sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O caminho para o novo

"Em seu livro A Fruitful Darkness (ñ traduzido ainda), a ecologista e antropóloga budista Joan Halifax diz q todo mundo tem uma geografia própria, q pode ser usada para mudanças. É por isso q viajamos para lugares distantes. Saibamos disso ou ñ, precisamos renovar nós mesmos em territórios frescos e selvagens. Precisamos ir para casa passando por terras estranhas. Para alguns, essas são jornadas em que mudanças ocorrem intencional e cuidadosamente.
Porém, para a maioria das pessoas atualmente, esse sentido de sair em busca do novo, do fresco, do desconhecido, está meio de lado. Ainda q sobrevivam exemplos como os intercâmbios acadêmicos e os períodos 'sabáticos', a viagem exploratória há muito cedeu lugar à pura distração. Vivemos na chamada cultura da embriaguez, onde o q vale é o prazer. As pessoas viajam para descansar, se divertir, ñ para encontrar o desconhecido ou encontrar a si mesmas. Ninguém quer sair da zona de conforto. Basta marcar as férias p/ começar a corrida atrás de uma acomodação com TV, ar-condicionado e frigobar.
O problema é tornar a viagem um prolongamento da vida cotidiana. As viagens hoje em dia são superprotegidas, as pessoas se armam, querem levar todo seu conforto. É cada vez mais difícil elas se soltarem ao risco, entenderem a borda do limite, diz o psicanalista da Faculdade de Educação da USP Rinaldo Voltolini.
O pulo do gato: para ser transformadora, a viagem deve proporcionar um corte, uma perda de referências. Um acompanhante é sempre uma referência. É quando estamos sem onde nos segurar que sabemos quem realmente somos. É hora de assumir as pps decisões e de cair e sair sozinho de apuros. O q vc prefere fazer? Viajar sozinho ajuda vc a experimentar esse corte a q, se a realidade ñ lhe impõe, fica mais difícil chegar com as pps pernas. Freud já dizia: o psiquismo é conservador, quando encontra um caminho ñ muda."

Então, esse texto é da revista Vida Simples, de ago 06. Estava no baú e veio a calhar, pelo menos traduziu algo do q sinto quando resolvo viajar. Até pq sempre há a limitação do $$$, então é preciso escolher. Talvez essa limitação seja determinante para evitar o "conservadorismo". Alguns confortos são necessários, pelo menos para mim - ñ a TV, descobri, ou o frigobar. É impossível, creio, viajar, sair de casa, e continuar a ter as mesmas condições q se tem em casa. O nível de acomodação deve depender do lugar a onde se vai. Quanto maior o nr de alterações do "normal", maior será o "risco", e maior o aprendizado (minha opinião, claro). Concomitante é o aumento da ansiedd. Mas cada passo dado e objetivo atingido é uma vitória. Esta viagem me deu exatamente essa percepção: estive sozinha a maior parte do tempo, desde o planejamento, e digo q é um caminhão de estresse. No entanto, quando tive a oportunidd de ter uma companhia para ir a Ghent, o medo - sim, esse é o sentimento básico - diminuiu. Alguém para dividir a dúvida, para ajudar a tomar decisões, para acompanhar... até tenho dúvidas se realmente só se aprende viajando sozinha. Estar com alguém q se acabou de conhecer tb implicaria algum risco, já q é o novo sob outra forma. Nenhum conforto planejado, afinal, se tratava de uma pessoa ñ conhecida anteriormente, possibilidds múltiplas, cidades, idades/gerações e objetivos diferentes. No entanto, foi como uma pausa para respirar no meio de um bombardeio de novas sensações. Muito bem-vinda. Alguns de nós fazemos viagens curtas por questões práticas, o q é possível. Então temos de otimizar o q fazemos, potencializar cada minuto de experiência, fazer o máximo no mínimo de tempo q nos é permitido. Essa é a nossa viagem exploratória possível, ñ o grand tour q se praticava no século XIX (quem tinha $$$, lógico, sempre...). O cansaço físico é imenso. Mas há um cansaço psicológico tb. Lendo esse texto (q está fazendo este post ficar gigante) me dou conta das razões para isso: overload. Aí a gente passa o resto do ano, ou, quiçá, o resto da vida na rotina e tentando reviver essa(s) experiência(s) para ñ submergir na mediocridd. Imaginem o q é perder essas memórias...

Um comentário:

  1. Leila, você visitou Bath?
    Você gosta da Jane Austen?
    Podemos fazer uma dobradinha no blog? quero dizer... posso fazer uma entrevista pingue pongue com vc?

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