quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Organização

Há séculos atrás eu colecionava revistas de decoração e arquitetura. Talvez por uma série de razões, porque ou eu nunca tenho uma só ou não consigo me decidir ou as coisas não estão claras. Será que isso é normal?
Um: quando estava pensando em escolher carreiras, arquitetura era uma delas. Papi me desencantou. Disse que "era coisa de mulher". E embora eu fosse impertinente, "acreditei". Me achava ruim em matemática, não quis encarar. Como muitas outras coisas - duas palavrinhas: medo e ousadia. Valem posts por si.
Outro: quando nos mudamos, procurava por ideias, e as revistas eram uma boa fonte. Daí para comprar compulsivamente era um passo.
Esses eram motivos, digamos, racionais. Outros, seriam os que levam qualquer pessoa a comprar: ver, se interessar, cismar, querer possuir. Depois é que a gente vê que se fizer isso com tudo acaba se deparando com o problema do acúmulo, do ter por ter, do excesso. Acabei de ler um artigo no NYT sobre isso (http://www.nytimes.com/2010/08/08/business/08consume.html?_r=1), bem a propósito intitulado 'But will you be happy?'. E tenho um livro que deixei no meio (e preciso retomar), chamado 'I want that!' (http://www.amazon.com/Want-That-How-Became-Shoppers/dp/0060959835/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1281581664&sr=1-1), cuja proposta é dar um insight sobre o que há por trás do impulso de comprar. Confesso que comprei para entender isso, mas não sei se vou gostar do conteúdo do livro, porque eu tenho dois jeitos de comprar: pela internet, aquilo que tenho certeza de que quero e não posso adquirir de outra forma (livros importados, por ex.) ou produtos que têm um preço melhor ou me poupam o trabalho de me deslocar à loja física; ou a compra pessoal - fora os itens de supermercado, os itens pessoais (tudo que tem de ser experimentado - roupa, sapato) e compras impulsivas.
Aqui temos um capítulo à parte: livros e revistas. Um dia pode ser que os livros morram e o e-reader o substitua. Por enquanto, se depender de mim, jamais. Sei que nos EUA há bibliotecas que estão se acabando. Triste, deprimente. Que alegria tocar um livro, ler uma página ou outra, ver orelhas, resumo, hesitar, pegar um e outro, às vezes anotar para comprar no mês seguinte, ou comprar no cartão, parcelar, fazer loucuras, deixar guardado para um dia, quem sabe. Já comprei até livro repetido. Já guardei livro tanto tempo que olhei pra cara dele e decidi que não ia ler e dei.
O resultado disso: pilhas de coisas pela casa. Gavetas, armários, caixas, mesa, cadeiras, sofá, chão. Com um agravante: a memória que trai. Porque tudo que não está à vista é esquecido. Como conciliar a necessidade de organização com a necessidade de lembrar do que existe? A primeira ideia que me ocorre é a simplificação. Diminua-se o número de coisas possuídas. Reciclagem, doações, arrumações, não se passa um dia que pelo menos 1 coisinha não recebe um destino nobre. Sou a rainha da sucata (apelido dado por um amigo, ex-colega de trabalho). Separo lixo, levo para os recipientes de coleta, procuro saber onde há campanhas, mas há algumas barreiras intransponíveis.
Uma: meus livros. Outra: meus itens de coleção, que estão nas minhas cristaleiras. E a preguiça que me dá de lidar com as coisas pequenas? Gente, é um cansaço sem fim. Chega uma hora que ou se joga tudo fora ou nada. Não sei se preciso de um organizador profissional ou de um psicólogo.
Diz a minha psi que arrumar a casa é igual a arrumar a cabeça da gente. Também acho. Achava. Sei lá. Estava lendo o artigo da Evelyn Hannon, que eu já conhecia do blog Journeywoman, ótimo para dicas de viagem para mulheres que viajam sozinhas, chamado Aging Disgracefully, no site da filha dela (http://www.yummymummyclub.ca/aging_disgracefully), em que ela fala duas coisas importantíssimas e que tem tudo a ver comigo e com este meu novo blog: desorganização e envelhecimento. Poizé. É tudo a maior confusão. Mas eu chego lá. Onde não sei. Porque não leio aquela frase que tinha na plaquinha da sala de um dos meus ex-chefes que dizia algo como "se vc não sabe para onde vai, qq caminho serve"; e eu jurava que estava escrito isso, e como autor Sêneca. Depois eu fiquei achando que era "se você não sabe para onde quer ir, ñ importa o caminho". Que, segundo o Google, é de Alice no País das Maravilhas. 
Ora, para mim são duas coisas diferentes, mas eu nem vou especular. Só digo que na cabeça dele e do povo lá do trabalho, a visão era foco. Talvez seja isso mesmo. Sempre achei que meu problema fosse esse. Sou totalmente desfocada. Começo pensando numa coisa e daqui a pouco já estou lá no país das maravilhas. Minha mãe dizia que eu nunca terminava nada. Não era bem verdade. Se ñ fosse assim, eu ñ teria estudado tudo tão direitinho. E por isso fiz a primeira faculdade até o finalzinho, só de pirraça, mesmo tendo querido trocar. Hoje até acho legal ter feito, mas devia ter trocado na época, deveria ter experimentado, deveria... deveria...
Eu acho que estou mais para Alice mesmo, e meu carma era ir para a empresa onde trabalhei esse tempo todo. Aprender a ter foco. Aprendi? Don't think so. Mas concordo com a Evelyn, e trazendo para a realidade minha, minha casa nunca vai ser modelo de revista de arquitetura, embora eu confesse que tenho uma certa tristeza e angústia de vê-la desse jeito, porque ainda acho que isso reflete uma imensa desorganização interna minha. Tb ñ me incomodo de colocar à vista meus objetos personalíssimos e lembranças, e dane-se o resto. Só queria um caminho do meio, um equilíbrio.

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