quinta-feira, 12 de julho de 2018

Atualizando roteiro para Londres, parte IV



Se decidir ir ao Palácio de Buckingham, pode optar por apenas fotografar seu exterior. Se quiser assistir à troca da guarda, pode confirmar dia e horário no site https://www.changing-the-guard.com/datesandtimes.html, ou visitá-lo (https://www.royalcollection.org.uk/visit/the-state-rooms-buckingham-palace). Não fui, mas conheço quem tenha feito e gostado. Uma amostra: https://www.royal.uk/virtual-tours-buckingham-palace.
Depois caminhe pela The Mall (a avenida em frente ao Palácio) em direção à Trafalgar Square. Aproveite para entrar no St. James’s Park, admirar a flora e a fauna, e respirar ar de melhor qualidade. Aliás, há várias áreas verdes pela cidade, todas muito bonitas. Podendo reservar um tempinho para andar por elas, vale a pena. Sou essencialmente urbana, mas sei que sem esses oásis na cidade, ela fica insuportável. Uma árvore faz toda a diferença.
Na Trafalgar Square fica a coluna de Lord Nelson (que derrotou Napoleão na Batalha de Trafalgar), e tem uma história bem interessante (https://www.london.gov.uk/about-us/our-building-and-squares/trafalgar-square#). Destaque para a excelente National Gallery, que é daqueles museus que merece repetidas visitas. E ao lado, a National Portrait Gallery (https://www.npg.org.uk/), que eu aprecio por uma razão muito especial: tem o único retrato considerado autêntico de Jane Austen, minha escritora favorita, feito por sua própria irmã. Mas há muito mais para se ver, e o restaurante é excelente.
O gavião na National Gallery, 2009 - acervo

Dali pode-se seguir para Covent Garden. Vá pela Strand e vire à esquerda numa ruazinha chamada Southampton Street, que termina no Covent Garden Market. Ali existem várias lojinhas e restaurantes; o que não faltam são opções de lugares pra almoçar. A Royal Opera House e o London Transport Museum ficam ao redor do mercado.
Covent Garden Market, 2011 - acervo
Pelo lado oposto do que você usou para chegar ao mercado, suba a James Street até chegar na Long Acre, que é uma rua cheia de lojas de marcas conhecidas. De lá, vire à esquerda e caminhe sempre reto, e quando chegar em um cruzamento que parece um tanto quanto confuso, siga pela Cranbourn Street (que é como uma continuação da Long Acre). Logo depois, você vai atravessar a Charing Cross Road e seguir reto, mas não deixe de andar por essa rua quando tiver oportunidade. A Charing Cross Rd tem uma história interessante, e já foi conhecida por ser a rua das livrarias. À medida que o tempo foi passando, elas foram desaparecendo, infelizmente, mas a fama foi registrada em um belíssimo filme, '84, Charing Cross Road', intitulado no Brasil 'Nunca te vi, sempre te amei'. É baseado num livro, que tem continuação. Indico ambos. Na minha primeira viagem a Londres, foi o primeiro lugar que quis conhecer, e ainda encontrei algumas livrarias.
Chega-se à Leicester Square, a praça dos cinemas que recebe os lançamentos de filmes. Não chama a atenção, mas é daquelas praças como a Cinelândia, no Rio de Janeiro, ou a Times Square, em NYC, e ali costumam acontecer aqueles eventos chamados de “tapete vermelho”. Na praça há uma cabine TKTS, como a da Times Square, que vende ingresso de teatro com desconto. Para quem gosta, é uma boa opção. As matinês têm ingresso mais barato. O Time Out costuma dar as dicas do que está em cartaz e eventuais promoções.
Atravesse a Leicester Square e siga para Piccadilly Circus. Há várias lojas interessantes ali, como a LillyWhites (uma loja de esportes), um supermercado de que gosto muito (o Whole Foods) para comprar orgânicos, e uma boa filial da Boots, que é uma farmácia que tem uma rede espalhada pela cidade (menciono porque adoro farmácias - cada um com sua mania). A Piccadilly Circus é famosa por seus painéis luminosos e a fonte com a estátua de Eros. Como é um cruzamento importante, conectando Piccadilly, Regent Street, Haymarket e Coventry Street, tome cuidado ao atravessar a rua e nunca se esqueça, ali ou em qualquer parte, que o sentido dos carros é o contrário do Brasil. Demora mas a gente se acostuma com o fato de que a direção nos carros britânicos fica no lado direito.
Uma foto antiguinha da Picadilly Circus no Halloween, 2009 - acervo
Encerrando na rua Piccadilly, dentre outros lugares interessantes, fica a Fortnum & Mason. O que tem ali? O andar térreo está sempre lotado, pois é um mercado gourmet, e tem doces, geleias, vários tipos de mel, conservas, biscoitos, chás, cafés, bolos… Meus olhos brilham quando entro em lugares assim, porque adoro chá e tudo que tem conexão com essa bebida tradicional. Londres evoca chá, e chá evoca Londres. Dá pra tomar chá em qualquer lugar na cidade, mas sempre acho que vale a pena selecionar um que seja mais tradicional numa ocasião especial.
A F&M oferece uma ótima experiência (https://www.fortnumandmason.com/) e tem um ótimo chá (meu favorito é o Earl Gray, e o deles é muito bom). O jornal The Telegraph fez uma seleção dos 10 melhores chás da tarde (https://www.telegraph.co.uk/travel/destinations/europe/united-kingdom/england/london/articles/Londons-ten-best-afternoon-teas/), e eu gostaria de testar todos, mas provavelmente o orçamento não permitiria. Em todo caso, o que eu posso dizer da F&M é que vale a pena o que se paga. O atendimento é excelente, a comida idem, e apesar do luxo, não há esnobismo. Esteja você vestida luxuosamente ou como uma simples turista, o bom atendimento impera. Nota 10.
Tea time, 2017 - acervo

