terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sempre viajando

Seja por inquietude ou angústia existencial, quiçá ansiedade, sempre estive viajando, de uma forma ou de outra - acabo de perceber. Se antes não podia fazê-lo fisicamente (e, é claro, não sou Paris Hilton, continuo não podendo, só de vez em quando), tinha - e continuo tendo, graças a Deus - meus livros.
Pois vim fazer meu exercício diário (blog é vaidade, mas como cismei com a escrita, e um dos primeiros livros que li sobre escrever é que é preciso ter disciplina, pq não fazê-lo aqui?), e, dispersiva que sou, em vez de retomar o diário da viagem (a de férias), deparei com o livro do rabino Nilton Bonder. Chama-se Exercícios D'Alma, e muito antes de se falar em Twitter, eu já o sigo, fielmente. 10 anos, creio. Não sei como comecei, sequer sou judia. Que eu saiba, pelo menos. Talvez uma cristã nova, ou quem sabe, uma antepassada alemã. Basta-me saber que me encantou, e que tenho uma grande amiga judia que me esclarece os pontos que não entendo da sabedoria.
Pois eu, a grande procrastinadora, estou com a marcação do dia 11/01 (são leituras diárias, pequenas grandes reflexões), caminhando e voltando, me prometendo registrar para pensar mais um pouquinho. Se deixar, daqui a pouco já estou em 2011. Porque sou assim, penso, adio, adio... depois me pergunto onde foi parar o tempo, sabendo, claro, exatamente qual a resposta, e sabendo também que embora desejando, não faria diferente, porque eu sou meio Gabriela, nasci assim, cresci assim, e não gosto que me apressem, eu mesma já me apresso quando tenho minhas crises de hiperatividade ansiosa.
Acho que o que me chamou a atenção foi isso: "Nossas ações e comportamentos são o que realmente contam". Talvez não. Tem seguimento. Vou lendo dia após dia, ano após ano (não é Alzheimer, acho), e a cada vez me encanto, depois recomeço.
Por exemplo: "O que permanece é sempre o que se nutre da dúvida. As controvérsias verdadeiras são aquelas nas quais estamos prontos a ouvir e argumentar. São, portanto, fertilizadas da dúvida - do coração e da alma abertos." Claro está que não é bem assim. A dúvida nos angustia, nos deixa em crise. E coração e alma abertos são portas para o sofrimento. Quem se arrisca? Judeus e palestinos, talvez? O medo nos faz fechar tudo. Vivemos blindados, a síndrome do pânico nos assedia.
Aí o rabino diz: "A segurança absoluta é a morte. Se optamos pela vida e não pela morte, devemos trilhar o caminho da incerteza." Compreende? Claro, vivemos na incerteza, embora não a aceitemos. Queremos a segurança a todo custo. O medo, sempre o medo. Até então estávamos em um mês de contração. Aí passamos a um mês de equilíbrio. Expansão de equilíbrio. E ele cita Graham Greene: "Quando não estamos seguros, estamos vivos." "Quando os caminhos já estão predeterminados, a vida perde força. Sem flutuações, interações, escolhas e apostas não é possível se estar vivo."
Mas e quem paga as contas? E o povo do Haiti que não tem comida? E o emprego?
O rabino nos diz que "o pessimista perde sua vida preso à inércia; já o otimista se torna um alienado." Acho que entendo. Nem conto de fadas nem mala sem alça. "O que de mais terrível vi foi a tristeza do olhar daqueles que desperdiçaram oportunidades nesta vida. Fique atento à vida. Faça, ouse e busque. Mas acima de tudo, não ouça ninguém sem ter antes escutado o seu coração.
Quando eu quis escrever, em primeiro lugar, tinha uma ideia, que acabou por se converter noutra, completamente diferente. O que estava subjacente sempre foi uma tomada de decisão de vida, que é disto que se trata - na verdade, a cada momento, tomam-se decisões de todo porte. Mas a angústia ou a ansiedade foram crescendo e de repente eu fiquei achando que poderia deixar a cargo de outras pessoas tomar a decisão por mim. Erro. Só eu sou responsável pelas minhas escolhas. Vamos ver no que dá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Clarice: escrever é o mesmo processo do ato de sonhar: vão-se formando imagens, cores, atos, e sobretudo uma atmosfera de sonho que parece u...