sexta-feira, 5 de maio de 2017

Viajando com Game of Thrones - parte II

Às vezes a gente chega num lugar e se surpreende ao descobrir que algum evento relevante se passou ali. 

Bom é quando existe uma preocupação dos administradores com a memória, e os eventos são registrados em placas, porque nem todas as informações constam dos guias, mesmo os virtuais, que costumam ser atualizados mais rapidamente. 

Mas também acontece de se descobrir depois, tanto faz se fatos históricos ou curiosos, como, por exemplo, os vinculados à indústria do entretenimento ou à literatura, especialmente a de ficção. Imagino que os fãs apaixonados saberão de tudo. Não é o meu caso, e muitas vezes retorno de alguma viagem e só então vou aprender. Mas todo aprendizado é válido.

Falando em Game of Thrones, as locações são todas maravilhosas, mas não sendo possível conhecer/visitar todas, me dou por feliz por já ter passado por Dubrovnik e pela Irlanda, mas vou falar de Sevilha e Córdoba, na Espanha. Como nas outras cidades e países selecionados, há méritos suficientes nessas duas cidades para justificar a visita, independente da série de TV. Tanto que quando fui, nem sabia desse detalhe. O Alcázar de Sevilha, que se transformou no palácio de Dorne (Casa Martell), e a ponte romana de Córdoba, convertida na ponte de Volantis (Long Bridge of Volantis), são admiráveis.

Sevilha é a capital da região da Andaluzia, e alcázar é um castelo ou palácio construído na Espanha ou Portugal na época da ocupação dos "mouros" (muçulmanos), apesar de alguns terem sido construídos por cristãos e outros terem sido erguidos sobre antigas fortificações romanas ou visigodas. Uma prática muito comum na Europa. A maioria deles foi construída entre os séculos 8 e 15.

O Alcázar de Sevilha é tido como um dos mais belos da Espanha, e um dos que melhor representa a arquitetura chamada "mudéjar". Ainda usado pela família real da Espanha, é administrado pelo Patrimônio Nacional e o palácio real mais antigo ainda em uso na Europa, e foi designado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO em 1987.

Pátio interno do Alcázar de Sevilha - 2016 (acervo)

Com 70 mil m2 de jardins e 17 mil m2 de área construída, não surpreende que tenha sido escolhido como locação para uma série que tem um visual fascinante e sofisticado. É ali que perambula a filha de Jaime Lannister e Cersei quando ele vai resgatá-la, e ali que aparece o líder da Casa Martell. Com os elaborados desenhos típicos da arquitetura árabe, não poderia haver melhor cenário.

Interior do Alcázar (acervo)


Interior do Alcázar (acervo)


Pátio interno do Alcázar (acervo)

Jardins (acervo)

Córdoba é outra cidade dessa região no sul da Espanha, cujo centro histórico também foi designado Patrimônio Cultural pela UNESCO. Nele fica a ponte romana que data do século 1, e atravessa o rio Guadalquivir. Muita gente circula por ela para admirar essa belíssima cidade. Mais uma razão para representar a ponte de Volanti, descrita nos livros de George R.R. Martin como uma das "maravilhas feitas pelo homem". Ela foi alterada pelas técnicas cinematográficas da série, mas ainda pode ser reconhecida pela base que a sustenta.

O ir-e-vir na ponte romana de Córdoba (acervo)

A vista lateral da ponte romana (acervo)




quinta-feira, 4 de maio de 2017

Viajando com Game of Thrones - Parte I

Gosto da série Game of Thrones, mas como sou muito dispersiva, a demora no retorno da próxima temporada já me tirou um pouco do entusiasmo quase obsessivo que tinha por ela. Se bem que é melhor mesmo ser desapegada. Tudo é impermanente, quanto mais séries de TV, e essa não está muito longe do fim. Não vou mencionar os livros porque confesso que só consegui ler o primeiro. Me irritei com o jeito de contar histórias de George R. R. Martin, com capítulos separados para cada personagem, e 300 mil famílias se embolando. À medida que ia lendo já tinha me esquecido de quem era quem. Ainda não me lembro, exceto das principais famílias, e olhe lá. Mas o genial mesmo é estar viajando e descobrir que se está diante das maravilhosas locações da série.