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Atualizando roteiro para Londres, parte III

Um passeio clássico pela beira do Rio Tâmisa

Saia na estação Westminster (Underground).

Atravesse a Westminster Bridge e siga em direção ao Big Ben, mas antes passe por baixo da ponte (literalmente) e veja o Parlamento de frente. A Parliament Square concentra Parlamento e Big Ben e também a Westminster Abbey. Se quiser entrar na Abadia, verifique os horários de funcionamento no site. E a visita ao parlamento é muito interessante (https://www.parliament.uk/visiting/).

Parlamento, 2015 - acervo

London Eye: É possível comprar ingresso com antecedência pela internet, e até dá pra pagar mais pra não ter que enfrentar fila. A volta completa leva meia hora. Independente do horário, é sempre um bom programa. Melhor com tempo bom. (Existe um ingresso ‘combo’ com o Museu de Cera de Madame Tussaud, que dá um bom descontinho. Não é todo mundo que curte, mas eu penso que é daquelas coisas que se deve/pode fazer pelo menos uma vez na vida, e o de Londres é o melhor.)
Bem perto da London Eye, fica o Southbank Centre, complexo cultural que engloba o Royal Festival Hall, Hayward Gallery, Queen Elizabeth Hall, BFI e mais lugares interessantes.
Continue na beira do rio e siga até chegar à Tate Modern. Vai passar em frente ao Globe, que era um teatro em Londres associado a Shakespeare, construído em 1599 por sua companhia de teatro e destruído em 1613 por um incêndio. Em 1614 um segundo teatro surgiu no mesmo local e depois fechado. A atual reconstrução abriu em 1997, a cerca de 200 m do local original. Vale a visita.
Você pode seguir para a Tate, ou atravessar a Millenium Bridge e ir até a St. Paul’s Cathedral, do outro lado do rio.
Vamos fazer uma pausa aqui para mencionar as pontes de Londres. Onde há um rio relevante e icônico em uma cidade histórica, haverá pontes. E algumas mais significativas que outras. Pontes me lembram uma cena no filme Sabrina (acho que a versão mais moderna, com Harrison Ford e Julia Ormond), em que ela fala de Paris, e as 23 pontes sobre o rio Sena. Uma delas será a favorita. Em Londres, a minha é a Tower Bridge. Nunca deixa de me fascinar.
“I used to walk everywhere in Paris. I used to walk from Montmartre to the center of the town. Along the Seine, there's a four-mile walk... that goes from Île Saint-Germain to the Pont d'Austerlitz. It takes you past all the bridges of Paris... twenty-three of them. And you find one you love and go there every day... with your coffee and your journal... and you listen to the river.

