terça-feira, 12 de julho de 2016

Coisas inesperadas em S. Petersburgo

Shopping Galeria - S. Petersburgo (acervo)

É difícil viajar para algum lugar sem antes buscar informações básicas sobre ele. Mas às vezes, a falta de tempo, além do entusiasmo, podem fazer com que a gente se concentre nas atrações principais e nas instruções de como se chegar lá, tanto no país, cidade, como nos lugares escolhidos. Isso porque uso todos os meios possíveis para me orientar. Não importa se é um guia tradicional ou a internet. 

Tenho vários guias, não somente por causa das informações práticas, como pelas fotos. Alguns são verdadeiros livros de referência. Gosto dos editados pelo Lonely Planet, Rough Guide, Frommer, Abril, Folha, mas para levar comigo só quero os de bolso (quanto menos peso, melhor), como o Guia Visual de Bolso da Folha de S.Paulo (http://publifolha.folha.uol.com.br/catalogo/livros/136584/).

Às vezes não há internet disponível, então o guia é a solução, pois além de informações básicas, tem um mapa. Vale checar os preços. Podem estar em promoção na Saraiva (http://busca.saraiva.com.br/q/guia-visual-de-bolso) ou em lugares onde eu nunca imaginaria encontrar livros, como Ponto Frio, Casas Bahia...  

Nos guias vejo o que existe na cidade, e destaco aquilo que me parece mais interessante. Um museu, uma igreja, uma livraria sempre estarão na lista. E restaurantes, porque precisamos comer. Mas estes é melhor procurar na internet, pela capacidade de atualização mais rápida. Se viajo sozinha, decido sozinha. Se não, vamos fazendo listas separadas, até chegarmos a um denominador comum. Dentro do orçamento e tempo de que dispomos.

No caso de S. Petersburgo, um sonho de muito tempo, que nem sei direito de onde surgiu, só tinha um nome na cabeça: Hermitage. Depois apareceram mais dois, de duas igrejas, a do Sangue Derramado e a de S. Pedro e S. Paulo. Mais adiante, o Fabergé. O resto, pensaríamos a partir daí. Deixamos de ver muita coisa? Sem dúvida. Pode-se passar pouco ou muito tempo em uma cidade ou país, e nunca seremos capazes de ver tudo. Há coisas que nunca conheci na minha cidade ou meu país, imagine os que visito por tempo limitado. Mas o que vi me deixou absolutamente encantada. É uma cidade incrível, que vale a pena visitar e revisitar. 

Saí do Brasil sem saber que S. Petersburgo é a segunda maior cidade da Rússia. Não que fizesse diferença. Estava tão deslumbrada com a oportunidade de chegar àquela cidade, àquele país misterioso, e conhecer o Hermitage, e sem sequer saber como entraria num país cuja língua é... russo pra mim, que ignorei o tal básico. Sabia que já tinha se chamado Leningrado, na época da União Soviética, e depois voltado ao nome anterior, em 1991. 

Claro que sempre ouvi falar dos czares (ou tzares) ou imperadores da Rússia (muito mais interessantes que Putin ou similares - apesar de que tem cara de Putin pra todo lado, em camiseta, chapéu, uma coisa!). Aliás, preciso reler Miguel Strogoff, de Jules Verne, talvez meu primeiro contato com a literatura e cultura russas. Quem sabe vem daí meu interesse?

Há ainda um outro livro, este um desses romances leves que me divertem, que ambienta uma cena exatamente na Fortaleza de Pedro e Paulo, onde fica a catedral do mesmo nome, e onde estão enterrados quase todos os czares da Rússia, inclusive Catarina, a Grande.

