quarta-feira, 18 de julho de 2018

Newcastle

Não sei vocês, mas eu tenho que obrigatoriamente entrar numa igreja quando viajo. Minhas origens me levarão a uma igreja católica, mas não me furtarei a entrar em qualquer templo que esteja disposto a me receber, nem que seja para um breve momento de descanso da rotina atribulada de viajante, e se possível, para registrar o que esse lugar representa histórica e culturalmente. As igrejas anglicanas têm se mostrado muito simpáticas, no sentido de que você se sente bem-vinda nelas por parte de quem cuida do local. 

A catedral de St Nicholas foi fundada em 1091, na mesma época do castelo logo ao lado, como igreja normanda, que foi destruída por um incêndio em 1216. O prédio atual foi finalizado em 1350. A torre construída em 1448 servia também como ponto de referência para os navegadores do rio Tyne. Afinal, St Nicholas é o santo padroeiro dos marinheiros e barcos. Descobri que a igreja foi construída próxima à linha da Muralha de Adriano que passava pela cidade, mas onde esse ponto se encontra perdeu-se no tempo. 

A torre, 2017 - acervo

Além dos aspectos característicos de igrejas, como vitrais, esculturas, e arte religiosa em geral, há alguns memoriais relevantes, como o do Almirante Collingwood, herói da batalha de Trafalgar, e a mais antiga, do séc. 13, do cavaleiro desconhecido.

O cavaleiro desconhecido, 2017 - acervo

Falando em simpatia, duas coisas me chamaram a atenção e me encantaram nesse templo, além de sua própria configuração. Uma, o fato de que existe um café em suas dependências. No dia em que chegamos, via esse desfile de velhinhas e velhinhos como eu, só que bem vestidos, caminhando para o fundo da igreja, e não havia nenhuma celebração no momento. Até que eu vi a placa indicativa. E no outro dia fomos experimentar o café da manhã. Melhor experiência. Curte-se a estrutura do prédio a sua volta (é uma igreja!), o ambiente muito iluminado, a pessoa que recolhe seu pedido parece aquela sua tia fofa que quer te ver comendo, e você ainda vê o cozinheiro preparando aquela comidinha não industrial. Atento também, pois um "perdido" resolveu gritar impropérios ininteligíveis para nós na parte da igreja, e assim como veio foi-se embora do mesmo jeito surreal, e logo veio o cozinheiro perguntar se estávamos bem, se o sujeito tinha feito alguma coisa. Não, está tudo bem, respondemos. Nos sentimos em família, cuidadas. E a comida era deliciosa. 

A outra coisa foi o cartaz que estava colado na porta do banheiro (sim, a catedral tem um banheiro), oferecendo apoio para quem tem um partner abusivo. Fiquei maravilhada. Nunca vi nenhum religioso oferecer esse tipo de ajuda. Já vi quem defenda a paciência com o traste, ou mesmo o próprio religioso abusivo. Encantada é pouco. Se eu morasse ali, me juntaria a essa igreja, porque esse é o verdadeiro espírito denominado "cristão".


"Seu parceiro
... a faz se sentir feia e inútil?
... separa-a de sua família e amigos?
... ameaça-a?
... nunca faz sua parte das tarefas domésticas? (de cair o queixo, não é? ainda mais considerando-se que estamos assistindo a propagandas de uma empresa chamada S.C. Johnson, que divulga um produto de limpeza proporcionando férias à "dona de casa" por sua efetividade. Não vi o equivalente ao "dono de casa"). 
... culpa você pelo comportamento dele?
... nunca admite estar errado?
... usa a Bíblia para justificar o comportamento dele? (também achei isso o máximo, porque virou moda usar livros sagrados para justificar escravidão, casamento infantil, e outras barbaridades)
Quer mudar sua situação?"

Finalizando com a citação: "Eu sei dos planos que tenho em mente para vocês, diz o Senhor; são planos para a paz, não para o desastre, para lhes dar um futuro repleto de esperança". Jeremias 29:11

Perplexa. Encantada. Ainda hoje, quando vejo essa fotografia e leio essas palavras, me surpreendo.

E logo adiante fica o castelo. Não é assim, um castelão, mas basicamente uma torre. 

Chegando ao castelo, 2017 - acervo


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