What does it tell you?
That's between you and the river.”
Tradução livre: "- Eu costumava caminhar por toda a parte em Paris. Costumava andar de Montmartre até o centro da cidade. Ao longo do rio Sena existe um caminho que tem 4 milhas (cerca de 6,4 km)... que vai da Île Saint-Germain à ponte Austerlitz. Ele te conduz por todas as pontes de Paris... 23 delas. E você encontra uma que ama e vai lá todos os dias... com seu café e seu jornal... e escuta o rio.
- O que o rio te diz?
- Isso é entre você e o rio.."
A Millenium Bridge, além de te fazer ir do lado do Tâmisa que tem o Globe ao lado que tem a catedral de St. Paul, faz parte da saga de Harry Potter. Ela realmente tremia como no penúltimo filme, mas li que isso não acontece mais.
Se preferiu ir à St. Paul’s, pode retornar e ir à Tate. Mesmo que você entre na St. Paul’s, volte pela mesma ponte e continue a caminhada pelo lado sul. Ambos os lugares são maravilhosos, mas fica mesmo a seu critério – prefere museus ou igrejas?
St Paul's Cathedral, 2015 - acervo
A catedral vale totalmente a visita. Por mais de 1400 anos permaneceu no local mais alto da cidade. Habitual centro de eventos nacionais, o prédio atual é pelo menos o quarto no local, e é considerado a obra-prima do famoso arquiteto Sir Christopher Wren. Construída entre 1675 e 1710, depois que a anterior foi destruída no grande incêndio de Londres, passou a funcionar a partir de 1697. Ali acontecem casamentos reais, como o de Lady Diana e o príncipe Charles. (https://www.stpauls.co.uk/)
Siga para a Tower of London (https://www.hrp.org.uk/tower-of-london/#gs.jiu9ZLU). Construída em 1070, por William, the Conqueror, já foi fortaleza, palácio e prisão. Adorei a visita guiada, e ali fica a casa onde Ana Bolena ficou seus últimos dias e de onde seguiu para a morte. Claro que a bateria da câmera acabou exatamente ali, e na época não havia os recursos atuais. Fiquei sem a foto. Preste atenção nas jóias da coroa. A passagem é rápida. Há um ótimo episódio de Sherlock onde Moriarty rouba as jóias. Adoro. 
Tower of London, 2008 - acervo
Em seguida vá até a Tower Bridge. Alguns a rotulam como "a ponte que abre e fecha". Eu fico com a beleza arquitetônica. Construída em 1894, é a ponte mais icônica de Londres. Tem 244 m de comprimento, e cerca de 40 mil pessoas passam por ela diariamente. Existe um tour, mas eu sempre me contentei só em atravessar e apreciar, de um lado ou de outro.
Embankment, em frente à Tower Bridge, 2008 (um dia eu fui assim) - acervo
Atravesse a Tower Bridge e no final dela, do lado sul, desça as escadas pra ir para o mesmo nível do Rio Tâmisa. Antes de ir pra direita (direção Waterloo), vá para o outro lado e entre na rua Shad Thames. Ali há vários cafés/restaurantes caso queira parar para um cafezinho ou um brunch.
Continue andando na “beira” do Rio e verá ícones londrinos tanto do “lado de lá” como no lado em que está andando – um dos primeiros prédios da caminhada que vai chamar atenção é a prefeitura de Londres. Lembre que as várias pontes têm suas próprias histórias.
Perto da London Bridge fica o prédio mais alto de Londres, The Shard. Dá pra subir nele e ter uma vista de 360⁰. Minha opinião: achei sem-graça. A não ser que você queira só ter a vista do alto. Mas perde na comparação com o One World, em NYC, e a Tour Montparnasse, em Paris, por exemplo. Achei tão mais interessante andar na London Eye…
O Tâmisa (Thames River) visto da London Eye, 2011 - acervo

Atualizando roteiro para Londres, parte II

O difícil é decidir por onde começar. Algumas pessoas começam pelas áreas adjacentes ao seu hotel ou residência. Mas é interessante tentar planejar o dia mais ou menos de acordo com a proximidade dos locais que se quer visitar (para otimizar o tempo). Seja como for, há coisas a fazer que vão exigir o uso de transporte, como, por ex., Abbey Road.

