quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Na marra


“Para mim, meu passado não passou e minha história não envelhece. Minha memória pode alcançar os acontecimentos que vivi a qualquer momento, e posso revivê-los como se ocorressem agora. Mas, se eu os narrar, quem me ouve não pode, como eu, vivenciá-los. Por isso, para outros, são contos o que para mim é vida. Mas é assim que corre o rio da vida dos homens, transformando em palavras o que hoje é ação. Se não forem narrados, os acontecimentos e os nossos feitos passam sem deixar rastros. Faladas ou escritas, são as palavras que salvam o já vivido e o conservam entre nós.
Só conservados pela lembrança é que os feitos e os acontecimentos podem entrar no tempo e fazer parte de um passado. Recente ou antigo.”

Dulce Critelli

Estou me auto-sabotando, não sei a razão. Quero escrever sobre minha viagem de férias, e não consigo. Não consegui fazê-lo 'durante', porque não tinha acesso fácil à web, mas escrevi bastante em meu tradicional caderno. Tenho as fotos, quero fazer o registro, e estou num embate comigo mesma. Não consigo sequer pegar o caderno para reler o que escrevi. Eu que releio N vezes as coisas, faço e refaço, escrevo e reescrevo, estou com uma resistência braba. O que será? Freud explica? Hoje resolvi colocar alguma coisa aqui de qualquer jeito, daí o título. A citação eu li num curso virtual que estou fazendo no trabalho. Pareceu-me perfeita.

Como eu queria começar? Com o inusitado desta viagem: pela primeira vez, praticamente não foi planejada. Abrir mão do excesso de controle foi dificílimo. O que resultou em deixar de ver algumas coisas que talvez eu vá lamentar para sempre (por causa do meu pensamento obsessivo). Ou não, pq aprendi que é realmente impossível ver tudo, sob pena de cair em depressão profunda, o que é uma imbecilidade. E, como disse uma amiga, é sempre um "pretexto" para se voltar, ou pelo menos se sonhar em voltar, o que é uma delícia. O que é a vida sem sonhar?

E porque viajar, desta vez, apesar de um certo desânimo? Um lampejo: Berlim. Resolvi conhecer um pedaço da Alemanha, onde estão as origens de minha mãe. Porque? Bem, esta, tenho certeza de que Freud e qualquer psicanalista explicaria. Minha mãe morreu ano passado, alguma repercussão há de ter ocorrido em um nível inconsciente, apesar de o Alzheimer já vir de longo tempo. Daí eu vir pensando em Portugal e, de repente, cismar com Berlim. Como eu sou hiperativa, não conseguiria ficar em 1 cidade só. Pelo menos mais 1 - Munique foi a escolha natural. Why? Por causa dos castelos do Rei Ludwig II da Baviera. Afinal, um deles teria inspirado Walt Disney. Apesar de estar convicta de que os contos de fada, os finais felizes, novelas, chick lit, Hollywood e etc. fazem um mal danado à nossa cabeça, lá fui eu, determinada a fazer o roteiro dos castelos. Não me arrependo. Tenho certeza, pelo que vi, dos lugares por onde passei, de que meses ou anos não são suficientes para dar conta de ver, conhecer ou aprender sobre a beleza, a história, a vida e/ou as tristezas e realidades desse país conflituoso que é a Alemanha. Mas do que eu me propus a fazer, fiz, e sempre é um marco, para quem foi criada numa redoma. Vini, vidi, vinci. Com muita ajuda divina. Ufa.


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