A cidade foi fundada pelo czar Pedro, o Grande, em 27 de maio de 1703, e foi capital do império russo. Seu nome é homenagem ao padroeiro da cidade, São Pedro. Coincidência ser o mesmo nome do imperador? É considerada como a mais ocidentalizada do país, bem como sua capital cultural. É ainda a cidade mais setentrional do mundo, e tem mais de 1 milhão de habitantes. Seu centro histórico e monumentos constituem Patrimônio Mundial pela UNESCO

Precisa de mais motivos para visitar esse lugar? Só de lembrar já fico emocionada. Fato. Mas viajar tem a ver com conhecer mais do que museus e igrejas. Ou compras, para os adeptos (também gosto de fazer umas comprinhas). Tem a ver com a cultura, o povo, as instituições... É bom andar nos transportes públicos, comer em restaurantes populares, comidas típicas... Nem que seja um pouquinho, por um breve momento, faremos contato com pessoas diferentes, e, na minha opinião, abrimos um pouco mais a mente e o coração para a diversidade que há no mundo.

Mas às vezes nos surpreendemos. Mesmo que eu soubesse que a cidade era a "mais ocidentalizada" do país, tudo pode ser relativo. Tanto nos assombraram com a Rússia e o comunismo há não muito tempo, e o país é tão distante, com tantos mitos a seu respeito, que realmente me senti meio boba com algumas coisas que vi. Pra começar, um shopping no centro da cidade, entre suas duas principais avenidas, a Nevsky e a Ligovsky.

Quase não acreditei, mas era verdade. Tola, eu. O shopping Galeria existe desde 2010, e tem 5 andares, com mais de 300 lojas, 28 restaurantes e cafés, além de 10 cinemas. Fora o estacionamento para 1200 carros. As marcas são variadas, e incluem representantes do luxo mundial, como Lagerfeld, Max Mara, Hugo Boss, Armani, DKNY, Michael Kors.

A entrada do shopping Galeria (acervo)

E já que havia tanta variedade de restaurantes, depois de tanto andar durante o dia, que melhor opção para jantar que ir ao shopping? Como raramente vou a shopping, valeu aproveitar também para ir a um restaurante típico... dos EUA. Porque a sopa de cebola de lá é realmente uma delícia, e perfeita para um jantar leve. Além de um preço muito conveniente. Deixamos a tarefa de provar os pratos típicos para o almoço e café da manhã. =)

T.G.I. FRIDAY'S - American Restaurant (graças ao Google Translator, aprendi que 'PECTOPAH' quer dizer restaurante, o que ajudou bastante nas identificações seguintes)

sábado, 9 de julho de 2016

Delícias russas?

Kupetz Eliseevs ou Empório Eliseyev (acervo)

Passeando pela Nevsky Prospekt não há como deixar de reparar em um prédio lindo, que mistura características do estilo Art Nouveau com a arquitetura dos prédios mais antigos da avenida, e as incorpora à estrutura de granito da construção, que data de 1902-03. Destaque para a vitrine, não somente por sua beleza como pelos figurinos expostos, pequenas esculturas que parecem ilustrações de livros antigos. 

Vitrine do Empório Eliseyev (acervo)

Depois de restaurada, a loja se tornou um centro gastronômico que manteve os 7 departamentos originais, incluindo 33 metros de balcões expondo vários tipos de iguarias, típicas ou importadas, como salmão defumado, caviar, vinhos, chá, café, queijo, e doces à francesa. Não é só isso. A decoração é deslumbrante, do teto aos candelabros, e mantém algumas características originais do Art Nouveau, como a abundância, o brilho, e muitos detalhes com motivos florais. É como dar um passeio pelo esplendor da corte russa, com seus dourados, mobília antiga, luminárias elaboradas e candelabros. 


Detalhe do interior do Eliseyev (acervo)

Um bom começo de viagem por uma cultura. Não somente através da comida, como de sua história. Para mim, a melhor forma de conhecer um lugar e seu povo. Ver museus, monumentos e shows é básico quando se viaja como turista. Mas vale se informar um pouco sobre o lugar e seus costumes, e tentar experimentá-los. Provar algum prato típico ou ir a um restaurante local é, talvez, uma das maneiras mais simples e rápidas de absorver esse conhecimento, já que muitas vezes o tempo é curto. 

