sábado, 12 de setembro de 2009

"O" BLOG

Um dia eu estava na Baratos da Ribeiro (um sebo-livraria que fica, claro, na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana), tocaiando um livro, quando entreouvi uma conversa sobre o Megazine, suplemento do jornal O Globo, que iria sair no dia seguinte. Como aboli o hábito de ler jornal (papel) diário, e as únicas curiosidades que me atraem são as escritas, comprei o jornal. Desde então não parei mais. Apesar de parecer ser mais voltado para uma faixa etária bem mais abaixo da minha, tem me mantido cativa.
Uma das razões, além das matérias - aliás, coincidência, logo de cara saiu uma ótima, sobre responsabilidade social, do jornalista Lauro Neto, que, vejam, é filho de um amigo. Tem também a coluna do João Paulo Cuenca, que não somente tem me surpreendido (a primeira vez que li não mexeu comigo), como me levou a descobrir que José Saramago tinha um blog.
Que coisa, sô! Chega a dar vergonha a gente escrever aqui, só por narcisismo mesmo, tal e qual a pesquisa disse lá dos twitterers e facebookers.

Mas humildade não é artigo de confessionário, vamos logo admitir que o homem que ganhou o Prêmio Nobel de literatura (e cujo português falado, aliás, não entendi lhufas quando esteve em SP, em 2002 ou 2003, dando uma entrevista para Juan Arias, na Livraria Cultura) - mais do que merecido - está no panteão dos deuses, enquanto euzinha aqui estou só gastando as digitais, e pronto.
Poizentão, Saramago criou o blog josesaramago.org, em setembro de 2008, e os posts foram reunidos no livro 'Caderno', publicado pela Companhia das Letras.
Nem precisaria dizer que é imperdível. Lá está o homem indignado com a crise financeira, encantado com a eleição do presidente Obama, com a escrita de Chico Buarque, e no meio do caminho vai falando de literatura, política, vida... com o detalhe, pequeno grande detalhe que o diferencia da maioria que se espalha feito praga pela Internet: ele sabe escrever.

É irresistível reproduzir o post do dia 30/10/08:

A PERGUNTA
E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?
Almeida Garrett
(1799-1854)

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