sábado, 17 de janeiro de 2009

De serpentes

Não sei porque, mas inspirada em Mariela.
Eu vou sempre achar um animal repugnante - mas eu não sou propriamente uma pessoa de bichos e matos. Minha selva é a urbana. Não que eu ache o bicho-homem superior, longe disso. Mas a nossa cultura judaico-cristão estigmatizou a pobrezinha (?) desde o mito do Jardim do Éden. Aliás, estigmatizou a mulher também, mas aí é outra história. Parece que embrulharam a mulher e a serpente no mesmo saco. Suspeito que os escribas dos Testamentos são do sexo masculino.
Diz a Wikipedia que a serpente é um antigo deus da sabedoria, que guardava a entrada do mundo subterrâneo. Jung recuperou esse mito em seus sonhos. A serpente está ligada ao deus da medicina, sendo parte do sey símbolo - cura, portanto. Está vinculada à iluminação do Buda, também. Como é um bichinho que fascina minha amiga, e eu estou exercitando minha escrita, fiz uma historinha e mandei "de presente" pra ela. Copio aqui.


A SERPENTE NO PARAÍSO

Era uma vez um lugar tão bonito, mas tão bonito, que nele só havia água, terra, árvores, céu, flores, pedras e bichos. E mais Deus e os anjos, e outros seres assim. Tudo andava em harmonia, o que quer dizer, no equilíbrio peculiar à natureza: chove, faz sol, o leão corre atrás da gazela porque precisa se alimentar, e por aí vai.

Aí Deus, em uma de suas andanças viu que o que tinha feito era bom, mas quis checar com os habitantes. E resolveu ouvir a serpente - um dos seres mais curiosos do local. Sua forma longilínea, sinuosa e flexível a distinguia dos demais. Por isso mesmo ela se sentia diferente, e solitária. Foi o que disse a Deus, e lhe pediu mudanças: quem sabe, novos habitantes, para animar as coisas? Deus, então, criou o homem, que foi quando o desequilíbrio se fez no ambiente.

Deus e a serpente se entreolharam, e pensaram: e agora? E agora? Deus então criou a mulher. E se reuniram Deus, a serpente e a mulher, para pensar numa forma de consertar os erros cometidos pelo homem. Estão até hoje deliberando.

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