A matriosca vigiando os queijos (acervo)

Que não se estranhem as iguarias com jeitinho de Paris, pois é importante lembrar que a França tinha grande influência na época dos czares, quando a cidade de S. Petersburgo foi fundada. A arte da confecção de doces não poderia ficar de fora. Talvez isso explique um pouco do sucesso da confeitaria. Quando um cavalheiro convidava uma dama para ir ao teatro, não era incomum passar pelo Eliseyev para oferecer-lhe frutas frescas, chocolate e queijo. Daí nasceu a ideia de combinar uma loja com restaurante e teatro em um único local no centro de S.Petersburgo.

A loja é uma das poucas com características de loja de museu, que não somente presta serviços aos clientes, mas por meio do acesso a iguarias delicadas de todo o mundo, também lhes oferece a chance de mergulhar na atmosfera da época da cidade imperial. 

Em 2010 o prédio ganhou o status de proteção especial. Com mais de 180.000 visitantes por mês é, naturalmente, uma das atrações turísticas mais famosas da cidade, e de grande importância histórica como Patrimônio Cultural da UNESCO.




Delícias visuais e gastronômicas do Eliseyev (acervo)


quinta-feira, 7 de julho de 2016

Flanando em São Petersburgo

Um dos domadores de cavalos (acervo)

Em destaque na ponte Anichkov, que permite a passagem do rio Fontanka na Nevsky Prospekt, bem no centro de S. Petersburgo, estão quatro estátuas que compõem um grupo denominado 'Os domadores de cavalos', erigidas no século 19. As estátuas foram retiradas duas vezes de seus pedestais. Uma em 1941, para protegê-las de danos durante o Cerco de Leningrado, e outra em 2000, para trabalhos de restauração, antes das celebrações do tricentenário da cidade. 

Há um metrô próximo, Gostiny Dvor / Nevsky Prospekt, mas a não ser que se esteja hospedado muito longe, e eu não saberia dizer onde seria exatamente "longe", o ideal é andar a avenida Nevsky de uma ponta a outra, e simplesmente flanar. 

Flanar é um conceito que vem da língua francesa, e significa andar sem rumo. Pode parecer um pouco bizarro fazer isso quando se é turista, considerando-se que vida de viajante em geral significa fazer planos e mapear o que se quer fazer e ver nos lugares aonde se vai, quase sempre em função do tempo e orçamento disponíveis. Mas quando se chega numa cidade pela primeira vez, é preciso reservar pelo menos um par de horas para flanar. Andar, se situar, se aclimatar (especialmente quando há diferença de fusos horários), ver as pessoas... É possível também optar-se pela andança ociosa quando já se conhece um pouco a cidade que se visita, e pode-se abrir mão de passar pelos lugares óbvios, ou mais turísticos, só pra sentir. É. Mas um sentir, se possível, de todos os sentidos. 

Olhar é óbvio. Exercitar o paladar, ah, sempre que puder. Mesmo os mais enjoados acharão alguma comida local que trará uma experiência diferente. Em S. Petersburgo eu sugiro o blinis e o estrogonofe. Ouvir: começamos pela sonoridade da língua, depois, quem sabe, experimentamos a música, o teatro. Pode ser até uma transmissão de TV. Cheiros: fazem parte da vida. Até mesmo os ruins. E o tato, porque somos como crianças querendo mexer em tudo. A diferença é não somos proibidos de fazê-lo, ou pelo menos, sabemos onde e quando mexer. Ainda que não exercitemos rigorosamente esse nosso lado adulto. Como quando resolvi tocar de leve uma escultura de Picasso no Guggenheim, e levei uma bronca da guarda. Foi só a ponta de um dedo! Mas eu sei que ela estava certa. E hoje em dia, apesar da ânsia em fotografar tudo e fazer selfies, que levam algumas pessoas a comprometer a própria segurança e a integridade de uma obra de arte valiosa, posso garantir que não vou subir numa escultura pra tirar uma foto. 