Então. Se você é deslumbrada como eu, pode querer começar por uma visão de impacto. Nesse caso, pegue o metrô e saia na estação em frente ao Big Ben. Eu acho espetacular. E comece daí o dia, andando pela beira do rio Tâmisa.

Mas se o dia vai começar depois do almoço, pode querer aproveitar a vizinhança. Se você estiver residindo/hospedada nas imediações da Russell Square, o British Museum fica a cerca de 15 minutos (http://www.britishmuseum.org/). Vá mais de uma vez.

British Museum - acervo

Estou raciocinando como se fosse expert no metrô (Underground ou Tube, é bom se acostumar). Não é o caso. Eu olho o mapa mesmo: https://tfl.gov.uk/maps/track/tube. Só um detalhe que não se pode esquecer: para se sair do metrô, o bilhete ou cartão tem de ser inserido da mesma forma como se faz para entrar. E ele tem de estar à mão ou em fácil acesso, porque pode haver fiscais no trem. Se você não tiver o passe ou se estiver na zona errada (há diferentes preços, e há pessoas que compram passes para trajetos mais baratos para “economizar” ou mesmo porque não têm dinheiro), pode levar uma multa nada barata.

O metrô é sempre a melhor opção por não estar sujeito a engarrafamentos, que são comuns. Claro que pode ser necessário trocar de linha para se chegar ao destino, mas é mais rápido. Porém, havendo tempo e curiosidade, vale pegar um ônibus (usando o Oyster), daqueles vermelhos tradicionais, de dois andares, ir para o segundo andar, e escolher, se possível, um lugar que permita uma boa visão da rua.

Atualizando roteiro para Londres, parte I

Pediram-me um roteiro para Londres, sob a justificativa de que eu conhecia bem a cidade. Protestei, porque não quero passar por propaganda enganosa, mas a amiga levantou um argumento intrigante, que me convenceu. Ela me disse, dentre outras coisas, que por gostar tanto da cidade, teria uma visão diferenciada, o que poderia ser útil. No final das contas, todos nós que viajamos alguma vez procuramos as indicações que nos sejam úteis e nos façam conhecer um pouco sobre aquilo que queremos ver, além de nos permitir fazer as necessárias seleções, já que turistas costumam ter pouco tempo e precisam aproveitá-lo ao máximo.

Costumo contar com a companhia e a ajuda luxuosa de uma grande amiga com quem tenho viajado, mas enquanto ela anda light pela vida e tem uma memória melhor que a minha, eu sou acumuladora, guardo muita coisa que me faça lembrar os locais que visitei (mapas, ingressos de museus, folhetos), além de arquivos com roteiros e informações relevantes. Resolvi então rever tudo que eu tinha escrito sobre essa cidade que eu adoro visitar, botar em dia as informações. Bom exercício de organização e oportunidade para visitar na memória os bons momentos e lugares. Preciosa internet. 

Aos trabalhos, então.

Assim que se instalar, compre seu cartão Oyster, para usar no transporte público. Serve para metrô e ônibus. As tarifas variam de acordo com as zonas. Cheque no site para os procedimentos: https://tfl.gov.uk/fares-and-payments/oyster/what-is-oyster
Turistas podem obter informações interessantes também no site https://www.aprendizdeviajante.com/?s=metr%C3%B4+de+londres.

