domingo, 23 de agosto de 2015

Inspiração

Tem gente que tem raízes. Tem gente que tem asas. De uma ponta a outra vale tudo. Quer dizer, a pessoa que por uma razão ou outra se divide entre sua "base" e o resto do mundo. Na maior parte das vezes, dinheiro é o que determina nossas escolhas na distribuição desse tempo. Já na definição dos lugares onde se fica e aonde se vai tem uma parte de dinheiro e uma parte de muitos outros fatores: desejos, sonhos, fantasias, inspiração, aspirações, necessidades, praticidade...

Não me lembro mais porquê um dia eu comecei a sonhar em conhecer a Irlanda. Na década de 1990 cheguei a comprar um guia desse país, mesmo sabendo que ou nunca poderia poder botar os pés lá (questões financeiras) ou que, se isso fosse possível, demoraria muito tempo. Já se passaram quase 25 anos, e ainda não realizei esse sonho.

O que não quer dizer que não devo sonhar. A ciência me dá razão: é melhor gastar com experiências do que com bens materiais. Resolvidas as necessidades básicas, a aquisição de objetos pode dar satisfação imediata, mas não por muito tempo, é o que sugerem estudos psicológicos (http://www.fastcoexist.com/3043858/world-changing-ideas/the-science-of-why-you-should-spend-your-money-on-experiences-not-thing).

Seguem as sete razões para se aplicar as economias naquilo que nos dará mais prazer.

1- Enxergamos o mundo com lentes cor-de-rosa. Ou seja, a não ser que aconteça um desastre real, os pequenos atropelos por que passamos nas viagens perdem a importância quando pensamos no quadro geral e fazemos um balanço da experiência.

2- Nós nos entediamos facilmente. No caso, o tédio chega bem mais rápido pela via do bem material.

3- É mais difícil comparar experiências. Assim, você não se preocupa tanto se fez a melhor escolha ou não, vai ter menos arrependimentos depois, menos preocupações com status, o que significa que as experiências vão estressar menos, e ter mais chance de fazer você feliz.

4- A magia do estado mental que transforma: é o que os atletas chamam de "astral" ou gurus de "estar no momento presente". Esse é um momento/estado essencial para a felicidade.

5- A espera de (uma experiência) é fantástica: melhor que bens materiais, porque de alguma forma mágica dão prazer antecipado grátis.

6- A experiência faz o homem (e a mulher): elas são melhores que bens materiais, porque tendemos a pensar nelas como algo que nos conduz e faz parte do que somos.
Essa é uma verdade que foi levada brilhantemente à tela no filme 'Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças'. O que somos sem as nossas experiências, sem as nossas memórias?

7- Somos animais sociais. Queremos ser ouvidos. Experiências têm mais chances de nos fazer felizes que bens materiais, porque nos aproximam de outras pessoas. Uma das razões para isso é que elas resultam em melhores conversas do que os bens materiais. É mais provável que você seja feliz e que eu vá te ouvir quando você fala do que andou fazendo do que quando fala do que possui.

Conclusão: vale sonhar. Por isso, se não posso viajar, tenho meus filmes favoritos. Alguns contam histórias que são quase contos-de-fadas, outros se passam em lugares que já visitei, e servem para me fazer lembrar essas viagens, fazendo camadas sobre camadas, do que vivi e não vivi, e outros me fazem sonhar. Como The Matchmaker (http://www.imdb.com/title/tt0119632/?ref_=nv_sr_1), por ex., história da assistente de um senador de Boston, EUA, que busca a reeleição, e a envia a uma cidadezinha (condado) da Irlanda para desencavar seus antepassados. As filmagens foram feitas em Galway. Espetacular.

Cliff of Mohar - Galway (Fonte: Pixabay / download gratuito)

Vou continuar sonhando. Porque, como diz a personagem de Angelina Jolie em outro filme de que gosto, 'Uma vida em sete dias' (http://www.imdb.com/title/tt0282687/?ref_=fn_al_tt_1), "viva cada dia como se fosse o último, porque um dia... será".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...