Então. Flanar. A cada vez que chego numa cidade que não conheço, me sinto deslumbrada. Daí o andar sem rumo, após largar a mala no hotel e me orientar. Em S. Petersburgo, todos os caminhos levam à Nevsky Prospekt, essa avenida que é o centro de tudo, onde se verão restaurantes, lojas, shoppings, cafés, igrejas, monumentos... Tem até Pizza Hut, KFC, McDonald's... 

Nevsky Prospekt, principal rua da cidade (acervo) 

Existe a avenida em si, tem rio (ou seria mais de um?), canal, vê-se ao longe uma das coisas mais bonitas que eu já vi na minha vida, que é a Igreja do Salvador do Sangue Derramado (mas como é tempo de flanar, fica só a visão de tirar o fôlego). Encontramos um café que evoca Paris, mas também um pouco a tradicional Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro. 

Kupetz Eliseevs (Eliseyev Emporium) - 1902-03, Art Nouveau (acervo)

Kupetz Eliseevs: a arte e a delicadeza da pâtisserie que remetem a Paris ou a Londres

Há uma livraria com títulos e linguagem incompreensíveis, já que os caracteres da língua russa (cirílico) são diferentes dos latinos, mas também com títulos em inglês. E, claro, o primeiro livro em que bati o olho foi um de... Jane Austen. 

Jane Austen na Rússia, quem diria? (acervo)

Para uma boa flanância, não poderia ser melhor. A cidade fundada pelo czar Pedro, o Grande em 1703, e que foi capital da Rússia imperial entre 1713-1728 e 1732-1918, é realmente encantadora. Não é à toa que o centro histórico e monumentos relacionados são Patrimônio Cultural da UNESCO.

Igreja do Salvador do Sangue Derramado, no Canal Griboedov 

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Morte pela crença, pelos “crentes” ou da estupidez humana

Acervo - Foto da exposição World Press Photo 16, em Amsterdam
Bebê é entregue a refugiado sírio em cerca de arame farpado na fronteira entre a Sérvia e a Hungria

Em novembro de 2013 a BBC publicou artigo que questionava o fenômeno dos 100.000 mártires cristãos anuais. Daquelas “informações” que nascem não se sabe onde, com credibilidade duvidosa, mas até o Vaticano foi atrás. Como o Vaticano é construído em cima de escritos por si só, digamos, questionáveis, não sei se sua ratificação pode ser tomada ao pé da letra.

Claro que como muita coisa na Internet, a “informação” virou telefone sem fio, e daí a se atribuir a autoria das supostas mortes a muçulmanos foi um passo. Imagina se Trump já fosse candidato nessa época… O número teria triplicado.

A luz se fez quando se verificou que a maioria dessas mortes tinha ocorrido na guerra civil da República Democrática do Congo. Estima-se que 4 milhões de pessoas morreram nessa guerra entre 2000 e 2010, e um centro de estudos cristãos contou 20% desse total como mártires. Na média, dá 90 mil mortes, e voilà! Aí estão 90% dos “mártires”. Entre aspas, porque a tal república democrática é um país cristão. Então… Cristãos matando cristãos? Parece normal, num planeta em que um mata o outro por razão nenhuma.

O tal grupo cristão deu marcha à ré, e disse à BBC que usou números de 1982 de uma enciclopédia também cristã. Não sei, mas está me parecendo que ainda se trata de dados comprometidos. Detalhes aqui: http://www.bbc.com/news/magazine-24864587.

No que passamos para o outro lado da moeda, já que os tais cristãos midiáticos, que não conferem fatos nem dados nem fontes, continuam disseminando suas mensagens de ódio, ecoando todos os discursos hitleristas, nazistas, neonazistas, arianos… Escolha seu rótulo, porque eles são intercambiáveis.

