sábado, 14 de março de 2009

Na favela não tem crise, diz a Time. Não tem?

Na Time (http://www.time.com/time/world/article/0,8599,1883862,00.html) - Postcards from São Paulo, o jornalista Andrew Downie, em Mar. 11, 2009, escreve que a favela não tem crise. Ele conta que Maria Irece da Silva tem uma loja na favela de Jardim Carumbé. Vende xampu, batons e esmaltes sem parar - 500 reais por dia só de cosméticos. Diz que a loja dela é um buraco na parede, mas está entulhada até o teto de géis de cabelo, condicionadores, tratamentos, bijuterias, e produtos de cabelo. Para ele, isso mostra duas verdades sobre o Brasil de hoje: uma, que entre as dançarinas sensuais que atraem as multidões no carnaval ou as milhares de mulheres comuns que enchem as praias todos os dias ou ainda as modelos glamurosas que dominam as passarelas, brasileiras ricas e pobres, pretas e brancas, novas ou velhas, todas dividem uma firme convicção de que nada é mais importante do que uma boa aparência. Isso tudo ratificado por uma antropóloga carioca chamada Mirian Goldenberg, que diz que "mulheres brasileiras simplesmente tem de parecer bem e cosméticos são o primeiro investimento que elas fazem", e "se elas não investem, perdem em todos os sentidos. O corpo é um bem, uma forma de ascensão social. Uma mulher gorda, ou que não faz as unhas, ou que deixa as raízes dos cabelos escuras é vista como suja ou preguiçosa. No Brasil, a boa aparência é não somente uma questão de beleza, como de higiene".
E mais importante, talvez, seria a segunda verdade revelada pela rotatividade da tal loja na favela: mesmo enquanto as economias mundiais estão no meio de uma contração dolorosa, a brasileira teria uma expectativa de continuar crescendo. Os governos brasileiros não são conhecidos por suas políticas econômicas e gestões econômicas prudentes, e a hiperinflação e débitos que assolaram a nação nos anos 1980 ainda são uma memória vívida e assustadora para muitos. Mesmo assim, altas taxas de emprego, sucessivos aumentos no salário mínimo e um programa de assistência nacional que tem distribuído renda aos pobres tem ajudado a demanda doméstica brasileira a se manter forte.
Da Silva acha que "não tem como dar errado com esse tipo de negócio. Mulheres não saem de casa sem batom". (Realmente, mas eu também faço questão de não esquecer o cérebro...)

Se essa matéria tivesse sido escrita pela imprensa oficial eu não estranharia. Mas que raios é isso? Onde fica essa favela? R$500 por dia? Êta negócio bão! A pergunta que não quer calar: o negócio é regular? Porque estatisticamente, de cada 10 negócios que são abertos, 9 vão pro buraco. E com dívida. Só de taxa, tarifa, imposto, etc.
Bem, fora as baboseira sobre as mulheres brasileiras, oh clichês!, o culto ao corpo (é só no Brasil, não tem isso mais em lugar nenhum...), e mais os recentes prognósticos da queda no PIB, de crescimento ZERO ou até negativo, desemprego, será que alguém poderia 1) me dizer realmente como andam os negócios nas favelas? e 2) lembrar ao jornalista e à antropóloga que o cultivo ao corpo são se origina na Grécia antiga? (Mas era a "mente sã com o corpo são", e não essa cultura BBB descerebrada que se espalhou pelo mundo...)

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