sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Afonia espiritual

Estou pesquisando afonia. Um pequeno probleminha que me acomete há cerca de 2 meses. Segundo o otorrino, nada de errado com minhas cordas vocais. Há algo travado no meu peito, sinto. Daí a lembrança do poema de João Cabral, um de meus favoritos. A faca cravada no peito. O relógio tiquetaqueando, ora regular, ora disparando, ora meio zonzo. Tenho esse relógio de algibeira, que foi de um tio meu. Ele o ganhou e quando eu lhe disse que o deixasse de herança, me deu imediatamente. Minha mãe depois disse que ele ficou com medo de algum tipo de praga. será? Mas me parece que essa faca e esse relógio não deveriam estar aqui, e sim um músculo suave, bombeando sangue para o meu cérebro e fazendo com que os pensamentos ali formados se transformassem em som na minha garganta ou algo parecido. Mas... nada. Só a faca. Cravada. Vamos ao Google.

Chega-me esse texto, 'Afonia Espiritual'. Fala-me de Jesus, um de meus amados profetas, justamente em uma de suas missões de caridade. Trabalhava sem alarde. Não necessitava de propaganda, e muito menos de reconhecimento humano. Ele era o amor que não seria amado, por mais que fizesse em favor de todos quantos se Lhe acercassem.

Assevera o evangelista Mateus, que lhe trouxeram um mudo, que se encontrava dominado por um Espírito perverso, impossibilitando-o de falar.

Sofria essa afonia espiritual, em resgate necessário face aos delitos perpetrados anteriormente, quando falhara nos seus compromissos morais em existências passadas. Colhido pela austeridade da Lei, sofria a angústia da mudez. Jesus devassou aquelas duas vidas que se digladiavam na esfera espiritual, detectando o invasor daquela existência, na prepotência comprazendo-se.

Em silêncio, psiquicamente admoestou o indigitado cobrador, e expulsou-o das matrizes espirituais do seu hospedeiro. Cessada a causa do mutismo, o enfermo recobrou a voz, e pôs-se a falar com entusiasmo, enquanto as lágrimas lhe escorriam em festa pelos olhos desmesuradamente abertos. Jesus lamentou quão grande é a seara e quão poucos são os ceifeiros!

Ele sabia que todos aqueles sofrimentos eram justos, em razão dos desmandos daqueles que os padeciam. Reconhecia, porém, que os homens e mulheres se encontravam tão envolvidos pela ignorância e pelo imediatismo, que se fazia necessário um número muito grande de servidores devotados, para que fossem diminuídas as causas das aflições, através da renovação moral das massas...

Muitas vezes, acompanhamos referências bíblicas sobre a Palavra como sendo sinônimo de Deus, do Pai Criador, que elegera Jesus pelos Seus méritos para vir ter com as criaturas humanas no proscênio terrestre sombrio e triste. A palavra também constitui doação divina para que as criaturas se comuniquem, se enriqueçam, permutem experiências, contribuam em favor do progresso e da felicidade. Ela tem sido de valor inestimável através dos tempos e em todos os povos. No entanto, o seu uso indevido responde por violências, vilipêndios, calúnias, agressões e guerras... Vestida de luz, rompe a escuridão dos conflitos e abre espaços para a conquista da plenitude. Traduz a inspiração do Alto em cânticos de louvor e de glórias, imortalizando os pensamentos e as emoções.

Aquele obsidiado era mudo. Tinha as cordas vocais paralisadas sob a ação dos fluidos deletérios do seu perseguidor. Tentava comunicar-se e encontrava-se em silêncio. Jesus restituiu-lhe o verbo, e ele proclamou a glória de Deus.

Há, no entanto, multidões que falam e são mudas em relação aos valores eternos do Espírito, sem contato com Deus. Expressam os seus pensamentos, porém, emudeceram em relação à Vida, vitimadas pelo materialismo, pelas ambições desmedidas, pelo egoísmo exacerbado.

Essa mudez leva à loucura, porque desestrutura o pensamento e desarmoniza os sentimentos.

São mudos, presunçosos e abarrotados de palavras vazias, que não têm som, porquanto estão adstritas às suas paixões, sem que possam alcançar os patamares superiores da vida, transformando-se em estrelas inapagáveis nos céus de outras existências.

Jesus, porém, os aguarda pacientemente pelos caminhos sombrios por onde seguem, falantes, mas sem palavras de libertação.

Esses palradores-mudos para as questões espirituais formam verdadeiras multidões sem rumo, que um dia encontrarão Jesus, que os libertará das auto-obsessões, das obsessões produzidas por adversários inclementes que os aturdem, das desordens mentais em que estertoram.

Amélia Rodrigues

(Página originalmente psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, em 11/07/00, em Paramirim, Bahia, http://www.mundoespirita.com.br/antigo/jornal/jornal2000/afonia_espiritual.htm) - condensada

Um comentário:

  1. Leila
    estou à procura da causa da afonia que me acometeu pela 3 vez! Sinceramente os episódios são decorrentes de situações que muito me deixaram tristes: 1º, a notícia de erro de minha aposentadoria em SC; 2º a briga feia entre meus dois filhos: 3º ver a situação de minha filha, desconfortável e sem perspectivas, em desacordo com os desejos de seus pais.
    Hoje vou a psicóloga, um pouco a contragosto.

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