sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Fotos e textos



Memorial a Shakespeare - Catedral de Southwark, Londres (2017)



British Library (2017)



Alnwick Castle (2017)


Disneyland - 2012



Sou exagerada. Se posso escrever vinte palavras em vez de uma, ou tirar dez fotos de um mesmo objeto, é o que faço. Diziam os antigos que o que abunda não prejudica. Pode ser que sim, pode ser que não. Posso ter mais opções na hora de selecionar o que vai restar no final, mas também posso ficar confusa. Deve ser o mesmo princípio dos meus pais e avós para acumular coisas, “um dia você vai precisar”. E vão se juntando coisas, palavras e fotos. Às vezes até pessoas. A gente guarda. É um hábito que se cria, e do qual é difícil se livrar. Há muita gente capitalizando a ideia de desapego: são as mudanças de hábito, de gerações pós-guerra, da carência, para as gerações do descartável.

O problema é justamente saber o que fazer com o que se acumula uma vida toda, e equilibrar as práticas de ajuntar e desapegar. O melhor é conservar lembranças. Viajando, por exemplo. Ou lendo, visitando museus, centros culturais, prédios históricos. De alguma forma, tudo isso se relaciona.

Não sei o que me move para decidir para onde quero ir ou o que desejo fazer. Leio, vejo filmes, séries, circulo pelas redes sociais e pelos sites de busca, e me inspiro. O que sobra de tanta informação é algo meio misterioso. Porque um lugar e não outro?

Uma coisa eu sei: literatura me influencia.

Resolvi fazer uma experiência, para tentar vencer a inércia que me paralisa quando considero escrever e, aproveitando uma iniciativa recente de organizar os arquivos de fotografias, pensei em pegar um número não muito grande de fotos avulsas, e buscar um elo entre elas. Qual o critério? Não vejo como ser totalmente aleatório, e certamente vou selecionar as que mais me atraírem. Concluo que um tema pode ser a chave para tocar o projeto. Com centenas de fotos digitais é melhor ter um mínimo de organização. Datas, pessoas, lugares?

Então, literatura e viagem. Ainda não passei por todas as fotos, mas dentre as recentes, percebi o mérito dessa ideia: ela estaria por trás das andanças, mesmo quando não intencionalmente? Vou averiguar.

Por enquanto, escolho quatro fotos, três deste ano de 2017, e uma de 2012.

A primeira foto é de uma escultura de Shakespeare, encontrada na Catedral de Southwark, em Londres. Sei que não fui lá por causa disso, pois desconhecia esse detalhe. O que eu queria era visitar a catedral mais antiga da cidade, porque tenho verdadeira fascinação por prédios históricos e patrimônios culturais. Quanto mais antigo, melhor. E no caso, há até evidências arqueológicas da existência de um templo romano anterior à igreja cristã, primeiro católica, hoje anglicana.

Porque Shakespeare? Essa era a paróquia que ele frequentava quando morava perto do Globe Theatre. Seu irmão, Edmund Shakespeare, foi enterrado no terreno da igreja em dezembro de 1607, mas o local exato é desconhecido. Um memorial dedicado a ele fica no chão da seção do coro. Uma bela janela de vitral é dedicada a Shakespeare, mostrando personagens de suas peças. E sob a janela fica a escultura do escritor. Atrás dele, percebem-se os detalhes da catedral e do teatro. A estátua de alabastro foi criada em 1912 por Henry McCarthy.

Depois, a foto mais óbvia: um detalhe da loja da Biblioteca Britânica, que tem livros à venda com edições próprias, e uma particularidade que adoro: recomendações personalizadas. Me faz lembrar a discussão levantada no filme ‘Mensagem para você’, com Meg Ryan e Tom Hanks. Ela tinha uma livraria pequena, com vendedores especializados, enquanto ele tinha uma megaloja, uma empresa que negociava livros como qualquer outra mercadoria. A cena ilustrativa dessa diferença é quando uma mulher está em busca de um livro infantil sobre “sapatos”, e o pobre vendedor fica obviamente perdido. Imagina, você chega na Saraiva e pede a um vendedor um livro infantil sobre castelos. Chega a ser cruel. A cerejinha do bolo é quando a personagem de Ryan, escondida num canto, dá as dicas sobre os livros da autora, Mary Noel Streatfield, e o vendedor pergunta como se escreve.

Agora fiquei com vontade de ler os livros. E os diálogos maravilhosos do filme, dirigido por Nora Ephron, uma ótima escritora, e escritos por ela e sua irmã Delia.

Passei ao castelo de Alnwick, construído no século 11 depois da conquista normanda, e habitado até hoje. Serviu de locação para filmes e séries, alguns muito famosos, como Harry Potter e Downton Abbey. Descobri que uma estátua de um antepassado do atual duque foi retratado em uma peça de Shakespeare. Mais literário que isso fica difícil.

Resgatei ainda uma foto de 2012 para lembrar das delícias de um clássico da infância, o mundo criado por Walt Disney. Disneyland, o primeiro parque, na Califórnia, o único construído sob a supervisão direta do criador, é um sonho para quem conviveu em algum momento de sua vida com os personagens desse mundo de fantasia. Muitos baseados em personagens da literatura infantil, ainda que adaptados. A imagem é do Coelho Branco da história de Alice, de Lewis Carroll. O filme de Disney é o que eu conheço. Confesso que tenho o livro mas não li. Vergonhoso, eu sei, mas é a verdade. Outra hora eu volto ao tema, por conta de uma maravilhosa exposição que vi em São Paulo sobre Alice no País das Maravilhas.

“É tarde! É tarde! É tarde até que arde! Ai, ai, meu Deus! Alô, adeus! É tarde, é tarde, é tarde!”, diz o coelho no filme e eu endosso. Sempre é tarde quando eu acabo de escrever.

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