She buried him in her garden, and she planted flowers all over the ground, and everywhere he had been. Men forget, but Earth always remembers.
domingo, 10 de abril de 2016
Forget me not
She found him almost dying. She did what she could for him, but in the end there was nothing else to be done. He didn't want to be saved, because he had been forgotten by men.
domingo, 6 de março de 2016
Inesperado
Times Square, NYC
É verdade que basta estar vivo para se surpreender - desde que nos mantenhamos abertos às possibilidades. Mas parece que no dia-a-dia nos viciamos na rotina. Podemos vencer a mesmice de inúmeras formas. Prestar atenção no que fazemos, buscar leituras que nos façam pensar, ver filmes instigantes, essas são algumas das formas que ajudam a manter o cérebro funcionando, e, de quebra, fazem com que a vida seja mais interessante.
Outra maneira de dar um impulso no cérebro e na vida é viajar. Uma pena que não dê pra fazer isso com mais frequência. Mesmo as viagens mais curtas demandam tempo e dinheiro. Há quem não aprecie essa opção, mas para quem curte, é um estimulante sem igual. Até o planejamento que antecede a viagem energiza.
Estar em um lugar diferente do que estamos acostumados a ver já parece influenciar nosso pensar e agir. Se a língua é diferente da nossa, então, mais adaptações nos serão exigidas.
Quando se pensa em viagem, fala-se muito das atrações que fazem parte de roteiros-padrão, dos costumes, dos detalhes práticos que podem facilitar a vida do viajante, seja lá qual for seu objetivo.
Mas algumas coisas serão sempre surpreendentes, por mais preparados que estejamos. Conhecer pessoas é uma delas. Outras podem ser causadas por ocorrências aparentemente banais. Como, por exemplo, um canteiro de obras. Onde o trabalho dos operários pode aparentar a explosão de fogos de artifício. Um verdadeiro espetáculo.
terça-feira, 1 de março de 2016
Imigrante, esse indesejado
Museu da Cidade de Nova York - New York activism today
No museu da cidade de Nova York há no momento uma exposição que tem como tema o ativismo social na cidade, desde o séc. 17 até o presente (http://www.mcny.org/exhibition/activist-new-york).
A premissa é mostrar aspectos do ativismo numa cidade que se diz famosa por sua “personalidade” franca, direta, em segmentos como a preservação histórica, direitos civis, salários, orientação sexual e liberdade religiosa.
Chama a atenção um cartaz cujo título é “cuidado com a influência estrangeira”, relacionado à imigração entre 1820 e 1860, período em que 3,7 milhões de imigrantes aportaram na cidade. Mais da metade eram irlandeses que fugiam da fome que assolou seu país entre 1845 e 1851. Um cidadão chegou a criar um partido anti-imigração. Aqueles que eram contra a imigração se reuniam em clubes e partidos buscando negar o acesso dos imigrantes a empregos, à cidadania e ao direito de voto. Havia uma rejeição singular aos irlandeses e alemães católicos, pela “ligação” com o Papa e o Vaticano.
A política anti-imigração não se limitou a esse período, já que em 1920 foram criadas leis de imigração estabelecendo um sistema de cotas para os recém-chegados, baseado no país de origem, que perdurou até 1965.
Cinquenta anos depois, a questão da imigração volta às manchetes, e tanto a Europa, como Estados Unidos e Canadá estão diante de um debate que não parece diferente: por toda a parte se fala em limites e muros e leis restritivas ao tsunami de pessoas que fogem de situações dramáticas em seus países de origem. Guerra, perseguição política, fome, crise econômica… Elas fazem de tudo para ter uma chance de “salvação”. Para boa parte delas, trata-se de questão de vida ou morte. São mais do que imigrantes, são refugiados.
De acordo com a agência para refugiados das Nações Unidas, um refugiado é alguém forçado a fugir de seu país por motivo de perseguição, guerra ou violência. Ela ou ele tem medo justificado da perseguição por motivo de raça, religião, nacionalidade, opinião política e participação em um grupo social específico.