Alguns lugares são perfeitamente factíveis de se incluir em algum plano de viagem, como Croácia, Espanha, Irlanda do Norte, ou até o Marrocos, que não sei onde se encaixa nesses constantes conflitos na região do Oriente Médio. Já a Islândia e Malta eu considero lugares que não fazem parte de roteiros mais usuais, e mereceriam uma viagem específica.

Dubrovnik foi a principal locação selecionada para representar a central das intrigas, ou seja, Porto Real (King's Land). A própria configuração da cidade já descarta a necessidade de aparatos especiais. A cidade é tão medieval que se encaixa perfeitamente na narrativa. Ela foi fundada no séc. 7 e é Patrimônio Cultural da Humanidade. Sofreu muito com a guerra nos Balcãs, quando foi bombardeada por forças militares da Sérvia e Montenegro, mas foi reconstruída, e ainda há resquícios da destruição, o que não impede a percepção inequívoca de sua beleza.


Subindo a muralha - 2014 (acervo pessoal)


A muralha e a vista (acervo)



A característica rua medieval estreita (acervo)


O resultado trágico da guerra (acervo)

O turismo na cidade é intenso, e não é só por causa da série. Pode ser um passeio de um dia só, ou se prolongar a estada, mas é bom saber que o turismo intenso torna os preços caros, ainda mais se comparados com os do resto do país. Chega-se lá por terra, mar e ar. Partindo-se de Zagreb, a capital da Croácia, percorre-se a distância de 600 km em aproximadamente 6 horas. Não sei quanto tempo ou que lugares podem ser ponto de partida para se chegar de navio ou de ferry, mas sei que há inúmeros navios de cruzeiros que também aportam lá. Optamos pelo avião. Prático e rápido, partindo de Zagreb. No aeroporto há ônibus que levam à cidade fortificada. 


A estrada percorrida pelo ônibus (acervo)

Avistando a cidade fortificada (acervo)

Deslumbre-se passeando pelas ruas da cidade fortificada e pelas muralhas que datam do séc. 13. A vista é estonteante. 


(acervo)


(acervo)

Vale ressaltar que apesar da aparência ideal, a cidade passou por várias alterações cenográficas para torná-la a locação perfeita para a ficcional King’s Landing. O forte de Lovrijenac (Forte de S. Lourenço) é uma das atrações que podem ser vistas da muralha. Sua estrutura impressionante, em formato triangular com três níveis, foi construída em uma rocha que se ergue do mar, e se mostrou perfeita para representar o palácio real da série. Curiosa a inscrição em pedra que fica sobre a porta que conduz ao forte, "a liberdade não pode ser vendida por todo o ouro do mundo", se sobreposta ao intrincado fio de traições que perpassa as histórias dessas famílias inventadas, mas muito calcadas na história das monarquias e feudos medievais. 


O forte (acervo)

O ponto mais alto das muralhas é a fortaleza de Minčeta, que ambienta o fundo da Casa dos Imortais (House of the Undying), aonde Daenerys Targaryen vai procurar seus dragões no episódio final da segunda temporada.


A fortaleza (acervo)

Independente das referências literárias, preste-se atenção nos indícios do dia-a-dia da vida dos habitantes, porque assim podemos incorporar a história e a magia da ficção na realidade. Viajar é isso.



Aproveitando o sol (acervo)



quarta-feira, 26 de abril de 2017

Do livro para a realidade

Às vezes não queremos que ninguém nos "roube" o que imaginamos dos livros que amamos, preferimos que eles fiquem exclusivamente no mundo da fantasia. Quando viram filmes, então, pode ser uma tragédia. Sempre acho que o livro é melhor que o filme, e odeio quando o filme estropia o texto original. Exceto no caso de Fogueira das Vaidades: detestei o livro de Tom Wolfe (630 páginas de desperdício, na minha opinião) e, embora o filme não fosse um primor, deu pra ver até o final. 

Os ingleses conseguem manter o padrão de qualidade dos livros. Só da BBC posso citar, pelo menos, Pride and Prejudice (1995), Little Dorrit (2008), e North and South (2004). E, claro, as histórias de Harry Potter, apesar de a produção ser da Warner (EUA).