Informações úteis:
Embaixada do Brasil em Londres: http://londres.itamaraty.gov.br/pt-br/
Endereço: 14-16 Cockspur St, St. James's, tel +44 20 77474500
Site oficial de turismo do Reino Unido no Brasil: https://www.visitbritain.com/br/pt-br#sxvREpWpiIXlrUt0.97

Uma busca no Google sobre as atrações de Londres dá 4,9 milhões de resultados. Provavelmente, cada link indicará as mais interessantes e um número igual de roteiros. Há os sites que indicarão ou tentarão indicar os lugares diferentes, sugerindo que o roteiro turístico não é tão cool. Acho bobagem. Sou daquelas que acha que há coisas básicas que devem ser feitas e lugares tradicionais têm de ser visitados. Outros eu dispenso por opção, como a Estátua da Liberdade ou fazer o tour no Palácio de Buckingham. Mas como não ir ao MET, ao Central Park, ao Big Ben, ou a Notting Hill?

Big Ben, 2015 - acervo

Os roteiros dependem, então, das preferências pessoais. Tem Londres para todos os gostos. O meu é pautado pela cultura e pela história. Um museu sempre vai me chamar a atenção. O que não me impede de ser fascinada por ícones pop como Harry Potter, por exemplo. Daí a alegria de saber que a Warner tem um estúdio a pouca distância de Londres, onde se pode passear pelos cenários e objetos ligados aos filmes da saga.


Warner Bros Studio, 2015 - acervo

Parti de uma sugestão de 5 dias, combinando minha experiência e gosto pessoal com indicações diversas. Já adianto que se trata de um roteiro compacto, porque turistas sempre ficam ansiosos para encaixar tudo que for possível por causa do tempo limitado que têm. Mas como aprendi que frequentemente não se consegue dar conta de tudo que se pensa e se põe no papel, fica a critério de cada um segui-lo ou tentar segui-lo fielmente.

Quem vai permanecer por tempo prolongado já pode se dar ao luxo de flexibilizar e expandir qualquer roteiro, ou simplesmente flanar. Que eu acho particularmente a melhor forma de se conhecer um lugar. Sempre fiz muito isso, mesmo na minha cidade, já que viajar é um prazer caro. O que eu não deixo de fazer é pesquisar um pouco antes de sair. Não vejo outra maneira de descobrir que um lugar onde existe um prédio moderno ou mesmo um vazio tem uma história interessante.


sábado, 7 de julho de 2018

Paixões: Klimt

Imagine que você tem alguma paixão, não por uma pessoa, mas por um artista ou uma música ou um lugar. Não sei se existe alguém que não tenha pelo menos uma preferência por alguém ou algo. Não falo da experiência estética pura e simples, mas do que desperta emoção. No meu caso, cito Jane Austen, Klimt e Beethoven. Não é um sentimento genérico. São certas experiências certeiras como flechadas de Cupido. É visitar Chawton, a última residência de Jane Austen; ou ouvir a Nona Sinfonia de Beethoven; ou parar estatelada diante da obra 'O Beijo', de Klimt... e chorar. Isso para uma pessoa que não tem esse hábito. 

Eis que se entra num local divulgado como "centro de arte digital" para se vivenciar uma experiência de imersão em obras de arte, dentre as quais as de Klimt. 

Pausa para a informação enciclopédica. Gustav Klimt, nascido em 14/7/1862 e morto em 6/2/1918, foi um pintor simbolista austríaco, e membro proeminente do chamado movimento artístico Secessão de Viena. As obras de Klimt incluem pinturas, murais, desenhos e outros objetos de arte, e seu principal objeto era o corpo feminino, ainda que pintasse também paisagens. Uma de suas grandes influências foi a arte japonesa. Ficou famosa sua fase dourada. Diz-se que viagens a Ravenna e Veneza, conhecidas por seus belos mosaicos, inspiraram sua técnica e suas imagens bizantinas.

Não sei a razão que me levou a gostar desses artistas. Não sei quando eles ganharam esse status de favoritos no meu gosto. Não sei usar linguagem erudita ou técnica para descrever qualquer de suas obras. Mas sei que eles vieram e ficaram.