Até parece que o problema é recente. De acordo com a agência, a prática da concessão de asilo a pessoas que fogem de perseguições é um dos aspectos mais antigos da civilização. Há referências dessa prática em textos escritos há 3.500 anos, durante o florescimento dos primeiros grandes impérios do Oriente Médio, como o dos hititas, babilônios, assírios e o do antigo Egito (
Mas parece que nada disso é levado em consideração. Por toda a parte crescem as ideias de leis mais rígidas (Europa e EUA), muros (candidato à presidência dos EUA), penas mais graves até para imigrantes estabelecidos legalmente no país (França)...
Medo, racismo ou razões econômicas?
segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
A passagem do tempo
Strawberry Fields - Central Park/NYC
Vinte anos fazem muita diferença.
Não vamos fazer comparações entre passado e presente para não cair em saudosismo. A vida anda, e temos de ir junto.
Qualquer foto me traz uma reflexão sobre o assunto cristalizado naquele momento. Pode ser de parentes, amigos, lugares... Memórias importantes para quem já não consegue armazenar todas as informações recebidas e trazê-las de onde quer que se escondam.
Li outro dia um artigo de uma viajante, no qual ela dizia lamentar tirar poucas fotos de si própria e mais de paisagens e monumentos. Afirmava também que passaria a fazê-lo, para registrar sua passagem pelos lugares. Tudo porque ela ficou com apenas duas fotos de seus pais e mais nada. Fez sentido para mim, porque tenho o mesmo hábito. Fazer parte da foto não é vaidade, mas permite deixar a lembrança para quem fica, porque o tempo faz, sim, com que memórias fiquem confusas, desbotadas... Se o cérebro continua sadio, continuamos nos lembrando das pessoas importantes que passaram por nossas vidas, mas os detalhes se perdem.
Às vezes viajamos para um lugar e só temos a oportunidade de estar lá rapidamente e uma única vez. Para mim, as fotografias são essenciais para retornar, só que na minha memória. Outras vezes, temos a sorte de poder voltar, mesmo que muito tempo depois. E é curioso observar o que mudou. Porque tudo muda. Em alguns aspectos, para melhor, em outros, para pior.
Por exemplo, sou fã de prédios históricos. Sou contra a política "arrasa-quarteirão". Claro, há áreas degradadas que se beneficiam de renovação, reocupação, etc. Se houver a chance de se revitalizar sem derrubar, prefiro. Gosto do conceito de reaproveitamento. Dependendo da cidade ou país aonde se vá, há preservação, reaproveitamento ou eliminação de prédios ou mesmo paisagens. Alguns países tratam seu patrimônio histórico e cultural com mais respeito do que outros. E mesmo onde há essa preocupação, o aspecto financeiro pode passar por cima da vontade de preservar. Parece que Londres está permitindo a construção de muitos prédios ultra-modernos que estão desvirtuando a paisagem da City. A conferir por quem se aprofunda no assunto e conhece a cidade mais do que eu.
Apenas queria falar do tempo que provoca mudanças, mas ao mesmo tempo consolida certas características internas e externas. Nova York é uma cidade que parece estar sempre em movimento, sempre em construção, embora possua ícones que também dão a impressão de estar sempre presentes. São os chamados cartões postais da cidade. Um deles é o Strawberry Fields, esse cantinho do Central Park que está ligado a John Lennon, um dos eternos Beatles. Pode-se passar lá em qualquer estação, e em vinte anos a representação da homenagem ao artista é a mesma e os admiradores também. O entorno passou por algumas mudanças, aparentemente, o que não é ruim. Às vezes manter passa por modernizar, aperfeiçoar e mudar algumas coisas, para melhor preservar.
Se não ficamos nós, fica a memória. Strawberry Fields forever.
sábado, 29 de agosto de 2015
Rio de Janeiro, essa cidade sem igual
9Cristo (2014) composto por 9 painéis de 80x80 cm
Cristo N°7, com a contribuição de JEF AEROSOL (Favela smiles)
O Rio de Janeiro fez aniversário: 450 anos. Oficialmente descoberto pelos portugueses, embora já habitado há séculos (milênios?) pelos chamados índios, que sabe-se lá de onde vieram. Ásia, África... Franceses também estiveram por aqui, e disputaram com os portugueses o pedaço, mas perderam a luta. Descartemos vikings e fenícios como mito.
