terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Viajar é preciso


Há tanto tempo não escrevo que estou até enferrujada. Costumo me inspirar quando viajo, mas isso, além de não ser o ideal para quem tem a pretensão de ser blogueira/escritora, também dá uma medida clara de indisciplina. Há um indicativo de caos subjacente a essa longa ausência. O problema é começar, e estou procrastinando, como sempre. Começar por onde? É aí que entram as viagens e por isso escolhi o título. Se não estou enganada, acho até que meu primeiro blog tinha esse nome, exatamente para falar de viagens. Por motivos não originais, o título faz referência óbvia a um de meus poetas favoritos, Fernando Pessoa, logo eu que não sou dada a poesia, talvez porque minhas viagens careçam de precisão para encontrar seu rumo.


No entanto, quando começamos a pensar em viajar, seja lá qual for o motivo, é certo que estaremos saindo do nosso cotidiano, da nossa realidade, e, de alguma forma, partindo para uma outra, esperada, fantasiada, desejada. O mundo se desloca do eixo a que estamos habituados por algum tempo, e não tenho muita certeza de que retorna exatamente ao ponto em que o deixamos ao término da viagem. Algo se modifica em nós. Somos mais do que éramos quando partimos. Vivemos, aprendemos, conhecemos lugares e pessoas, mesmo que não tenhamos nos deslocado mais do que algumas dezenas ou centenas de quilômetros. Sair do lugar é sempre sair da zona de conforto, é alargar os horizontes. Dizem que fazer coisas diferentes faz bem para o cérebro. Pois então. Imaginem se pudéssemos viajar todos os dias. Na verdade isso é possível: lendo.  Que coisa. Então foi aí que começou essa minha paixão por viajar.


Bom. É isso por hoje. Viaje todos os dias. Faça coisas diferentes. Atravesse a rua, ande pelo outro lado da calçada. A gente nunca sabe o que vai acontecer no próximo minuto. A vida é imprevisível. Não resisto a reproduzir meu adorado Fernando Pessoa abaixo.


Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito desta frase,
Transformada a forma para a casar como o que sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
Ainda que para isso tenha de ser o meu corpo
E a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
Ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
O propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
Para a evolução da humanidade.

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