quarta-feira, 29 de julho de 2009

Desordem urbana

Está lá: a gente passa, distraída, olha para cima, e vê a parede que se ergueu, provavelmente da noite para o dia - que os pedreiros da comunidade são extremamente eficientes (se as obras públicas fossem assim!) - ou quase. Não importa, porque o tal choque de ordem é apenas uma anomalia da língua portuguesa. As calçadas continuam intransitáveis, irregulares, cheias de buracos, caca de cachorro. À noite, a luz é insuficiente, o lixo está revirado, os mendigos estão dormindo ou se ajeitando para fazê-lo. E isto na Zona Sul. Às vezes os tiros ecoam. Depende da noite, do dia...
E as moradias irregulares prosperam, para cima, para os lados, sem que ninguém veja. É uma cegueira danada. Saramago deve ter se inspirado nisso para escrever seu 'Ensaio sobre a cegueira'. Só pode.
Enquanto isso, alguns continuam pagando tudo - imposto, conta de luz, gás, água - e sonhando em um dia comprar (sim, comprar) a casa própria. Outros sonham em ver a Mata Atlântica pelo menos um pouco reconstituída, e não destruída, corroída selvagemente por uns e outros com as mais diversas desculpas.

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