Da fundação da cidade ao que ela é hoje, é óbvio, muita coisa mudou. Essa que já foi capital do país e perdeu o posto para uma cidade criada no planalto central, é hoje apenas capital de um estado e Patrimônio Cultural da Humanidade. Analisando direitinho, alguns de nós até chegam a concluir que desde o ano zero os governantes se esmeram em estragar o que o Rio tem de naturalmente bonito. E olha que tem sido muito esforço, porque a UNESCO atribuiu o título à cidade por sua paisagem natural, com a designação "Rio de Janeiro: Paisagem Carioca entre a Montanha e o Mar".
Tem gente que não gosta do Rio. Tem gente que não gosta do carioca. Diz que ele não é simpático como se apregoa e a despeito das pesquisas de empresas de turismo. Cada um com sua opinião, e pesquisa depende de amostragem e do público pesquisado. Para o turista, afinal, tudo é festa. No dia-a-dia a coisa pode ser diferente. Também acho que todo mundo anda muito mal-educado mesmo. Mas concordo que o carioca é simpático. Talvez não tanto quanto o mineiro ou o nordestino, gentes boníssimas. Mas é. Minha opinião.
De qualquer forma, não é de bom-tom criticar aniversariante. E por isso tem um monte de gente declarando seu amor à cidade, e prestando-lhe homenagens. Um desses é o artista-fotógrafo Jean-François Rauzier, que expôs suas obras no Museu Histórico Nacional (http://www.museuhistoriconacional.com.br/), que consistem em fotos manipuladas digitalmente que ele chama de hiperfotos. Nelas se reconhecem a arquitetura e paisagens cariocas icônicas, além de outros elementos que a imaginação do artista sobrepõe, e em alguns casos, até obras de outros artistas, como o street-artist Jef Aerosol.
É muito amor. E é justo.
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
Dora Bruder, ou a Paris dos esquecidos
Memória é uma daquelas coisas que só aparece quando convém. Ao indivíduo, a um grupo ou a um país. A não ser que se trate de demência, uma condição física que o sujeito não pode prever ou evitar.
A gente joga ou tenta jogar pra debaixo do tapete tudo aquilo que nos deixa mal. E em tempos de importância exacerbada da imagem, uma razão a mais para fazermos de tudo para parecermos mais puros que as vestais dos templos romanos.
E aí quando a imagem fica meio craquelada quando os podres aparecem? Digamos, de uma cidade, de um país.
Acho que não resta um lugar no mundo que não tenha um passado pouco glorioso. Resta saber se existe a admissão da memória.
Exemplos muito conhecidos de vergonha compartilhada por muitos países são a “colonização”, a escravidão e o tratamento dispensado aos judeus na Segunda Guerra Mundial.
Há quem negue. Sempre há quem negue. Pois se há quem diga que o homem não foi à lua. Que se trata de fabricação dos EUA. Hmmmm… será? Porque não negar, especialmente se há destruição de provas? O ônus da prova cabe ao acusador…
Entra Dora Bruder, personagem e título do livro de Patrick Modiano, ganhador do prêmio Nobel de literatura em 2014. Difícil assimilar a história enquanto ela se desenrola, de tanto que se parece com um registro documental, um relato da Comissão da Verdade ou do Tortura Nunca Mais. Mas há que se ter paciência para desenrolar o fio da meada, tanto da história real como da fictícia, porque, como o autor diz, talvez eles tenham simplesmente se esquecido que esses registros existiam.
Dora Bruder, como tantas outras adolescentes e mulheres, foi enviada para a prisão de Tourelles (XXe arrondissement de Paris), depois para o campo de Drancy (Seine-St-Denis), para seguir para Auschwitz. Imagine-se seu destino final.
Camp de Drancy (Cité de La Muette) - German Federal Archives - Wikimedia Commons
Estamos falando de Paris, uma das cinco cidades mais visitadas do mundo, com uma história milenar, um povo orgulhoso de sua cultura. E que no entanto, não somente colaborou com o governo nazista, como foi além, assim como muitos outros países europeus (todos?) em sua profunda aversão aos judeus. O governo francês (Marechal Pétain) abriu tantos campos de concentração para receber os presos, que acabaram virando um setor econômico pleno, a ponto de o historiador Maurice Rajsfus escrever que “a rápida abertura de novos campos criava empregos, e a polícia nunca parou de contratar durante esse período”.
