sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Revendo a viagem

Coisas difíceis: planejar viagem com pouca antecedência; ficar pouco tempo em uma cidade (essa enganação de 30 cidades em 30 dias, ou incluir as noite que se passam no avião na ida e volta como parte da viagem); e fazer blog retrospectivo. Mas este último é muito mais para mim, um exercício de escrevinhadora, de memória, inclusive emocional, de relembrança de prazeres vividos e quiçá sonhados, com um viés prático/ecológico: em vez de eu guardar todo tipo de penduricalho que me evoque alguma experiência marcante, eu escrevo, escaneio e reciclo. Voilà.
Primeira novidade: tomar a decisão foi a coisa mais difícil. Vou, não vou, não ia, pensei no clichê 'melhor me arrepender do que fizer do que não fizer'. Lembrava das aulas do prof. Eduardo, de Desenvolvimento Urbano, da gentrificação de Berlim, pós-reunificação, Alexanderplatz e etc. E foi isso. De como cheguei às reservas já falei, dos sites indispensáveis, TripAdvisor, TripWolf, Journeywoman, Lonely Planet.
Bizarro mesmo foi comprar os pequenos Guias Visuais da Folha de S. Paulo, Guias de Conversação para Viagens em Alemão e Tcheco (ia passar em Praga). Pura pretensão. Em alemão consegui fixar o nome de alguns lugares, mais Ausgang, Eingang (Saída, Entrada), de tanto que passava pelas estações de trem e metrô, Hauptbannhof (a estação de trem), Danke (ñ sei se tem 2 n), que é obrigada (e tem uma extensão que eu ñ sei escrever, que, segundo o motorista de táxi, seria um obrigada mais expressivo).
O raio da língua não separa as palavras. Escreve tudo junto, só para complicar a vida da gente, deixando as ditas cujas quilométricas, e, por conseguinte, muito mais difíceis de aprender/memorizar. Inda mais não sendo latina na origem. Ou tendo semelhança com a língua inglesa. É partir do zero. Bom exercício para o cérebro, péssimo para a auto-estima. Solução: apelar para o inglês, que lá é normal, talvez graças à ocupação pós-guerra. Mas em placas, museus, nada. Em Berlim, alvo principal da viagem, no Neues, os objetos expostos permaneceram tão misteriosos como se tivessem sido retirados naquele momento do sítio arqueológico onde foram encontrados.
O vôo foi bizarro, com a quase pancadaria entre a moça brasileira e o moço alemão, que, segundo me informou a vizinha de assento enquanto eu dormia, tiveram de ser separados. Graças a Deus, pois assim todos se calaram - as outras moças e os moços. Beberam sem conta.
Pouco vi de Munique - vale a máxima acima: é estupidez passar pouco tempo em uma cidade. Do que vi, tenho certeza de que quando o homem não é idiota de desperdiçar sua arte e ofício, pode fazer as coisas mais belas. Numa igreja em uma rua transversal à Marienplatz (ainda estou para descobrir o nome - tenho de achar meu guia), fiz o meu tradicional agradecimento ao Supremo que me trouxe de uma posição humilde e me deu a chance de, com trabalho e estudo, viajar e conhecer coisas belas. Lembrei de minha mãe, que era neta de alemães, e faleceu ano passado, e pensei que se ela fosse viva, adoraria saber que eu estava no país que ela considerava de seus "patrícios". Emocionei-me, e acredito de todo coração que naquele momento catártico minha voz se soltou, depois de 10 meses com um diagnóstico de disfonia funcional. Conto no próximo post.

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