O Centro de Pesquisa sobre Globalização (CRG), uma organização independente com base em Montreal, aponta em um artigo de agosto de 2015 que, embora seja provavelmente impossível conhecer o resultado macabro das modernas guerras do Ocidente no Oriente Médio, esse número pode chegar a 4 milhões ou mais. Vale lembrar que a guerra do Iraque foi iniciada pelos EUA, e os exércitos dos aliados ocidentais fizeram um belo estrago por aquelas bandas. Seria então… genocídio? Para refletir.

Um relatório da organização Physicians for Social Responsibility (Médicos pela Responsabilidade Social - http://www.psr.org/assets/pdfs/body-count.pdf) calcula a contagem de corpos na Guerra do Iraque em torno de 1,3 milhão, e possivelmente mais de 2 milhões. Mas os números dos mortos no Oriente Médio extrapolam esse limite. Porque além dos mortos no Iraque e Afeganistão, há também as vítimas das sanções contra o Iraque, que deixaram ainda cerca de 1,7 milhão de mortos, metade crianças, conforme dados das Nações Unidas. 850 mil crianças. Não são mártires, porque não morreram para defender suas religiões ou outras pessoas, como diz o dicionário. São vítimas inocentes. Crueldade pura. Ou, como dizem os senhores da guerra, danos colaterais.

Nas guerras seguintes no Iraque e Afeganistão, os EUA não somente foram responsáveis pela morte de milhões de pessoas, como destruíram sistematicamente a infraestrutura desses países, e depois usaram os esforços de reconstrução como oportunidades para o lucro, em vez de beneficiar as populações locais. Mencionam-se evidências de tortura e rumores sistemáticos de ataques sexuais. (E a revolta ocidental diante dos estragos nos patrimônios culturais da humanidade, seja aqueles destruídos pelas guerras ou pelos psicopatas do daesch… Qual o estopim desses atos bárbaros? Lamentamos, mas seria a destruição de um templo, de uma estátua, ou a pilhagem sistemática dos tesouros dos museus mais horrenda que a morte de milhares de crianças?)


Um adendo: em 2015 houve 69 acusações de exploração sexual ou abuso por soldados das forças de manutenção da paz (?) das Nações Unidas; 52 em 2014 e 66 em 2013 - o que foi reportado, porque se boa parte desses crimes não é comunicada nos países que não estão em guerra e contam com um razoável sistema policial e jurídico/judiciário, imagine-se em áreas precárias e em guerra… é mais do que vergonhoso, é hediondo.


Falamos de situações de guerra, mais extremas, embora nos pareça que nos dias de hoje as repercussões das guerras não têm limite geográfico. Crenças sempre foram justificativas para assassinatos, mesmo se os livros sagrados das religiões não fizessem referência a esse tipo de comportamento sociopático. Mas graças à peculiaridade de o medíocre ser humano ser capaz de cometer o crime mais ignóbil pelo motivo mais insignificante, crença e ideologia vêm se repetindo há séculos (ou seria milênios?) como justificativas cada vez mais triviais para assassinato, estupro, roubo… E há locais em que esses atos foram institucionalizados e sancionados por uma lei, religiosa ou não. Isso quando mesmo ilegais não são tidos como "tradição".
Comparada com a alegada carnificina praticada por muçulmanos, os cristãos europeus têm nas costas cerca de 100 milhões de mortes (16 milhões na Primeira Guerra Mundial, 60 milhões na Segunda – embora algumas dessas sejam atribuídas a budistas na Ásia– e mais alguns milhões em guerras coloniais). A Bélgica, aquela da cerveja e dos recentes atentados, "conquistou" o Congo e estima-se ter dizimado metade de seus habitantes, ou seja, no mínimo 8 milhões de pessoas (Fonte: http://www.juancole.com/2013/04/terrorism-other-religions.html