Não sou crítica especializada de nada, mas acho que os filmes baseados nas histórias de J.K. Rowling são bem-feitos, e não desvirtuam os livros. Estou em processo de reler toda a saga, mas comecei de trás pra frente. Em todo caso, não foi pouco meu entusiasmo ao saber da possibilidade de entrar nesse universo, visitando os estúdios da Warner Bros (https://www.wbstudiotour.co.uk/) em Leavesden, nas imediações de Londres, Inglaterra. 

Existem passeios organizados por empresas, mas é fácil chegar lá por conta própria. Uma das maneiras, que considero a melhor, é ir de trem. A partida pode ser ou da estação London Euston (viagem de 20 minutos) ou de Birmingham New Street (viagem de 1 hora), com término em Watford Junction. Na frente da estação fica um ônibus muito confortável que leva aos estúdios (15 minutos). Para ter acesso ao ônibus, é preciso ter em mãos ou o ticket ou a confirmação do tour, o que significa que é preciso comprar os tickets antes, porque a visita tem horário marcado. Compre direto no site, a não ser que vá contratar uma empresa de turismo. O preço individual para adultos é de 37 libras.

Todas as informações necessárias para se chegar lá estão no site (https://www.wbstudiotour.co.uk/plan-your-visit/getting-here#ID-c45147dee729311ef5b5c3003946c48f), inclusive a recomendação para se chegar com pelo menos 45 minutos antes da hora marcada para o início do tour. O guia digital também está disponível em português do Brasil.

Nem preciso dizer que é uma atração para fãs, que vão conhecer detalhes das filmagens e ver tudo que foi usado nos filmes, desde as roupas até os objetos e a maquete do castelo de Hogwarts. E, claro, a loja de lembranças. Há uma boa cafeteria no local, então é possível combinar a visita com uma refeição. 

Garanto que para quem curte os personagens das histórias vale a pena. É emocionante.

Em todo caso, se não tiver tempo ou vontade de sair de Londres, dê um pulinho na estação de King's Cross. Há uma pequena loja oficial e uma montagem da estação 9 3/4 lá dentro. 


Fantasia realizada - 2015 (acervo pessoal)

O ônibus que vai da estação aos estúdios (acervo)

A chegada (acervo)

 A entrada (acervo)

A plataforma (acervo)

O salão de refeições de Hogwarts (acervo)

O prisioneiro mais amado de Azkaban (acervo)

A maquete do castelo de Hogwarts (acervo)

"As histórias que mais amamos realmente vivem para sempre em nós, então, chegando através da página ou da tela, Hogwarts vai sempre estar lá para dar-lhe as boas vindas." J.K. Rowling





segunda-feira, 24 de abril de 2017

Viagens temáticas

Acho que faz todo o sentido fazer uma viagem inspirada em um livro ou filme, afinal, o que mais se faz é viajar por meio de personagens de ficção, ou mesmo da vida real, quando a biografia é bem feita. Por exemplo, ler a biografia de Catarina, a Grande, ou Catarina II da Rússia é uma ótima inspiração para se visitar o país. Recomendo muitíssimo o livro escrito por Robert K. Massie. Está em promoção na Livraria Saraiva. Estão na fila para ler as histórias de Pedro, o Grande e dos Romanov. 

Não é que a gente não saiba que esses e outros reis, rainhas, czares e czarinas, e nobres de todos os tipos e tamanhos tenham vivido na opulência enquanto o povo era explorado. Afinal, essa é a história dos regimes autocráticos, das ditaduras, e mesmo de muitas autoproclamadas democracias. Você tem duas opções básicas (mais todas as nuanças no meio): ou fica em casa reclamando de tudo e de todos, ou aprende história da maneira que mais lhe agradar. A maioria de nós começa e termina nos livros, revistas, jornais, televisão, cinema, etc., mas às vezes surge a oportunidade de se conhecer alguns lugares, e na minha opinião, o melhor então é mergulhar de cabeça.

Por exemplo, eu adoro o centro da cidade do Rio de Janeiro, com seus resquícios de arquitetura colonial, independente das críticas que tenho à colonização. Só não sou muito fã de estátuas, e também acho que às vezes cabe fazer uma revisão de nomes de ruas, prédios oficiais e similares. Por que homenagear um ditador ou um senhor de escravos? Grande e retumbante NÃO.