E por isso, mergulhar na obra de Klimt, ser rodeada por ela, não em pequenas telas estáticas pregadas na parede (embora estas possam ser intensas, como dirá quem se aventure a contemplar 'O beijo', no Belvedere, em Viena, ou o retrato de Adele Bauer, na Neue Gallery, em Nova York), mas ocupando todo o espaço disponível, paredes, tetos, chão, em constante movimento, surgindo e se dissolvendo ao som da música de Beethoven, é uma experiência poderosa. Emocionante. De deixar qualquer um boquiaberto.

Se pudesse, iria lá não uma, mas dez vezes. Ou mais. Seria ótimo se tivesse o lugar só para mim, mas não havendo o que fazer a esse respeito, vivamos a imersão plena. 

Adele Bloch-Bauer II (foto acervo)

Tree of Life (acervo)

Atelier des Lumières 2018 (acervo)

O movimento (acervo)

Atelier des Lumières 2018 (acervo)


O Beijo (acervo)

Atelier des Lumières 2018 (acervo)

Atelier des Lumières 2018 (acervo)

Atelier des Lumières 2018 (acervo)

Adele Bloch-Bauer, the Woman in Gold (acervo)




quinta-feira, 5 de julho de 2018

Chocolate

O caminho do chocolate (foto do acervo)

Às vezes penso que a vida só fica interessante quando viajo. Nem vou especular sobre os possíveis motivos para isso. Imagino que seja pela mesma razão por que gosto de ler. O dia-a-dia é tão tedioso ou algumas vezes tão ruim que tentamos encontrar uma forma de fugir dele. Não vejo melhor forma de fazer isso que recorrendo à arte, à literatura, ou, quando possível, às viagens. A gente sabe que tem que voltar, cair na realidade, mas enquanto se transita por um mundo diferente, o resto fica em compasso de espera. Ainda estou esperando a oportunidade de testar essa outra realidade por tempo mais prolongado. Enquanto isso não ocorre (minha esperança ainda não desapareceu), aproveito as ocasiões em que me vejo diante daquilo que entendo como o melhor que os humanos podem produzir. Aprecio a beleza natural, mas sou, definitivamente, uma pessoa urbana. 

Consideremos essa invenção maravilhosa que é o chocolate, que vem lá do México, com evidências de seu uso em 1900 a.C. pelo povo Olmeca. O 'kakawa' dos Olmecas virou 'chocolatl' na linguagem dos Astecas, e daí seguiu para a língua espanhola e para o mundo. Pensamos em chocolate como as barras, trufas, a bebida quente ou gelada, mas nas origens não era assim. Mesmo hoje é difícil imaginar que aqueles pedacinhos super amargos que resultam do processamento das sementes acabem virando uma daquelas delícias que conhecemos hoje.


Chocolate: a origem (acervo)

Chocolate pode engordar, causar alergia, conter propriedades antioxidantes, quem sabe proteger o sistema cardiovascular. Tudo depende da quantidade. Fala-se em "vício". Será? Chocolate é versátil. Os maias o misturavam com pimenta e baunilha, para conter seu amargor. Era líquido e considerado afrodisíaco. Sem contar que era uma iguaria para as elites, e usado até como moeda de troca muito valiosa. Outros ingredientes foram adicionados ao 'chocolatl' ou 'xocolatl', como açúcar de cana, canela e anis, para melhor adaptá-lo ao paladar dos invasores europeus. Na Espanha, adicionou-se açúcar, ou mel, ou ainda baunilha. A baunilha vinha junto com especiarias, para acentuar seu gosto. E, aparentemente, dar dor de barriga. 

Uma receita azteca: vai uma pimentinha aí no seu chocolate? (acervo)


O chocolate ganha um adicional: o açúcar (acervo)

O chocolate conquistou a Europa. E aumentou o trabalho escravo entre o séc. 17 e o 19, já que o processamento do cacau era essencialmente manual nessa época. Desenvolveram-se processos para essa atividade, inclusive a descoberta do chocolate sólido, e vários nomes surgiram e se consolidaram nessa indústria. Infelizmente a exploração do trabalho continua. O maior produtor de cacau, a Costa do Marfim, tem milhares de crianças trabalhando na produção, e afirma-se que elas possam ser vítimas de tráfico ou escravidão. 30% das crianças com menos de 15 anos na África subsaariana são trabalhadoras, a maioria em atividades de agricultura, aí incluída a cultura do cacau. A maior parte dos grandes produtores de chocolate, como a Nestlé, compra cacau na bolsa de commodities onde o cacau marfinense é misturado com outros.