Fala-se muito dos países muçulmanos onde vigora a sharia - mas esta é o corpo da lei islâmica, um sistema de várias leis, que não é adotado em sua totalidade em nenhum país. A maioria dos países muçulmanos conjuga suas próprias leis e outras da sharia. De qualquer forma, a lei islâmica ensina que a homossexualidade é uma forma vil de fornicação, punível pela morte. Homossexuais são decapitados, enforcados e apedrejados na moderna (?) Arábia Saudita e no Irã, onde as leis de Maomé são aplicadas de forma mais rígida. Outros cinco países muçulmanos também têm a pena de morte para esses casos. No passado, gays eram queimados. Até pareceria que o grau de crueldade na aplicação da pena diminuiu... Não fosse todo o contexto, e ainda, o fato de que qualquer psicopata pode virar justiceiro e sair matando indiscriminadamente em nome de um deus qualquer.

Um clérigo muçulmano afirmou que o único item de debate teológico não era se o homossexual deveria ser morto, mas como isso deveria ser feito. Não fez mais do que seguir o Corão, que cita o que conhecemos por Velho Testamento (sim, o mesmo livro religioso de cristãos e judeus) quando relata a história de Sodoma. Sobre a visão muçulmana, https://www.thereligionofpeace.com/pages/quran/homosexuality.aspx.

E o que pensam os cristãos? ‘Autointitular-se um autêntico cristão e permanecer um homossexual praticante é uma direta contradição do ensinamento bíblico e contrário à “vida abundante” prometida por Jesus’. (http://www.charismanews.com/opinion/39696-six-reasons-why-gays-can-t-be-christians).

O que dizem os judeus: “Nós sentimos o que sentimos. Alguns sentimentos podem ser mudados, e outros não. Algumas vezes o que sentimos é passível de mudança, e outras não. Total e inequivocamente não. E no entanto, a lei é absoluta. Mas nós temos certeza de uma coisa: sabemos que entre outros comportamentos sexuais, a lei da Torah proíbe expressamente o ato específico da homossexualidade masculina."

"Mas sabemos que a Torah proíbe a intolerância; a homofobia é proibida." (meu destaque).

"E também sabemos isso: muitas meninas e meninos judeus, mulheres e homens judeus já sofreram demais por muito tempo. E sabemos que a maior parte desse sofrimento é causada pelo ambiente em que vivem. Sabemos isso: quando nos tornamos juízes de outra pessoa, agimos contra a lei da Torah.” (http://www.chabad.org/library/article_cdo/aid/663504/jewish/Do-Homosexuals-Fit-into-the-Jewish-Community.htm).


Só lembrando: a Torah é constituída de cinco partes: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Para quem não está familiarizado, trata-se de livros que fazem parte da Bíblia, ou Velho Testamento. Os mesmos textos que as religiões cristãs e muçulmana têm como sagrados e servem para justificar suas posições intolerantes e homofóbicas.

Então. Não vale invocar os deuses para justificar um crime. Seja assassinato em tempos de guerra ou de paz. Ou abuso sexual. Ou intolerância. Ou homofobia. Cabe ressaltar que uma atrocidade não exclui a outra. Tudo que é humano está inter-relacionado.


Desenho de Quino, o genial artista argentino (http://www.quino.com.ar/)

sexta-feira, 3 de junho de 2016

A literatura que nos faz felizes

"O espírito resiste para sempre"