Então, imaginando continuar de onde tinha parado, e enquanto decidia se começava por Harry Potter ou Game of Thrones, eis que Catarina se interpõe, essa mulher mais do que fascinante e de grande inteligência. O bom de ler biografias é dar fim às inverdades que se perpetuam via intrigas e maledicências (embora algumas fantasiem mais do que conto de fadas). A história está cheia delas, apesar de parecer que mentiras foram inventadas pelos políticos atuais. 

E como não ficar impressionada com esse palácio?

Originalmente não era muita coisa, mas a filha da primeira Catarina, a imperatriz Elizabeth, elegeu-o como sua residência de verão, e empregou inúmeros arquitetos para redesenhá-lo de modo a superar Versalhes, por volta de 1742. Rivalidades... O que para nós representaria a troca de um piso, pintar as paredes ou pendurar um quadro, para ela significou, dentre outras providências, usar 100 kg de ouro nas fachadas e estátuas.

Em 1770 chegou a vez de Catarina II redecorar, mas ela mandou suspender os trabalhos em curso, considerados extravagantes:

"O palácio estava então em construção, mas era trabalho de Penélope: o que era feito hoje era destruído no dia seguinte. Aquela casa tinha sido desmantelada seis vezes até as fundações, e depois reconstruída novamente até chegar ao estado atual. A quantia de um milhão e seiscentos rublos foi gasta na construção." (Memórias de Catarina II)

Palácio de Catarina, vista parcial - Pushkin, Rússia, 2016 (acervo pessoal)

O palácio foi ocupado pelos nazistas alemães durante a Segunda Guerra Mundial, e usado como alojamento e para a prática de tiro. Antes de partirem, eles o incendiaram, não sem antes roubarem a Sala Âmbar. Esse aposento era todo decorado em painéis de âmbar, folhas de ouro e espelhos. A história dessa pilhagem é um mistério. Os painéis foram enviados para a cidade de Konigsberg, na Prússia (hoje Kaliningrado, Rússia), e Hitler teria ordenado sua remoção. No entanto, o comandante local fugiu e a cidade foi alvo de pesados bombardeios da Força Aérea britânica. A Sala Âmbar original nunca mais foi vista, apesar dos inúmeros rumores que a cercam. Antes de seu desaparecimento, era considerada a oitava maravilha do mundo. 

 By jeanyfan - Own work, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4062702

A sala foi recriada de acordo com desenhos originais, após 24 anos de trabalhos. Infelizmente, não pode ser fotografada. Vê-la é algo indescritível. E é exatamente essa sala, além do conjunto de salões formais projetados pelo arquiteto italiano Bartholomeo Rastrelli, que se destacam após a reconstrução do que foi tão descuidada e impiedosamente vandalizado. De 58 aposentos destruídos durante a guerra, 32 foram recriados.

O grandioso salão de baile (acervo)


Quem resiste a uma selfie? (acervo)


Detalhe de um dos tetos (acervo)


Não consigo me lembrar se é o retrato de Catarina II ou Elizabeth (acervo)


Um dos vestidinhos de Catarina (acervo)



 O lago no parque do palácio (acervo)
 

Para onde quer que se olhe, o deslumbramento (acervo)

Parece que a tradição de guerras conduzindo destruições generalizadas não acabou. Monumentos e pessoas sempre sofreram e continuam sofrendo todo tipo de violências, sob as mais variadas alegações. Nunca justas. Cabe-nos aproveitar as oportunidades que surgem e enriquecer o espírito, tanto travando contato com pessoas interessantes como conhecendo aquilo que o ser humano é capaz de construir quando se empenha nesse sentido. 

Informações para a visita ao Palácio de Catarina em Tsarskoe Selo (Pushkin)

Maio & Setembro: quarta a domingo 12.00 -17.00.
Junho a Agosto: quarta a domingo 12.00 -19.00; segunda-feira: 12.00 -20.00. Fechado: terças-feiras.
Outubro ao final de abril: 10.00 -17.00 quarta a domingo, 10.00 -20.00 às segundas. Fechado nas terças-feiras e na última segunda-feira de cada mês. 


