quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Bélgica e a memória

Provavelmente, todo mundo um dia já perdeu arquivos em computador ou outra mídia de armazenamento. Às vezes nem é tão ruim, especialmente para pessoas acumuladoras. Como eu. Não estou falando de trabalho ou estudo. Há documentos insubstituíveis, e sua perda tem sérias repercussões. No entanto, mesmo aquilo que é pessoal pode fazer falta. Como fotos de filhos, pessoas queridas que já se foram, ou viagens que têm pouca chance de se repetir.

Estou há mais de uma semana procurando as fotos de minha viagem à Bélgica, e nada. Para quem diz que as pessoas exageram tirando foto de tudo, que é melhor prestar atenção, porque a memória fica, replico com a desatenção e a desmemória que dão cabo de tudo. Além do fato de fotografia ser arte, também tem impactos inusitados. Na memória. E no aprendizado. Fotografando-se, lembra-se. E fazem-se conexões.

Na impossibilidade de se recuperar o que se perdeu, vou recorrer a fragmentos de lembrança.

A primeira recordação é a chegada em Bruxelas. Chovia, e eu, que nunca me acho, tentando localizar o hostel em tempos de pré-internet. Não que faça muita diferença, pois não consigo entender o mapa do Google, mas saber que ele existe e está disponível diminui a ansiedade da chegada em um lugar estranho. O guarda-chuva, claro, estava dentro da mala.

Achado o hostel, deparo com um brasileiro. Não fui eu que o reconheci, foi o contrário. Ele viu minha mala "embrulhada" (aqueles plásticos que supostamente protegem a dita cuja), e afirmou que só brasileiros adotavam essa prática. Não era verdade, mas serviu de introdução, o que não era muito comum em minhas andanças sozinha. Serviu também para garantir um convite para me juntar a um grupo que ia a um "botequim" à noite. E a companhia de outro brasileiro para ir a Ghent.

Instalada, e já com o guarda-chuva na mão, fui andar pela cidade. Descobri uma rua comercial, entrei em lojas, e provei meu primeiro waffle com chocolate belga, na rua mesmo. A chuva serviu para lavar as mãos.

Depois a Grand Place, um Patrimônio Cultural da Humanidade, com toda razão, pelo conjunto arquitetônico excepcional. É tão bonita, que fui buscar uma foto na Wikipedia, para ilustrar o texto.

Fonte: By Celuici - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=70059063

Depois de circular por ali, fui encontrar o Manneken Pis, ou o popularmente chamado Manequinho, que recomendam tocar para garantir o retorno à cidade. Porque tanta intimidade com uma escultura belga? Porque em Botafogo, no Rio de Janeiro existe uma similar, inspirada nessa de Bruxelas. Quem quiser conhecer a história do nosso menino, pode ler no blog http://mundobotafogo.blogspot.com/2011/04/historia-do-manequinho-i.html.

O tal botequim era o Delirium Café, que entrou no Guinness em 2004, por oferecer 2004 variedades de cervejas. Ali eu provei minha primeira cerveja de chocolate (cervejeiros torcem o nariz para ela), e nunca mais achei igual. Até ano passado, quando visitava o museu do chocolate, em Paris (Choco-Story, e descobri que tem também em Bruxelas), e trouxe uma para casa. Esse bar fica num beco perto da Grand Place, e me lembra um pouco o Arco do Teles. Vale também mencionar que o Delirium abriu uma filial em Ipanema, Rio de Janeiro (https://www.deliriumcafe.com.br/). Fui lá e gostei muito. Não me recordo se procurei minha cerveja de chocolate no menu.

Eu sugeriria ainda provar a batata frita, cuja “invenção” se diz que é belga, mas disputada com a França.

De Bruxelas, peguei um trem para Ghent, onde passeei pelas ruas que mantêm a arquitetura medieval bem preservada, e visitei a catedral medieval de S. Bavo, com mais de 1000 anos, para conhecer a famosa obra dos irmãos Van Eyck. Novamente, recorri à Wikipedia para obter uma fotografia.


By Jan van Eyck - Web Gallery of Art:   Image  Info about artwork, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4484562

A vista do alto do Ghent Belfry (campanário), também Patrimônio Cultural, é magnífica. Achei um site interessante sobre a cidade (https://visit.gent.be/en).

Depois continuei até Bruges, também de trem. É cidade para se andar a pé, especialmente pelo centro (Grote Markt). Tenho uma vaga ideia de ter admirado as vitrines das lojas com peças delicadas e maravilhosas de renda e chocolates artesanais.

Logo me decidi a fazer o passeio de barco. Mesmo antes de pensar em poupar esforço físico, me intrigou esse método de explorar a cidade, e realmente faz sentido, por causa dos canais - Bruges é conhecida como a “Veneza do Norte” e tem uma arquitetura gótica e medieval excepcional. Uma das razões pelas quais lamento a perda das minhas fotos é que fiz alguns vídeos do passeio, toscos, é verdade, e registrei um episódio ímpar: num dos prédios, um cachorro fofo se debruçava na janela, e o guia logo comparou-o a Julieta. Foi bem engraçado.

Cheguei a ir ao guichê onde se vendiam ingressos para subir a torre de onde se pode ver a cidade do alto, mas diante da informação de que teria de subir mais de 300 degraus, desisti no ato.

Avaliando pelos meus olhos de hoje, talvez me interessasse por fazer um passeio guiado como há em muitas cidades. Como esse que achei por acaso no Google, mas não experimentei (https://www.bravodiscovery.com/brussels-tours?gclid=Cj0KCQiAtP_iBRDGARIsAEWJA8jTS2ktu6vVnFLq5owU5USdqX9kuZ5zxmp_cweW5LsAfWkg31cDrLMaAl_KEALw_wcB). Às vezes vale a pena andar com um guia que conhece os detalhes e história de um local.

Minha viagem terminou na plataforma do Eurostar, excelente maneira de viajar, que escolhi para ir para Londres.

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