segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Day by day

Às vezes eu acordo com uma música na cabeça. Às vezes aparece do nada. Infelizmente, existem aquelas músicas-chiclete - não tem problema se é alguma que se gosta, ruim é quando entra no ar como um daqueles perfumes de gente sem-noção (odeio perfume, me dá enxaqueca), propaganda, o pagode que rola na comunidade vizinha ou Kenny G (como não tenho tendência ao suicídio, o jeito é botar algodão metafórico nos ouvidos).

Há dois dias estou sem som, ando que é um estupor só. Não aquele da Emília de Monteiro Lobato ('indivíduo muito feio, de muito mau aspecto ou profundamente desagradável'), mas o outro, 'qualquer paralisia' - tudo por causa de um novo remedinho que provoca um sono incrível. Resolve a dor de cabeça e a insônia, mas tem esse "pequeno" efeito colateral: estou, assim, me sentindo um zumbi. Talvez seja só uma coisa diferente, em vez de tentar fazer várias coisas ao mesmo tempo (tentar, eu escrevi, porque não não existe isso de fazer, de verdade), o tempo que eu consegui me manter acordada, fiquei lendo. Não deu aquela vontade desesperada de revirar o Twitter ou o Facebook e disparar tweets e posts como uma metralhadora giratória. Coisa insana.

Claro que é preciso ser um pouco insano pra acompanhar o ritmo de um mundo insano - estava lendo isso onde? - sobre algo que a rainha diz para Alice, de que é preciso correr duas vezes mais para se sair do lugar. Fazer o quê? Andar devagar ou correr? Tenho exatamente um livro que se chama 'Devagar', que discorre sobre o tema:

Em 350 páginas, Honoré introduz o leitor ao universo dos "desaceleradores do tempo" --organizações que decidiram combater a mania moderna de velocidade.

São grupos como o italiano Slow Food, que defende a alimentação sem pressa; o Città Slow, ou cidades do bem viver, onde diminuir o ritmo é lei; o japonês Clube da Preguiça; a norte-americana Fundação Longo Agora; e mesmo o SuperSlow, filosofia esportiva que recomenda musculação em câmera lenta.

O movimento conta até com uma conferência anual, a da Sociedade para a Desaceleração do Tempo, que usa a palavra "eigenzeit" --do alemão "tempo próprio"-- para resumir suas convicções. O evento acontece em Wagrain, cidade nos Alpes austríacos.


No entanto, para quem não está acostumada, a desaceleração parece mesmo o tal estupor. Porque parece que nesse processo, o espertinho do cérebro só engata para as coisas agradáveis - tudo que se parece com 'dever' vai para o saco. E aí, para resgatar isso, é como pescar uma baleia com vara de pescar (imagino, porque não sei pescar - já fui "pescada", sem querer - alguém, não me lembro mais quem, lançou a linha e aquele gancho se prendeu nas minhas costas; foi uma coisa! mas eu era pequena, não lembro bem...).

Quero muito que a dor de cabeça e a insônia se curem, mas não quero ser um zumbi, porque eu quero fazer muita coisa com o tempo que me resta, que nem é tanto assim (ou talvez seja muito, já que tempo é relativo). Num dos muitos sites que visito regularmente, por causa dos perfis que sigo no Twitter, há o texto a seguir, citado pela blogueira Nati27, que aponta o escritor Andrzej Pilipiuk como seu favorito. Há uma foto dela e o texto. Presumo que o texto seja dele. Confesso que não pensei em ir ao Uzbequistão, Moscou, Honduras, talvez à Noruega, mas é certo que Barcelona é magnífica, e eu poderia substituir qualquer uma das cidades por outras, que as palavras manteriam o sentido. É isto que eu quero fazer
To see the buildings of Gaudi in Barcelona, smell roses in Uzbekistan, touch the coast of Norway, drink some vodka in Moscow, see stars in Honduras….that’s what I want to do
Before I die, I’d like to live my life the best I can. And when I will be dying, I would look in my past and I will think ” yes, I had great time.


A música que apareceu na minha cabeça quando eu pensava neste post foi Day by Day. Foi uma verdadeira viagem no tempo, porque é de um filme de 1970, baseado em um dos evangelhos (Novo Testamento). Pode ser mais bizarro? Vejo no Google que a letra foi escrita por uma pessoa chamada Fredric Nietzsche. Really? Continua numa próxima. Eventually.

Day by day
Day by day
Oh Dear Lord
Three things I pray
To see thee more clearly
Love thee more dearly
Follow thee more nearly
Day by day

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...