O site da cidade de S. Petersburgo (http://www.saint-petersburg.com/pushkin/catherine-palace/) dá direções para se chegar no palácio, partindo de lá: pegue um trem suburbano da estação Vitebsk até a estação Pushkin, e depois os ônibus 371 ou 382 até os portões do parque. Outra opção são os inúmeros microônibus (K-286, K-287, K-299, K-342) que vão de Moskovskaya Ploshchad, perto da estação de metrô Moskovskaya. Tsarskoe Selo fica a 25km ao sul de S. Petersburgo, e a viagem dura cerca de 30 minutos. Alerta-se, porém, que na hora do rush, a estrada para Pushkin sofre regularmente imensos engarrafamentos. 

Fica a critério de cada um. Nós optamos por segurança. Procuramos uma empresa de turismo local, com guia em inglês. Não deparamos com muitas opções. Circulamos pelo ponto de partida, onde havia vários quiosques e ônibus de turismo, e apenas essa que escolhemos tinha guia em inglês. Todos os demais tinham guia em... russo. Se sua fluência nessa língua é precária ou anda enferrujada, como a nossa 😉, pense bem. Mas a atração é certamente imperdível.

domingo, 23 de abril de 2017

Viajar

Por que viajar? Já se discutiu o tema à exaustão. Há livros sobre o assunto, desde as especulações filosóficas até os diários de viagem, passando pelos guias especializados. Dois dos meus livros favoritos são 'A arte de viajar', do filósofo Alain de Botton, e 'The longest way home', de Andrew McCarthy. O primeiro pode ser encontrado ou na Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br/) ou na Estante Virtual, para quem não faz questão do livro novo e quer pagar menos (https://www.estantevirtual.com.br/). Já o segundo está à disposição na Amazon (https://www.amazon.com/Longest-Way-Home-Courage-Settle/dp/1451667485). Corri muito atrás desse livro tanto por causa dos elogios da crítica especializada como pelo aspecto emocional da viagem desse ator/escritor que sempre admirei. Fui achar a última cópia exatamente em uma viagem a Nova York, numa livraria que é o paraíso dos apaixonados por livros, pela dimensão física e pela variedade (http://www.strandbooks.com/).

Aliás, uma das maneiras de viajar é escolher temas. Depende do gosto do freguês. Se a ideia é fazer rotas de vinícolas, há o sul do Brasil, a França, a Argentina, o Chile, a Califórnia, e outros mais. Há roteiros que contemplam o amante do cinema ou de algum filme que desperte a atenção, como foi o caso de 'O código Da Vinci'. Dizem que a imensa procura de uma capela na Escócia por causa desse filme (também livro) chegou a abalar a construção. Isso acontece também na Grécia; em Pompéia, Itália; e na gruta de Lascaux, França. Já li que Pompéia tem sofrido muito, e que o complexo de cavernas, onde foram encontradas inúmeras pinturas rupestres datadas de cerca de 15.500 anos, foi fechado ao público, exatamente pelo dano causado.

Existem alguns tours temáticos que levam o viajante a locações de filmes e séries de TV. Já fiz um na Califórnia, em São Francisco. Uma delícia passar na porta da casa de 'Uma babá quase perfeita', ou por locações dos filmes da série 'Star Trek'. Em Nova York foram ambientadas várias séries famosas, e certamente o tour vai incluir o prédio de 'Friends' e a casa de Carrie Bradshaw, de 'Sex and the city'. Dá pra ir por conta própria, pois Nova York é uma cidade amigável para pedestres. Na Filadélfia é impossível não se ter a curiosidade pelo menos de passar na porta do Museu de Arte, para subir ou conhecer os 'Degraus de Rocky'. Rocky é aquele filme icônico de Sylvester Stallone sobre um lutador de boxe. Todo mundo quer tirar foto perto da estátua do ator que foi posta perto do museu, e quem aguenta subir as escadas faz a mesma rotina do personagem. Sem falar nas noivas que passam lá para serem fotografadas. 

Eu na porta da townhouse de Carrie Bradshaw em 2013 (acervo)

Na porta da townhouse de Carrie Bradshaw em 2016 (acervo)
A quantidade de pessoas que quer tirar fotos é tamanha que os moradores se sentem incomodados, e puseram uma corrente na frente, além de solicitar uma pequena doação para uma organização de ajuda aos animais. Acho válido.

