terça-feira, 26 de julho de 2016

Continuando a visita ao Hermitage

Leonardo da Vinci, Madonna and Child, Sala Leonardo da Vinci (acervo)
Litta Madonna, obra que teria sido produzida em Milão, para onde o artista se mudou em 1482, no período que se tornou conhecido como Alta Renascença. 

Mesmo que o museu não esteja expondo todas as suas três milhões de peças (qual o espaço necessário para espalhar tudo isso?), parece óbvio que ver todas as salas e suas peças requer um tempo e uma atenção consideráveis. Checando a visita virtual do site do museu (http://www.hermitagemuseum.org/wps/portal/hermitage/explore/panorama/panoramas-m-3/?lng=en), contei 390 salas. Pensem que cada uma vai conter, digamos, umas 10 peças. E que a própria arquitetura e os detalhes decorativos - paredes, colunas, pisos, portas, janelas, afrescos, tetos - também integram o conjunto. Não consegui calcular ainda quanto tempo seria necessário para realmente ver esse museu, quando não passamos menos de 1h30 vendo uma exibição temporária no Rio de Janeiro, com cerca de 70 peças, e nem todas com a mesma importância artística das que estão expostas no Hermitage.

A gente bem que tenta, mas realmente, é preciso (minha opinião, pelo menos), estipular um limite. Não falo pelos entendedores de arte, o que não é o meu caso. Também não falo por quem só vai a museu pra bater ponto. Eu realmente gosto de ir, seja pelas obras ou pela arquitetura, pela história ou pelo significado de tudo, tanto local como para a humanidade. Sem saber dizer porquê, tenho minhas preferências. Nem vou ligar se me chamarem de ignorante. Prefiro me considerar uma curiosa, e principalmente, uma eterna aprendiz.

Mas pelo menos um critério eu passei a seguir, mesmo que às vezes me parta o coração ou sacrifique minha personalidade obsessiva: em geral, passo batida pelas áreas de peças gregas, romanas e egípcias. Vamos dizer que, a grosso modo, as múmias são muito parecidas umas com as outras. Ou que quem viu uma Vênus ou Afrodite de Milo e a Vitória de Samotrácia no Louvre (acho deslumbrantes), não vai sofrer se não vir outras tantas esculturas de deusas gregas. Escolhas, escolhas, a vida é feita delas.

Temos então de nos contentar em reservar nossa atenção para as obras ímpares, e torcer para não nos arrependermos depois se deixarmos de ver alguma coisa. Quase aconteceu comigo, quando fui por um caminho que não passava pela biblioteca de Nicolau. O que, em se tratando de moi, é inconcebível. Quando cheguei no local de encontro combinado com minha amiga, e ela mencionou a dita cuja, lá fui eu de volta em disparada pra achar a biblioteca. Uma aventura que fica pra contar depois: tentar me comunicar com as senhorinhas que fazem a guarda das salas. Nenhuma fala outra língua que não o russo.

Passemos às salas. Vamos de Itália, Holanda e Flandres.


Sala Leonardo da Vinci (acervo)


Pietro Tacca, 1577-1640, Nessus and Deianira (acervo) 


Detalhe da Sala Majolica (acervo)


Raphael Loggias (acervo)

O modelo para as loggias que o arquiteto Giacomo Quarenghi criou para Catarina II nos anos 1780 foi a celebrada galeria no Palácio do Vaticano que continha afrescos com desenhos de Rafael. Os arcos da galeria contêm um conjunto de pinturas que têm como tema as escrituras sagradas, conhecidas coletivamente como a "Bíblia de Rafael". As paredes são decoradas com ornamentos grotescos, que surgiram na pintura de Rafael por influência das ruínas do palácio de Nero.

Rubens, Head of an Old Man (acervo), Sala Rubens

No projeto de Leo von Klenze para o Novo Hermitage, uma sala foi designada para abrigar as pinturas holandesas e flamengas. Hoje contém obras do grande artista flamengo Peter Paul Rubens (1577-1640). A coleção, que inclui 22 pinturas e 19 desenhos, cobre todos os períodos da carreira do artista. Talentoso retratista, mestre das composições, gênio tanto nas paisagens como nas naturezas-mortas, é realmente um presente, uma oportunidade rara poder apreciar qualquer de suas obras.

Dentre as obras-primas do artista, estão no museu 'Perseu e Andrômeda', 'Baco', 'Retrato de uma Dama de Companhia da Infanta Isabela', 'A união entre a Terra e a Água' e 'A descida da Cruz'.


Rubens, Statues of Emperors of the Hapsburg Dinasty, 1634 / Head of a Franciscan Monk, 1615-17 (acervo)

Rubens, A estátua de Ceres, 1612-15 e outros quadros (acervo)

Peter Paul Rubens foi um pintor e diplomata no séc. 17 que estudou com diversos mestres. Viajou para a Itália, onde experimentou o impacto da arte clássica representada por mestres italianos como Caravaggio. Em 1609 foi designado pintor da corte do Arquiduque Albrecht de Áustria, em Bruxelas. Simultaneamente, aceitou comissões para executar grandes obras em igrejas e prédios públicos.

Sua casa e oficina em Antuérpia ainda podem ser visitados nos dias de hoje. O que vai ficar para uma futura oportunidade, se acontecer. Por hora, ficamos com a graça de contemplar sua arte onde pudermos encontrá-la. Como não amar um museu que tem uma "Sala Rubens"? Ou uma "Sala Leonardo da Vinci"?








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