A Makars' Court é um pátio contíguo ao museu dos Escritores Escoceses em Edimburgo, Escócia, ambos com acesso pelo Lady Stair's Close (close é um beco, um dos muitos espalhados pela avenida principal da cidade, a Royal Mile - mas no caso, não é um beco sem saída, e sim uma rua muito estreita que tem uma saída). 
Esse pátio é tido como um monumento literário nacional em desenvolvimento, e incorpora citações da literatura escocesa inscritas em pedras no pavimento. Há citações em línguas usadas pelos escoceses no passado e no presente, como o gaélico, o escocês, o inglês e o latim. 
A palavra 'makar' traduzida da língua escocesa quer dizer autor ou escritor, um artesão na arte da escrita, e desde 2002 a cidade designou seu próprio Makar oficial.
O close, o pátio, o museu, cada um deles tem seu interesse. Quando se passa a entrada do close e se chega ao pátio, cercado por prédios, temos uma impressão de tranquilidade, de paz. O museu guarda lembranças dos escritores mais famosos do país, Robert Burns, Walter Scott e Robert Louis Stevenson. O prédio, em si, tem seu próprio valor histórico. Foi construído em 1622, e sobreviveu à demolição graças à intervenção de um reconhecido planejador urbano no séc. 19, Patrick Geddes. E, obviamente, essa calçada da fama diferente, que em vez de guardar lembranças de estrelas de cinema, registra momentos literários. Delicioso.
"Apesar das ameaças dos tiranos, apesar da ira e dos rugidos dos Leões
Desafie-os a todos, e não tema a vitória"

"Onde estão os elos da corrente...
ligando-nos ao passado?"

O Museu dos Escritores Escoceses - Edimburgo 

O Museu 

Makar's Court: a história




quarta-feira, 18 de maio de 2016

Perseguições: o tempo passa e as pessoas não mudam

Sobre foto (original) de Matic Zorman, World Press Photo/2016, Amsterdam/abril: criança refugiada esperando para ser registrada na Sérvia - acervo

Tempos atrás escrevi sobre Dora Bruder, um livro do francês Patrick Modiano, ganhador do Nobel de literatura de 2014, que começa falando de uma adolescente francesa e judia, que fugiu de casa em 1941. Por causa disso, seus pais publicaram um anúncio num jornal à época, que chegou às mãos de Modiano décadas depois. O final da história real é previsível: ela foi parar no campo de Drancy, uma estrutura criada pelos franceses do governo colaboracionista para receber os judeus daquele país. E dali Dora foi enviada a Auschwitz. 

O livro faz um mix de realidade e ficção a partir desse fato. Às vezes pensamos em horrores do passado achando que ficaram para trás. Não é bem assim. Não vamos falar de escravidão, a de antes e a de agora, porque não é o foco. Vamos nos deter nas perseguições, não importando os motivos. Basta abrir os jornais e se constatará que nunca cessaram. Lemos sobre atentados terroristas quase todo dia, e na própria França em 2015 judeus foram novamente vítimas de um deles. 

O que me levou de novo a Dora Bruder foi uma visita à Casa de Anne Frank, em Amsterdam. Na verdade, o chamado 'Anexo', onde ela e a família se esconderam de 1942 a 1944, quando então foram traídos/denunciados por não se sabe quem, e dali levados para campos de concentração. Anne morre em Bergen-Belsen, pouco antes da libertação. Diz-se que de tifo.

Fonte: https://www.haikudeck.com/concentration-camps-anne-frank-education-presentation-vvhdc4gFEV#slide4

 Fonte: https://www.haikudeck.com/concentration-camps-anne-frank-education-presentation-vvhdc4gFEV#slide9

No que voltamos ao problema: quando todo mundo acha que essa barbárie ficou no passado, jogam um balde de água gelada na cara da gente, a cada bote de refugiados que naufraga, a cada grupo que tenta passar uma fronteira para um país europeu em melhores condições, a cada confronto entre pessoas desesperadas e as polícias desses países.

Sobre foto (original) de Warren Richardson, World Press Photo, 2016, Amsterdam/abril - acervo

Tenho a impressão de que isso nunca terá fim.


domingo, 10 de abril de 2016

Forget me not

She found him almost dying. She did what she could for him, but in the end there was nothing else to be done. He didn't want to be saved, because he had been forgotten by men.

She buried him in her garden, and she planted flowers all over the ground, and everywhere he had been. Men forget, but Earth always remembers.

Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...