Os degraus de Rocky - Filadélfia - 2013 (acervo)

A noiva nos degraus de Rocky - Filadélfia - 2013 (acervo)

Vou passar direto pelos parques temáticos, porque são muito conhecidos, e por merecerem um texto exclusivo. Mas em se tratando de cinema, impossível não mencionar o personagem Harry Potter e seu universo. Para quem curte, vale a visita aos estúdios da Warner Bros, em Leavesden, Inglaterra. Também é obrigatório mencionar a série 'Game of Thrones', com locações maravilhosas em várias partes da Europa. Outra que precisa de texto à parte.

Se a paixão é por livros, há pelo menos duas maneiras de se fazer guiar por eles. Ou temos um livro ou autor preferido e vamos a determinados lugares relacionados a eles, ou incluímos algumas visitas num roteiro mais amplo.

Continua. Como não?

domingo, 2 de abril de 2017

No esforço permanente para arrumar, organizar, reciclar e desapegar, volta e meia revejo roupas, livros, dvds e mais as mil e quatrocentas coisas que ocupam um espaço muitas vezes não justificável. Isso se aplica também a arquivos em computador ou na nuvem. Quem tem vocação para acumuladora consegue exercitá-la em qualquer lugar e a qualquer hora. No cérebro, inclusive.

Numa dessas reorganizações, vi o livro' Como ser uma parisiense * em qualquer lugar do mundo', de Caroline de Maigret & Anne Berest, Ed. Fontanar. Uma narrativa adorável, com fotografias e desenhos atraentes, e com um tema que mexe com a cabeça de muita gente, porque Paris exerce uma influência cultural que atravessa fronteiras. Política, literatura, cinema, culinária, moda... aparentemente não há nada que não possa fazer uma ponte com a cultura francesa, ou, mais especificamente, com Paris. Ainda que indiretamente.

Por exemplo, na trilogia "Antes do Pôr-do-Sol", "Antes do Amanhecer" e "Antes da Meia-Noite", o primeiro filme capta os personagens principais, vividos pelos atores Julie Delpy e Ethan Hawke num trem, e eles vão para Viena; no segundo, passados dez anos, eles se reencontram em Paris; e no terceiro, o casal está de férias na Grécia. É a personagem feminina, francesa, que, na minha opinião, pelo menos, dá o tom e costura o fio da meada. Gosto muito do primeiro filme, porque Viena é uma cidade muito bonita, mas gosto mais ainda do segundo, que mostra a caminhada dos personagens por Paris. Imagino que minha opinião seja influenciada por minha fascinação pela França e sua bela capital. O que não é relevante aqui.

Antes de passar adiante um livro, sempre dou uma olhada nele para decidir se consigo fazê-lo, se ponho numa pilha indistinta, ou se escolho alguém específico para doá-lo. Depende do tema, do meu apego... No caso, há tanta coisa interessante no livro, do texto em si às "listas", aos temas de cada capítulo e às fotografias e ilustrações. Há até receitas. Detive-me numa lista de "Essenciais", no que se refere à aparência. Sim, o essencial é invisível aos olhos, mas o espelho nos devolve uma imagem que não conseguimos ignorar. Cheguei à conclusão de que nunca vou ser uma parisiense, mas não sofro por isso. Seguem-se alguns dos essenciais.

"A calça jeans: sempre, em qualquer lugar, com qualquer coisa. Tire-a de seu armário e a parisiense se sentirá nua." Calça jeans é realmente um coringa. Mas quanto mais velha fico, mais me lembro da infância e desejo conforto, além de praticidade, o que me faz optar pela malha. Lava-se e pronto. Uma calça preta ou em tons neutros vai com tudo.

Fortaleza de S. Pedro e S. Paulo, S. Petersburgo, acervo.

"A bolsa: não é um acessório, é sua casa, uma zona completa onde você acha tanto um trevo-de-quatro-folhas seco quanto uma conta de luz velha. E se ela é linda do lado de fora, é só para manter as aparências. E que ninguém ouse investigar o que tem dentro dela." Verdade. Cada vez que troco de bolsa é um inferno. Tento levar o mínimo para não sobrecarregar o ombro, e na troca, é um alívio, de tão leve que fica. Não demora um dia, e já está com o dobro do peso. Tudo que é indispensável pesa: carteira, cartão de crédito, cartão do metrô, higienizador para as mãos, comprimido para dor de cabeça, óculos de grau, óculos escuros, lenço de papel, livro, caneta, lápis...