Modiano segue os possíveis caminhos percorridos por Dora Bruder. Tento fazer a mesma coisa. A rua onde ela morava fica a apenas 1,5 km de Montmartre, um dos mais conhecidos pontos turísticos de Paris. Mas o que é impossível é imaginar o que ela e outras pessoas na mesma condição viveram.
“Et au millieu de toutes ces lumières et de cette agitation, j’ai peine à croire que je suis dans la même ville que celle où se trouvaient Dora Bruder et ses parents, et aussi mon père quand il avait vingt ans de moins que moi. J’ai l’impression d’être tout seul à faire le lien entre le Paris de ce temps-là et celui d’aujourd-hui, le seul à me souvenir de tous ces détails.”
“E no meio de todas essas luzes e dessa agitação, custo a crer que estou na mesma cidade onde estiveram Dora Bruder e seus pais, e também meu pai quando ele tinha vinte anos a menos que eu. Tenho a impressão de ser o único a fazer a ligação entre a Paris daquele tempo e a de hoje, o único a me lembrar de todos esses detalhes.”
Um dos poucos a se lembrar que esses horrores se passaram nessa que é conhecida como a cidade-luz.
Alguns anos depois de escrever o livro, a atual prefeita de Paris e o escritor descerraram uma placa em frente a uma escola do 18e com o novo nome da rua: “Promenade Dora Bruder”. Modiano declarou que Dora se tornou um símbolo, que ela representava para a cidade a memória de milhares de crianças e adolescentes que partiram da França para serem assassinados em Auschwitz (cita o livro de Serge Klarsfeld, Memorial [Le mémorial des enfants juifs déportés de France, FFDJF, 1994]).
Mencionou ainda que a inauguração de um local em seu nome era uma forma de resistir ao desejo dos nazistas, que queriam fazer desaparecer Dora Bruder e aquelas iguais a ela, e apagar até seus nomes. “Creio que é a primeira vez que uma adolescente que era anônima é inscrita para sempre na geografia parisiense”, disse ele (http://www.lemonde.fr/culture/article/2015/06/01/patrick-modiano-dora-bruder-devient-un-symbole_4644883_3246.html#G5e3Imx9CbxoH5kQ.99).
Relembrando Bath

Janeite. Austenmania. Termos ingleses para quem tem fixação em Jane Austen. Parece ser significativo o número. Uma pesquisa no Google
com preferências filtradas em português, espanhol, inglês e francês gerou mais de 5 milhões de páginas. Como não há hospícios suficientes para tantos loucos, e não tenho as qualidades de Simão Bacamarte (aliás, nosso gênio ímpar, Machado de Assis, pode ser encontrado no similar nacional do Projeto Gutenberg, o site Domínio Público, http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp), não preciso temer o confinamento. Basta-me o refúgio aqui mesmo, neste espaço quase solitário.
Reza a lenda que Jane Austen não gostava de Bath. Talvez porque tenha deixado seu ambiente, quando seu pai faleceu, e passou a enfrentar dificuldades, até finalmente chegar a Chawton. Mas foi lá que ambientou Persuasion, um de seus mais refinados romances, e Northanger Abbey, um dos mais leves.
Para os leitores, e para mim, em especial, que amo história e arquitetura, o maior encanto foi encontrar a cidade praticamente do mesmo jeito. Não tem preço. É como nos transportarmos diretamente do livro para a vida real. Ajudados por um pouco do mito somado aos nossos sonhos e à indústria do turismo, junto com a boa-vontade das pessoas que se empenharam em criar um centro cultural para preservar a memória da escritora. Quanto já não se perdeu em memórias, em história, porque as pessoas não deram valor, ou saquearam aquilo que puderam em prol de interesses de toda sorte? Aconteceu há milhares de anos e continua acontecendo até agora. Patrimônio histórico e cultural não pode ser somente um título. Outro viés. Fiquemos com Jane, por ora.
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