final dê certo, que a mistura fique equilibrada. Porque nem sempre eu sigo a receita. Como essa, que começou como torta de brócolis e vegetal para virar torta de palmito e milho. Mas nada é simples. Para fazer essa torta, ou qualquer outra receita que eu decida de uma hora para outra elaborar, sempre preciso despencar para o supermercado. E aí começam os desvios. Claro.


Já que vamos à rua, o que temos a fazer? Passar na farmácia, pegar o relógio que estava no conserto, e, ah, sim, ir ao cinema. L'Apollonide - Os Amores da Casa de Tolerância, o filme da 1 da tarde (parece programa para a Belle de Jour, tão a propósito, aliás) no Cine Jóia, que foi ressuscitado e troca a programação o dia inteiro. Só passa filmes alternativos, aparentemente, o que é bom. Dá um sacode no cérebro ameaçado de extinção. Qual será a razão do título? Não sei francês o suficiente. Ah, tá, musas. Santo Google. Irônico, será? Li uma entrevista de uma das atrizes do filme que o diretor é compositor também. A trama se passa num bordel. As mulheres são mercadorias, por óbvio. "Faire le commerce". "Vamos negociar". Mas não passa de escravidão, pois elas estão sempre em débito. Algumas estão lá há mais de dez anos, têm de pagar pelas roupas, sabonete, perfume... E não tem fim o débito. Não podem escolher, não podem sair, podem engravidar, contrair doenças, são humilhadas, e ainda deparam com pervertidos sádicos. Repetindo o mais importante: não podiam escolher. Isso é fundamental.


Continuando. Depois de acordar o cérebro e cumpridas as tarefas secundárias, ao supermercado. Barraco na porta do Mundial. Fiquei na dúvida se a moça ia dar um tabefe no rapaz ou vice-versa. Entrar, impossível. Melhor deixar a economia e o barraco pra trás. Já fui furtada nesse supermercado sem-vergonha. Não tem economia que compense o prejuízo que eu tive, nem o aborrecimento.


Cheguei em casa, faxina em curso, quase abandonei a intenção da torta. Mas, como sempre, decido fazer as coisas na undécima hora. E fiz. Nada mal. Não vou ganhar nenhum prêmio de culinária, mas não vou morrer de fome. Só não lavei a louça. E ainda abri sozinha uma garrafa de vinho. Bem verdade que não consegui tirar a rolha do sacarrolha... =D


Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...