"O blazer preto: aquele que dá um estilo elegante a um jeans meio sujo (o que você usa o tempo todo), aquele que você veste nos dias em que não quer fazer nenhum esforço para se vestir bem, sem que o desleixo seja evidente." Tenho de admitir que o blazer preto realmente enobrece qualquer roupa. Aliás, o blazer preto foi o único do qual não consegui me desfazer.

"As sapatilhas: devem ser o equivalente ao par de chinelos que você nunca compraria. Você não negocia entre conforto e elegância. Para você, é os dois ou nada. Audrey Hepburn nunca foi vista com um par de sandálias papete." Fato. Essa tal "papete" é uma das coisas mais feias que já vi, embora eu lhe inveje o aparente conforto. Lembro que em viagem temos de usar alguns recursos que podem não ser elegantes. Por exemplo, a bota da marca Ugg. Ou similar. Chamo-as de "ugly". São feias mesmo, mas muito confortáveis. E para quem tem de andar por distâncias infindáveis, a elegância deixa de ser o mais importante.

"O lencinho de seda: ele tem mais do que uma função. Primeiro, confere um toque de cor a uma roupa escura, sem o risco de dar um passo fora da cadência na melodia da moda. Além disso, caso chova, você pode usá-lo para cobrir a cabeça, como Romy Schneider. E, às vezes, ele também serve para assoar o nariz da sua filha quando acabam os lenços de papel." Não adianta usar pra proteger da chuva, porque, obviamente, vai ensopar junto com o resto. Mas o lenço ou uma echarpe são providenciais quando se muda de ambiente e o ar-condicionado está no nível congelador. Como alguns ônibus do Rio de Janeiro, que no verão deixam o passageiro passando mal de calor, e no inverno o matam de pneumonia. Assoar o nariz não digo, porque é meio nojento, mas descobri uma utilidade inusitada para o lenço: proteger o rosto do gás lacrimogêneo que a polícia usa e abusa para conter manifestantes populares. Por uma razão ou outra você tem de passar por um lugar que é palco de confrontos. Se puder, evite. Mas quando não dá, lenço/echarpe feito burca, só com um mínimo dos olhos à vista porque não dá pra andar na rua sem enxergar. E passe rápido.

"A blusa branca: ela é emblemática e atemporal." Indiscutível.

"O trench coat: sim, ele não te protege tanto do frio quanto a doudoune, aquele casaco acolchoado à la boneco Michelin. Mas quando vestimos uma doudoune temos a impressão de acrescentar voluntariamente pneuzinhos em volta da nossa cintura." Um dos meus sonhos de consumo, mas nunca tive coragem de fazer o investimento. E a doudoune foi a melhor compra que fiz. Sem mais.

Inverno num ferryboat para Staten Island, NYC - acervo.

"O cachecol enorme: justamente porque você não tem uma doudoune. E graças a toda essa sua mise-en-scène, você acaba ficando com frio." É... Prefiro meu casaco. Mas um cachecol às vezes vem se somar ao casaco. Quem nasce nos trópicos pode custar a se adaptar ao frio.

"Os óculos escuros básicos e enormes. Todos os dias, mesmo quando está chovendo, pois sempre há um bom motivo para usá-los: muita luminosidade, ressaca, choradeira, vontade de criar um ar de mistério." Óculos escuros são realmente imprescindíveis. Especialmente em países do hemisfério sul, muito iluminados. No final das contas, não importa o lugar, não dá pra passar sem eles.

"A blusa larga: você sempre abre um botão a mais e a deixa um pouco solta para que não fique com um ar sério demais. Em geral, você pegou emprestada do seu namorado, não devolverá nunca mais, e a usará mesmo quando, um dia, estiver nos braços de outro homem. Porque o amor passa, enquanto algumas modas persistem." Gosto muito, mas não precisa ser de namorado.

"A camisetinha simples que custa caro. A contradição guia sua vida como a liberdade guia o povo. Você aceita ceder aos modismos mais populares, mas sem abrir totalmente mão do toque de luxo. Por isso você passa horas procurando a camiseta ideal cuja malha fina e um pouco transparente criará o efeito de uma caxemira." Ahn... sou totalmente adepta da camisetinha simples, mas sem esse drama. No momento, tudo que me preocupa é não usar nada que me aperte e mostre as infames protuberâncias que adornam meu corpo. Deprimente.

