sábado, 23 de janeiro de 2010

Um pouco de Jane Austen


Uma parte de meu espírito é muito velha (muito mais do que o corpo, que este vai virar pó, de qq jeito), e outra tem a idade do momento: se eu vir um picolé de uva da Kibon, serei criança outra vez, e deixarei de lado qualquer desejo por um sabor mais sofisticado. Talvez até viaje no tempo em uma lembrança fugaz de uma visita escolar a uma fábrica de sorvete, talvez a própria Kibon da época, em São Cristóvão, ali perto da Mangueira ou algo assim. Tinha uns 6 anos e estava com a perna engessada. De nada mais lembro, mas parece que foi muito legal, pq a lembrança ficou, apesar de tudo que vai se esvaindo entre os neurônios...
Posso também ter novamente 16 anos, quando passava pela rua que fica do lado do Colégio Militar e cujo nome não lembro, e sai na Almirante Cochrane, ao sair do cursinho pré-vestibular, por volta do meio-dia, e morta de fome, depois de estudar em ritmo de fábrica desde 7 da manhã (nada de lanchinho, não tinha $$$ para isso), passava por aqueles pequenos prédios de 3 ou 4 andares e sentia os cheiros deliciosos dos almoços que já estavam quase prontos, fazendo meu estômago delirar - tudo porque quando estou saindo para o trabalho passo por uma rua onde há uns prédios similares onde já se começa a preparar comida cedo, temperada à moda caseira, cebola e alho, cheiro mais do que seguindo, perseguindo a gente, perguntando onde foi parar a simplicidade, o feijão-com-arroz. Ah, e o inesquecível é que por duas vezes eu cruzei com Gonzaguinha ali naquela rua.
E tem a eterna apaixonada por Jane Austen. O que pode abranger muita coisa. Seja lá como for, como eu não tenho de me justificar para ninguém, aos costumes: considerando-se que Jane já morreu há quase 200 anos, e ninguém conseguiu assegurar o copyright sobre seus personagens, qualquer pessoa pode fazer o que quiser com seus livros e personagens.
Não sei quantas adaptações cinematográficas já foram feitas, se existe alguma para o teatro (deixo essa investigação para os pesquisadores mais sérios, nacionais, como a Adriana Zardini, da Jane Austen Sociedade do Brasil - http://janeaustenclub.blogspot.com/) e outros, tanto quanto, que não tenho como citar, assim como os internacionais.
E existem também as produções literárias. Ah... tem de tudo. Dizem que Deus não dá asa a cobra. Talvez seja por isso que Ele não tenha me dado mais ousadia para perseguir o mestrado que tanto eu queria fazer em Literatura. Vai que eu conseguisse, e tivesse me tornado crítica literária ou algo assim... nem eu mesma me aguentaria.
Resumo da ópera: se eu ainda estou tentando descobrir o mistério da publicação de Pride and Prejudice misturado com os zumbis, que é a enganação do século 21 (junto com os panetones de Brasília, claro) - ou seria uma mistura de séculos, já que rouba o texto de Austen? - ainda não consegui concluir sobre este 'A Little Bit Psychic'. Lembrou-me um prato que experimentei lá em Belo Horizonte, chamado 'mexidão' (acho que era isso), recém-chegada na cidade e me juntando a uns amigos num bar no centro da cidade. Explicaram-me que era meio que uma raspa do tacho, juntavam as sobras e faziam aquele arroz. Dizia mamãe que a necessidade é a mãe da invenção (da fome tb). Não sei o que Jamie Oliver ou Nigella diriam. Minha fome ficou saciada, mas eu nem quero saber a origem daquelas sobras. O que um haitiano não daria por aquele mexidão!!!
Poizentão. Tentando exigir mais dos neurônios "analíticos": pegar os personagens de Pride & Prejudice e um roteiro previsível, mais o mapa do metrô de Londres, colocar umas cenas mais picantes, adicionar uma pitada de esotérico não devia gerar um livro. Ainda mais um que custa US$9,99. Fora o frete da Amazon. 110 páginas. ~fini~ É assim que termina a autora. Oui. C'est ça. Do you believe? Pas moi. Jane Austen não merece.

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