segunda-feira, 3 de março de 2008

Memória

Em A Outra, de Woody Allen, na legenda traduzida, a personagem de Gena Rowlands se pergunta, em uma hora: saudade é algo que se tem, ou algo que se perde? Ñ lembro como era no original. Anotei em algum papelzinho soterrado nos meus milhares de papeizinhos e recortes. Juntando. Acumulando. E enlouquecendo. Vou descobrir em breve. Achei o filme nas Lojas Americanas, em promoção.
Pois a memória, agora pensei, é algo que se tem, e se perde. Em maior ou menor grau. Esse tema vem me assombrando. Poderia dizer que é por causa de minha mãe, que tem o Mal de Alzheimer. Mas sempre me preocupou a possibilidade de ficar louca. Sério. Déa tinha esse plástico no carro: Of all the things I miss, my mind is the one I miss most. Mais ou menos isso, dando o desconto para o inglês capenga. De tudo que eu perdi e sinto falta, a mente está no topo. Tradução tb capenga. Acho q dá para fazer uma idéia. E era um assunto q eu sempre discutia. O q seria de mim sem minha mente? Bem, na verdade, nada. A ñ ser que o espírito esteja lá presente, lúcido, assistindo à deterioração do corpo e a incapacidade da mente. Como num castigo à la Pirro ou Prometeu.
Depois que eu descobri q existia uma doença chamada demência, q este ñ era apenas uma expressão figurada, e q o Alzheimer era uma de suas vertentes, comecei a achar q os meus esquecimentos indicavam uma forma precoce do Mal. Agendei um especialista, q me aplicou testes cognitivos, e garantiu q estão ótimos, e q a forma precoce é raríssima, e genética (certeza quanto à primeira afirmativa, quanto à segunda, dúvida).
Agora eu analiso tudo sob o ponto de vista do efeito da idade: estou esquecendo isso ou aquilo por causa da idade? Ou seria o estresse? Ou neurônios em curto-circuito? Nomes se esvaem, idéias... hoje de manhã caminhava em direção à estação, e me veio um título e uma idéia para desenvolvê-lo aqui q me pareceu genial. Bem... pelo menos me agradou, me inspirou, o q eu ñ tenho sentido há algum tempo. Cadê a idéia? Foi-se. Junto com as outras memórias. Será q existe algum limbo para essas idéias? Algum arquivo onde possamos buscá-las? Ou se trata de uma jogada sábia da natureza, de descartar aquilo q ñ tem valor, q ocupa espaço precioso em nosso HD mental, já sobrecarregado de preocupações, dores, mágoas? Será q se nos livrarmos dessa bagagem as idéias deixarão de escapar para esse buraco negro?
A questão é: há como me livrar dessa tensão constante, da dúvida, da ansiedade, do excesso de coisas materiais e imateriais que enchem a minha vida, material, psicológica e espiritualmente? Por ora, THE END.

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