A capa - acervo.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Das muitas maneiras de se começar ou fazer uma viagem

Triskele ou triskelion

Um dia, por alguma razão, possivelmente por interesse em símbolos, mitologias, história e religiões, descobre-se que existiu um povo que se chamou de celta. Não é bizarro supor que Enya tenha muito a ver com isso. Claro que Enya veio de uma banda irlandesa chamada Clannad, que chegou a gravar uma de suas músicas com Bono, o vocalista da banda U2, também irlandesa. E que teve outras músicas em filmes de bastante visibilidade, como 'O último dos moicanos', com Daniel-Day Lewis, e 'Coração Valente', com Mel Gibson. Acho que estou começando a ver um padrão aqui. Tudo converge para a Irlanda...
Ir da música melodiosa aos símbolos elaborados com nós complexos e fascinantes não é muito difícil. Um desses símbolos é o triskele, ou tripla espiral, talvez mais conhecido por sua aparente simplicidade, afinal, não tem cem nozinhos emaranhados. Ótimo como modelo de tatuagens. Mas os estudiosos não têm uma única explicação para seu significado.
Pode indicar movimentos, uma vez que suas três pontas se posicionam como se estivessem se movendo, e isso representa energias, em particular ação, ciclos, progresso, revolução e competição.
O exato significado dessas três pontas pode diferir, dependendo da era, cultura, mitologia e história. 
Algumas conotações incluem: vida-morte-renascimento, espírito-mente-corpo, mãe-pai-criança, passado-presente-futuro, poder-intelecto-amor e criação-preservação-destruição, só para citar algumas.
Acredita-se que através da combinação dessas áreas obtém-se um significado, que representaria o eterno movimento para se alcançar o entendimento. Vale dizer que outra interpretação seria a dos três mundos celtas, o espiritual, o presente e o celestial.
É aí que começamos a ter outro sonho: conhecer o país que deu origem a essas histórias. Começam os planejamentos, as pesquisas, a reserva de dinheiro... E, claro, em se tratando de dinheiro, nós que nos deixamos fascinar pelos símbolos, descobrimos a deusa da abundância, conhecida como Annan, Anu, Ana ou Danu, uma deusa mãe, e também deusa da prosperidade, morte e gado. 

Influente na Bretanha, Irlanda e Europa na era celta, mais associada com a espiritualidade da natureza, e também com o vento, a sabedoria, a fertilidade e a regeneração na natureza. 
Não consigo imaginar melhores auspícios para uma viagem. Especialmente para um país tão envolto em fantasias, misticismo, sonhos e expectativas.


Annan

A viagem continuaria, e terminaria em outro tom, mais contemporâneo, mas ainda mantendo o tema, ou seja, mitos e fantasias. Lembrei-me de um livro de Monteiro Lobato que li há muitos, muitos anos, ainda criança, provavelmente 'Os doze trabalhos de Hércules', que circula pela mitologia grega sob a ótica de seus personagens contemporâneos (século 20). Talvez estivessem discutindo os deuses gregos, e talvez estivessem se perguntando porque eles não eram mais cultuados. A resposta ficou meio no ar, até porque em se tratando de mito dentro de ficção, não há limites traçados. Ou é como me lembro.

Mas o historiador grego Plutarco declarou que Pan foi o único deus grego (fora Asclépio) que realmente morre. Durante o reino de Tibério (14-37), a notícia sobre a morte de Pan chegou a um marinheiro de nome Thamus, que seguia para a Itália. Uma voz divina saudou-o através da água, e o orientou a contar sobre a morte do deus. Especulou-se que esse seria um indício da chegada do cristianismo. Seja lá o que for, não me convence.

É como naquele filme adorável, 'A história sem fim'. Nele, um menino lê um livro mágico que conta a história de um jovem guerreiro, cuja tarefa é impedir uma tempestade negra chamada o Nada de engolir um mundo de fantasia. A conclusão é óbvia: no momento em que se deixa de acreditar nele, o objeto (ou o sentimento) deixa de existir. 

Os símbolos, os deuses, Harry Potter e todas as histórias e personagens que fizeram parte de nossa vida continuam vivos.













Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...