quinta-feira, 29 de julho de 2010

Arrastando os pés

Acordar todos os dias sem a "obrigação" de ir para o trabalho, depois de 30 e poucos anos é uma coisa meio estranha. Libertação para alguns, crise para outros, limbo para uns outros. Indiferença? Há ajustes há serem feitos. Porque no princípio é como se fossem férias. Depois é que vem o resto da sua vida. Diz o rabino Nilton Bonder algo como "a gente tem de planejar como se fosse viver para sempre e viver como se fosse o último momento". Há algo de budista nisso (do pouco que já li a respeito) - mas também não é preciso ser o Dalai Lama para lembrar da sabedoria popular, que "para morrer, basta se estar vivo".
A grande questão - pelo menos para mim - tem sido o tempo. Qualidade e quantidade. Medo da morte não é o ponto crucial, embora não tenha ponderado sobre isto (as besteiras já estão feitas, e as correções de rumo também, enquanto houver vida, é seguir fazendo o melhor, não tenho a menor vontade nem de me chicotear nem de cair na farra). Mas qualidade sim. O cérebro se tornou a estrela do século, desde que o Mal de Alzheimer foi "descoberto". De que adianta vivermos mais, com pernas bambas, dedos trêmulos ou artríticos, osteoporose, e/ou incapazes de lembrar das coisas mais elementares, e totalmente dependentes de terceiros?
O tempo ruge. É como aquela pedra enorme rolando atrás de Indiana Jones. E mesmo assim, acordo e penso: o quê?

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