segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A passagem do tempo

Strawberry Fields - Central Park/NYC

Vinte anos fazem muita diferença. 

Não vamos fazer comparações entre passado e presente para não cair em saudosismo. A vida anda, e temos de ir junto.

Qualquer foto me traz uma reflexão sobre o assunto cristalizado naquele momento. Pode ser de parentes, amigos, lugares... Memórias importantes para quem já não consegue armazenar todas as informações recebidas e trazê-las de onde quer que se escondam. 

Li outro dia um artigo de uma viajante, no qual ela dizia lamentar tirar poucas fotos de si própria e mais de paisagens e monumentos. Afirmava também que passaria a fazê-lo, para registrar sua passagem pelos lugares. Tudo porque ela ficou com apenas duas fotos de seus pais e mais nada. Fez sentido para mim, porque tenho o mesmo hábito. Fazer parte da foto não é vaidade, mas permite deixar a lembrança para quem fica, porque o tempo faz, sim, com que memórias fiquem confusas, desbotadas... Se o cérebro continua sadio, continuamos nos lembrando das pessoas importantes que passaram por nossas vidas, mas os detalhes se perdem. 

Às vezes viajamos para um lugar e só temos a oportunidade de estar lá rapidamente e uma única vez. Para mim, as fotografias são essenciais para retornar, só que na minha memória. Outras vezes, temos a sorte de poder voltar, mesmo que muito tempo depois. E é curioso observar o que mudou. Porque tudo muda. Em alguns aspectos, para melhor, em outros, para pior. 

Por exemplo, sou fã de prédios históricos. Sou contra a política "arrasa-quarteirão". Claro, há áreas degradadas que se beneficiam de renovação, reocupação, etc. Se houver a chance de se revitalizar sem derrubar, prefiro. Gosto do conceito de reaproveitamento. Dependendo da cidade ou país aonde se vá, há preservação, reaproveitamento ou eliminação de prédios ou mesmo paisagens. Alguns países tratam seu patrimônio histórico e cultural com mais respeito do que outros. E mesmo onde há essa preocupação, o aspecto financeiro pode passar por cima da vontade de preservar. Parece que Londres está permitindo a construção de muitos prédios ultra-modernos que estão desvirtuando a paisagem da City. A conferir por quem se aprofunda no assunto e conhece a cidade mais do que eu.

Apenas queria falar do tempo que provoca mudanças, mas ao mesmo tempo consolida certas características internas e externas. Nova York é uma cidade que parece estar sempre em movimento, sempre em construção, embora possua ícones que também dão a impressão de estar sempre presentes. São os chamados cartões postais da cidade. Um deles é o Strawberry Fields, esse cantinho do Central Park que está ligado a John Lennon, um dos eternos Beatles. Pode-se passar lá em qualquer estação, e em vinte anos a representação da homenagem ao artista é a mesma e os admiradores também. O entorno passou por algumas mudanças, aparentemente, o que não é ruim. Às vezes manter passa por modernizar, aperfeiçoar e mudar algumas coisas, para melhor preservar.

Se não ficamos nós, fica a memória. Strawberry Fields forever.

Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...