Em 2009, uma organização britânica afirmou que 12 mil crianças tinham sido traficadas em fazendas de cacau na Costa do Marfim. Essas crianças escravizadas estariam trabalhando em condições difíceis e abusivas.

Como pode algo que nos dá tanto prazer causar tanta dor? Veja em https://www.greenme.com.br/viver/especial-criancas/2469-9-multinacionais-do-chocolate-que-exploram-criancas.


Às vezes a realidade nos cutuca quando estamos à toa, flanando ou comendo um chocolate. Não vou deixar de pensar que viajar, seja como for, é uma experiência que só agrega. Eu posso (e devo), por exemplo, deixar de comprar produtos dessas marcas. É uma pequena ação, mas que se multiplicada pode fazer diferença.

Prazer é melhor com consciência (acervo)

É viajando também que nos aproximamos da história que apenas conhecíamos dos livros. Museus são uma das melhores maneiras de fazer essa ponte. Não há somente museus com obras de arte, pinturas, esculturas, etc. Há museus muito específicos, como aqueles dedicados ao chocolate. Nem sabia que existiam, mas já pude conhecer dois. Um em York, Grã-Bretanha, e outro em Paris. Ambos interessantes e que nos conduzem pela história dessa iguaria, mas o de Paris vai além, pois nos apresenta peças históricas relacionadas ao chocolate. Dentre outras, livros, cerâmicas, xícaras, descrições, e uma ótima demonstração de como fazer um bombom. Sem esquecer de abordar o aspecto social e político, ao se alinhar à Rainforest Alliance, entidade que apoia a biodiversidade e a preocupação com trabalhadores e consumidores. 

Guardar o espírito crítico é essencial, e degustar vários tipos de chocolate da melhor qualidade é divino. 







Fotos do acervo pessoal
Choco-Story - Paris 2018



terça-feira, 12 de junho de 2018

Viajar é algo mágico

Você planeja uma viagem, e algo acontece que tem o poder de atrapalhar seus planos, temporária ou definitivamente. Se pararmos para pensar, as possibilidades são muitas. Mau tempo, greves, condições médicas... Sou supersticiosa: não conto para ninguém até praticamente o retorno. Exceto, naturalmente, os familiares mais próximos. Aliás, para isso existem reservas que podem ser canceladas. Recomendo. Ou à decepção se juntará o prejuízo. 

Mas de tudo que pudesse imaginar, certamente não acreditaria em um pé fraturado. Quando então se aprende que um quinto metatarso pode fazer estragos jamais cogitados. Se eu fosse aquele jogador famoso, precisaria de cinco psicólogos para me fazer entrar em campo outra vez. Você encara um médico na emergência que anuncia uma imobilização de dois a três meses. Outro tanto de fisioterapia. E você vê aquele dinheirinho que se esforçou tanto para ganhar voando pela janela. Cabe recurso: uma segunda opinião ameniza o desastre. Um mês e com fisioterapia você pode viajar. Não é tão simples assim. A imobilização forçada tem consequências sérias para quem já tem uma certa idade, e sofre de alguns problemas de coluna. Você vai ou fica?

Eu fui. A bagagem cheia de remédios. Não foi fácil. Anda, senta, alonga, levanta... Nessa hora, mesmo se tratando de uma cidade que é melhor percorrer a pé, há que ceder à necessidade e à praticidade: vamos de Uber. 

A compensação vem na forma de um coração que fica muitas vezes mais quentinho, de tantas maravilhas experimentadas. Mesmo que a dor se instale depois e não dê sinais de partir. Quem pode vivenciar o Atelier des Lumières (http://www.atelier-lumieres.com/) e não ficar absolutamente deslumbrada? Só me resta torcer para a recuperação plena, mas essa experiência ninguém me tira. Com um cérebro saudável, óbvio.


Imperdível. 

Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...