segunda-feira, 25 de julho de 2016

Realizando sonhos: conhecendo o Hermitage

A entrada (acervo)

O Museu Estatal do Hermitage é Patrimônio Cultural da UNESCO, como integrante do conjunto da cidade de S. Petersburgo, e muitas razões há para isso. Tem história? Sim. Arquitetura? Sim. Arte? Sim. Beleza? Sim. Para mim, a principal joia da coroa que é essa cidade fascinante. Um dia só não é suficiente para ver a pequena parte do acervo de três milhões de peças que possui. Três milhões! Certamente vale visitar, e voltar. Um dia, quem sabe...

Vamos de ônibus, porque a pé é um pouco longe, e andar de ônibus em S. Petersburgo é fácil e barato. Pegue na Nevsky Prospect, e aguarde a trocadora (só vi senhorinhas) vir te cobrar. 

O museu é um dos mais antigos do mundo. Foi fundado em 1764 pela imperatriz Catarina, a Grande, e está aberto ao público desde 1852. Tem a maior coleção de pinturas do mundo. Experimente a visita virtual, e vai levar horas (http://hermitagemuseum.org/wps/portal/hermitage/).

O museu consiste de cinco prédios históricos, localizados à margem do rio Neva, incluindo o Palácio de Inverno, antiga residência dos imperadores russos. Este foi construído em 1754-1762 por Francesco Bartolomeo Rastrelli. Em 1764-75, por ordem de Catarina, a Grande, o Pequeno Hermitage foi erigido por Jean-Baptiste Vallin de la Mothe e Yuri Felten. Em 1771-87, Yuri Felten construiu o Grande Hermitage. Em 1783-87 foi a vez do teatro Hermitage. Para completar o conjunto, em 1842-51 Leo von Klenze construiu o Novo Hermitage para o museu do imperador.

As coleções do museu têm aumentado há 2 séculos e meio, e agora incluem 17.000 pinturas, 600.000 trabalhos gráficos, mais de 12 mil esculturas e 300 mil trabalhos de artesanato, 700 mil artefatos arqueológicos, e 1.000.000 de peças de numismática. No Hermitage podem ser vistas obras-primas de Leonardo da Vinci, Rafael, Ticiano, Rembrandt, Rubens, Matisse e Picasso. Além da melhor coleção do mundo do barroco holandês, pinturas francesas dos séc. 19 e 20, arte decorativa europeia ocidental, uma exibição de ouro cita incomparável, e joias da Grécia antiga.

Se não fosse tão provinciano, uma boa e sincera maneira de andar pelo museu (e descrevê-lo) seria com aaaahhhhs e oooohhhhs. Mas, claro, não somente atrapalharia os demais visitantes, como iriam me achar doida, quiçá me expulsar do local. Melhor fingir que tudo aquilo é normal, que não é uma expressão da capacidade humana de fazer arte, de expressar uma visão de beleza, ainda que com um certo excesso, que parece que faz parte do jeito local. Lógico que nessa hora também não vamos pensar que para existir toda essa riqueza foi necessário um grande sacrifício do povo. 

Para falar do Hermitage, tem de ser por partes, mesmo não tendo conseguido ver tudo. Vamos entrando.

Subindo a escada principal do Palácio de Inverno (acervo)

A escadaria principal do Palácio de Inverno é chamada de Jordão porque na festa da Epifania o czar desceu esses degraus para a cerimônia da "Bênção das Águas" do Rio Neva, uma celebração do batismo de Cristo no rio Jordão. A escadaria é uma das poucas partes do palácio que mantém o estilo original do séc. 18. As imensas colunas de granito cinza, no entanto, foram adicionadas na metade do séc. 19.

Ela ficou em péssimo estado depois de um incêndio que atingiu o palácio em 1837, mas Nicolau I determinou ao arquiteto Vasily Stasov, encarregado da reconstrução, que a restaurasse de acordo com o desenho original de Francesco Bartolomeo. Stasov fez duas pequenas mudanças: substituiu os corrimões de bronze por mármore branco e as colunas cor-de-rosa por granito cinza.


Teto sobre a escadaria Jordão, retratando os deuses do Olimpo (acervo)


Alto da escadaria Jordão (acervo)


Os aposentos de Pedro, o Grande - Pedro I com Minerva, Jacopo Amigoni, 1732-1734 (acervo)

A Sala Menor do Trono, também conhecida como a Sala do Memorial de Pedro, o Grande, foi criada em 1833 para o czar Nicolau I pelo arquiteto Auguste de Montferrand. Também foi atingida pelo incêndio de 1837, e recriada por Vasily Stasov exatamente como antes. Concebida num estilo barroco flexível, o trono fica num recesso semicircular diante de uma tela ornamental, apoiada em duas colunas de jaspe, com um quadro dedicado a Pedro I. 

As paredes são recobertas com veludo vermelho, enfeitadas com águias entremeadas de fios prateados. Há outras pinturas no aposento, mas o destaque vai para o trono em prata dourada, de 1731, executado em Londres pelo ourives anglo-francês Nicholas Clausen. 

Nessa sala, na época dos czares, diplomatas se reuniam no Ano Novo para cumprimentar o imperador. O aposento mantém a decoração original.


Salão Heráldico (acervo)

O Salão Heráldico foi projetado nos anos 1830 para grandes recepções no Palácio de Inverno. As entradas do salão são flanqueadas por grupos de esculturas de antigos guerreiros russos, que portam escudos com as armas de suas províncias, daí seu nome. Os escudos ainda podem ser vistos nos lustres. As colunas ornamentadas em branco e dourado visam criar uma impressão de grandiosidade majestosa. E como impressionam! 

Aqui entram de novo os aaaahhhhs e oooohhhhs. É uma grandiosidade que evoca o Palácio de Versalhes, na França. O que não deve ser coincidência, levando-se em consideração a personalidade da imperatriz Catarina, a Grande. Mas voltaremos a essa figura fascinante e poderosa mais tarde.


A parte superior da escadaria principal (acervo)

A entrada para turistas estrangeiros é mais cara que para os cidadãos da Rússia e Belarus. Mas é gratuita na primeira quinta-feira de cada mês para todos os visitantes, e todos os dias para estudantes e crianças. O museu fecha às segundas-feiras. Visitantes individuais entram pelo Palácio de Inverno. Compre o ingresso pela internet (https://www.hermitageshop.org/tickets/). É mais prático, e realmente funciona.


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