domingo, 17 de fevereiro de 2013

That's what friends are for

Nova York, 1996 - Leila & Déa, best friends

Como vai, minha amiga, tudo bem? Pergunta bizarra essa, já que não tenho a menor ideia de onde você está. Só sei que sinto sua falta. Talvez seja egoísmo de minha parte, afinal, quando a gente quer desabafar, vai logo procurar a(o) pobre coitada(o) que há de ter paciência para segurar a onda. E você sempre foi muito mais paciente do que eu, porque infinitamente mais sociável, enquanto eu, introvertida, se pudesse, moraria dentro de um livro. A ideia de um domingo feliz para mim era ficar dentro de casa curtindo o antigo e finado, descanse em paz, JB. Melhor ainda foi quando você passou a me mandar as edições de domingo do New York Times que sua empresa descartava, maravilhosos tijolões que me faziam babar. E como você bem sabe, mais me ancoravam em casa. Não sei quantas vezes você tentou me convencer a sair num domingo e quantas vezes eu te driblei. 

A exceção, e, ao mesmo tempo, o domingo perfeito: quando estávamos em Nova York, comprávamos o NYT, íamos para o Seaport tomar o breakfast, e ficávamos lendo o jornal no deck, de frente para a Brooklyn Bridge. Felicidade total. Totalmente metidas para tantos, mas não, porque para nós era natural, era um prazer genuíno. Ninguém fazia isso, porque turista não para pra ler jornal, pois não? =)

Qualquer outra pessoa teria desistido de mim. EU teria desistido de mim. Mas você foi minha amiga até o fim, sempre que precisei. E como precisei. Gosto de pensar que estive à sua altura, mas não tenho certeza, nunca vou ter. Só você poderia me tirar essa dúvida. Só você me ouvia e me respondia. 

Recentemente voltei à "nossa" cidade. Não é a mais a mesma, sabe. Normal, tudo muda. Como nós. Você mesma se foi há tanto tempo, e deixou uma saudade enorme no coração de seus amigos. Eu, que sempre fui a mais anti-social, e a quem você se deu o trabalho de alcançar, talvez tenha baqueado mais. Poucas pessoas se dão ao trabalho de ir além do rótulo, nem mesmo aqueles que estão mais próximos. E também, às vezes, acaba sendo um círculo vicioso: você é rotulado e passa a mostrar/ser a "imagem". Afinal, dar a conhecer o que realmente se é pode levar a todo tipo de confusão. Diz-se que a verdade nos libertará, mas, como diz Jack Nicholson no filme, nem todo mundo pode lidar com a verdade. Ou com a dor. A exposição nos deixa vulneráveis. Melhor não. Afinal, confiar em quem?





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